Capitulo 41 - O VINGANÇA

Capitulo 41 - O VINGANÇA



Capitulo 41 - O VINGANÇA

Houve grandes discussões a bordo da Muriel Dois.
- Sinceramente, não sei se é muito boa idéia. A Marcia pode nem estar no Vingança.
- Mas eu aposto que está.
- Temos que encontrá-la. Tenho certeza que consigo resgatá-la.
- Ouça, só porque esteve no Exército não quer dizer que possa andar atacando navios e salvando pessoas.
- Mas quer dizer que posso tentar.
- Ele tem razão, Rony.
- Nunca iria funcionar. Eles nos verão chegando. Todos os navios têm um vigia a bordo.
- Mas podemos fazer aquele feitiço, sabe qual é? Aquele... Como era?
- Faz Com Que Fique Invisível. É fácil. Depois podemos remar até o navio, eu subo a escada de corda, e depois...
- Alto lá. Pára aí. Isso é muito perigoso.
- A Marcia me salvou quando eu estava em perigo.
- E a mim também.
- Pronto. Vocês ganharam.
Quando a Muriel Dois contornou a última curva do Canal Deppen, o Garoto 412 levou a mão ao bolso interior da boina vermelha e retirou de lá o anel-dragão.
- Que anel é esse? - perguntou Rony.
- Hummm, é Mágyko. Encontrei-o. Debaixo da terra.
- Parece um bocado com o dragão no Amuleto. - disse Rony.
- Pois é. - concordou o Garoto 412. - Também me pareceu. - Enfiou-o no dedo e sentiu-o começar a aquecer. — Faço o feitiço, então? - perguntou.
Gina e Rony anuíram e o Garoto 412 começou a entoar:

Deixe-me Desaparecer no Ar
Sem que os meus inimigos possam me encontrar
Deixe-os me procurar, passarem por mim
Que mal não me chegue, que sua Busca não tenha fim

O Garoto 412 começou a desaparecer na morrinha, deixando um remo a pairar estranhamente em pleno ar.
Gina respirou fundo e experimentou o feitiço para si mesma.
- Ainda está aqui, Gin. - disse Rony. - Tente outra vez.
A terceira foi de vez. O remo de Gina pairava no ar agora ao lado do Garoto 412.
- É a sua vez, Rony. - disse a voz de Gina.
- Esperem um pouquinho. - disse Rony. - Nunca experimentei este.
- Faz o seu próprio, então. - disse Gina. - Não importa qual use, desde que funcione.
- Bom, angh, é que não sei se funciona. E nem sequer faz aquela parte do «Que mal não me chegue».
- Rony! - protestou Gina.
- Pronto, pronto. Vou tentar. Nem visto, nem ouvido... um... não me lembro do resto.
- Experimente «Nem visto, nem ouvido, nem um sussurro, nem um gemido». - sugeriu a voz do Garoto 412, vinda de parte nenhuma.
- Ah, sim. É isso. Obrigado.
O Feitiço funcionou. Rony desapareceu lentamente.
- Você está bem, Rony? - perguntou Gina. - Não consigo vê-lo.
Não houve resposta.
- Rony?
O remo de Rony agitou-se freneticamente para cima e para baixo.
- Não podemos vê-lo, e ele não pode nos ver, porque o Invisível dele é diferente do nosso. - explicou o Garoto 412, com um traço de censura - E também não podemos ouvi-lo, porque é um feitiço principalmente silencioso. E nem sequer o protege.
- Ou seja, não serve para grande coisa. - disse Gina.
- Pois é. - concordou o Garoto 412. - Mas tenho uma idéia. Isso deve servir:

Por entre os feitiços, e a nossa Magya,
Dai-nos uma Hora de grande Harmonia.

- Lá está ele! - exclamou Gina, enquanto a sombra de Rony começava a Aparecer. - Rony, consegue nos ver? - perguntou.
Rony sorriu e fez um sinal de polegar erguido.
- Oh, você é mesmo bom nisso! - disse Gina ao Garoto 412.
Estava começando a se formar uma neblina quando Rony, servindo-se da parte silenciosa de seu feitiço, remou para fora do Canal Deppen e para as águas correntes do rio. A água estava calma e pesada, manchada por uma ligeira morrinha. Rony teve o cuidado de provocar a mínima agitação na água, caso um par de olhos perspicazes fosse atraído da vigia até aos estranhos redemoinhos à superfície da água, avançando firmemente em direção ao navio.
Rony conseguia um bom ritmo, e não tardou que os flancos íngremes do Vingança se agigantassem à sua frente através da cortina de morrinha, e que a Invisível Muriel Dois chegasse ao fundo da escada de corda. Decidiram que Rony ficaria tomando conta da canoa, enquanto Gina e o Garoto 412 tentariam descobrir se Marcia estaria presa no navio e, se possível, libertá-la. Rony ficaria a postos, para o caso de precisarem de ajuda. Gina esperava que não viessem a precisar. Sabia que o feitiço de Rony não o protegeria se ele se metesse em confusão. Rony manteve a canoa equilibrada enquanto, primeiro Gina, e depois o Garoto 412, subiam com dificuldade a escada e começavam a longa e precária escalada do Vingança.
Rony ficou a vê-los, com uma sensação desagradável. Sabia que os Invisíveis podiam deixar sombras e outras perturbações no ar, e um Necromante como Voldemort não teria grande dificuldade em notá-las. Mas a única coisa que podia fazer era silenciosamente desejar-lhes sorte. Tinha decidido que se eles ainda não tivessem voltado quando a maré tivesse subido até o meio do Canal Deppen, ia à procura deles, quer o feitiço os protegesse quer não.
Para passar o tempo, Rony passou para a canoa do Caçador. Bem podia aproveitar ao máximo a espera, pensou ele, e sentado num barco melhor. Mesmo que estivesse um bocado gosmento. E fedorento. Mas já tinha cheirado coisas piores em alguns dos barcos de pesca em que costumava ajudar.
======

Foi uma longa subida pela escada de corda, e não foi uma subida fácil. A escada balançava continuamente, batendo contra os pegajosos flancos negros do navio, e Gina temia que alguém no interior pudesse ouvi-los, mas tudo continuava calmo e silencioso acima deles. Tão calmo e silencioso que ela começou a pensar se não seria uma espécie de navio fantasma.
Quando chegaram ao topo, o Garoto 412 cometeu a asneira de olhar para baixo. Sentiu-se enjoado. A cabeça rodou com a enjoativa sensação de vertigem, e quase soltou a escada quando suas mãos ficaram subitamente suadas. A água estava vertiginosamente longe. A canoa do Caçador parecia minúscula e, por momentos, pensou ver alguém sentado nela. O Garoto 412 sacudiu a cabeça. Não olhe para baixo, disse para si mesmo, com firmeza. Não olhe para baixo.
Gina não tinha medo de alturas. Subiu facilmente para o convés do Vingança e puxou o Garoto 412 sobre o espaço entre a corda e o convés. O Garoto 412 manteve os olhos bem fixos nas botas de Gina enquanto se contorcia sobre o vazio e finalmente se levantava, trêmulo.
Gina e o Garoto 412 olharam em volta.
O Vingança era um lugar estranho. A escura nuvem que pairava sobre ele lançava uma profunda sombra sobre todo o navio, e o único som que conseguiam ouvir era a chiadeira rítmica do próprio navio enquanto balançava suavemente na maré que subia. Gina e o Garoto 412 avançaram silenciosamente pelo convés, passando por cordas cuidadosamente enroladas, fileiras ordenadas de barris calafetados com alcatrão, e o ocasional canhão apontado sobre os Pântanos Marram. Excluindo a escuridão opressiva e uns tantos rastros de gosma amarela sobre o convés, o navio não apresentava quaisquer indícios de quem era seu proprietário. No entanto, ao chegarem à proa, uma forte presença Negra quase atirou o Garoto 412 ao chão.
Gina prosseguiu, sem perceber nada, e o Garoto 412 seguiu-a, não querendo deixá-la sozinha.
A Escuridão provinha de um trono imponente, colocado junto ao mastro do traquete, voltado para o mar.
Era uma peça de mobiliário maciça, parecendo estranhamente deslocada no convés de um navio.
Estava esculpida com ornamentos a partir de madeira de ébano, e enfeitada com uma folha de ouro de um vermelho escuro, e sobre ela estava Voldemort, o Necromante em pessoa. Sentado muito direito, com os olhos fechados, a boca entreaberta e um borbulhar baixinho emanando-lhe da garganta quando respirava sob a morrinha, Voldemort estava tirando sua sesta. Sob o trono, como um cão fiel, repousava uma Coisa adormecida, sobre uma poça de gosma amarela.
O Garoto 412 apertou subitamente o braço de Gina, com tanta força que ela quase gritou. Apontou para a cintura de Voldemort. Gina olhou para baixo e depois desesperada para o Garoto 412. Então, era verdade. Ela mal tinha acreditado no que Alther lhes dissera, mas ali, na frente dos seus olhos, estava a verdade. Em torno da cintura de Voldemort, quase perdido sob o manto negro, estava o cinto de Feiticeiro ExtraOrdinário. O cinto de Feiticeiro ExtraOrdinário da Marcia.
Gina e o Garoto 412 olharam para Voldemort com um misto de fascínio e repulsa. Os dedos do Necromante estavam cravados nos braços de ébano do trono; suas grossas unhas amareladas eram recurvas e cravavam-se na madeira como garras. O rosto ainda tinha a reveladora tez acinzentada que tinha adquirido durante os anos que passara nos Subterrâneos, antes de ter se mudado para o seu covil nas Terras Más. Em muitos aspectos era um rosto sem nada de particularmente notável, talvez os olhos se encontrassem enterrados demais, e a boca fosse cruel demais para que pudesse ter um ar agradável, mas era a Escuridão que se adivinhava sob ele que fez com que Gina e o Garoto 412 estremecessem só de olhar para ele.
Sobre a cabeça, Voldemort usava um chapéu preto, cilíndrico, com a forma de uma pequena chaminé que, por uma razão qualquer que não conseguia compreender, estava sempre grande demais, não importando quantas vezes ele mandasse fazer um novo sob medida. Isso o incomodava mais do que gostaria de admitir, e tinha se convencido de que desde que regressara à Torre dos Feiticeiros, sua cabeça tinha começado a encolher. Enquanto o Necromante dormia, o chapéu tinha escorregado para baixo, e repousava-lhe agora sobre as orelhas esbranquiçadas. O chapéu preto era um antiquado chapéu de Feiticeiro, que nenhum Feiticeiro usava mais, nem queria usar, desde que ficara associado à grande Inquisição dos Feiticeiros há muitas centenas de anos.
Sobre o trono, uma cobertura de seda vermelha brasonada com o trio de estrelas negras dobrava-se carregada de água da morrinha, que pingava de quando em quando no chapéu preto, enchendo o entalhe no topo com uma pequena poça de água.
O Garoto 412 deu a mão a Gina. Recordou-se de um pequeno panfleto de Marcia, já comido pelas traças, que tinha lido numa daquelas tardes de neve, chamado O Efeito Hipnótiko da Escuridão, e estava sentindo Gina ser atraída por ele. Puxou-a para longe da figura adormecida e em direção de um alçapão aberto.
- Marcia está aqui. - sussurrou ele. - Consigo sentir a Presença dela.
Ao chegarem ao alçapão, ouviram o som de passos que corriam ao longo do convés inferior e subiam rapidamente as escadas. Gina e o Garoto 412 saltaram imediatamente para trás, e um marinheiro, segurando uma lanterna apagada, correu para o convés. O marinheiro era um homem pequeno e musculoso, vestido com o costumeiro negro dos Guardiães; ao contrário dos Guardas, não tinha a cabeça raspada, mas usava o cabelo comprido cuidadosamente enrolado numa trança fina e comprida que lhe caía até o meio das costas. Vestia calças largas que lhe chegavam até abaixo do joelho, e uma camisa com largas riscas brancas e pretas. O marinheiro pegou uma caixa de sílex, criou uma faísca e acendeu a lanterna. A lanterna acendeu-se de imediato, e a tarde morrinhenta foi iluminada por uma chama alaranjada, que projetava sombras bailarinas sobre o convés. O marinheiro avançou com a lanterna acesa e colocou-a num gancho na proa do navio.
Voldemort abriu os olhos. A sesta tinha acabado.
O marinheiro pairou hesitante ao lado do trono, esperando as instruções do Necromante.
- Já voltaram? - ouviu-se uma voz grave, rouca, que fez eriçar os pêlos da nuca do Garoto 412.
O marinheiro inclinou-se numa vênia, evitando o olhar do Necromante.
- O rapaz regressou, meu Senhor. E o seu servo.
- Nada mais?
- Sim, meu Senhor, mas...
- Mas o quê?
- O rapaz diz que capturou a Princesa, Senhor.
- A Herdeira? Ora, ora. Os prodígios são infinitos. Traga-os. Já!
- Sim, meu Senhor. - O marinheiro inclinou-se ainda mais.
- E... traga-me a prisioneira. Ela vai gostar de ver a sua antiga protegida.
- A sua o quê, Senhor?
- A Herdeira, cretino. Traga todos para cima. Já!
O marinheiro desapareceu pelo alçapão, e não tardou que Gina e o Garoto 412 pudessem sentir movimento sob os seus pés. No profundo interior dos porões do navio, algo se agitava. Marinheiros pulavam de suas redes, pousando as esculturas de madeira com que se entretinham, macramês ou esboços de navios por terminar no interior de garrafas, e dirigiam-se ao convés inferior para cumprir as ordens de Voldemort.
Voldemort ergueu-se de seu trono, um pouco emperrado da soneca na morrinha gelada, e pestanejou quando um fio de água lhe escorreu do topo do chapéu para os olhos. Irritado, acordou o Magog com um pontapé. A Coisa arrastou-se de sob o trono e seguiu Voldemort ao longo do convés, onde o Necromante esperava, de braços cruzados, um ar de triunfo no rosto, que lhe trouxessem aqueles que ele ordenara.
Não tardou que se ouvissem passos pesados sob o convés, e momentos depois meia dúzia de grumetes surgiram no convés e assumiram suas posições de guarda em torno de Voldemort. Foram seguidos pela figura hesitante do Aprendiz. O rapaz estava branco, e Gina podia ver que suas mãos tremiam. Voldemort mal olhou para ele.
Continuava com os olhos cravados no alçapão aberto, esperando que aparecesse a sua presa mais importante, a Princesa.
Mas não apareceu mais ninguém.
O tempo pareceu parar. Os grumetes agitavam-se nervosamente, sem saber bem o que estavam esperando agora, e o tique por baixo do olho esquerdo do Aprendiz tinha disparado furiosamente. De quando em quando lançava um olhar de relance ao seu Mestre, desviando rapidamente os olhos, temendo que Voldemort o surpreendesse. Ao fim do que pareceu uma eternidade, Voldemort exigiu:
- Muito bem, onde está ela, rapaz?
- Qu... quem, Senhor? - tartamudeou o Aprendiz, embora soubesse perfeitamente a quem o Necromante estava se referindo.
- A Herdeira, seu cérebro de escaravelho. A quem acha que me refiro? A idiota da sua mãe?
- N... não, Senhor.
Ouviram-se mais passos sob eles.
- Ah. - murmurou Voldemort. - Enfim.
Mas era Marcia quem era empurrada pelo alçapão por um Magog de escolta, que lhe prendia um braço com força numa longa garra amarelada. Marcia tentou libertar o braço, mas a Coisa estava presa a ela como se tivesse cola, e a tinha coberto de gosma amarela. Marcia olhou para ela enojada, e manteve exatamente a mesma impressão quando voltou o rosto de encontro ao olhar triunfante de Voldemort. Mesmo depois de um mês fechada no escuro, e com seus poderes Mágykos sendo sugados, Marcia tinha uma presença impressionante. Seu cabelo escuro, selvagem e desgrenhado, conferia-lhe um aspecto furioso; as vestes manchadas de sal mantinham uma dignidade singela, e suas botas de pele de píton estavam impecáveis, como sempre. Gina podia ver que Marcia tinha deixado Voldemort desconcertado.
- Ah, Miss Overstrand. É muito amável por nos visitar. - murmurou ele.
Marcia não respondeu.
- Bem, Miss Overstrand, esta foi a única razão por que a tenho mantido por aqui. Queria que pudesse ver este... finale. Temos umas notícias particularmente interessantes para você, não temos, Harry?
O Aprendiz acenou com a cabeça, sem grande certeza.
- O meu dileto Aprendiz tem estado de visita a uns amigos seus, Miss Overstrand. Numa simpática choupana em algum lugar por ali. - Voldemort indicou os Pântanos Marram com um floreado dos dedos cobertos de anéis.
Algo se alterou na expressão de Marcia.
- Ah, estou vendo que sabe a quem me refiro, Miss Overstrand. Calculei que soubesse. Agora, aqui o meu Aprendiz diz que cumpriu com grande sucesso uma missão de que o incumbi.
O Aprendiz tentou dizer algo, mas foi calado por um gesto de seu Mestre.
- Eu mesmo não ouvi ainda todos os detalhes. Tinha certeza que quereria ser a primeira a ouvir as boas novas. Por isso agora Harry vai nos contar tudo, a todos. Não vai, rapaz?
O Aprendiz levantou-se, relutante. Parecia muito nervoso. Numa vozinha esganiçada, começou a falar, hesitante.
- Eu... annh...
- Fale, rapaz. Não serve de nada se não conseguirmos ouvir uma única palavra do que está dizendo, não é? - disse-lhe Voldemort.
- Eu... aanh, eu encontrei a Princesa. A Herdeira.
Havia uma aura de expectativa sobre a audiência.
Gina teve a impressão de que aquelas notícias não eram inteiramente bem-vindas por parte dos grumetes, e lembrou-se de Tia Zelda lhe ter dito que Voldemort nunca conseguiria conquistar as pessoas do mar para o seu lado.
- Continue, rapaz. - incitou Voldemort, impaciente.
- Eu... o Caçador e eu, nós capturamos a choupana e, aanh, a Bruxa Branca, Zelda Zanuba Potter também, e o menino Feiticeiro, Ronald Abillius Potter, e o desertor do Exército da Juventude, o Dispensável Garoto 412. E eu capturei mesmo a Princesa... a Herdeira.
O Aprendiz interrompeu-se. Um brilho de pânico aflorou-lhe os olhos. O que iria dizer agora? Como iria explicar a ausência da Princesa e o desaparecimento do Caçador?
- Você capturou a Herdeira? - perguntou Voldemort desconfiado.
- Sim, Senhor. Capturei. Mas...
- Mas o quê?
- Mas. Bem, Senhor, depois do Caçador ter sido sobrepujado pela Bruxa Branca e transformado num bobo...
- Num bobo? Está tentando fazer gracinha, rapaz? Se está, não o aconselho a continuar.
- Não, Senhor. Não estou tentando fazer gracinha nenhuma, Senhor. - O Aprendiz nunca se sentira com tão pouca vontade de fazer gracinha em toda a sua vida. - Depois do Caçador ter partido, Senhor, consegui capturar a Herdeira por minha própria conta e risco, e quase consegui escapar, mas...
- Quase? Quase conseguiu escapar?
- Sim, Senhor. Foi por pouco. Fui atacado com uma faca pelo rapaz Feiticeiro louco, Ronald Potter. Ele é muito perigoso, Senhor. E a Herdeira escapou.
- Escapou? - rugiu Voldemort, agigantando-se sobre o aterrorizado Aprendiz. - Atreveu-se a voltar aqui e dizer que sua missão foi um sucesso? Grande sucesso. Primeiro diz que o maldito Caçador se tornou um bobo, depois diz que foi dominado por uma patética Bruxa Branca e por uns irritantes meninos fugitivos. E agora ainda me diz que a Herdeira conseguiu escapar. O único objetivo da missão, o único, era capturar a novel Herdeira. Portanto, concretamente, que parte da missão considera um sucesso?
- Bem, agora sabemos onde ela está. - murmurou o Aprendiz.
- Já sabíamos onde ela estava antes, rapaz. Por isso é que você foi lá!
Voldemort ergueu os olhos ao céu. O que havia de errado com o seu Aprendiz cabeça de alho chocho? Com certeza que o sétimo filho de um sétimo filho já deveria ter alguma Magya com ele naquela altura? Com certeza já teria força mais do que suficiente para triunfar sobre a escória de uns Feiticeiros sem grande esperança, barricados no meio do nada? Uma sensação de raiva ferveu através de Voldemort.
- Porquê? - gritou. - Por que estou rodeado de idiotas? - Chispando de raiva, Voldemort percebeu a expressão de desprezo no rosto de Marcia, misturada com alívio pelas notícias que tinha ouvido. - Levem a prisioneira! - berrou. - Fechem-na e joguem fora a chave. Para ela acabou-se.
- Ainda não. - retorquiu Marcia calmamente, voltando deliberadamente as costas a Voldemort.
Inesperadamente, para grande horror de Gina, o Garoto 412 esgueirou-se para longe da proteção do barril e dirigiu-se silenciosamente em direção a Marcia. Cuidadosamente, enfiou-se entre a Coisa e os grumetes que empurravam Marcia rudemente de volta ao alçapão. A expressão de indignação no rosto de Marcia converteu-se em espanto, e depois rapidamente para uma estudada inexpressividade, e o Garoto 412 soube que ela o tinha visto. Rapidamente, retirou o anel-dragão do dedo e enfiou-o na mão de Marcia. Os olhos verdes de Marcia cruzaram-se com os seus quando, sem que os guardas percebessem, enfiou o anel no bolso da túnica. O Garoto 412 não se demorou. Voltou-se e, na pressa de voltar para junto de Gina, roçou num dos grumetes.
- Alto! - gritou o homem. - Quem está aí?
Todos no convés se imobilizaram. Com exceção do Garoto 412, que deu uma corrida e agarrou a mão de Gina. Era hora de se porem a correr.
- Intrusos! - gritou Voldemort. - Estou vendo sombras! Apanhem-nos!
A tripulação do Vingança olhou em volta, em pânico. Não viam ninguém. Teria o seu Mestre finalmente enlouquecido? Já estavam há muito à espera disso.
No meio da confusão, Gina e o Garoto 412 conseguiram chegar à escada de corda e desceram para as canoas mais depressa do que acharam possível. Rony os tinha visto chegar. Vinham bem a tempo, o Invisível já começava a se dissipar.
Acima deles a comoção no navio aumentava, à medida que tochas eram acesas e cada recanto revistado. Alguém cortou a escada de corda e, enquanto a Muriel Dois e a canoa do Caçador se afastavam em direção à neblina, caiu com um chapinhar sonoro e afundou-se nas águas negras da maré que subia.




Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.