Das sensações




Das sensações

-Senti saudades – ela murmurou quando a boca dele ia atingir a sua, por milímetros.

Harry sorriu, recuando um pouco. Deslizou os dedos pelo lado do rosto dela, observando os movimentos da própria mão, antes de encará-la. – Você voltou – ele murmurou, sorrindo como um tolo.

A morena riu suavemente, tontamente. Desejando tocá-lo, mas não o fez.

–Não faça mais isso comigo - a morena ergueu a sobrancelha para o som dele.

Logo, Harry observou: o olhar dela, apesar de ter tornado a falar, não parecia satisfeito. Ele expirou.

-Eu sei que não deveria ter feito. E eu me arrependo-

-Você mente – ela contrapôs, franzindo o nariz de forma graciosa, enquanto o fitava perspicaz.

-Está bem – Harry riu, meneando a cabeça levemente, sentando-se a frente dela, ao chão, no tapete. – Mas o que quero dizer é que eu não queria constranger você, Mione. Não – insistiu, sob o olhar cético da amiga.

-O que você faria se eu não lhe falasse, me beijaria? – perguntou com ar de reprovação, suas bochechas levemente róseas.

O moreno a fitou calmamente. – Beijaria. E eu a atormentaria até que gritasse de frustração e raiva. Mesmo que essa raiva estivesse dirigida a mim.

-Essa não seria a forma correta para me “dobrar”.

-Eu sei. E por isso eu tinha um plano B.

-Plano B?

Cheio de si, Harry assentiu. – Venha aqui - chamou também com as mãos, apesar de Hermione encará-lo de cenho franzido, como se não entendesse o pedido. Com um sorriso de lado, suas mãos encontraram os tornozelos dela. Com uma exclamação de surpresa ela se viu sentada sobre Harry. – Preciso de você mais perto – ele disse baixinho. – Para o que pretendo.

-E o que pretende?

Ele suspirou. – Sei que fui inconveniente. Então pensei que devesse a você uma espécie de “revanche”. Você pode tentar descobrir um ato constrangedor meu, com legimância - ela ficou tensa em seus braços - Eu não quis dizer que o que pensou é constrangedor... eu... Oh Mione...

Hermione endireitou os ombros com dignidade e o fitou com sobranceria. - Qualquer coisa?

O homem assentiu. – É só perguntar, e eu irei lhe mostrar.

A morena fixou seus olhos nos dele e se concentrou profundamente em penetrar a consciência de Harry. Sem cuidado e tão dolorosamente quanto pudesse.

Imagens difusas tomando forma; mas nada ‘interessante’, por assim dizer.

-Por que você me provocou quando descobriu essa minha... fraqueza?

-Hermione, não posso negar que aquela... “sua fraqueza” me interessou. Eu quero dizer, você é minha melhor amiga, poxa! Eu nunca imaginei que pensasse assim ou de alguma forma similar àquela sobre mim.

-Você não me pareceu surpreso – ela retrucou, ainda buscando uma brecha na mente de Harry.

-Não, surpreso nunca seria a palavra certa. “Curioso”, eu diria.

A morena suspirou impacientando-se. - Mostre-me alguma coisa, Harry.

Ele riu. - O que quer ver?

A morena o fitou com frustração, o que poderia querer ver? Ela o conhecia de cor. Harry lhe contava tudo, não era sempre assim?

-Diga-me... – mordeu o lábio inferior, sentindo que tomava um caminho perigoso. – O que mais te agrada na minha pessoa?

Harry franziu o cenho, como se confuso. – Essa... é uma pergunta bem difícil.

Imagens começaram a se forma, ainda assim. E uma sucessão de imagens suas lhe atingiram com rapidez.
Sorrisos seus, de diversos tipos: quando estava realmente feliz, quando não queria rir, quando o fazia com ironia, quando brigava da boca pra fora e naqueles momentos em que sorria fitando-o quando achava que ele não a estava vendo... Deus do céu, ela não achava que eram tantos assim. Ou que ele sabia.
Os olhares. Especialmente quando brilhavam alegremente. Quando franzia o cenho ou o nariz em confusão ou azedume... Suas mãos e a forma como se apoiavam, algumas vezes, em seu ombro. Ou enquanto nos cabelos, ombro e braços dele. E então os seus braços e todos os inúmeros abraços de urso que lhe havia dispensado.
Finalmente, a forma como mordia o lábio inferior quando estava ansiosa, angustiada ou incerta. Quando queria acrescentar alguma palavra, mas por alguma razão não o fazia.

-Isso foi muito doce – ela murmurou.

Harry sentiu que corava. - Bem, até agora você não fez perguntas constrangedoras... Vamos lá, srta. Granger.

-Devo confessar, não tenho idéia do que perguntar. Acredito saber tudo sobre você.

-Hm – Harry ergueu a sobrancelha. – Que curioso... pensei que gostaria de saber o que achei da minha descoberta, quando a você.

-Não seria uma coisa constrangedora para você. E eu não quero ou preciso saber.

-Você nunca vai me perdoar por isso não é?

-Não.

Harry expirou. – Você sabe, entretanto, que sou muito persistente não é?

-Insuportavelmente persistente, eu diria – Hermione retrucou erguendo por sua vez a sobrancelha, como se para se contrapor a ele.

-Deixe-me lhe mostrar uma coisa, antes de guardar aquele momento em seu coraçãozinho rancoroso, srta. Granger – Harry falou, ignorando o olhar de aviso dela, a apertando levemente. – Preparada?

-Para você? Eu nunca estarei suficientemente preparada – escarneceu.

Harry sorriu a contragosto segurando ambos os lados do rosto da amiga. – Por que você tem de ser sempre tão teimosa? – antes que Hermione protestasse (e ela já estava preparada para o fazer), ele jogou uma imagem para ela.

Uma imagem bem simples na verdade. Era uma lembrança e por conta disto não apresentava os pensamentos do amigo.
Apenas os mostrava sobre um sofá, enquanto Harry prendia, de lado e amistosamente, o pescoço dela com um dos braços e a puxava para falar algo ao seu ouvido.
Hermione lembrava daquele dia; fora um sábado nublado, véspera de natal, há dois anos atrás. Harry e Ron, como mandava a tradição criada por eles, dormiriam na casa dela para trocar presentes pela manhã. Estranhamente, no entanto, não se lembrava onde Ron se encontrava naquele instante, ou o que Harry lhe segredara.

–Agora você cala – Harry comandou, então perpassou os olhos por toda a face dela. Hermione estava muito intrigada para demonstrar indignação. Sem entender o que havia de constrangedor na cena.

Antes que pudesse externar o pensamento, a mente dela foi assaltada novamente por aquele imagem, mas do ponto de vista de Harry, dessa vez.
A morena sentiu que seu rosto queimava de vergonha depois da cena que presenciara outra vez, ainda mais mortificada por saber que Harry sabia daquilo também.

-Fora por conta da minha voz, não é? E não, como pensei erradamente da primeira vez, de frio, estou certo? – pele perguntou suavemente, mas ela não respondeu. – O arrepio – insistiu mostrando-lhe novamente a cena (Hermione estava passada demais para protestar):

Quando ele a aproximou de si para lhe falar, reparou que, com a movimentação, havia uma parte do pescoço dela que estava bem a vista, apesar de Hermione estar bem agasalhada - era um daqueles dias onde você só desejava estar sob um cobertor ao aconchegado a algo bem quentinho...
Mas não fora aquilo que lhe chamou atenção; e sim o fato de que, quando lhe falara ao ouvido, vira o arrepiar da pele dela.
Instintivamente, o braço dele a trouxe um pouco mais para si. Segundos depois, ele percebia, era humanamente impossível tê-la mais perto para lhe aquecer, somente se a pusesse em seu colo. E Harry não achava que a amiga ia se sentir confortável.


-Hermione?

Saindo do horror causado pela descoberta de que Harry possivelmente revisara toda sua relação “platônica” para tomar nota de quando ela passara a ter sua “fraqueza”, Hermione o encarou.

-Sim... – ela não reconheceu a própria voz, rouca e fraca. E desviou o olhar do dele, desejando esquecer a idéia infeliz de vascular as memórias de Harry.

Hermione criticou a si mesma por ter sentido todo seu corpo reagir outra vez a Harry. Pior: à imagem de Harry lhe falando ao ouvido. Que ocorrera em outro século.
Deus do céu!, será que quando Harry fosse embora ainda lhe restaria um pouco de dignidade? Duvidava fervorosamente.

-Você está tremendo – ele comentou, deslizando as mãos pelos ombros dela.

-Harry, por favor – pediu, frustrada por não conseguir se afastar.

-O quê? – Era um tom tão inocente que Hermione sentiu como se houvesse mesmo um grande problema com suas terminações nervosas. Não deveria existir tal prazer só por conta de um par de palavras ditas por uma voz masculina. Aquela voz masculina. - Oh, oh... você está se arrepiando! Eu posso ver se...? – naquele tom de voz, parecia a descoberta do século, mas algo não encaixava e, por conta disso, Hermione tornou a olhá-lo...

...Só para observar o olhar fascinado percorrer uma linha imaginaria do seu pescoço ao ombro, antes de deslizar um dedo pelo mesmo caminho.

Aquilo devia ser imoral.
Hermione sentiu como se toda sua pele estivesse em brasas.

-Eu nunca pensei... – ele comentava, ainda perpassando seu dedo na pele dela, desta vez por toda a extensão do braço, sua atenção na tarefa que executava; Harry parecia comprazido observando a já conhecida reação dela. – Não é só minha voz?

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N/a: Bizarramente, não consegui dar um “sentido” pra essa fic..
Então, não, esse não é o final.
Também não sei quando postarei o fim, como disse, ainda estou num hiatus criativo pra lá de prolongado.

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