Capítulo 3
Sexta-feira 22
Eu precisava me arrumar para ir ajudar os outros na decoração do baile de formandos. Não que nós fizéssemos parte da festa, mas a Gina me obrigou a participar, e não pude resistir ao encanto do rosto dela dizendo: “Draco... Você pode ajudar a gente na decoração do baile? (pisca-pisca) Seria tão legal se você fosse com a gente ajudar, Draco, ah, vai... Por favoooor!”
Então eu resolvi ceder. Mas enfim, voltando... Eu não achava uma calça limpa em canto nenhum, procurei até na geladeira. E nada. Até que resolvi procurar em algum lugar plausível de se achar uma calça. No meu armário.
E então eu percebi alguma coisa dentro de um dos bolsos da minha bermuda. Peguei cautelosamente e li:
‘‘Pode ir até a minha casa agora, vou estar te esperando lá, criatura.’’
Tentei com todas as minhas forças me lembrar do que isso significava. Mas desisti, era difícil demais.
Finalmente, depois de remexer o meu armário todo, achei uma calça suficientemente limpa e saí.
- Oi, Draco, que bom que você veio. – disse Hermione, olhando pra mim com cara de peixe morto, tentando ajeitar uns quadros que ela tinha colocado na parede.
- Hermione, você nunca vai fazer esses malditos quadros ficarem na parede, por que é uma parede falsa. Qualquer coisinha vai os fazer cair – falou Ron pacientemente, como se falasse com uma criança de quatro anos.
- É, mas eu calculei tudo, e agora eu posso dizer de certeza que eles estão resistentes, não vão cair e que... – foi interrompida por Ron, que levantava ameaçadoramente o seu cotovelo.
Deu uma cotovelada na parede, o que fez todos os quadros caírem. Ron ergueu uma sobrancelha pra Hermione. Ela suspirou e começou a pendurar os quadros na parede, xingando.
Gina riu. O que me fez olhar pra ela. O que fez Ron olhar pra mim. O que fez Hermione reclamar dos quadros. O que fez o guarda que estava supervisionando a nossa arrumação mandar ela calar a boca. O que fez todos rirem da cara dela... Tudo culpa da Gina...
- Me passa o martelo – pediu Hermione a alguém, sem saber a quem exatamente, estendendo a mão pra frente sem olhar.
Peguei o martelo e passei a ela, rindo dos quadros que estavam no chão.
- Draco – disse Gina, em tom de zombaria –, você não acordou bem hoje de manhã?
- Porque, Gina? – eu disse, repetindo o tom.
- Você parece muito cansado, garoto. Não dormiu bem? – repetiu ela.
- Não – eu disse.
- E porque não? – disse ela, distraída.
- Porque não parava de pensar em você. – declarei, achando ter encontrado algo bom pra falar.
Gina começou a ficar vermelha. Olhou para Ron e Hermione, que me encaravam boquiabertos. Ao perceber que estavam sendo observados por Gina, voltaram às suas atividades.
Sorri, voltando a pregar os cartazes psicodélicos. Gina começou a chegar perto. Muito perto. Ameaçadoramente perto. Começou a cutucar a minha testa enquanto falava.
- Para com isso. – disse ela, olhando bem nos meus olhos.
Pensei, depois sorri e logo falei.
- Por quê? Incomoda? – repeti a minha própria frase.
Ela sorriu, mas em seguida me encarou séria.
Eu ia pensar duas vezes na idéia, mas mesmo assim, girei Gina pela cintura e a prensei na parede falsa, só que quando eu bati com as mãos os quadros caíram. Então eu comecei a tagarelar.
- Olha, o lance do cinema era só uma brincadeira de mau gosto e além do mais eu não estava raciocinando bem aquele dia porque um gato ficou seguindo o carro do meu pai, e caso isso seja uma novidade muito absurda para você, eu tenho medo de gatos. Isso porque na segunda série um garoto chamado Nicolas jogou um gato em cima de mim, e eu saí correndo e gritando que eu estava sendo atacado por um alienígena, e na segunda série, que foi a fase da minha vida mais traumática. E demorou pra eu preparar esse discurso para você. Foi o tempo que eu poderia estar usando para arrumar a minha cama... E a minha mãe não me chamaria de preguiçoso depois. Tudo culpa sua.
Só que para meu azar naquele dia, meu cabelo estava muito, muito embaraçado e Gina teve dificuldade pra enterrar os dedos na minha cabeça e me puxar mais pra perto. Só que ela conseguiu de algum modo fazer isso.
- Draco... Pára de falar? – pediu ela arregalando os olhos, exasperada.
- Vou tentar – eu falei chegando mais perto.
E de repente eu comecei a me sentir nervoso, mas eu não entendia, porque não era como se eu nunca tivesse beijado ela. E, para todos os efeitos, eu beijei ela mesmo.
- UUUUUHHHH, vão para um quarto – ouvi uma voz estranha atrás de mim e a contragosto, me virei.
Era o Potter de novo, carregando um enorme troféu.
- Olá, Gina – ele deu uma piscadela. – Olá, Malfoy – acrescentou Potter com desprezo. – Já viram meu troféu? – ele fez uma cara muito maníaca e estendeu o troféu dourado tão grande que era maior que a cabeça dele (isso não é pouco) e mostrou mais uma vez. – Eu ganhei na copa do futebol.
Eu poderia ter ganhado aquele troço se eu quisesse, pensei comigo mesmo, irritado.
- Eu poderia ter ganhado esse troço se quisesse. – falei, encarando o Harry.
- Não poderia não. – disse ele, fazendo o troféu contrastar com meu rosto.
Gina sorria. E eu fiquei muito bravo. Será que não podia beijar a Gina naquele momento sem que o infeliz do Potter viesse atrapalhar? E senti vontade de dar um murro na cara dele. Mas me contive.
- Bom pessoal, tenho que ir. – disse ele, me fazendo considerar a hipóteses de que ele só havia vindo aqui para me atazanar a vida. – Até mais, Gina. – disse ele.
Revirei os olhos, mal humorado.
- Tchau, Harry. – disse ela, largando minha mão para ir abraçá-lo. Que necessidade ela via nisso? Suspirei, derrotado. Se ela o queria, o que eu podia fazer? Que força eu implantava naquela situação? Baixei os ombros e tornei a colocar os cartazes. Olhava sem ver realmente o tema deles, enquanto pegava as tachinhas no pote de sorvete que estava à minha frente.
Gina me olhou. Tentei sorrir, erguendo as sobrancelhas. Ela ficou meio envergonhada e desviou o rosto. Suspirei mais uma vez. Ao terminar o último cartaz, não sentia mais vontade de ficar ali. E saí do salão, sem saber bem aonde ir. Então comecei a caminhar pela praça, sentando-me em um banco.
Triste, com raiva, chateado com tudo. Percebi que havia se passado um bom tempo quando vi O Harry e a Gina caminhando em minha direção. Queria sair correndo dali. Seria uma atitude infantil, mas eu não queria falar com ninguém. Precisava ficar sozinho. Precisava pensar.
- Oi, Draco. – disse o Harry.
Ignorei.
- O que foi Draco? – repetiu ele.
Levantei-me e fui embora, avistando Ron e Hermione. Corri atrás deles.
- Oi, Draco! – gritou Hermione.
- Oi. Podemos conversar? – disse, olhando para os dois.
Essa é a ultima coisa que eu me lembro antes de terminar na lanchonete, lamentando-me no ombro dos dois.
- Calma, Ron, tem que ser mais devagar, ele está meio sensível. – repetia Hermione.
- QUAL O PROBLEMA CRIATURA? AFINAL, HEIN, HEIN? – gritou Ron.
Hermione deu um tapa na cabeça dele.
Ron levantou-se, pegou Hermione, olhou pra ela e falou:
- Deixe-me expressar-me livremente, Hermione.
Hermione sorriu, afrouxou as mãos de Ron, que desceram para sua cintura. E tentei não olhar o que veio a seguir. Me traumaria, com certeza me traumaria. Mesmo assim, eu vi as criaturas se beijarem. Sabia que elas queriam isso desde o começo. Com certeza. O Ron estava bem.. Hum.. Empolgado com a coisa.
Senti-me sobrando.
Suspirei, falei Tchau, não que eles tenham em escutado, e saí da lanchonete. Não queria voltar pra casa. Na verdade queria que chegasse logo amanhã. Amanhã era sábado... Tirei o papel que eu tinha guardado no meu bolso quando entrei no meu quarto.
“Oi, pode ir até a minha casa agora criatura”, li. “Na planta em do lado da porta tem uma coisa para você.”
Ah, lembrei. Era a caça ao tesouro da Gina. Passou-se algum tempo, mas quem sabe ainda estava lá?
E fui até a casa da Gina. E estava certo, na planta havia um envelope branco, cheio de linhas vermelhas, escrito “DRACO” na frente. Saí dali e fui me esconder em algum lugar.
“Draco, sinceramente, acho que com palavras não consigo te dizer isso esse século. Resolvi então escrever uma carta. Ela está meio confusa, mas acho que você vai entender. Bom, pra começar, peço desculpas por qualquer coisa que até esse momento eu tenha feito e que você não tenha gostado. Mas... Bem, eu suponho que você quer saber logo. Draco, eu percebi nas últimas semanas que eu ando gostando de você UM POUCO mais do que deveria. Não estou te culpando nem nada, só queria que você soubesse que... Olha, é bem... Complicado, então é melhor estar sentado. Comecei a sentir que gostava de você alguns dias atrás, quando olhei para você e me senti... Estranha. Tipo, nervosa. Espero que você esteja entendendo. Bom, Mas ontem, eu.. Eu olhei pra você e.. E vi que eu gostava mesmo de você. Que eu.. Bom, que eu.. Eu.. Que eu te... Que eu realmente te amava, Draco. Isso não é pra você me ignorar, é só para você saber. Não precisa me dizer nada a respeito disso. Pode ser um segredo. Você pode fingir que não sabe, se quiser.”
Gina.
- Oh. – falei, muito, muito feliz. – OH! – gritei indignado. Isso foi sexta passada! Quer dizer ela realmente pensa que eu a estou ignorando porque não gosto dela e por isso caiu na onda do Potter... Meu Deus.
Agora tudo fazia sentido. Voltei pra casa, meio pensativo. Entrei no quarto, peguei caneta e papel e escrevi:
“Gina, sinto muito ter feito você pensar que eu estava te ignorando. Acredite ou não, eu não estava. Eu fui procurar a carta uma semana depois, acho que você entende o que houve... Então, eu... Bom... Queria te falar isso porque eu bom... Lembra que o Potter chegou e interrompeu nosso beijo na decoração do baile de formandos? Certo, ali eu me senti nervoso. Acho que significa alguma coisa. Mas você deve saber melhor do que eu. Deduziu melhor do que eu que esse nervosismo significava que você gostava de mim. E isso me ajudou a perceber que... Eu estava apaixonado por você. Não vou te ignorar, Gina. Como você pôde pensar uma coisa dessas? Mas tem uma coisa. Eu quero que seja um segredo. Não quero que ninguém saiba Gina, ninguém... Eu te amo.”
Draco.
Então eu fui até o correio e enviei a carta. Quando cheguei em casa, me joguei na cama e fiquei encarando o teto, evitando admitir que estava morrendo de ansiedade pra que a Gina lesse a carta.
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