CAPÍTULO XVIII



CAPÍTULO XVIII

Rony ignorou os primeiros pingos de chuva que caíram. Não importava o quanto o céu estava escuro, teria tempo de sobra para encontrar Hermione antes do anoitecer. Quem a tinha levado não podia estar longe, embora ninguém se lembrasse de ter visto a lady deixando o castelo com alguém. Ele havia despachado cavaleiros em várias direções, esperando encontrar rastros, mas o terreno estava tão seco que não guardava marcas.
Uma hora mais tarde Talebot gritou dizendo que eles deviam voltar. A chuva caía aos borbotões, soprada pelo vento, e obscurecia a visão, mas ele queria prosseguir, desesperado para encontrar algum sinal da esposa.
- Não estamos conseguindo ver nada! - insistiu o cavaleiro de Harry.
Rony balançou a cabeça enquanto uma rajada de vento fazia o cavalo dele recuar. Então virou o animal para o oeste, recusando-se a interromper as buscas. Não conseguia pensar em nada que não fosse Hermione, a razão deixando-o por causa da urgência, o coração passando a conduzi-lo. Era como se estivesse possuído por uma loucura passageira que só iria embora quando Hermione fosse encontrada. E ele não podia parar para pensar no motivo daquela insanidade.
Ignorando os protestos de Talebot, Rony fez com que o cansado animal seguisse adiante, apenas para parar quando ouviu um som trazido pelo vento. Olhando para o cume de uma baixa colina, ouviu novamente o som, misturado com o barulho da chuva. Então viu vultos contornando o sopé da colina. Imediatamente arrancou a espada da bainha e esporeou o cavalo.
Como um demônio, Rony disparou na direção dos homens montados, embora logo ficasse claro que ele e Talebot seriam largamente superados em número. Logo atrás o cavaleiro gritou o que parecia ser uma advertência, mas ele não entendeu as palavras nem fez questão disso. Lá adiante seis ou sete cavaleiros entraram em forma para enfrentá-lo, mas mesmo assim ele prosseguiu na cavalgada. Não queria saber quantos havia. Se aqueles homens estavam com Hermione, morreriam todos.
- Parem em nome dos Potter, a quem estas e outras terras pertencem. - ordenou, correndo como uma flecha para o centro do grupo.
Para espanto dele, o que parecia ser o líder daqueles homens, um cavaleiro de formidável tamanho, adiantou-se para gritar.
- Rony?
Rony arregalou os olhos ao ver um rosto conhecido. E outro. E mais outro. Depois de sacudir a cabeça para clarear a mente, apertou os olhos.
- Harry? - chamou, achando que havia enlouquecido mesmo.
Depois que o Lobo respondeu com um resmungo ele olhou para os outros e os reconheceu.
- Fred? Nicholas?
Embora a voz dele agora estivesse trêmula e baixa, Rony logo teve resposta.
- Sim, somos nós, Rony. - disseram os irmãos dele. - Estávamos a caminho do seu castelo quando o dilúvio desabou. - relatou o Lobo, erguendo o braço para o enraivecido céu. - Mas que diabo você está fazendo na chuva?
Agora sentindo um impotente desespero, Rony juntou-se aos irmãos na cavalgada até o castelo. O Lobo estava ansioso para sair da chuva e ele mal podia se explicar coerentemente naquele lamaçal. Uma vez no castelo, recusou-se a trocar as roupas encharcadas ou a fazer qualquer coisa além de desabar numa cadeira do salão. A presença dos irmãos não significava nada para ele. A única pessoa que queria ver era Hermione.
Alheio ao cobertor que alguém passou por cima dos ombros dele, Rony afundou a cabeça nas mãos, o desespero caindo sobre ele com mais intensidade do que havia caído a chuva. A tarde ia passando e ele não estava mais perto de encontrar a esposa do que tinha estado horas antes. E se ela tivesse sido levada há muitas horas, já tendo ultrapassado a fronteira do feudo?
Onde estaria Hermione quando a noite caísse? A lembrança da esposa contando como tinha sido estuprada deixou Rony com o estômago embrulhado. Quem estava com ela? Alguém como Smith? Rony encolheu-se quando pensou em Montgomery, um sujeito grande e abrutalhado. Sentia-se arrasado, fraco e totalmente alheio aos irmãos, que circulavam por ali, inquietos, enquanto Harry conversava com Talebot e Malcolm.
- Rony?
Ao ouvir a voz grave do Lobo, Rony ergueu a cabeça, relutante. Então olhou para o homem que era o suserano e irmão mais velho dele. Os outros irmãos estavam logo atrás, parecendo ter medo de se aproximar, mas ele não dava importância ao que eles pudessem pensar. Só dava importância à esposa.
- Vim tão logo recebi a sua carta. - disse Harry, em seu jeito de falar enrolado. - Fred e Nicholas estavam nos visitando e eu também os trouxe. Eles podem ajudar.
- Nada pode ajudar. - murmurou Rony, com abatimento, fazendo um gesto para o lado da janela. - Olhe para fora. Todos os rastros foram apagados, se é que havia algum. Ela desapareceu. Eu fracassei com ela, Harry. Fracassei.
A última palavra ele disse com a voz entrecortada. E havia se considerado invencível, achando que poderia usar a inteligência para superar qualquer dificuldade. Agora sabia que não era assim. E a verdade doía.
- Um Potter nunca fracassa! - declarou Harry, com veemência.
Fazendo uma pausa, como se quisesse se controlar, o Lobo olhou para o lado. Depois inclinou-se para falar num tom mais baixo. Embora Harry houvesse dispensado os curiosos servos, não era possível ter muita privacidade no salão.
- Tem certeza de que alguém a levou? - perguntou o Lobo, pouco à vontade. - Ela não é exatamente do… bem… do tipo que se deixa dominar facilmente.
Em outras circunstâncias Rony teria se divertido com a tentativa do irmão de ser diplomático, mas estava abatido demais para apreciar tais amabilidades.
- Sim, ela foi levada. - confirmou, em voz baixa. - Você pode ir até o quarto principal para ver com seus próprios olhos. - Diante do olhar curioso de Harry, Rony ergueu a mão e retirou algumas gotas de chuva do rosto. - Há uma mensagem escrita na parede, mas não pode ter sido escrita por Hermione. - Fazendo uma pausa, aprumou-se no assento. - Ela não sabe ler nem escrever.
Sem perceber, Rony havia ficado com os músculos tensos, esperando a reação do irmão, mas nada aconteceu. O Lobo apenas olhou para a escada e, fazendo um gesto para que Fred e Nicholas o seguissem, marchou para lá, certamente querendo ver a evidência com os próprios olhos. E nesse momento Rony percebeu que havia fracassado com Hermione em mais de um aspecto.
Harry não dava importância ao fato de que ela era analfabeta. Sem dúvida considerava aquilo uma coisa menor em comparação aos muitos outros defeitos dela.
Rony sentiu raiva do irmão. Hermione podia ser ríspida, muitas vezes grosseira, pouco indicada para se casar com um Potter. Podia não vestir roupas elegantes nem pentear os cabelos de acordo com os ditames da moda. Podia também ser mais habilidosa com armas do que com as artes domésticas. No entanto, era uma mulher que havia sobrevivido a uma vida inteira de sofrimentos e injustiças. Acima de tudo, tinha tido a grandeza de confessar amor por um homem que antes considerava inimigo.
Rony estava outra vez com a cabeça nas mãos, refletindo sobre a própria miséria, quando os irmãos dele retornaram.
- Rony? - disse Harry pigarreando. - Eu vi a mensagem, mas será que ela não… pediu a alguém para escrevê-la?
Vagarosamente Rony ergueu a cabeça.
- Não. - disse, com cansaço na voz. - Ninguém mais tinha conhecimento de que ela não sabia ler nem escrever. Hermione enganou todos sobre isso durante anos. Assim como escondeu de todos a sua verdadeira natureza.
- Sei… - murmurou Harry, como se estivesse procurando assimilar a informação. O Lobo não era conhecido por ser um sábio, mas havia uma coisa que sabia entender melhor do que qualquer um dos outros Potter.
Rony ergueu a cabeça e enfrentou o olhar inquisidor do irmão.
- Eu a amo, Harry. - declarou.
O Lobo fez uma leve careta, mas para eterna gratidão de Rony, não o censurou por aquilo. Apenas respirou fundo e assentiu.
- Bem, se você a ama, Rony, para mim está perfeito.
Como se nada mais precisasse ser dito, Harry afastou-se e foi se juntar a Fred e Nicholas, dando tempo a Rony para se recompor. Animado por aquele pequeno gesto de compreensão, por aquela aceitação sem reservas, Rony levantou-se. Logo depois ouviu um grito de Harry
- Olhe, Rony! A chuva está parando. Vamos sair de novo. Eu trouxe seis homens comigo, além de Fred e Nicholas. Se nos distribuirmos…
O estrategista estava em ação e Rony soltou um demorado e sofrido suspiro enquanto a energia de Harry enchia o salão. O Lobo sempre havia parecido o maior e o mais destemido dos Potter. Além de musculoso e poderoso, era temperado em batalhas que os outros nunca tinham visto. Certamente conhecia mais sobre inimigos do que todos os irmãos, e talvez pudesse fazer o que ninguém mais podia. Talvez pudesse encontrar Hermione.
Antes muito abatido, Rony ganhou novo ânimo. E percebeu que tinha sido uma idiotice dar pouca importância à chegada dos irmãos. A fortaleza encontrada na família, nos laços de sangue e de afeição não podia ser desprezada. Eles não haviam derrotado o próprio Voldemort? Agora talvez salvassem a filha dele.
- Muito bem. - disse Rony, retirando o cobertor dos ombros e jogando-o de lado. - Vou arranjar cavalos descansados para vocês, mas não temos muitas opções.
- Irei com você, Rony, já que não conheço muito bem suas terras. - pronunciou-se Harry.
- Eu conheço. - disse Fred. - Já examinei demoradamente estas colinas.
- Eu também. - declarou Nicholas, surpreendendo os outros irmãos enquanto marchava para a porta.
- Ah, conhece? - perguntou um incrédulo Fred ao irmão mais jovem. - Mas quando foi que teve essa oportunidade?
Nicholas ergueu a cabeça com a arrogância típica dos Potter.
- Não se lembra? Eu estava com você e Dino quando percorremos a cavalo toda a propriedade. Foi quando encontramos o padre.
- O padre? - por um momento Rony ficou atarantado, mas logo se lembrou do que havia retardado o casamento dele, obrigando-o a mandar os irmãos procurar Edred. - Sim, claro. Vocês o encontraram numa caverna. - disse distraído.
- Exatamente! - exclamou Nicholas. - As cavernas! Aposto que é lá que ela está. Encontramos várias delas. Dino disse que uma delas era grande o suficiente para abrigar um grupo de cavaleiros como o que atacou Wessex sob as ordens de Voldemort.
- Mas é claro que quem levou Hermione não ficaria tão perto do castelo. - protestou Rony.
Harry olhou atentamente para ele.
- Não custa tentar, Rony. É muito possível que tenham parado lá para se abrigar da chuva.
Rony sentiu uma onda de esperança. A razão mandava não esperar muito, mas já era bom o simples fato de ter um plano, um rumo a seguir.
- Está certo. - disse.
Depois olhou para cada um dos irmãos e sorriu de gratidão.
- Nicholas, mostre-nos o caminho para essas tais cavernas. E, para o caso de existir lá um exército esperando por nós, vamos todos juntos.
Nicholas arrancou a espada da bainha e ergueu-a bem alto, sem se importar com o riso de Fred.
- Pelos Potter! - bradou, logo secundado pelos irmãos. - Pelos Potter!
O dilúvio que os havia encharcado até os ossos era agora uma chuva fina, facilmente ignorada enquanto eles atravessavam as terras do feudo na direção do riacho, transformado numa caudalosa corrente de água. Acompanhando a margem e atravessando uma sucessão de charnecas e bosques, dirigiram-se à escarpa rochosa que ficava numa das extremidades do vale, até chegar ao ponto em que as pedras alcançavam a sua altura máxima. À medida que foram chegando perto, a boca escura da caverna se tornou claramente visível e os irmãos aproximaram-se cautelosamente, embora o lugar estivesse deserto. Deixando Nicholas e Fred com os cavalos, Harry e Rony se adiantaram, de espada em punho, e entraram no buraco que penetrava na montanha.
Rony apurou os ouvidos e conteve a respiração, mas não ouviu nada além da água que pingava nas profundezas. Harry abaixou-se e examinou o chão duro e úmido.
- Ninguém esteve aqui recentemente. - disse, balançando a cabeça enquanto se levantava. - Mas o lugar é grande mesmo, como disse Nicholas, e pode ter outras entradas das quais não sabemos. Podemos tentar acender uma tocha, se você quiser olhar mais lá dentro.
Rony sentiu um arrepio. Fazia frio no interior da pedra e ele ainda estava com as roupas molhadas. A escuridão se espalhava diante deles, como uma sombria ameaça, e ele sabia que aquela busca poderia demorar dias. Confiando nos instintos do Lobo, balançou a cabeça.
- Não, vamos embora. - disse desapontado.
Lá fora eles outra vez se deixaram guiar por Nicholas e chegaram ao sopé da elevação rochosa. Rony suspirou. Nunca tinha explorado aqueles penhascos, já que não via utilidade no lugar, que não servia nem para pasto de cabras. Agora se recriminava pelo descuido, já que podia imaginar os túneis que deviam haver, sem dúvida excelentes esconderijos para os inimigos.
- Ali. - disse Nicholas, apontando. - É onde fica a caverna do padre. Estão vendo a cruz lá em cima?
- Cruz? - inquiriu Rony, vendo apenas duas pedras superpostas no alto da pedra.
- Só para o nosso Nick. - caçoou Fred.
Outra vez Rony e Harry deixaram os cavalos com os jovens Potter e escalaram a pé o penhasco na direção do ponto indicado por Nicholas. Se havia uma passagem, a água havia acabado com ela e eles tiveram que lidar com lodo e pedras soltas antes de alcançar o objetivo. Mas a chuva que dificultava a escalada também os ajudava, porque o barulho dos pingos disfarçava a aproximação deles, caso houvesse alguém esperando.
Logo abaixo de uma enorme saliência do rochedo, exatamente como tinha dito Nicholas, eles viram a entrada da caverna, parcialmente encoberta pela vegetação típica do verão, cujas folhas evidentemente tinham sido tocadas. Com a mão na espada, Rony aproximou-se para examinar mais de perto.
Diferentemente da outra caverna, onde não havia nada além da escuridão, o interior daquele tinha uma sinistra luminosidade que fez Rony arrancar a espada da bainha. Embora só conseguisse ver lá dentro paredes úmidas, empurrou para o lado os arbustos e entrou na caverna, com uma sensação de urgência que não conseguiria explicar.
Harry ia logo atrás, enquanto ele seguia em frente, acompanhando a curvatura da parede, até que eles alcançaram um círculo completo. À primeira vista podia parecer que a caverna terminava ali, mas a estranha luz vinha de uma estreita abertura aos fundos, indicando que havia um outro compartimento. Depois de trocar um olhar, assentindo um para o outro, os dois irmãos foram se aproximando cuidadosamente da abertura, cada um por um lado. No silêncio praticamente total Rony ouviu o irmão respirando fundo. Logo depois foi ele quem conteve a respiração diante da cena que viu.
Velas acesas iluminavam o ambiente mais bizarro que ele já tinha visto. Havia panos pendurados pelas paredes e cobrindo assentos que podiam ser troncos, pedras ou mesmo bancos. Viam-se também tocos e outros refugos espalhados pelo chão desde a entrada. As velas eram tantas que o lugar estava claro como o dia, destacando-se naquilo tudo uma espécie de santuário que se erguia a um canto, aproveitando uma depressão natural.
Rony ficou arrepiado com o que viu. Embora fosse um homem instruído e se guiasse pela razão, um sábio que desprezava as crendices de Talebot e Malcolm, agora se perguntava se não era uma bruxa… ou coisa pior… que usava aquele altar para fazer suas artes malignas. O coração de animal deixado na cadeira dele assumiu um aspecto mais sinistro e Rony sentiu uma onda de medo, rezando para que os rituais que deviam se desenvolver ali não envolvessem Hermione.
O difícil era prever o tipo de pessoa que eles poderiam encontrar naquele lugar. Não seria de admirar se aparecesse uma velhota corcunda ou mesmo um demônio sanguinário. Nada seria mais espantoso do que a figura de cabeça esbranquiçada que surgiu se movendo por trás de um amontoado de barris.
Era Edred.
Rony adiantou-se, mas Harry o reteve, silencioamente apontando para um monte de roupas jogadas no chão de pedra, perto da entrada. Afastando os cabelos molhados, Rony apertou os olhos e contraiu os músculos quando o que ele pensava ser um amontoado de roupas descartadas começou a tomar forma humana. Aquelas roupas vestiam um corpo e, numa das extremidades, uma massa cor de canela se espalhava pelo chão.
Era Hermione. E Edred levantava um punhal por cima dela.
Rony encolheu-se involuntariamente e conteve a respiração, que só soltou quando viu os cabelos dela se movendo. Hermione estava viva, pelo menos… mas por quanto tempo ainda? Mesmo compreendendo a cautela de Harry, ele queria torcer com as próprias mãos o pescoço do padre. O punhal estava muito perto de Hermione, enquanto eles estavam muito longe.
- Água.
A voz, fraca e abafada, não tinha nada a ver com a feroz mulher de antes. Rony estremeceu. O que aquele louco podia ter feito com ela? Com os dentes trincados e os dedos apertando o cabo da espada, Rony ficou esperando, tenso, pronto para atacar.
- Ah! - grunhiu Edred. - Acordou-se, finalmente. Eu estava com medo de que você dormisse para sempre, Hermione Granger. Não sou tão habilidoso com ervas quanto uma mulher, bruxa ou não.
Ervas? Então ele a havia drogado? Isso explicava a apatia de Hermione, mas o patife podia tê-la matado com as poções dele! Rony apertou muito os dentes no esforço para ficar onde estava.
- Água. - repetiu Hermione, num tom tão franco quanto desesperado.
Rony adiantou-se, apenas pare ser novamente retido pelo irmão.
- Não. - cochichou Harry ao ouvido dele, apontando para o longo punhal que brilhava na mão do padre. - Espere até que ele se afaste dela.
A arma estava muito perto de Hermione e balançava perigosamente. Rony respirou fundo, dando-se conta de que aquela era a primeira vez em que o irmão precisava ensinar a ele a ser paciente. A chocante descoberta o obrigou a se controlar. Ao menor erro dele, Hermione estaria morta. Ele não poderia viver com essa culpa.
- Sim, a sede é uma conseqüência do meu preparadozinho, mas você vai ter que esperar. Está amarrada por um bom motivo, criatura má. Não vou deixar que você tenha poder sobre mim. Já é hora de desistir dessa sua falsa fortaleza, Hermione Granger!
Rony contraiu os músculos quando Edred aproximou o punhal da garganta da esposa dele. Sentia as mãos trêmulas, querendo entrar em ação, e o peito parecia a ponto de estourar por causa das batidas do coração.
- Tenho acompanhado a sua decadência desde que cheguei aqui para servir ao seu pai. Ele achava divertido ter gerado um ser tão abominável e não me daria ouvidos! - A voz de Edred agora era muito alta. - Agora você quer empregar sua arte demoníaca numa outra pessoa, contaminando-a. Eu tentei afugentá-lo, mas ele foi seduzido, enfeitiçado por você. Assim sendo, tenho que tomar as rédeas da situação. O que tem a dizer, criatura má?
- Eu não sou má. - murmurou Hermione.
- É, sim! - esbravejou Edred, e Rony se encolheu quando a ponta do punhal chegou bem perto da garganta de Hermione. - Que outra mulher teria coragem de rogar pragas e ameaçar os homem que se aproximam dela? Que outra gritaria com seus superiores ou mataria um valoroso cavaleiro?
Hermione apertou os olhos.
- Eu fiz o que tinha que fazer para me salvar. - disse. Ainda devia estar grogue, porque falava devagar e numa voz pastosa. - Você deve saber que eu não queria terminar como minha mãe, destruída pelo meu pai e pelos homens dele. Ela era uma mulher bondosa, e ele a matou por isso. Só respeitava quem tivesse uma maldade igual à dele.
Hermione passou a língua nos lábios secos e Rony sentiu o coração apertado por causa do que acabava de ouvir.
- Por isso eu o imitava. - prosseguiu Hermione, com aquele sorriso amargo tão próprio dela. - Agia com rudeza e crueldade para que ele me desse crédito. Para que todos me dessem crédito. E todos eles me deixaram em paz.
Rony estremeceu ao ouvir a revelação. Finalmente conseguia entender o mistério que era a esposa dele. Ao chegar ao feudo, havia acreditado que o comportamento dela se destinava a chamar atenção, quando o tempo todo ela agia para não ser importunada, para se proteger. E, até aquele ponto, o expediente tinha dado certo.
Hermione havia se tornado tão assustadora que praticamente todas as pessoas tinham medo dela, poucos ousando se aproximar. Apenas Smith, descuidado e desesperado, havia suspeitado da mentira, mas teve que pagar caro por isso. E Rony via a ironia que nem a própria Hermione percebia: ao se fingir de forte, ela havia se tornado mais corajosa do que todos os outros.
Rony balançou a cabeça, orgulhoso da esposa, mesmo não sentindo o mesmo orgulho de si próprio. Embora sempre se desse muita importância por ser um homem instruído, toda a sabedoria dele não havia servido para nada na tarefa de lidar com Hermione. Ele havia sido ensinado a olhar sempre além da superfície, mas não soube aplicar a lição. Em vez disso, dava valor apenas às coisas aparentes: limpeza, saber ler e escrever, hábitos de se vestir. E não prestava atenção no que realmente importava: firmeza de caráter, bondade e generosidade, paixão, inteligência.
Ali, na lúgubre caverna, Rony sentiu o peito doer de amor pela esposa. Mas Edred não parecia capaz de ver a verdade. Longe disso, estava enlouquecido.
- Você está dizendo falsidades, embora nem tudo seja culpa sua. Está possuída, Hermione. - disse, encostando cada vez mais o punhal no pescoço dela. - E eu sou o único homem que poderá salvá-la da danação eterna. Você fornicou com o demônio e só com a purificação do seu corpo poderá ser salva. Somente copulando com alguém de coração puro será absolvida. - decretou Edred, os olhos pálidos dele assumindo um brilho selvagem.
Rony engoliu em seco quando ficou claro o que Edred queria de Hermione. E, existisse ou não a ameaça do punhal, ele não deixaria que aquele cretino tocasse nela. Depois de trocar um olhar com Harry, Rony projetou-se para a frente no exato momento em que Hermione desferia um violento chute, fazendo com que o captor dela perdesse o equilíbrio. Aproveitando o momento, Rony venceu a distância que o separava da esposa e um feroz rosnado encheu a caverna quando Harry o seguiu.
Rony saltou por cima de Hermione na direção de onde Edred havia caído de costas, a espada cortando o ar e a lâmina indo parar bem perto do peito do homem.
- Morra, padre. - ele disse, erguendo a espada para desferir o golpe final, mas a voz fraca de Hermione o reteve.
- Ele está louco, Rony.
Surpreso com a clemência da esposa, Rony olhou para ela enquanto a voz de Edred voltava a soar.
- Você não a terá!
Ignorando a espada encostada no peito, o padre moveu-se para cima e foi atravessado pela pesada lâmina. Muito espantado, Rony balançou a cabeça.
- Enlouqueceu mesmo. - murmurou. - Que encontre paz.
Retirando a espada ensangüentada, ele rapidamente a limpou num dos muitos panos espalhados pela caverna e guardou-a na bainha. Feito isso, sacou a faca da cintura e ocupou-se em cortar os tecidos que amarravam as mãos da esposa.
Hermione sentou-se, trêmula, e Rony caiu de joelhos na frente dela. Lembrou-se de uma outra ocasião, em que eles tinham estado em posições invertidas, quando ela havia se declarado com tanta sinceridade. E agora ela o fitava com aqueles olhos negros cheios de cautela, uma insegurança que ele estava determinado a destruir, mesmo que levasse a vida inteira para conseguir isso. E começaria imediatamente a agir nesse sentido.
Então engoliu em seco e disse as palavras que havia demorado tanto para dedicar a ela.
- Eu te amo, Hermione.
Rony sorriu ao ver o olhar de espanto da esposa. Sem saber se devia rir ou chorar, abraçou-a, murmurando palavras de ternura. Ele a amava, e passaria o resto da vida dando provas disso. A ela e ao mundo.
Ouvindo o Lobo pigarrear, Rony finalmente se afastou da esposa e foi ajudar o irmão a enrolar o homem morto, a fim de que o corpo pudesse ser transportado e sepultado. Quando retirou o punhal da mão do padre, porém, lembrou-se do que havia se passado poucos minutos antes e voltou-se para Hermione.
- Mas o que você pensou que estava fazendo quando chutou esse louco? - inquiriu, em voz baixa. - Podia ter sido morta! O que achou que podia fazer com as mãos amarradas?
Hermione enrubesceu e abaixou a cabeça, mas logo depois deu de ombros e fez um ar de inocência.
- Poderia usar os dentes para tirar o punhal da mão dele.
Antes que Rony pudesse responder àquela tentativa de levar a coisa na brincadeira, o Lobo ergueu o corpanzil e soltou uma sonora gargalhada, evidentemente divertido com o comentário da cunhada. Rony olhou para o irmão e fez cara feia.
- Você não devia incentivá-la nisso. - ralhou, embora ele se sentisse incentivado pela atitude do Lobo em relação à antiga inimiga.
Sorrindo para Hermione com relutante admiração, Harry balançou a cabeça.
- Rony, se alguém pode arrancar um punhal das mãos de um homem usando apenas os dentes, essa pessoa é sua esposa!




Agradecimentos especiais:

Raquel Pereira: acho que esse capitulo responde a todas as perguntas, quem imaginaria que seria o padre não é mesmo. Beijos e até o epílogo.

Bianca: foi muito legal mesmo a Mione se declarando e mais bonito ainda o Rony se ajoelhando e declarando que a amava, espero que tenha gostado do capitulo, gora só tem o epílogo. Beijos.

(-( Duda Pirini )-): espero que o capitulo tenha agradado, e então descobriu quem era antes de ler o capitulo? Mas quem iria imaginar que seria o próprio padre, agora só tem o epílogo onde os irmãos do Rony vão ver a verdadeira Mione. Até la, Beijos.


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