CAPÍTULO XVII



CAPÍTULO XVII

Ela podia tê-lo matado. Embora ele a houvesse perseguido de espada em punho enquanto ela corria para a escada, Hermione podia ter enfiado a faca na barriga do homem antes mesmo que ele tivesse tempo para piscar. Era mais rápida do que aqueles cavaleiros grandalhões e teria a vantagem de estar na parte mais alta da escada. Mas havia reconhecido o sujeito como um dos guarda-costas de Rony, o que se chamava Talebot, preferindo não fazer nada ao ser agarrada pelo braço e arrastada para o salão.
Achando que aquele tratamento grosseiro se devia a algo mais que um simples atraso para o jantar, quase entrou em pânico quando viu o que se passava no salão. A princípio só conseguia ver a cadeira de Rony, em cujo encosto estava cravada uma flecha preta. Depois viu o próprio Rony, não muito longe da cadeira, ileso. Então cambaleou, enfraquecida por um alívio tão grande que quase ficou sem força nas pernas.
Rony estava bem.
Para Hermione só isso importava, mas era impossível ignorar os murmúrios que se erguiam à volta dela.
- Bruxa! - diziam as pessoas, os rostos se desviando para não encará-la.
Hermione teria rido daquilo, mas logo percebeu porque o homem de Rony apertava tão rudemente o braço dela. Então sentiu uma amargura tão grande que até a morte seria preferível.
Talebot empurrou-a para a frente, com rudeza, como se ela pudesse contaminar os dedos dele, e Hermione pensou em dar uma rasteira nele ou apunhalá-lo, mas sentia o peito tão apertado que mal podia respirar. O silêncio caiu sobre o salão quando eles pararam na frente de Rony. Agora esquecida do homem que tinha às costas, Hermione só pensava no que estava diante dela, embora tivesse medo de olhar para ele.
- Solte-a. - disse Rony.
Hesitante, Hermione olhou de relance para ele e sentiu um mal-estar ao ver a expressão dura do marido. A muito custo conseguiu superar o embrulho que sentia no estômago. Não podia vomitar ali, humilhando-se diante de todas aquelas pessoas.
Como se quisesse ficar longe dela, Talebot empurrou-a novamente.
- Ela estava lá em cima. - disse.
- E comenta-se que é muito habilidosa com armas. - acrescentou Malcolm.
O outro cavaleiro vindo de Wessex olhava para ela com um mal disfarçado medo, mas Hermione não tinha energia para encará-lo. Bem, isso não importava.
Nada mais importava.
- É, sim. - disse o cretino Kenelm, um dos antigos cavaleiros do pai dela. - Eu a vi atingindo um alvo que nenhum homem conseguiria acertar, usando o próprio arco, feito por encomenda.
Dito isso o homem mostrou um sorriso afetado e Hermione olhou para ele, sem piscar, até fazê-lo desviar o rosto, constrangido. Pelo menos era bom ter alguma coisa para olhar, porque ela não conseguiria sustentar o olhar de Rony. Ainda não. Talvez nunca mais.
Ela ainda estava armada, mas mantinha as mãos na frente do corpo, uma apertando a outra, até que as juntas ficaram sem cor. Havia muita gente no salão, os servos da cozinha se juntando às pessoas que tinham ido jantar. Todos se mexiam sem sair do lugar, como moscas presas no mel. E, como moscas, zumbiam, ansiosos para ver a desgraça dela, até que o próprio ar pareceu vibrar com a tensão. Finalmente Hermione sentiu que não podia esperar mais. Morreria se visse o mesmo ar de acusação no rosto de Rony, mas era melhor que isso acontecesse logo do que continuar naquele tormento.
Respirando fundo ela ergueu a cabeça, mas a atenção do marido estava em Kenelm. Apoiando as duas mãos na mesa ele se inclinou para o lado do cavaleiro, que estava com os outros que haviam lutado com o pai dela.
- Quem mais poderia ter disparado a flecha? - perguntou.
Um murmúrio se espalhou pelo salão, além de alguns protestos pronunciados em voz alta quando as pessoas perceberam que Rony ainda queria descobrir quem tinha sido o arqueiro. E Hermione, que raciocinava um pouco mais rapidamente, soltou a respiração, que havia contido, o alívio a deixando outra vez fraca.
Emitindo um estranho gemido ela se sentiu cambalear. Teria caído se Rony não se adiantasse, com uma expressão de ansiedade. Imediatamente ele pôs a duas mãos na cintura dela, numa carinhosa ajuda, mas mesmo assim Hermione queria cair, tombar no chão aos pés dele. Com os olhos cheios de lágrimas, ergueu a mão para o marido… o sábio e maravilhoso Rony, que havia ignorado as acusações contra ela, como se simplesmente não as tivesse ouvido.
Subitamente Hermione sentiu-se engasgada e o rosto de Rony pareceu enevoado, ao mesmo tempo que uma umidade quente escorria pelas faces dela. Então ela ergueu a mão para o rosto para sentir aquilo, algo que não soube explicar de pronto.
- Minha esposa não está se sentindo bem. - disse Rony.
Logo depois Hermione viu tudo girando quando ele a tomou nos braços. Sentia frio, como se estivesse com febre, e era bom apoiar o rosto naquele ombro quente. Os cavaleiros de Wessex protestaram, mas Rony não deu atenção a eles e marchou para a escada, parecendo nem sentir o peso dela.
Uma vez no quarto, fechou a porta e a pôs no chão.
- Você está bem? - perguntou. - Consegue ficar de pé?
Hermione assentiu, mas outro som esquisito saiu da garganta dela, agora seguido por outros numa sucessão incontrolável.
Rony sacudiu a cabeça, parecendo desesperado.
- Perdoe-me, Hermione! Eu não devia ter deixado Talebot tocar em você, mas estava pensando na flecha e…
Hermione tentou sorrir, mas os músculos do rosto dela estavam ocupados em outra coisa. Rony movia as mãos nervosamente pelos braços dela, como se não soubesse onde deveria tocá-la.
- Você pensou que eu estava ferido? Oh, Deus! Eu nem me preocupei com o que você poderia ver! Sou mesmo um cretino, não sirvo para ser seu marido!
Ao ouvir aquelas palavras, tão absurdas, Hermione sentiu vontade de rir, porque era ela quem não o merecia. Abriu a boca para protestar, mas só emitiu descontrolados soluços. Logo depois caiu de joelhos diante dele, abraçando-o nas pernas.
Não merecia aquele homem, aquele grande e maravilhoso homem que, mesmo diante de uma forte evidência, não acreditava que ela podia ser culpada de bruxaria ou de algum ato contra ele. Aquela fé era uma coisa que ela não conseguia entender, mas recebia com muita emoção, porque era a coisa mais preciosa que já tinha tido em toda a dura vida.
Meio tonta, Hermione sentiu as mãos de Rony, que se abaixou diante dela, e ouviu vagamente as perguntas que ele fazia, numa voz tão branda quanto preocupada. O barulho que ela própria fazia, porém, não a deixava entender. Não saberia dizer se já havia chorado alguma vez, mas era bom isso finalmente estar acontecendo, como se a própria alma estivesse sendo lavada pelas lágrimas.
Rony sacudiu-a de leve, o alarme claramente estampado no semblante, e Hermione sentiu que precisava responder, pelo menos para aliviar os temores dele.
- Eu… estou chorando! - conseguiu dizer, tocando no rosto molhado como se quisesse dar uma demonstração.
- Sim, mas por quê? - perguntou Rony, com as mãos nos ombros dela.
Finalmente controlando os soluços, Hermione fungou e reencontrou a voz.
- Você não suspeitou de mim. - disse, numa voz muito baixa.
Rony pareceu tão pasmado que ela outra vez sentiu vontade de rir.
- É claro que não suspeitei de você. - ele declarou, erguendo as sobrancelhas. - Deveria?
Por alguns instantes Hermione ficou apenas olhando para ele. Sentia-se quase esmagada pelo que sentia por aquele homem tão corajoso, belo, generoso, inteligente e que acreditava tanto nela. Eram sentimentos que a inundavam, tomando o lugar das lágrimas, enchendo-a de alegria, espanto e paixão, até que ela não pôde mais contê-los.
- Eu te amo, Rony. - declarou.

Quando ouviu o som calmo da respiração de Hermione, Rony relaxou. Nunca a tinha visto daquele jeito, tão vulnerável e… humana. Rogando uma praga em silêncio, jurou que desmascararia o inimigo o mais rapidamente possível, porque não queria ver Hermione perturbada daquele jeito. Afinal de contas, ela o amava.
Ela o amava.
Rony sentiu uma onda de orgulho masculino quando pensou naquilo, porque não era o que sempre havia querido, amar e ser amado? Ao mesmo tempo experimentava um preocupante sentimento de culpa, porque não estava certo do que sentia por Hermione. Naturalmente ela era a mais instável deles dois, e portanto a mais sujeita a emoções profundas. Era espantoso. Nem mesmo ele havia imaginado as paixões que Hermione tinha guardadas dentro de si! O simples pensamento deixou-o com o corpo agitado e, a contragosto, Rony se afastou do imóvel corpo da esposa.
Bem, havia algumas coisas para serem resolvidas ainda naquele noite. Saindo silenciosamente da cama, Rony vestiu-se e retirou-se do quarto. Como havia imaginado, Talebot e Malcolm estavam de guarda no alto da escada e ele fez um gesto chamando os cavaleiros. Ainda havia uma tocha acesa no corredor e Rony encaminhou-se para o antigo quarto de Hermione, agora desocupado. Não queria ficar muito longe da esposa, mas precisava falar em particuiar com os homens de Harry.
Talebot e Malcolm entraram atrás dele e Rony fechou a porta antes de se voltar para os dois cavaleiros. Os homens ficaram olhando enquanto ele se encostava na parede para estudá-los, como um professor diante de seus piores alunos.
- Espero que vocês tenham pensado muito bem sobre o que fizeram hoje. - disse com naturalidade.
Quando os dois homens fizeram menção de falar ao mesmo tempo, ele os calou com um olhar duro.
- Porque, enquanto prendiam a minha esposa, o verdadeiro criminoso indubitavelmente escapou. Com toda facilidade.
- Mas meu lorde… - começou Talebot.
- Não. - cortou Rony. - Não me venham com desculpas. Vocês não se mostraram melhores do que um camponês ignorante que guarda uma pedra de coral achando que ela o protegerá contra bruxaria! - Fazendo uma pausa ele respirou fundo, tentando dominar a raiva, e olhou novamente para os dois homens. - Vamos examinar a questão logicamente. - disse numa voz cansada. - Você encontrou Hermione no compartimento de vigia?
A pergunta foi dirigida a Talebot.
- Não, eu…
- Então foi no corredor.
- Não exatamente. - disse Talebot, parecendo vexado.
- Então onde? - perguntou Rony, com secura. — Exatamente.
- Ela estava descendo apressadamente a escada, como se quisesse fugir.
- Ou como se estivesse descendo para o jantar. - sugeriu Rony, depois de suspirar. - E onde estava o arco dela?
Talebot teve a bondade de parecer pouco à vontade.
- Eu procurei por ali depois que o senhor se retirou do salão, mas não encontrei nada. - reconheceu. - Mas talvez ele esteja aqui, ou no quarto principal, porque eu achei que não devia entrar enquanto o senhor estava… bem… lá dentro.
Rony ignorou a esfarrapada explicação do cavaleiro.
- Então ela disparou a flecha, acertando bem no alvo, saiu do compartimento de vigia, correu até um desses quartos, escondeu o arco e ainda conseguiu chegar à escada para se encontrar com você lá? - perguntou, com as sobrancelhas erguidas.
Talebot franziu a testa e mexeu-se de um lado para outro, mas Malcolm pareceu achar absurda a pergunta de Rony.
- É sabido que as bruxas sabem voar. - argumentou.
Rony apenas olhou para ele.
- Se chamar outra vez minha esposa de bruxa, Malcolm, eu o matarei. - prometeu, com tranqüilidade na voz.
Depois esfregou os olhos, sentindo que a paciência se esgotava. Por que não conseguia fazer com que aqueles dois entendessem o que estava se passando ali?
- O desgraçado que é responsável por isso está se aproveitando da ignorância de vocês! - despachou. - Utilizando-se disso, destrói tudo o que eu consegui com essa gente e desfaz as alianças estabelecidas pelo meu casamento… tudo isso com um pouco de piche e algumas penas.
Talebot, que tinha estado por um bom tempo olhando para o chão, subitamente ergueu a cabeça e Rony perguntou-se se finalmente havia conseguido convencer o homem. Quanto a Malcolm, obviamente era um caso perdido.
- Talvez não seja só isso, meu lorde. - sugeriu Talebot. - É possível que alguém esteja querendo incriminar sua esposa.
Ao ouvir aquilo, Rony mostrou-se surpreso e bateu com a palma da mão na testa, querendo dar a entender que se recriminava por nunca ter pensado na possibilidade.
- Mas é claro! Belo raciocínio, Talebot. - disse, batendo no ombro do cavaleiro. Logo depois fez uma careta. - Bem, agora só precisamos descobrir qual dos inimigos de Hermione é o responsável.
Enquanto Talebot se mostrava satisfeito com o elogio, Malcolm coçou o queixo.
- Ela tem muitos? - perguntou inocentemente.
Apesar da tensão, Rony riu durante um bom tempo, tanto que até sentiu os olhos úmidos.

Era melhor não contar nada a ela.
Depois que os cavaleiros de Harry se retiraram, Rony retornou ao quarto principal, onde encontrou a esposa dormindo pacificamente. Enquanto ficou olhando para ela, admirando as belas feições e a curvatura das sobrancelhas, concluiu que não deveria acordá-la para contar que finalmente havia convencido os cavaleiros de Harry, os únicos em que podia confiar. Talvez agora as investigações dessem resultado. Hermione tinha sido muito perturbada pelos eventos recentes e não precisava se preocupar também com o fato de que alguém tentava deliberadamente fazê-la passar por bruxa. Pelo menos não mais que o necessário. Rony franziu a testa, pensando naquilo. Já tinha ouvido falar de mulheres que eram queimadas em fogueiras ou enterradas vivas, acusadas de bruxaria, quando não faziam nada além de curar doenças ou envelhecer.
Então ele sentiu um frio na espinha. Havia jurado proteger a esposa, mas era apenas um homem, enquanto uma multidão enfurecida podia muito bem derrubar da montaria os cavaleiros que tentassem subjugá-la. E não era só a crescente aversão que se espalhava pelo povo dele que o preocupava. A flecha daquela noite havia passado muito perto, perto demais, e ele precisava pensar na possibilidade de no dia seguinte o inimigo não errar.
Girando nos calcanhares, Rony afastou-se da cama. Não queria nem pensar no que poderia acontecer com Hermione se ele morresse. Outra vez sozinha, ela teria que enfrentar as acusações de pessoas antecipadamente prontas a condená-la. Ele não podia confiar nos cavaleiros de Harry para protegê-la, enquanto o irmão dele… Rony quase soltou um gemido quando pensou em outra dura verdade. A violência da aldeia inteira não seria nada se comparada com o que Lobo faria.
Com uma pressa nascida do medo, Rony acendeu outra vela e pegou no armário um rolo de pergaminho, o vidro de tinta e a pena de escrever. Um homem prudente sabia quando devia agir sozinho e quando devia pedir ajuda ou conselho. E ele se achava prudente. Não cometeria o mesmo erro de Harry, dispensando toda ajuda em nome do orgulho. A ameaça era simplesmente grande demais.
Sem se importar com o adiantado da hora, Rony abriu o pergaminho, molhou a pena na tinta e começou a escrever para o pai, a princípio vacilante, depois referindo-se abertamente às preocupações que tinha e ao perigo que Hermione estava correndo, porque, acima de tudo, queria protegê-la. Quando terminou a carta começou uma outra, menor e menos eloqüente, que seria remetida a Wessex.
Tão concentrado estava que demorou a perceber que Hermione havia acordado e agora estava debruçada por cima do ombro dele, os longos cabelos caindo até os joelhos, um pouco além dos quais ia a camisa de baixo. Depois de murmurar uma saudação ele pôs de lado os objetos de escrita. Não havia necessidade de esconder as cartas, já que ela não sabia ler, pensou Rony, logo enrubescendo por ter feito aquela observação cruel, embora só para si.
Então levantou-se, um pouco desajeitado, sentindo alguma tensão entre eles, mas sem saber se era apenas impressão. Hermione caminhou até a janela e ficou olhando para a escuridão. Rony admirou a postura firme dela, achando difícil acreditar que quem estava ali era a mesma mulher que, algum tempo antes, havia caído aos pés dele declarando amá-lo.
Mesmo assim havia uma nova delicadeza nela, uma melancolia que ele ainda não tinha visto, mas que a tornava ainda mais bela e intrigante. Poderia existir uma mulher mais interessante? Rony ficou com pena dos homens casados com mulheres comuns e sentiu o coração palpitando.
Ela me ama.
Hermione se voltou para ele naquele exato momento, estendendo as mãos num gesto desesperado, algo bem diferente de seus modos bruscos.
- Veja só o que você fez comigo. - murmurou. - Agora estou fraca, igual a uma criancinha chorona.
- Não. - discordou Rony, aproximando-se dela. - Você não é fraca. - Quando chegou perto, ele ergueu as mãos e colocou-as na face dela. Hermione parecia menos feroz, mais suave, talvez, mas não enfraquecida. - Você é a pessoa mais forte que eu já conheci… mais forte do que qualquer dos meus irmãos.
Hermione dirigiu a ele um olhar de incredulidade, mas Rony persistiu.
- Garotos mimados, cheios de vontades, isso é o que todos eles são.
E era verdade. Os Potter haviam nascido com todos os privilégios, crescendo sob a orientação atenta de um pai justo e sábio, enquanto Hermione… Rony apertou os ombros dela, sentindo uma urgente necessidade de convencê-la de que era uma mulher destemida e de muito valor.
- Ninguém teria conseguido o que você conseguiu, uma mulher sozinha, sem ninguém para ajudá-la. Você sobreviveu, Hermione! Triunfou!
Rony percebeu a ênfase com que falava e procurou abaixar o tom de voz, pondo no olhar a admiração que sentia pela esposa.
- Só porque agora você pode contar comigo, isso não a torna menos forte. - disse, com brandura.
Emitindo um daqueles sons que pareciam tão pouco de acordo com a natureza dela, Hermione escondeu o rosto no ombro dele e Rony a abraçou. Encostando o queixo na cabeça dela, procurou ignorar o leve sentimento de culpa. Havia deixado de dizer muitas coisas.
Como eu te amo.
Desde a declaração de Hermione, vinha sentindo um certo constrangimento por não poder retribuir à sincera confissão dela. Ainda estava inseguro, hesitando para dizer as palavras, porque Hermione era diferente demais da esposa com que ele havia sonhado. E se sentia um tratante por pensar aquelas coisas. Estava sendo fiel aos próprios princípios ou se deixava influenciar por opiniões alheias? A lembrança do riso dos irmãos outra vez o atormentou, agora que ele havia feito daquele um casamento de verdade.
Rony suspirou. De alguma forma, havia pensado que o amor seria uma sensação tão gloriosa e envolvente que não deixaria espaço para dúvidas ou preocupações, existindo somente a mais pura e doce bem-aventurança. Mas lembrava-se de Harry bancando o idiota, teimosamente ignorando o que sentia por Gina. Por acaso ele também estava agindo como um cego?
Apertando um pouco mais o corpo da esposa, Rony afagou os cabelos dela e sentiu uma agitação pelo corpo. Hermione obviamente gostou daquilo, porque logo em seguida ele sentiu no ombro os dentes dela por cima da túnica, mordendo-o de leve. Soltando um gemido, Rony passeou as mãos pelas deliciosas curvas do corpo dela, trocando a confusão pela paixão que existia entre eles.
Essa, pelo menos, era uma coisa sobre a qual ele não tinha dúvidas.

Alguma coisa não estava certa.
Rony correu os olhos pelo horizonte, mas só viu um céu escurecido. Uma semana de muito calor havia secado o chão enlameado, mas a chuva retornava. E ele achava isso bom, não só porque os campos semeados precisavam de água, como também porque terminaria aquele calor insuportável. Se ao menos a tensão que existia à volta dele também pudesse ser eliminada assim, de uma hora para outra…
Embora não tivesse havido nenhum outro atentado contra a vida dele nem misteriosas ameaças, Rony não acreditava que o perigo havia passado. Na verdade, tinha a nítida sensação de que um novo ataque era tão iminente quanto a tempestade. Então suspirou. Homem letrado, não dava importância a tolices como ter confiança nos instintos, mas desde que havia chegado ao feudo havia aprendido a dar mais crédito a certas coisas intangíveis. Chegava mesmo a pensar que a própria vida podia depender delas. Estranhamente, enquanto Hermione se tornava menos feroz, ele seguia em sentido contrário, sendo tão tenaz quanto o Lobo na proteção da propriedade e da esposa.
Depois de verificar o conserto do telhado de várias choupanas, Rony havia resolvido percorrer a aldeia e as terras do feudo, pretendendo fazer a presença dele sentida, o que serviria tanto de ânimo quanto de advertência aos aldeãos. Não havia pensado em voltar ao castelo antes do jantar, mas aquela estranha preocupação o atormentava.
Depois de saudar um grupo de agricultores que trabalhavam ali perto, virou o cavalo e olhou para o castelo, ao longe, mas não viu nenhum exército cercando o lugar, nenhuma fumaça que indicasse um incêndio, nada. Mesmo assim a sensação permanecia, incentivando-o a voltar. Embora não visse nenhum motivo razoável para isso, sentia a necessidade de constatar pessoalmente que tudo estava em ordem. Assim sendo esporeou o cavalo, sem esperar para ver se os cavaleiros de Harry o seguiriam.
Atravessando o pátio a galope, Rony viu que assustava os servos que cuidavam de suas tarefas ali. Mesmo assim não diminuiu a velocidade do animal, só parando na frente da estrebaria, onde desmontou rapidamente e jogou as rédeas para o assustado cavalariço. No salão, embora não encontrasse nada de anormal, sentiu que a ansiedade persistia. Só podia estar imaginando coisas, ou enlouquecendo, como Hermione sempre dizia.
Hermione.
Subitamente Rony quis vê-la, saber que ela estava bem e era realmente a esposa dele. Apesar da crescente intimidade, uma certa distância continuava existindo entre eles, a não ser nos apaixonados encontros noturnos. E Rony se sentia culpado por essa barreira, sabendo que ainda não podia entregar o coração enquanto ela já havia entregue o dela sem reservas.
Ah, ele pensava demais! Era isso o que Hermione tinha dito na noite anterior, quando ele havia pressionado a testa por causa de uma dor de cabeça que começava a sentir. E então, a antes famigerada Granger havia se ocupado em massagear-lhe a cabeça até fazê-lo dormir, com dedos tão firmes quanto cuidadosos, murmurando palavras de conforto, embora às vezes ralhasse com ele.
Rony correu para a escada, impelido por um misto de ansiedade e inquietação. O desconforto foi duplicado quando ele encontrou o quarto vazio, embora soubesse que Hermione devia estar em algum outro lugar. Procurando se controlar, girou o corpo e marchou para a porta, apenas para ficar paralisado com o que viu.
O reboco liso da parede estava manchado de preto, como se alguém houvesse passado ali um carvão… ou uma flecha mergulhada em piche. Com a respiração contida, Rony viu que aqueles rabiscos formavam uma mensagem dirigida a ele.

Fora, Potter. Se você não vai embora, então eu vou.

A mensagem estava escrita em grandes e trêmulas letras e a assinatura era E. Granger. Rony juntou as sobrancelhas e aproximou-se. Embora a assinatura fosse parecida com os garranchos infantis com que Hermione havia assinado os documentos do casamento, ele sabia muito bem que ela não saberia escrever as outras palavras. Estava indo bem nas lições, mas ainda praticava as letras. E a assinatura. Na verdade, no dia anterior mesmo ele havia reparado a dificuldade com que ela escrevia o próprio nome: Elene Potter.
Não Granger.
Soltando o que era quase um rugido, Rony amaldiçoou aquele embuste e saiu correndo do quarto, como um louco. O desconhecido inimigo finalmente havia atacado, levando uma coisa mais cara a ele do que a propriedade ou a vida.
A esposa dele estava desaparecida.





Agradecimentos especiais:

Srtª Granger: agora as coisas ficaram feias, o idiota que está causando tanto mal aos dois é alguém que ninguém poderia imaginar. Beijos.

Clara Eringer: Com certeza ela estava no lugar errado e na hora errada, e agora ela foi seqüestrada. Infelizmente a fic ta acabando, mas tem mais dois capítulos ainda. Beijos.

Carol Pimenta: Rony não duvidou da Mione e soube que ela era inocente, as coisas ficaram ruins agora que ela foi levada. Beijos.

Bianca: A Mione foi pega na cena do crime, mas o Rony não duvidou nem por um segundo da inocência dela. Agora as coisas ficaram feias com o seqüestro, a dignidade é a marca dos Potter. Beijos.

Raquel Pereira: como você viu a Hermione só estava no lugar errado e na hora errada, mas o rony não duvidou dela e agora ela foi seqüestrada. Obrigado pelos arabens, não importa se é atrasado, o que vale mesmo é a intenção. Beijos.

(-( Duda Pirini )-): não foi a Hermione, ela nem estava no local do crime como Rony provou aos homens do Harry, e enquanto eles a pegavam o verdadeiro culpado escapou. Smith ou os mordomos? Voldemort? Putz, ai sim seria interessante, mas já adianto que não. O culpado é alguém que apareceu no começo da fic e que age por fora, alguém em quem ninguém desconfiaria. Obrigado pelos parabéns, quanto ao Rony mostrando a esposa para todos os irmãos, isso vai ser no epílogo e vai ser muito interessante ver os marmanjos babando pela mulher que eles chamavam de “bruxa”. Beijos.

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