CAPÍTULO XIV



CAPÍTULO XIV

Rony caminhou para a mesa com um pequeno pacote embaixo do braço. Ainda não tinha visto Hermione naquele dia e estava ansioso para jantar com ela. Pôs o embrulho embaixo da cadeira e sentiu-se corar, embaraçado com o presente que daria a ela. Alguma coisa tinha mudado entre eles na noite anterior. Hermione havia confiado nele o suficiente para deixá-lo se aproximar dela, o que era um grande avanço. Por isso ele queria comemorar o novo acordo que parecia ter se estabelecido.
Durante as horas de trabalho daquele dia, Rony havia pensado em flores, bijuterias e doces, concluindo que nada disso seria apropriado para presentar à esposa. Hermione era… diferente. Ele precisava encontrar alguma coisa que tanto a agradasse quanto marcasse a seriedade do momento. Quase havia desistido quando, pouco antes do chamado para o jantar, teve a idéia. Na hora achou que havia encontrado a coisa certa para expressar o que estava sentindo. Agora, porém, estava inquieto no assento, como um garoto inseguro. Procurou se convencer de que não havia motivo para ficar inquieto, mas era impossível prever a reação de Hermione. Ela podia gostar muito do presente ou simplesmente jogá-lo na cara dele, com um sorriso de escárnio.
Rony pigarreou e pegou a caneca de cerveja, que imediatamente pôs de volta em cima da mesa quando viu a esposa entrando no salão. Como ela estava diferente! Não era só por causa dos cabelos, que caíam às costas dela e por cima dos ombros, deixando o rosto inteiramente à mostra. Hermione movia-se graciosamente, sem aquela eterna curvatura de quem estivesse prestes a dar o bote.
Agora ela atravessava o salão com a cabeça erguida, mais serena do que Rony jamais a vira. E ele não foi o único a reparar na mudança que havia se operado, porque o silêncio caiu sobre o ambiente enquanto as pessoas observavam a recém-chegada, alguns disfarçadamente, outros sem esconder o espanto. Observando os movimentos da esposa, Rony sentiu uma onda de puro desejo. Tomou um demorado gole da cerveja e por alguns instantes ficou segurando a caneca, como se erguesse um brinde a ela. Amizade. Era isso o que queria que existisse entre eles e o presente formalizaria um relacionamento assim.
A comida que vinha sendo servida no castelo era simples, mas bem mais saborosa que a de antes, com o tempero se aprimorando a cada dia. Os servos da cozinha estavam acatando a orientação de Rony. Aos poucos as coisas se ajeitariam, mas o principal era o relacionamento dele com Hermione. E o que estava para acontecer podia ser muito importante para que eles se entendessem. Rony estava otimista. Apenas a sensação de que alguém o observava atentamente atrapalhava a satisfação daquele momento. Rapidamente ele olhou em volta, mas não viu sinal de Montgomery ou Serle. Também não surpreendeu ninguém a observá-lo. Dando de ombros, procurou esquecer aquela sensação e escolheu algumas das primeiras cerejas da estação. As frutas pareciam tão suculentas que davam água na boca. Debruçando-se por cima da mesa, Rony ofereceu uma delas a Hermione.
Surpreendentemente ela recuou, olhando para a fruta oferecida e depois para ele, com uma expressão de espanto.
- Você… não quer? - ele perguntou.
Olhando outra vez para a cereja ela balançou a cabeça vagarosamente.
- Não. Eu… eu não sei. - gaguejou, logo depois estendendo a mão e tirando rapidamente a fruta dos dedos dele, como se tivesse medo de se queimar.
Como de costume, Rony não soube que conclusões tirar daquele comportamento. Depois de pôr a cereja na boca, Hermione fez cara feia e olhou para ele.
- Não acha que estão um pouco amargas? - perguntou.
Ficando claro que ela não havia gostado da cereja, Rony conteve o riso e comeu as frutas restantes.
- Não. - respondeu, ainda mastigando. - Estão exatamente como eu gosto. - acrescentou, com um sorriso.
Ela o olhava de uma forma estranha e ele ficou sem saber o que pensar.
- Na nossa infância, Simas e eu éramos sempre os primeiros a colher cerejas. Invariavelmente ele acabava tendo uma dor de barriga, enquanto meus outros irmãos só comiam as frutas maduras. Mas eu… - Rony fez uma pausa e dirigiu à esposa um sorriso cauteloso. - Eu sempre preferi as mais amargas.
Ela estava mesmo enrubescendo? Rony também sentiu as faces quentes ao ver um outro significado para as palavras que acabava de dizer, mas sustentou o olhar dela. Hermione foi a primeira a desviar os olhos e, murmurando uma desculpa, começou a se levantar.
- Não, espere. - disse Rony, segurando no pulso dela. - Tenho uma coisa para você.
Muito desajeitado, ele se abaixou e pegou o presente.
A princípio Hermione hesitou, mas foi se sentando vagarosamente depois que ele pôs nas mãos dela o volume cuidadosamente embrulhado. Ficou em silêncio, olhando, e Rony não soube avaliar o que ela estaria sentindo. Uma mecha dos longos cabelos moveu-se para a frente e ele pensou em posicioná-la por trás da orelha de Hermione, mas não fez isso. Ficou esperando, muito ansioso. O presente era um livro de salmos, certamente apropriado para uma mulher, com bonitas iluminuras que qualquer um apreciaria. Finalmente Hermione passou o dedo na capa de couro, como se estivesse curiosa, e Rony soltou a respiração. Também tinha ficado muito admirado ao ver pela primeira vez aquele livro e agora era muito bom sentir que tinha isso em comum com a esposa.
- Abra. - disse, quase impaciente.
A reação de Hermione foi vagarosa, mas quando ela ergueu a mão para traçar com o dedo o contorno de uma das coloridas ilustrações Rony sorriu como um idiota. Mas ela continuava sem dizer nada e ele se perguntou se a ruidosa Hermione havia ficado muda. Depois ela ergueu a cabeça e olhou para ele, agora com algumas mechas de cabelo sobre as faces.
- É bonito. - disse, pela primeira vez falando tão baixo que só ele podia ouvir.
Encorajado, Rony estendeu a mão e virou a página de rosto do livro.
- Leia a inscrição. - disse, já sem sentir nenhum embaraço por causa das palavras que havia escrito ali. Na pressa de ser o primeiro a chegar à mesa, tinha escrito quase sem pensar, achando que mais tarde se arrependeria. Agora não tinha mais esse temor.
- Eu não posso. - murmurou Hermione.
- Pode, sim. - insistiu Rony, estranhamente tocado pela relutância dela. - Leia, Hermione.
Por acaso ela suspeitava do quanto significava aquele presente? Imaginava o quanto a noite anterior o havia afetado? Rony fez uma careta. Como ela poderia saber a profundidade de sentimentos sobre os quais ele próprio estava confuso?
- Não, não posso. - repetiu Hermione, agora falando mais alto.
Abaixando a cabeça, o que pôs para a frente mais mechas dos finos cabelos, ela se levantou. Outra vez ele a reteve pelo delgado pulso.
- Então mais tarde? - perguntou, vagamente envergonhado por pedir à esposa o que parecia um favor.
Hermione balançou a cabeça e recuou. Como ele não a soltasse, voltou a falar, em voz firme, mas baixa o suficiente para que só ele ouvisse.
- Eu não sei ler.
Rony ficou olhando para ela, sem querer acreditar no que acabava de ouvir, mas o rosto que o fitava demonstrava firmeza. Espantado demais para falar, ele soltou o pulso dela e abaixou a mão. Ficou apenas olhando enquanto ela girava o corpo e começava a se afastar, sem se voltar.
Hermione não sabia ler.
Rony soltou um angustiado suspiro. Na verdade, não era de admirar. Poucas pessoas sabiam ler, por tratar-se de uma habilidade para a qual não havia muito uso. Os próprios irmãos dele provavelmente não teriam aprendido a ler se não fossem o exemplo e a insistência do conde. De todos os Potter, Rony tinha sido o único a estudar apenas por sentir prazer nisso.
Mesmo alguns nobres e proprietários de terras não viam importância na erudição e evidentemente Voldemort tinha feito parte desse grupo. De que outra forma Serle teria enganado o amo com tanta facilidade? Amargurado, Rony perguntou-se se era por isso que Hermione nunca havia assumido o papel de castelã. Era possível que, além de não saber ler, ela também não soubesse fazer contas.
Saber do fato o deixou com o estômago embrulhado, como se houvesse ingerido comida estragada. Não havia nenhuma vergonha naquela deficiência dela, claro, mas nunca havia passado pela cabeça dele a possibilidade de que a esposa não fosse capaz de fazer contas e ler frases simples. Rony balançou a cabeça, constatando, com perplexidade, que Hermione era muito diferente da mulher que ele havia sonhado ter por esposa. Ultimamente até havia se esquecido de como a união deles era estranha, mas agora aquilo caía sobre ele como um peso muito grande. Por mais que tentasse manipular ou esconder a verdade, isso de nada adiantaria.
Hermione era o oposto de tudo o que ele admirava e respeitava.
Vagamente, Rony se deu conta de que à volta dele a vida prosseguia. Ouvia conversas e via pessoas se levantando depois de terminarem a refeição. As palavras soavam claras, mas não tinham nenhum significado para ele. Subitamente, era como se o castelo estivesse sem ventilação e ameaçasse sufocá-lo. Ele precisava de ar puro e tranqüilidade para pôr os pensamentos em ordem.
Passando por Edred, que estava de pé no caminho da porta, olhando atentamente para ele, Rony marchou para a saída. Numa hora em que precisava de paz, não estava com paciência para ouvir o padre falar em castigos eternos. Simplesmente ignorou o murmúrio que se espalhou pelo salão e escapou. Mas mesmo enquanto atravessava rapidamente o pátio, sabia que não estaria inteiramente livre… das responsabilidades, da vida ou da mulher com quem havia se casado.

Hermione passou a tarde afiando cuidadosamente os punhais e imaginando cada um deles cravado no peito de Rony. Girando a pequena roda de afiar, como tinha feito tantas vezes no passado, tentou sentir sede de sangue, mas isso agora parecia difícil. Na verdade ela nem sentia a raiva que devia sentir.
Embora a contragosto, o que estava sentindo era dor, não uma sensação vaga ou indistinta, mas uma dor real e pungente, como a que seria provocada pelo ferimento que algum daqueles punhais poderia fazer. E o pior era a possibilidade de outras pessoas terem percebido. Rogando uma praga ela se arrependeu de ter ido ao jantar. Era melhor sofrer sozinha a humilhação! Infelizmente havia resolvido fazer no salão todas as refeições, porque, quando tentava comer sozinha, Rony sempre se juntava a ela. Embora não gostasse de comer na companhia de tanta gente, não se sentia à vontade trancada no quarto com o marido. O lugar parecia ficar sem o ar necessário para que os dois respirassem.
Há! Idiota! Era nisso que dava se deixar impressionar por um bonito rosto masculino! Ou tentar ficar com a aparência que ele queria! Todas as sensações boas da noite anterior haviam desaparecido, destruídas pelas mãos de Rony… as mesmas mãos que, com incrível ternura, haviam lavado e escovado os cabelos dela, tocando-os até que ela se sentisse numa espécie de sonho… Pondo de lado o mais longo dos punhais, Hermione pegou um outro e encostou-o na pedra de amolar, num gesto enraivecido.
Pela primeira vez desde a morte da mãe, deixava que outra pessoa a tocasse, e não só nos cabelos, mas também na alma. Era aquele o resultado. Ela tentou rir, mas só conseguiu soltar um riso amargo. Era uma idiota mesmo! Confiar só causava dor, como ela já devia saber. Se os outros desconfiassem daquela vulnerabilidade, como ela poderia se proteger?
Um dos episódios do jantar voltou à lembrança de Hermione e ela se sentou, fazendo uma pausa no trabalho. Oh, Deus. Sentado à mesa, Rony tinha estado com uma aparência tão boa, tão jovialmente bonito que ela havia sentido vontade de tocá-lo para ver se ele era verdadeiro. Nunca o tinha visto tão despreocupado desde Wessex e quando ele havia oferecido a ela a cereja… Mesmo agora, Hermione ainda enrubescia ao se lembrar do braço dele estendido, do sorriso relaxado, como se fosse a coisa mais natural do mundo oferecer a ela uma guloseima. Exatamente como o Lobo fazia com a esposa.
No momento Hermione havia ficado sensibilizada e enternecida, embora se esforçando para não demonstrar isso, mas percebeu o erro logo que ele entregou o livro.
Depois, ao ver a expressão que apareceu no rosto dele quando soube por que ela não podia ler o oferecimento escrito, Hermione havia sentido vontade de sair correndo. Já tinha visto aquela expressão em muitos rostos, mas não suportava vê-la no dele. Os Potter haviam demonstrado repulsa por ela desde o princípio, menos Rony… até agora. O choque e o desprezo dele eram mais dolorosos do que o golpe de uma pesada espada e Hermione estremecia por causa da lembrança.
Embora houvesse se retirado calmamente, fingindo não se importar, na verdade estava muito ferida. Ele a havia atingido profundamente. Pela primeira vez desejou ter se casado com qualquer um dos outros irmãos… talvez com o frio e implacável Dino, ou com o aleijado que parecia sempre amargurado. Um casamento assim seria mais fácil de suportar, o ódio mútuo sendo preferível à situação atual, em que ela sentia a mente atormentada e o coração doído.
Hermione olhou pela janela. Estava começando a escurecer, uma indicação de que o jantar daquele dia logo seria servido. Ela deveria fazer a refeição no salão. Fechando o semblante, procurou se convencer de que a Granger desceria e gritaria com qualquer um que tentasse mostrar a ela um sorriso afetado. Bem, não seria tão fácil. Embora decidida a voltar a ser o que sempre tinha sido, era como se a antiga armadura já não servisse mais.
Era isso o que Rony tinha feito com ela.
Ouvindo a porta se abrir, Hermione aprumou o corpo e encostou novamente o punhal na pedra de amolar, embora a lâmina já estivesse perfeitamente afiada. Não olhou para cima, mas sabia quem havia entrado. Podia sentira a presença do marido. O quarto vibrava por causa da fortaleza dele. E ela sentia também o cheiro que ele exalava, um cheiro que mesmo agora a deixava inebriada.
Girando a roda de amolar com excessiva velocidade, ela ficou olhando fixamente para o punhal. Como ele ousava entrar ali? Certamente não pretendia jantar com ela! Embora soubesse que devia se levantar e ordenar que ele se retirasse, Hermione não podia fazer isso. Enfraquecida e magoada, não conseguia nem olhar para o marido, com medo do que veria no rosto dele. Covarde! Espantada com a própria vulnerabilidade, Hermione quase se encolheu, mas continuou trabalhando. Uma hora ele sairia da frente dela. Quando Rony se abaixou ela concluiu que teria que enfrentar o olhar dele e abaixou a cabeça, deixando que os cabelos lhe cobrissem o rosto.
Ele estava belo como sempre, o rosto de feições perfeitas enfeitado pelos abundantes cabelos ruivos. Os grandes olhos castanhos estavam tranqüilos, mas pareciam diferentes enquanto buscavam os dela. Seria remorso? Hermione encolheu-se quando pensou na possibilidade. Por acaso ele pretendia escarnecer ainda mais dela? Ou simplesmente iria embora, agora que sabia que ela não servia para ser esposa dele? Mesmo mergulhada no sofrimento, Hermione sentiu uma onda de pânico quando pensou que talvez nunca mais o visse, ficaria outra vez sozinha, mais sozinha do que nunca.
- Desculpe. - disse Rony, fazendo com que ela arregalasse os olhos, sem saber se estava ouvindo direito. - Não é vergonha nenhuma não saber ler. - acrescentou, olhando-a nos olhos. - Fiquei surpreso, mas foi só isso. Você sabe como eu sou a respeito de livros.
Nesse ponto ele mostrou um sorriso amargo e Hermione não soube o que fazer além de ficar olhando. Nunca na vida vira alguém assumir a culpa por alguma coisa, mas aquele homem forte e poderoso se ajoelhava diante dela, confessando-se arrependido.
- Eu lhe trouxe o livro. - ele prosseguiu, erguendo o volume. - É um presente meu para você e quero que o receba, não importa o uso que vá fazer dele. E quero também que saiba o que está no oferecimento. - Para espanto maior dela, foi com a voz meio embargada que ele leu as palavras escritas na página de rosto. - Para Hermione, esposa por acaso, companheira por opção.
Silenciosamente e com a cabeça abaixada, como se agora não tivesse coragem de olhar para ela, Rony fechou o volume e Hermione sentiu um estranho impulso que só a muito custo controlou. Queria sair de onde estava e passar os braços por cima dos ombros do marido, sentir o aperto dos braços dele.
Alheio àqueles pensamentos esquisitos, Rony pôs o livro no chão e pegou nas mãos dela.
- Juro que nunca tive a intenção de humilhá-la, Hermione. E, se você me perdoar, terei muito prazer em lhe ensinar eu mesmo a ler e escrever. Se você se interessar, claro.
Não havia nenhum julgamento no semblante dele, mas apenas a sinceridade que era o próprio Rony. Hermione sentiu como se alguma coisa se quebrasse dentro dela. Ele estava disposto a ensinar-lhe… a ler. Seria um presente como nenhum outro, um ato mais generoso do que qualquer gentileza! Nenhum outro professor seria melhor ou mais compreensivo.
- Rony… - ela murmurou, logo depois cedendo ao impulso e abrindo os braços para ele. Rony abraçou-a, um abraço cheio de calor, conforto e segurança, e Hermione encostou a face no peito dele.
- Não diga nada. - ele pediu, embora ela não emitisse nenhum som. - Foi tudo culpa minha. Eu estava muito seguro de mim, todo cheio de razões.
Absurdamente, Hermione se viu sorrindo ao ouvir o que ele dizia, embora não pudesse concordar. Na opinião dela, Rony havia assumido quase uma graça divina e ela perdoaria qualquer coisa nele. Por um longo tempo Hermione se deixou abraçar, confortavelmente aninhada no peito do marido, até sentir uma mudança que exemplificava muito bem a mortalidade dele. O peito dele se movimentava com mais rapidez contra a face dela, o coração batia mais alto perto do ouvido dela e Hermione sentiu um delicioso calor. Pousada nas costas dela, a mão dele passou a fazer movimentos que pareciam querer alguma coisa a mais do que oterecer conforto. Hermione conteve a respiração.
Ele a beijaria? Embora sentindo uma onda de calor ao pensar naquela possibilidade, ela estremeceu, percebendo que pela primeira vez na vida desejava que um homem, mais especificamente Rony, encostasse os lábios nos dela. E não era só isso. Queria que ele a deitasse no chão e pedisse que ela o tocasse como naquela outra ocasião. Temerosa de mudar de idéia, Hermione ergueu a cabeça, entreabriu os lábios e ficou esperando, mas Rony apenas afastou algumas mechas de cabelo da testa dela, numa leve carícia.
- E agora? Vai jantar comigo ou pretende jogar a comida na minha cara? - perguntou, com um sorriso cauteloso.
Evidentemente ele queria provocá-la e ela quase sorriu.
- Se quer saber, o que eu planejava era cravar meus punhais no seu peito. - respondeu Hermione, saindo do abraço dele.
Esforçando-se para sufocar o desapontamento por não ter sido beijada, procurou fazer cara feia. Viu o sorriso bonito de Rony, mas não sorriu. O momento havia passado e ela devia até estar grata.
Mas não estava.
Durante todo o jantar, olhava furtivamente para o marido. Ficava com a respiração acelerada e estremecia quando era assaltada por imagens em que Rony a abraçava. Devia reunir coragem para tomar alguma atitude, dar um passo adiante. À medida que a noite foi passando, Hermione foi se achando afastada de si mesma, embora pela primeira vez na vida sentisse uma perfeita sintonia entre mente e corpo.
A certa altura, quando Rony se voltou para ela oferecendo um pedaço de carneiro cuidadosamente escolhido por ele, não pensou muito sobre o que devia fazer. Era hora de compensar Rony de alguma forma.

Rony ficou acordado durante um bom tempo. Hermione parecia ter adormecido imediatamente, mas ele não conseguia conciliar o sono, pensando no fato de que, por causa da própria arrogância, quase havia destruído o pouco que existia entre eles. Não era culpa dela não saber ler! Se o pai dele fosse um cretino como Voldemort e tivesse conselheiros como o seboso Serle… Ronyy estremeceu ao pensar em como a vida de Hermione devia ter sido ou como seria a dele em condições semelhantes.
Só depois de refletir demoradamente sobre o que tinha feito ele havia se arrependido, tendo a idéia de se oferecer para ser o professor dela. E se sentira muito generoso e contrito na ocasião, mas, ao tentar conversar com ela, não havia conseguido esconder o sentimento de culpa. Obviamente Hermione não era tão dura quanto queria parecer, porque logo ao entrar no quarto ele pôde perceber que a ferira profundamente.
Hermione, que todos diziam não ter sentimentos, estava sofrendo muito e, quando ele se ofereceu para instruí-la nas letras… Deus, por um momento Rony pensou que ela ia chorar de alegria e gratidão. Gratidão a ele, que se sentia tão desprezível quanto um cachorro sem dono. Para ele, a idéia era nada mais que uma extravagância, mas para ela significava muito mais. Significava conhecimento, e ele, melhor do que qualquer pessoa, devia saber que o poder, a liberdade e a sabedoria nasciam do conhecimento.
Durante todo o jantar, um brilho de esperança havia iluminado os olhos dela. Era certamente por causa da perspectiva de aprendizado e Rony ficou envergonhado por não ter pensado antes na educação dela. Tinha estado muito ocupado sentindo orgulho de si próprio, por ter se casado com ela, pelos antepassados que tinha, pelos trabalhos que fazia… Não podia mesmo ter percebido as necessidades da esposa.
Suspirando, Rony repousou a cabeça no travesseiro e virou-se um pouco, mas ficou imóvel quando sentiu no peito o toque de macios dedos. Aparentemente Hermione se mexia dormindo, porque ele não se lembrava de ter sido tocado intencionalmente por ela. Nunca. Com outro suspiro Rony pôs a mão por cima da dela. Com a outra mão, puxou-a mais para perto e ficou alisando vagarosamente a pele macia do ombro dela enquanto pensava nos próprios pecados.
Ele a compensaria de alguma forma. No dia seguinte não teria muitas ocupações e eles poderiam começar imediatamente as lições. Se fosse paciente, talvez pudesse se redimir pelo comportamento grosseiro e pela total falta de consideração pela mulher com quem havia se casado.
Pele?
Rony levou um susto quando pensou naquilo. Ele devia estar sonhando, porque Hermione sempre dormia inteiramente vestida, no entanto… Descendo vagarosamente com o polegar pelo braço dela, só encontrou a macia e sedosa pele. Depois, com mais pressa, ergueu a mão até o pescoço de Hermione e descobriu que ela estava usando apenas a camisa de baixo. Devia ter tirado a túnica antes de se deitar. Mas por quê? Estaria com calor? Embora a noite estivesse quente, apenas um lençol de linho os cobria.
Deixando a cabeça afundar novamente no travesseiro, Rony engoliu em seco. Como conseguiria dormir? Já era complicado ele estar nu. Agora, a única coisa que os separava era um fino tecido, tornado ainda mais fino pelo uso. Ao ter aquele pensamento ele sentiu todo o corpo tenso, mas não fez nenhum movimento. Temia uma explosão, ou coisa pior, se Hermione acordasse e se visse abraçada por ele.
Com o corpo esticado, Rony tentou pensar com clareza, mas isso se tornou impossível quando o joelho de Hermione inocentemente se posicionou por cima da coxa dele. Engolindo um gemido ele resolveu que arranjaria um jeito de sair dali, mas logo depois sentiu outra coisa, ainda mais espantosa: a mão dela tremia por baixo da dele.
Imediatamente Rony abriu os olhos, mas não conseguiu ver nada além de sombras. O quarto estava na escuridão, apenas o brilho mortiço da lua entrando pela janela. Depois de esperar até que os olhos se acostumassem à penumbra, vagarosamente ele virou a cabeça para o lado de Hermione. Apesar de todas as evidências em contrário, tinha certeza de que ela estava sonhando… Ou era ele quem sonhava. Então, curioso e excitado, ficou esperando para ver que outros movimentos ela faria dormindo.
Mas Hermione não se movia, não emitia nenhum som além da respiração, tão perto que ele sentia na face. Rony sentiu o coração batendo muito fortemente porque, embora o rosto dela estivesse sombreado, ele podia ver uma inegável tensão. Então foi subindo com os olhos até encontrar os dela, que estavam bem abertos, fitando-o. Rony levou um susto e quase a empurrou. Quantas vezes ela o havia tratado com grosseria quando ele tentava tocá-la? Mas agora ele a abraçava contra o corpo nu e ela apenas o fitava, solenemente!
- Hermione?
Falando numa voz meio trêmula, Rony apertou um pouco a mão dela. Em vez de responder, Hermione roçou os dedos nos pêlos do peito dele, parecendo maravilhada.
- Hermione… - murmurou Rony, incapaz de expressar as perguntas que tinha entaladas na garganta.
Virando-se de lado, cautelosamente debruçou-se por cima dela, mas não sentiu nenhuma faca se cravando nas costas, nenhum chute nos testículos. Ela apenas continuava olhando para ele, num silencioso consentimento, e Rony não esperou mais. Abaixando a cabeça, buscou os lábios dela.
Havia demorado muito.
Foi o primeiro pensamento de Rony quando ela abriu a boca por baixo da dele. E os poucos beijos que ele havia roubado desde o casamento desapareciam em comparação com o de agora. Hermione nunca havia se oferecido como agora, abrindo a boca daquele jeito para a penetração da língua dele.
E o mais notável era que ela correspondia ao beijo.
Apertando os dedos nos ombros de Rony, pressionou os lábios nos dele e pôs-se a trabalhar com a língua. A princípio foram movimentos tímidos, mas que logo se tornaram ousados e insistentes. Aquela língua até se arriscou para fora, passando a passear pelo interior da boca dele e revelando o espírito apaixonado da dona. Rony sentiu uma forte onda de desejo e lutou para controlá-la, lembrando-se muito bem das ocasiões em que a havia assustado na ânsia de dar satisfação às próprias vontades.
Vagarosamente moveu-se mais para baixo, sempre debruçado por cima dela. Depois, com cuidado, sustentando nos braços o próprio peso, pôs em cima dela a parte baixa do corpo e soltou um gemido quando pressionou o membro enrijecido contra o fino tecido que cobria as coxas dela. Então ergueu a mão e pegou uma boa quantidade dos sedosos cabelos da esposa. Finalmente.
- Hermione. - murmurou, encostando as madeixas no nariz e inalando o perfume. - Os seus cabelos. Eu sempre quis… .
Sem saber expressar o que estava sentindo, Rony jogou por cima do próprio ombro aquela porção de cabelos. Hermione emitiu um som trêmulo, como se estivesse divertida.
- Não ria de mim. - ele pediu, tentando sorrir.
Sentia que ela estava insegura e queria animá-la, mas as palavras não apareciam. A cautela de Hermione desapareceu quando os lábios deles se juntaram novamente e Rony exultou com a capitulação que sentiu. Ela o beijava como se estivesse descobrindo o prazer naquele exato momento… o que talvez fosse verdade. Então Rony a beijou com uma ânsia redobrada. .
Depois, parando apenas para recobrar o fôlego, moveu os lábios para a orelha dela e foi descendo até a garganta. Quando encontrou um ponto que a fez estremecer, sugou aquele local até que o corpo dela se sacudiu em espasmos. E o corpo dele também se movia em fortes vibrações.
Agora! Rony pensou que morreria se não a penetrasse logo, mas não podia fazer isso. Ainda não. Outra vez encheu a mão trêmula com os cabelos de Hermione, inalando a doce fragrância como um homem possuído.
- É tão lindo. - murmurou. - Sempre sonhei com seus cabelos por cima de mim, como se fosse nosso único cobertor.
Depois olhou nos olhos dela e não sentiu nenhuma rejeição. De fato, Hermione não protestou quando ele segurou na barra da camisa dela e começou a erguê-la, passando pelas coxas e alcançando a cintura. Então sentou-a na cama e, com cuidado, despiu-a da peça de roupa. Fascinado, ficou contemplando o corpo nu da esposa.
O luar iluminava a curva dos seios, nem grandes nem pequenos, simplesmente perfeitos. Minha, pensou Rony, logo depois se envergonhando por ter uma idéia tão primitiva. Era um homem instruído, um sábio, uma pessoa que sabia pedir com calma, mas mesmo assim estava se consumindo de paixão pela esposa. Hermione. Murmurando o nome dela, Rony a deitou novamente na cama. Então inclinou-se para a frente e passou a língua num dos mamilos dela. Hermione pareceu levar um susto e ficou olhando para ele com os olhos muito abertos.
- Calma… - disse Rony, tentando controlar as palpitações que sentia.
Ele certamente morreria se Hermione escapasse da cama naquele momento. Não, ela não podia fugir. Não agora, quando ele via expostos aqueles seios maravilhosos, quando pressionava o sexo contra a pele macia da barriga dela. Em vez de sugar, como queria, Rony roçou a face nos flexíveis montes, vagarosamente. Queria experimentar o gosto dela, beijá-la e lambê-la em todas as partes do corpo, mas sentiu uma certa relutância e por isso voltou a beijá-la na boca.
Quando Hermione passou os braços por trás do pescoço dele, Rony soltou um gemido e posicionou o membro pronto na junção das coxas dela. Cobria toda a parte frontal do corpo dela e sentia se esfregando no peito os mamilos endurecidos de Hermione. Nua, ela estava por baixo dele, finalmente, e era praticamente impossível controlar o desejo que o dominava.
- Toque em mim, Hermione. - pediu Rony, com a voz trêmula.
Precisava do toque da mão dela, desta vez de bom grado. Com a respiração contida ele ficou esperando. Finalmente soltou um gemido quando sentiu o toque dos dedos dela, hesitantes a princípio, depois mais seguros. Até que, para maior espanto de Rony, ela começou a esfregar o sexo dele.
- Hermione! - ele exclamou. - Assim… Não pare. Por Deus, eu… - Era impossível falar com coerência sentindo o aperto dos dedos dela. - Não estou dizendo coisa com coisa, não é?
Mas nada fazia sentido, porque aquela era a esposa dele, uma mulher que representava tudo a que ele se opunha, e no entanto ele a desejava como nunca havia desejado qualquer outra coisa na vida. Precisava tê-la. Já.
- Hermione. Eu não posso… Preciso…
Rony pegou a mão que o tocava e entrelaçou os dedos nos dela. Parou para respirar, sentindo o sexo latejar, e olhou para ela numa muda pergunta, com medo de ver a resposta, sem saber se saberia se conter se ela não concordasse. Mas ela não se opôs. Depois de fechar e abrir os olhos, como se estivesse entontecida, Hermione abriu as coxas para ele.
Agora. Rony soltou um gemido, sentindo que perdia o controle, o corpo querendo dominar a mente. Então posicionou os quadris, preparando-se para a penetração. Estremeceu quando sentiu a umidade de Hermione. Ela estava pronta, mas ele era um homem grande, não queria machucá-la. E ela devia estar assustada, porque as coxas tremiam.
- Hermione, eu… - gemeu Rony, procurando os olhos dela.
Mas, por causa da escuridão, era impossível adivinhar o que ela podia estar sentindo. Então pegou a outra mão dela e também entrelaçou os dedos. Depois, sem poder esperar mais, ouviu o próprio gemido quando a penetrou bem fundo. Hermione apertou convulsivamente as mãos dele, mas não emitiu nenhum som. Rony gemeu novamente quando ela abriu mais as pernas, recebendo-o nas entranhas como se aquele fosse o lugar dele. Era bom ver que Hermione não estava sentindo dor. Ou então o prazer superava a dor.
Rony olhou para ela e quis falar, expressar com palavras o que estava sentindo, mas simplesmente não conseguia dizer nada. Então procurou controlar a ânsia de satisfação. Se não podia explicar a ela as emoções que sentia, então faria isso com o corpo. Assim decidido, ficou esperando até que ela relaxasse e emitisse um leve suspiro.
- Diga-me o que quer. - ele pediu. - Diga-me do que mais gosta.
- Não posso. - ela murmurou, virando o rosto.
- Pode, sim. Gosta disto? - perguntou Rony, beijando-a na garganta e sentindo que ela estremecia - E disto?
Agora ele a beijava num dos seios, sem sentir protesto quando sugou o mamilo. Enquanto a beijava num dos ombros, Rony achou que não podia esperar mais. Então segurou nas nádegas dela com as duas mãos, e projetou os quadris para a frente, penetrando-a o mais fundo possível e surpreendendo-se ao ouvir um demorado gemido de prazer.
- Ai…
- E disto? - ele perguntou, começando o movimento de vaivém. Sentindo suor na testa, outra vez entrelaçou os dedos nos dela.
- Eu… gosto… de tudo. - confessou Hermione.
Aliviado, Rony finalmente se abandonou à paixão que o consumia. Intensificou os movimentos e gemeu de alegria quando sentiu que Hermione serpenteava o corpo, acompanhando o ritmo dele. A raivosa Granger, conhecida pelos gritos que soltava, agora emitia tímidos gemidos, tão baixos que pareciam arrancados dela contra a vontade. Mesmo assim, aqueles arquejos quase levaram Rony à loucura. Até que finalmente ela apertou as unhas na palma das mãos dele e soltou um gemido mais alto e demorado, incentivando-o a despejar dentro dela o que aliviaria a paixão de Rony.
Finalmente Hermione era dele.


Agradecimentos Especiais:
Raquel Pereira: Que bom que gosta tanto assim da fic, é uma pena que ela esteja em reta final... Agora a Mione se entregou de corpo e alma, espero que tenha gostado dos capitulos. Beijos.
Bianca: O Serle tá na rua e realmente se fosse Voldemort coitado dele, por isso deveria agradecer a Rony. A mancada nem foi tao ruim assim como deu pra notar no capitulo.. Mas ele logo se redimiu e finalmente a Mione se entregou a ele de verdade. Bejos.
(-( Duda Pirini )-): A Hermione percebeu que precisava do Rony e o deixou pentear seus cabelos, e agora demonstrou que finalmente confia no marido, como voce viu a mancada do Rony não prejudicou muito a relaçao porque ele se redimiu rapidamente. Não consegui ler o trailler da sua fic ainda, mas prometo que hoje a noite eu leio, não tenho certeza mas acho que voce já postou o primeiro, entao eu vou le-lo hoje e em seguida posto meu comentario. So espero que me desculpe pela demora em ler, estou realmente com falta de tempo e preciso de todas as noites da semana pra conseguir atualizar todas as fics na segunda. Beijos.
Juliee Malfoy: a Mione é demais e espero que tenha gostado desse capitulo. Beijos.


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