CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
Rony subiu rapidamente a escada, sem ao menos olhar para o que carregava no ombro. Finalmente havia decidido agir. Há meses que vinha suportando o comportamento rebelde da esposa, os impropérios e as ameaças que ela vivia gritando, mas não toleraria mais aquilo. Entrando no quarto ele fechou a porta com um violento chute, sem se importar com o barulho que estava fazendo. Depois de tirar o fardo dos ombros, jogou-o sobre a cama. Hermione caiu de costas, com as pernas e os braços levantados.
Olhando para ela, Rony chegou à conclusão de que sua costumeira eloqüência o havia abandonado, já que não conseguia pensar em nenhuma palavra para expressar a raiva e o aborrecimento que sentia com a mulher com quem havia se casado. Abriu a boca, mas emitiu apenas um som grave e estranho, muito parecido com um dos rosnados que Harry soltava. Deus todo-poderoso! Ele não era um selvagem como o irmão! Pigarreando, Rony tentou novamente, procurando falar em voz baixa e o mais calmamente possível.
- Não me importo com a forma como você me trata, Hermione, mas nunca tente machucar Gina. Ela é uma mulher inocente, amável, bondosa e meiga.
Tudo o que você não é, pensou em acrescentar, enquanto observava a expressão rebelde da esposa. Obviamente aquela advertência, como todas as outras, estava tendo muito pouco ou nenhum efeito sobre a diaba.
Murmurando uma praga, Rony girou o corpo. Não sabia o que o aborrecia mais, se Hermione ter tentado atacar Gina ou Gina ter visto a esposa dele em um de seus piores momentos. Um calor foi vagarosamente tomando conta das faces de Rony, causado pela idéia de que a cunhada tinha conhecimento da dolorosa verdade da vida dele. Não importava o que os irmãos pensavam. Nenhum dos Potter jamais havia sabido dos secretos sonhos dele, nenhum deles poderia entender a necessidade de amor que ele sentia. Mas Gina olhava para tudo com os olhos de uma mulher e ele não suportaria vê-la demonstrando pena pela sina dele.
Rony trincou os dentes e cerrou os punhos. Queria socar alguma coisa, qualquer coisa, só para tentar diminuir a frustração que sentia. Então empertigou-se, subitamente dando-se conta do que a esposa havia conseguido fazer.
Ele havia perdido a paciência.
Rony respirou fundo, mantendo os lábios apertados. Sempre havia se orgulhado de ser diferente dos irmãos. Era o mais instruído de todos, aquele que Campion afirmara ser o filho mais parecido com ele. Conseguia conversar com as pessoas sem fazer uso de palavrões e não era do tipo de guerreiro sanguinário que sentia prazer nas batalhas. Naquele momento, porém, o que mais queria era agarrar a esposa por aqueles enormes cabelos e…
- Vou continuar fazendo o que bem quiser. Como não gosto da sua prostituta…
Ao ouvir a voz de Hermione ele se voltou rapidamente, num gesto que a fez interromper o que ia dizendo. Parecendo mais rebelde do que nunca, ela estava de joelhos na cama, segurando o punhal apontado para ele. Outra vez. Quantas vezes já o havia ameaçado de morte? Embora não entendesse aquela necessidade que Hermione parecia ter de estar sempre armada, em todas as vezes ele havia preferido não dar importância. Mas não daquela vez. Num movimento rápido, Rony arrebatou o punhal da mão dela e fechou os dedos no delgado pulso.
- Gina não é minha prostituta. - disse, falando bem devagar e debruçando-se por cima dela. - Gina é minha cunhada. Sei que sua mente perturbada vê maldade em tudo, mas não tente transformar Gina em nada ruim. Ela é uma pessoa verdadeiramente bondosa, a melhor coisa que já aconteceu à minha família. E, antes que este dia chegue ao fim, você pedirá desculpas a ela pelo abominável comportamento que teve.
Hermione abriu muito os olhos negros, como se estivesse aterrorizada, e Rony soltou-a. Aborrecido consigo mesmo, sentou-se na borda da cama e apoiou a cabeça nas mãos. Aquela mulher estava fazendo com que ele descesse ao nível dela. E ele podia ver o tenebroso futuro que se desenhava: eles passariam o resto da vida brigando como dois cachorros.
- Nunca encoste a mão em mim, Potter.
Ao ouvir aquelas palavras Rony ergueu a cabeça. Só podia estar sonhando. De outra forma, por que sentiria nas costas a ponta de um punhal? Por que uma mulher que estivesse em seu juízo perfeito voltaria a ameaçá-lo depois de ter sido dominada por ele, num momento em que a raiva ameaçava fazê-lo perder a cabeça? Rony levantou-se vagarosamente. Depois, mais devagar ainda, foi se virando para encará-la. Era incrível, mas ela estava outra vez ajoelhada na cama, com o outro punhal na mão.
- Não se aproxime mais. - advertiu Hermione. Com a rapidez conferida pela habilidade e pela prática, Rony arrancou o segundo punhal da mão dela, com a mesma facilidade da vez anterior, girando nos calcanhares enquanto ela gritava, furiosa. - Devolva o meu punhal! - vociferou Hermione, lançando-se contra ele com os punhos cerrados.
Conseguiu arranhá-lo na face antes que ele pudesse dominá-la. Rony fez uma careta por causa da dor.
- Devolverei o punhal quando você começar a agir como uma pessoa adulta, e não como uma criança, uma pirralha malcriada e cheia de vontades! Quando é que você vai assumir suas responsabilidades na vida? Quando vai aceitar alguns deveres para cumprir em vez de ficar assustando garotos e provocando dores de cabeça, em mim? Quando vai assumir as funções de castelã, como seria sua obrigação? Nunca pretende supervisionar os trabalhos na cozinha? Nunca pensou em transformar aquele castelo num lar, num lugar agradável de se morar?
Por um longo momento ela ficou apenas olhando para ele, os olhos de gata apertados, os lábios entreabertos. Estava chocada. Depois fez uma furiosa careta.
- Quando você sair de lá! - gritou, soltando-se para esmurrar o peito dele.
Rony recuou um passo e olhou para ela, tão enfurecido quanto perplexo por não conseguir fazê-la ver a razão. Por Deus, aquela mulher não podia ser racional! Soltando um gemido ele levou os dedos à face.
A diaba havia tirado sangue dele.
- Eu devia tratá-la como a criança que você é. - ele declarou. - Devia deitá-la de bruços no meu colo para castigá-la no traseiro! .
Rapidamente passando da palavra à ação, Rony agarrou-a pelos pulsos, sentou-se e deitou-a de frente, atravessada sobre as coxas dele. Estava enraivecido o suficiente para cumprir a ameaça, embora a fúria inicial houvesse se transformado numa espécie de abatimento.
Olhando para a mulher que gritava e esperneava no colo dele, Rony hesitou. Com a mão numa das pernas dela, fixou a atenção nas redondas nádegas que o tecido de lã não conseguia disfarçar. O abatimento se transformou num crescente calor enquanto ele olhava para a tentadora elevação de carne, que não parava de se movimentar.
- Fique quieta. - disse, numa voz que era pouco mais que um murmúrio rouco.
Como Hermione não desse atenção à ordem, ele usou a mão para obrigá-la a parar. Quando pressionou a palma da mão contra aquelas curvas macias e quentes, porém, conteve a respiração. A raiva havia desaparecido por completo, substituída por outra força primitiva e perigosa. Aflito, Rony sentiu que estava excitado, com o sexo enrijecido por baixo dela.
Pelas chagas de Cristo, em que havia se transformado? Tinha afundado tanto, a ponto de sentir atração por aquele ser estranho? Era do tipo de homem que se excitava com a violência? Horrorizado, Rony deixou as mãos caírem sobre a cama e imediatamente Hermione se voltou para encará-lo. Agora ela estava sentada no colo dele, as macias nádegas pressionando o membro enrijecido. Olhando nos olhos dela, Rony sentiu o coração batendo com muita força e uma contração nas entranhas.
Quando Hermione abriu a boca para gritar, ele cobriu-a com a própria boca. Subitamente, a raiva e a revolta foram esquecidas, substituídas por uma onda de desejo que exigia satisfação. Chegava a ser uma necessidade. O desejo feroz ameaçava consumi-lo e, mais com os instintos do que com o intelecto, concluiu que só aquela criatura selvagem poderia proporcionar satisfação.
Rony moveu a língua entre os lábios dela, experimentando um estonteante triunfo quando sentiu a quente umidade do interior da boca que beijava. Ergueu a mão e segurou na parte de trás da cabeça dela para impedi-la de fugir, mas Hermione não estava oferecendo resistência. Em vez disso, subiu com as duas mãos, antes espalmadas no peito de Rony, para envolver a nuca dele. Soltando um gemido rouco, mal reconhecendo a própria voz, ele se voltou e deitou-a na cama.
- Beije-me, Hermione. - murmurou, outra vez com os lábios encostados nos dela, ao mesmo tempo que se deitava por cima.
Hermione correspondeu ao beijo e ele soltou outro gemido. Tudo que havia entre eles era nada se comparado ao doce entrelaçamento de corpos. Rony experimentou um intenso prazer quando sentiu os jovens e firmes seios de Hermione pressionados contra o peito dele. Agora tudo parecia fora de controle, as batidas do coração, o calor no sexo. Enlouquecido de desejo, Rony posicionou o membro enrijecido na quente e macia região entre as coxas de Hermione, maldizendo as roupas que os separavam.
Não era o bastante. Nunca o corpo dele havia apresentado uma necessidade de alívio tão urgente, tão desesperada. As relações sexuais que praticava eram geralmente vagarosas, sempre precedidas de preliminares nas quais ele se ocupava em proporcionar prazer à mulher tanto quanto a si mesmo. Mas agora a razão e a inteligência estavam superadas pela opressiva força, do desejo, uma ânsia que não o deixava pensar em mais nada.
Pegando a mão fina que alisava o braço dele, Rony a guiou para baixo e encostou a palma no membro ereto.
- Toque em mim, Hermione. - murmurou, penetrando no tubo que se formou quando ela fechou os dedos. - Sim, assim…
Fechando os olhos ele se entregou ao prazer que aquilo proporcionava, algo entontecedor, sem precedentes, inacreditável. Mas aquele momento de êxtase foi interrompido por uma súbita mudança na atitude de Hermione. O calor que o envolvia foi desaparecendo quando ela saiu de baixo dele e saltou para fora da cama.
Por um longo momento Rony ficou onde estava, sentindo palpitações tão violentas que nem conseguia pôr em ordem o pensamento. Havia chegado muito perto de…
Depois de sacudir a cabeça ele abriu os olhos e viu de relance uma túnica descolorida à saída do quarto, as pontas de uma longa cabeleira desaparecendo antes que a porta se fechasse com estrondo, deixando-o sozinho no pequeno quarto. Muito espantado com aquilo tudo, Rony sentou-se e passou nos olhos as mãos trêmulas.
O que havia acontecido com ele? Então sacudiu a cabeça, chocado com o próprio comportamento e com a idéia de que tinha sido Hermione, a famigerada filha de Voldemort, a mulher deitada por baixo dele, furtivamente retribuindo aos beijos. E a mão que havia apalpado o sexo dele com voraz ansiedade tinha sido a dela.
Rony deitou-se de costas, com o corpo todo espichado na cama, procurando se convencer de que Hermione era uma megera, uma criança em forma de mulher, que representava tudo o que ele desprezava! Capaz de cometer só Deus sabia quantas barbaridades, ela causava repulsa a todos que a conheciam.
Então por que parecia que ele havia despertado de um longo sono para sentir a vida pulsando na mente e no corpo como jamais havia acontecido? Pela primeira vez na vida Rony resolveu ignorar uma pergunta, em vez de procurar a resposta. Respirando fundo, decretou que aquela rápida perda de controle com Hermione era algo que não merecia maiores investigações. Tinha sido uma aberração momentânea, nada além disso, causada pela abstinência sexual e pela tensão das últimas semanas. Uma aberração, insistiu, mesmo achando que estava mentindo para si mesmo.
E, embora a honra de cavaleiro o mandasse procurar Hermione para se desculpar pelo reprovável comportamento, ele preferiu se esquivar da obrigação. Podia tê-la tratado mais como uma prostituta do que como uma esposa, mas ela o havia provocado, encostando nele a ponta do punhal, o que o deixara com o sangue quente. Cuidadosamente Rony tocou no longo arranhão na face. Aquilo logo sararia, mas pensando no motivo ele franziu a testa. Ela havia se comportado como uma criança, como sempre, até que…
Com as faces quentes, Rony lembrou-se de quando havia sentido o gosto dela com a língua e do firme corpo feminino por baixo do dele. Praguejou em voz baixa quando sentiu novamente o coração se acelerar. Logo ele, o mais calmo e mais bem-educado dos Potter, havia agido de uma forma inteiramente impulsiva. Como isso tinha sido possível? Rony praguejou novamente, sentindo-se estranhamente vulnerável. E agora, depois que simplesmente a havia atacado, como a esposa passaria a tratá-lo? Apenas olharia para ele com aqueles olhos de gata ou o insultaria? Rony encolheu-se, imaginando as palavras que Hermione usaria, a forma como ela caçoaria da momentânea fraqueza dele.
Então soltou um suspiro enraivecido, bem pouco ansioso para que aquela hora chegasse. Também não teria nenhuma satisfação em se encontrar com Gina e ver pena nos olhos dela. O melhor seria ir à procura de Harry para conversar sobre outros assuntos. O irmão faria com que ele tirasse Hermione da cabeça.
Ou, no mínimo, com que ele se lembrasse dos mo tivos por que não devia desejar a esposa.
Um longo dia de cavalgada pelas terras de Harry não foi suficiente para que Hermione saísse por completo do pensamento de Rony. Ele procurava prestar atenção enquanto o irmão falava dos problemas em potencial e relacionava as reformas que precisavam ser concluídas na propriedade. Mesmo assim, volta e meia voltava a pensar em Hermione.
Olhando para o céu, ansioso, tentou adivinhar a hora, dando-se conta de não devia tê-la deixado sozinha; circulando livremente pelo castelo, podendo causar prejuízos talvez irreparáveis. E se ela acabasse ferindo Gina? Todos os esforços dele para subjugá-la haviam resultado apenas num insaciável desejo, concluiu, abatido. O que o tinha feito pensar que a escapada dela significava submissão?
Finalmente eles tomaram o rumo do castelo, retornando para o jantar, e Rony temeu pelo que poderia encontrar. No entanto, tudo corria normalmente no salão quando eles entraram. Sorridente e tranqüila como sempre, Gina supervisionava o trabalho dos servos que preparavam o lugar para que o jantar fosse servido. Quanto a Hermione, não estava à vista. E ela também não apareceu à hora da refeição. O Lobo censurou a ausência, dizendo tratar-se de uma grosseria e perguntando que motivos ela poderia ter.
- Talvez eu deva ir ver se ela está bem. - sugeriu Gina.
- Não! - discordou Rony, falando um pouco mais alto do que seria necessário.
Mas podia imaginar o motivo. Ou Hermione estava fazendo mais uma das suas ou não queria se desculpar com Gina, como ele havia ordenado. Fosse qual fosse o caso, Rony não queria que acontecesse mais nenhuma cena desagradável entre a esposa dele e a cunhada.
Procurando não contar nenhuma mentira, tentou explicar ao irmão, da melhor forma possível, o comportamento de Hermione.
- Talvez ela não esteja mesmo se sentindo bem, porque pela manhã esteve deitada. - disse, sem acrescentar comigo por cima.
Por alguns instantes ficou apreensivo, temeroso de ter ferido a sensibilidade da esposa a ponto de levá-la ao suicídio, mas rapidamente descartou a idéia. O mais provável era ela estar planejando matá-lo. Engolindo rapidamente a comida, Rony pediu licença.
- Vou ver se ela está bem. - disse.
Harry resmungou alto. Obviamente não acreditava que algum mal pudesse ter acontecido à Granger… além do natural mau humor dela.
- Seja como for, estou cansado e acho que vou me deitar mais cedo. - justificou-se Rony.
Ele não estava preparado para o ar de espanto que apareceu no semblante do irmão. Tudo levava a crer que o Lobo achava um absurdo alguém estar disposto a partilhar a mesma cama com Hermione. Embora ele próprio não fizesse uma idéia muito clara sobre o assunto, Rony sentiu-se insultado e apenas fez uma breve reverência para Gina antes de se retirar. Não pela primeira vez, arrependeu-se de ter ido a Wessex. Tinha ficado muito feliz ao conhecer o sobrinho, claro, mas agora se perguntava se não devia ir logo embora antes que surgissem mais problemas.
O humor de Rony não melhorou nada quando ele chegou ao quarto. Pelo contrário, piorou ainda mais quando verificou que não havia ninguém ali. Onde ela podia estar? Então ele sentiu um aperto no estômago, embora houvesse acabado de jantar. Teria ela estado fora o dia inteiro? Havia partido de Wessex? Mesmo tendo certeza de que Harry ficaria muito contente com o desaparecimento de Hermione, Rony não se alegrou com aquilo. Afinal de contas, tratava-se da esposa dele. Gostassem ou não do fato, ele e Hermione estavam casados. Ele estava cumprindo a parte dele. Por que ela não podia cumprir a dela?
Porque você a atacou.
- Eu não fiz isso. - protestou Rony, em voz alta.
Embora não houvesse exatamente tratado a esposa como uma santa, também não a havia obrigado a nada. Lembrava-se das mãos dela acariciando a nuca e os braços dele, da língua dela enroscando-se na dele. A lembrança o deixou outra vez com o coração palpitando.
No entanto ela havia fugido como se os cães do inferno a perseguissem. A idéia parecia fora de propósito, já que Hermione nunca fugia da luta. Soava como uma nota fora do tom, mas mesmo assim o deixava com sentimento de culpa pela irresponsável concessão à luxúria. E preocupado com ela. Com Hermione? Rony suspirou. Quem se preocuparia com aquela megera? Mesmo assim tinha certeza, vinda não sabia de onde, de que ela não estava preparando nenhuma maldade. Hermione estava em algum lugar, lambendo as próprias feridas. Mas onde? Aonde ela teria ido buscar conforto?
Em lugar nenhum. De ninguém. Porque nunca tinha tido quem lhe desse isso. A triste resposta chegou à mente de Rony muito subitamente, mas ele a ignorou, argumentando consigo mesmo que a Granger desdenhava a solidariedade que por acaso recebesse de alguém. Era uma megera, uma víbora! Mas algumas vezes ele a vira adormecida e vulnerável, ou deitada por baixo dele, macia, gemendo… Nessas ocasiões ela era serena e meiga como uma égua. Rony respirou fundo. Logo depois levantou-se e marchou para a estrebaria.
O sonolento cavalariço que ficaria responsável pelos animais durante a noite não tinha nenhuma informação para dar e Rony mal prestou atenção nas respostas dele. Hermione era esperta o suficiente para passar por aquele rapaz sem que ele percebesse.
Resolvendo procurar em outro lugar, ele caminhou de volta ao castelo e parou diante da escada que levava a um sótão, o lugar onde se estocava ração para alimentar os animais durante o inverno. Depois de hesitar por alguns instantes, subiu a escada.
Foi lá que a encontrou, enroscada a um canto, uma figura tão comovedora que o fez sentir-se um bruto por já ter levantado a voz para ela. Enrolada num velho cobertor, Hermione dormia profundamente. Na semi-obscuridade do lugar ele outra vez viu a beleza que sempre o surpreendia. Era bem verdade que os cabelos dela estavam emaranhados, mas pareciam ter tantas tonalidades acastanhadas que o deixou com vontade de afagá-los. O rosto tinha feições surpreendentemente delicadas, com lábios firmes e tentadores. Vendo-a naquele momento, ele se perguntou se aquela era mesmo a mulher com quem havia se casado.
Rony suspirou, abaixou-se e tomou-a nos braços. Procurando ignorar o súbito calor que sentiu, carregou-a cuidadosamente. Hermione apenas se mexeu um pouco enquanto ele descia a escada, mantendo-se quieta durante todo o resto do caminho até o quarto.
Chegando lá, Rony a deitou na cama e cobriu-a com lençóis, sentindo uma estranha ternura pela esposa rebelde. Ela não estava brandindo armas contra ele nem abria a boca para pronunciar ameaças. Parecia muito jovem, de pele clara e cheia de vida, muito mais bonita do que qualquer outra mulher que ele já houvesse conhecido. Rony encostou os dedos numa daquelas mechas de cabelo e sentiu o coração acelerado. Era um gesto perigoso, porque Hermione poderia despertar a qualquer momento.
Rapidamente ele se aprumou e olhou em volta, procurando um lugar onde pudesse descansar. Infelizmente, como já tinha dito a Hermione na noite anterior, não havia nenhum. Então voltou os olhos novamente para a cama.
Quem estava ali era a esposa dele. Isso mais os acontecimentos do dia, que o tinham deixado tão cansado quanto temerário, facilitaram a decisão. Caminhando para o outro lado da cama, Rony hesitou. Depois, com uma impetuosidade bem pouco característica, tirou as roupas e deitou-se na cama. Finalmente poderia ter o descanso que todo homem merecia, despido e confortável.
Ao lado da esposa.
Hermione voltou-se, chegando-se mais para perto do corpo ao lado do dela e das sensações que aquilo provocava. Calor. Segurança. Paz. Coisas que há muitos anos vinham faltando a ela. Ah, como era bom sonhar com a mãe. Se ao menos na vida real ela pudesse se deitar ao lado de alguém que a amasse. Teria conforto, segurança e alguma coisa a mais, algo como a deliciosa sensação de alegria que a dominou quando pousou a mão sobre a pele quente do corpo ao lado. Era uma pele nua, máscula, cobrindo músculos poderosos.
Hermione abriu os olhos na claridade mortiça do amanhecer. Reparando na confusão de lençóis em cima da cama, virou a cabeça e arregalou os olhos, espantada. Não tinha sido um sonho, assim como a figura ao lado não era a mãe dela.
Era Rony.
Hermione ficou imóvel, sentindo uma onda de pânico. Como tinha ido parar ali? Por que estava com ele? E por que ele estava nu? Levando a mão à garganta ela suspirou de alívio quando constatou que continuava vestida. Mexeu-se de leve, mas não sentiu no corpo nenhuma indicação de que havia sofrido abusos. Aliviada, relaxou novamente e deixou a cabeça afundar na maciez do travesseiro.
O primeiro impulso foi fugir da cama, do quarto, do castelo, mas em vez disso ela olhou novamente para Rony. Já que ele parecia profundamente adormecido, ela aproveitou para examiná-lo. Raramente tinha essa oportunidade, mas agora, na intimidade da cama, podia ver o quanto era belo o homem com quem havia se casado. O rosto bonito parecia mais jovem, quase o de um menino, os cílios espessos se destacando no bronzeado da pele.
Hermione respirou fundo quando sentiu uma vontade muito grande de passar o dedo pelo perfil daquele nariz afilado, até alcançar os lábios. Percorreu com os olhos o queixo forte, a garganta e… Ao ver os ombros fortes do marido, ali tão perto, engoliu em seco. O ombro que estava mais próximo a fez imaginar o quanto ele devia ser forte, embora a pele parecesse lisa e convidativa ao toque.
Espantada com o estranho calor que sentiu nas entranhas, Hermione voltou o olhar para a cabeça dele e ficou contemplando os cabelos fartos e ruivos. O fato de que aquela cabeleira estava um pouco crescida parecia torná-lo mais atraente, como se Santo Rony, afinal de contas, não fosse nada mais que um mortal.
Hermione franziu a testa. O apelido dado por ela ao marido não se adequava mais à imagem do homem que a havia atacado na noite anterior. Rony realmente tinha levantado a voz para ela e… O embaraço a dominou quando Hermione pensou no que havia se seguido à discussão deles, no que eles tinham feito ali mesmo naquela cama. E a descoberta feita na ocasião ainda a deixava espantada.
Ele sabia beijar como o irmão.
A lembrança da boca quente e desesperada de Rony deixou Hermione fraca e tonta, mas ela não tinha tido medo de que ele a devorasse, como o Lobo parecia ser capaz de fazer com a esposa. Tinha sido um doce fogo, uma maravilhosa sensação de calor nos membros e agitação nas entranhas, algo como ela jamais havia sentido.
Por Deus, nunca havia nem sonhado com tais coisas, com beijos que a deixassem tonta, quente, cheia de desejo. E os murmúrios dele, as palavras entrecortadas, coisas que a tinham deixado com vontade de ceder a tudo, fazer tudo para agradá-lo. Hermione flexionou os dedos, mal querendo acreditar que a mão dela havia se fechado em torno do sexo dele. A lembrança a deixou estranhamente inquieta.
E aborrecida. Sem dúvida ele havia praticado aquilo tudo com muitas outras mulheres. Estaria ela louca para deixar que aquele Potter, mesmo que fosse por brincadeira, aplicasse nela seus estratagemas? Bem que havia suspeitado, desde o início, de que um plano estava em curso! Entre todos os irmãos, haviam escolhido Rony para se casar com ela por causa da beleza física dele e da fala macia. E agora ele usaria aqueles trunfos para roubar a herança dela.
Faria mesmo isso? Até aquele momento, Rony não tinha feito nada além de melhorar as condições da propriedade. Mesmo quando Hermione procurava encaixar as ações do marido em algum grande plano de vingança, as palavras dele martelavam na cabeça dela. Quando é que você vai assumir suas responsabilidades na vida?
Hermione sentiu uma onda de amargura por causa das lembranças provocadas por aquelas palavras. Ela havia assumido responsabilidades numa idade em que ele provavelmente ainda brincava de montar a cavalo, encarapitado na perna do pai. Caso contrário, seria morta ou vendida por um punhado de moedas ao primeiro cavaleiro que passasse. Ou transformada numa nulidade pelo desprezível Zacarias Smith.
E ainda era responsável por si… embora não pelo feudo deixado pelo pai nem pelas pessoas que moravam ali. O que Rony podia saber sobre ela? Ah, o idiota! Ela devia ter respondido no mesmo tom aos insultos dele, rido das tentativas dele de seduzi-la, mas o homem parecia capaz de deixá-la despida de tudo o que…
Hermione franziu a testa, recusando-se a concluir o pensamento. Havia fugido para se esconder quando devia ter armado uma cena, gritado e jogado coisas, fazendo tudo para se tornar indesejada. Mas na hora estava cansada demais, exausta depois dos longos dias de viagem, da noite passada dentro do baú, da tensão do casamento. Havia se convencido de que precisava de um momento para pensar, mas a mente havia se fechado, finalmente sucumbindo à exaustão. Mas como tinha ido do monte de feno até a cama?
Rony.
Provavelmente ele a havia encontrado, levando-a de volta. A idéia de ser tocada pelas mãos dele quando não se dava conta disso era tão assustadora quanto atraente. Quem poderia dizer a que indignidades ela tinha sido submetida durante o sono? Hermione descartou a suspeita tão logo ela surgiu. Mas talvez ele houvesse pensado em possuí-la pela manhã, quando ela estivesse ainda sonolenta e vulnerável. Ao pensar naquilo Hermione olhou novamente para ele, com cuidado, mas não conseguiu imaginá-lo capaz de cometer uma violência tão ultrajante. Apesar de ter perdido a paciência, Rony não seria capaz de violentá-la.
Mas talvez ele nem precisasse fazer isso. Hermione estremeceu quando se lembrou da facilidade com que Rony havia se deitado por cima dela, no dia anterior. Tudo tinha acontecido de uma forma muito súbita e inesperada. Era assim que ela se desculpava por ter demorado tanto a reagir, pensou Hermione, enrubescendo. Num minuto eles estavam brigando por causa de Gina, para logo em seguida…
Gina. A lembrança a fez pensar numa hipótese. Talvez o súbito interesse de Rony tivesse sido causado pela esposa do irmão dele. Teria ele tocado nela por não poder tocar na cunhada? A idéia atingiu Hermione de uma forma dolorosa, repercutindo até nas partes mais insensíveis do corpo. Rony havia defendido Gina com um paixão surpreendente. Talvez amasse a cunhada, mas preferisse não trair o Lobo, por escrúpulos ou por medo.
Hermione sentiu gosto de sangue na boca e percebeu, meio distraída, que havia mordido o interior da bochecha. Engolindo o azedume, olhou para o marido com os olhos apertados. Subitamente ele parecia nâo só bonito e atraente, mas acima de tudo um homem… um tratante, um bruto. Saindo silenciosamente da cama, Hermione verificou os punhais que havia escondido depois de recuperá-los. Depois olhou novamente para Rony, que continuava profundamente adormecido. Evidentemente, naquela situação ele estava vulnerável, e ela se alegrou ao vê-lo assim.
- Esteja avisado, Potter. - murmurou, antes de se voltar e caminhar para a saída do quarto.
Não tinha a menor intenção de fazer o papel de Gina para ele. Se Rony tentasse outra vez obrigá-la a isso, teria decretado a própria sentença de morte.
N/A: Galera, mais um capitulo postado. Obrigado a todos que estao lendo.
Agradecimentos especiais.
(-( Duda Pirini )-): a Hermione é desconfiada, ela vai resistir um bocado antes de cair nos braços do Rony, mas quando se entregar vai ser completamente. É, agora a Mione passou dos limites, mas nem ela desconfia do que esteja sentindo pelo Santo Rony. Voce vai escrever outra longa? Estou ansioso pra ve-la, dessa vez quero acompanhar desde o começo. Beijos.
Juliee Malfoy: mais um capitulo postado, o Rony perdeu a cabeça com a Hermione e deu no que deu. Beijos e espero que goste.
Bianca: a Gina voltou a aparecer, o filho dela e do Harry apareceu novamente, com certeza Hermione sofreu pra caramba e aprendeu a desconfiar de tudo e de todos, Rony vai precisar ralar para conquistar a confiança dela. Ela esta acuada, territorio inimigo, é assim que ela considera Wessex. Beijos.
Raquel Pereira: que bom que gostou, é sempre bom ter leitores novos, capitulo toda segunda. Beijos.
Suellen: Que bom que está gostando, continue lendo. Beijos.
Clara Eringer: Espero que tenha gostado do novo capitulo, o clima começa a esquentar a partir de agora, e a Mione vai começar a se encantar de verdade pelo Rony, quer dizer ela já está encantada, mas ainda se recusa a dar vazão aos sentimentos “perturbadores” que ela vem sentindo. Beijos.
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