CAPÍTULO III



CAPÍTULO III

A noite passou muito rapidamente, como tinha sido a previsão de Hermione. Ela havia ingerido um pouco de vinho, esperando que a bebida deixasse entorpecido o sistema nervoso, mas isso só serviu para deixá-la com o estômago embrulhado. Agora que o casamento estava feito, não podia fazer nada além de observar e esperar.
Então olhou com desprezo para as mesas armadas sobre cavaletes, onde os Potter permaneciam, atentos e cautelosos, como sempre. O que havia com aqueles homens, afinal? Não bebiam avidamente cerveja, até ficarem bêbados, como outros homens faziam. Ela havia mandado servir tudo com fartura, esperando que eles comessem e bebessem até o estupor, mas com ou sem hospitalidade, nada parecia ter o condão de fazer com que aqueles homens abaixassem a guarda. Criaturas esquisitas! Na maior parte do tempo, pareciam grandes guerreiros e agiam como monges… todos menos o que se chamava Simas.
Esse ingeria uma razoável quantidade de bebida, era como os outros homens que Hermione conhecia. E ela podia ver nos olhos dele o desgosto de uma alma insatisfeita, de alguém que não se sentia à vontade naquele tipo de vida. Os outros, porém, agiam com uma arrogância que desafiava todos os esforços dela. Em vez de cochilar em seus assentos ou passar a mão nas criadas, estavam sempre vigilantes, principalmente o Lobo. Em mais de uma ocasião Hermione o surpreendera a observá-la, os olhos verdes parecendo transmitir ódio e ameaças.
Mas o formidável cavaleiro não dizia nada, porque Rony já havia deixado claro que ninguém devia molestá-la. Ela até se divertiria com isso, não tivesse a advertência dele a Edred sido feita de forma tão enfática. Para um homem que se movimentava sem pressa, calmamente, parecendo cultivar a paciência de um santo, Ronald Potter a deixara assustada com aquela explosão de raiva, quase agredindo o ministro de Deus. Isso levava à conclusão de que se tratava de um homem de grande fortaleza, embora ele procurasse camuflar isso com a voz macia e os gestos corteses.
Era inteligente, muito mais do que os irmãos, porque buscava confundi-la com um comportamento bem pouco comum. Assumia a defesa dela. Tratava-a com polidez. Provocava estranhas reações nela. Hermione enrubesceu. A princípio havia ficado apenas surpresa com as próprias reações quando via o sorriso ou o brilho dos olhos castanhos daquele homem. Agora sabia que devia se proteger contra todo aquele… charme.
Hermione franziu a testa. Não se deixaria dominar pelas artimanhas de Ronald Potter. Muito certamente as mulheres se derretiam diante dele, mas ela era imune àquela… tolice feminina. Não cairia na armadilha dele.
Enraivecida, Hermione chutou um pequeno tamborete, fazendo-o correr por cima das lajotas do assoalho. Tome, Potter, bem nos seus dentes perfeitos, resmungou, em silêncio.
- Lady Hermione.
Erguendo os olhos, Hermione achou engraçado o jeito cauteloso com que Serle se aproximava. Embora não tivesse mais de quarenta anos, o mordomo parecia mais idoso, por causa da baixa estatura e da vasta calva. Baixinho, mas não frágil, o homem tinha o olhar maldoso tão comum às pessoas que habitavam aquela casa. Hermione o teria despedido se acreditasse um pouco mais na própria habilidade para administrar o castelo. A dificuldade que encontrava nisso a irritava tanto quanto a presença de Serle.
- O que quer? - ela despachou.
O homem juntou as sobrancelhas. Embora acostumado a ser tratado com rudeza pelo pai dela, Serle não demonstrava a mesma submissão quando as grosserias partiam de Hermione. Também não a adulava de forma convincente.
- Vim lhe falar para… para lhe pedir que se comporte.
Comportar-se?
O pequeno mordomo estava tendo a petulância de repreendê-la! Hermione abaixou a cabeça e dirigiu a ele um olhar tão enraivecido que o fez recuar.
- É que eu… não gostaria nada de ver… outra pessoa dando as ordens no seu castelo. - gaguejou Serle.
Embora ele se esforçasse muito para se mostrar preocupado com a posição dela, Hermione percebeu que na verdade o homem estava com medo de perder o cargo que ocupava. Então ela riu, o que fez Serle enrubescer. .
- Pelo bem de todos nós, lady Hermione, procure usar a inteligência. Uma coisa é matar um cavaleiro sem terras e sem prestígio que a obrigou a se casar com ele, mas tirar a vida de um Potter, de um homem que recebeu do próprio rei a incumbência de desposá-la…
Hermione fez uma careta. Ela própria havia pensado muito sobre aquilo ao ser notificada da decisão real. Edward não voltaria a ser complacente e isso a obrigara a concordar com aquela união absurda. Por outro lado, havia jurado que nunca mais deixaria que um homem a usasse. Como sair do dilema?
Por algum tempo ela ficou com a mente ocupada naqueles pensamentos, até ver que era alvo do olhar atento de Serle. Então voltou-se para ele.
- Suma daqui! - gritou, fechando os dedos no cabo do punhal.
Era o mesmo punhal que havia matado Zacarias Smith e empunhá-lo sempre dava uma sensação de segurança.
Serle fez uma reverência e recuou rapidamente, mas Hermione sentiu a aproximação de outra pessoa. Por um momento ficou imobilizada, dominada pelo poder daquela presença. Aquele estranho poder de Ronald Potter era um mistério para ela. Ele era um mistério, um poderoso desconhecido do qual ela devia se proteger.
- Algum problema, Hermione? - perguntou o recém chegado, em sua voz calma.
Hermione torceu a boca, irritada com o tom casual com que ele pronunciava o primeiro nome dela. Desde a cerimônia de casamento que a tratava assim, algo que ninguém fazia desde a morte da mãe dela.
Ainda com a mão no punhal ela fez uma cara de poucos amigos.
- Isso não é da sua conta, Potter.
A expressão dele mostrou uma leve mudança, algo difícil de interpretar, mas que dava a impressão de que iria contestar o que ela acabava de dizer. Ronald Potter era agora o marido dela e os homens sempre gostavam de ostentar o poder que tinham sobre a esposa. No entanto ele apenas suspirou, como se estivesse cansado. Talvez ainda estivesse com dor de cabeça. Ao pensar nessa possibilidade ela sorriu.
- É hora de nos recolhermos, Hermione. - ele disse.
O sorriso dela desapareceu.
- Se está cansado, Potter, vá procurar uma cama. Eu ficarei aqui.
- Não.
Hermione fitou-o, surpresa, principalmente porque a voz dele tinha um calor pouco comum. Como ele ousava contestá-la? Hermione abriu a boca para repreendê-lo, mas ele chegou mais perto e retomou a palavra, falando num tom muito baixo.
- Continuaremos nossa discussão lá em cima, longe de ouvidos curiosos. Acho que será vantajoso para nós dois fazermos com que todos acreditem que este é um casamento de verdade.
Hermione não respondeu logo, tomada de surpresa. A sugestão parecia razoável, mas o instinto de auto-preservação recomendava não acreditar nele… nem em nenhum outro homem. Embora não fosse o mais alto dos irmãos, Ronald Potter superava em estatura e músculos a maioria dos homens que ela conhecia.
Outra vez Hermione pôs a mão no cabo do punhal. Sentiu que os criados presentes demonstravam solidariedade, enquanto os Potter… os Potter apenas observavam e esperavam.
- Vamos, então. - ela disse, finalmente.
Ainda não sabia o que devia fazer. Fosse o que fosse, porém, seria melhor fazê-lo longe dos olhos daqueles homens.
- Primeiro entregue-me o punhal. Não vai precisar dele, Hermione.
O tom de voz de Rony era brando, a voz que um homem usaria para acalmar uma fera selvagem ou domar um cavalo bravio. Mas não era o caso dela e Hermione soltou uma gargalhada na cara dele.
- O punhal, Hermione.
Rony estendeu a mão, com a palma voltada para cima, e ela sentiu sede de sangue. Logo depois estremeceu. Mas o que estava acontecendo? Estaria ela ficando igual ao pai? A mente sentia necessidade de reflexão, mas o corpo queria entrar em ação imediatamente… buscar proteção antes que fosse tarde demais.
Rony inclinou-se para o lado dela.
- Deixe bem clara a sua submissão. - cochichou. - Do contrário, meus irmãos nos seguirão até o quarto.
Hermione abriu e fechou os olhos várias vezes. Por um momento havia pensado que os demônios a que Edred havia se referido de fato a possuíssem, mas agora não estava mais com essa sensação. Então suspirou e recuou um passo.
- Tome, então! Não preciso de nenhuma arma para lidar com tipos como você!
Não estaria desarmada e poderia deixar aquele pobre coitado pensar que havia levado a melhor.
Hermione retirou punhal da bainha e jogou-o no chão. Em vez de chamar um dos servos, Rony foi recolhê-lo pessoalmente. Depois de entregar a arma a um dos irmãos, retornou até onde ela estava e outra vez estendeu a mão.
- Vamos.
Por alguns instantes Hermione ficou olhando para aquela mão grande que irradiava calor. Ronald Potter ficou esperando, como se tivesse a paciência de Jó, até que ela finalmente soltou um suspiro de raiva. Era melhor concordar logo, ou eles ficariam ali a noite toda. Pondo a mão sobre e dele, Hermione se deixou conduzir para a escada. A mão do homem era quente e seca. Segurava a dela sem fazer força enquanto eles subiam os degraus.
No corredor do primeiro andar, Rony empurrou uma porta e Hermione recuou.
- Este não é o meu quarto! Solte-me, Potter.
Rony obedeceu imediatamente e ela teria caído para trás se ele não a amparasse. Irritada, Hermione sacudiu os ombros para se livrar daquelas mãos.
- Mandei que os servos preparassem este quarto. - ele explicou.
- Não vou ficar aqui.
Rony suspirou e ergueu a mão para coçar o nariz.
Um nariz muito bem desenhado.
- Entre. Depois conversaremos.
Mentiroso! Então ele achava que a convenceria a passar ali uma noite de amor? Hermione riu e entrou, pensando apenas no punhal que levava preso à coxa, por baixo das roupas.
Depois de entrar ela atravessou o quarto e encostou-se à parede, preparada para lutar, se necessário fosse. Para surpresa dela, Rony apenas caminhou até a cama e sentou-se, usando a palma das mãos para massagear os olhos. Depois, sem ao menos se dar ao trabalho de olhar para ela, voltou a falar.
- Acho que você tem outra arma escondida em algum lugar. - disse, o que a fez conter a respiração. - De outra forma não teria se submetido tão facilmente.
Por acaso ele a revistaria? Poria as mãos nela? Uma onda de raiva a dominou, mas o homem não fez nenhum movimento ameaçador. Em vez disso, jogou para trás a cabeça, tirando do rosto os cabelos escuros. Depois mostrou um meio sorriso.
- Vou deixar que fique com ela e me deitarei ali no chão. Em troca, espero que você não cometa nenhuma tolice, nesta ou em qualquer outra noite.
Olhando nos profundos olhos castanhos do marido, Hermione recuou e se encostou mais na parede, sem querer acreditar na paciência de que estava sendo testemunha. Era uma ilusão, sem dúvida. Talvez aquele Potter fosse o feiticeiro da família.
- Ainda não consegui entender o que a levou a cometer um assassinato neste quarto. - ele disse. - Mas sei que Smith era um cavaleiro da mais baixa categoria, um homem que trairia o próprio senhor se pudesse ganhar dinheiro com isso. Embora não ache correta a forma como ele foi morto, não vou julgá-la por isso.
Julgá-la? Mas que conversa era aquela? Hermione não conhecia nenhum outro homem que dissesse tantas coisas com tão poucas palavras.
- Só quero lembrá-la de que me casei com você por causa da determinação do rei, que não estará disposto a perdoá-la novamente se suas mãos se sujarem de sangue mais uma vez. Você pode ser uma mulher temperamental, mas não acredito que seja estúpida, Hermione. Não deixe que sua aversão pelo casamento a leve a cometer alguma insanidade.
Hermione ficou observando enquanto ele erguia o corpo de cerca de um metro e noventa e se ocupava em arrumar a cama no chão. Depois Ronald Potter se deitou ali, inteiramente vestido, e passou os braços por baixo da cabeça, como se não tivesse nenhuma preocupação na vida. Finalmente, e bem diante dos olhos dela, cerrou as pálpebras como se estivesse usufruindo de um merecido repouso.
Mas que absurdo era aquele? Estaria ele pensando que a havia convencido a ser dócil? Há! O homem não fazia idéia do que uma Granger era capaz.
Hermione caminhou para a cama, mas sem nenhuma intenção de dormir. Se adormecesse, muito certamente despertaria apenas para constatar que o segundo punhal havia desaparecido e o cretino estava em cima dela. Pensando no peso dele, Hermione estremeceu e olhou-o com raiva.
Rony não deu mostras de ter reparado naquilo.
Bem, ela também não daria nenhuma pista do que estava pretendendo. Deitou-se na cama sem tirar nenhuma das roupas e cobriu-se com uma pesada pele. Virando-se de lado, para poder ficar de olho nele, segurou no cabo do punhal preso à coxa, por baixo da túnica.
Assim ficou esperando.


Rony manteve a fingida postura de despreocupação, esforçando-se para relaxar os músculos e respirar pausadamente, mas permanecendo alerta. Apesar das palavras dóceis com que havia se dirigido à esposa, não tinha a menor intenção de relaxar a guarda. Pretendia continuar vivo e não permitiria que a demoníaca mulher lhe cortasse a garganta durante o sono.
O fogo aceso na lareira proporcionava luz suficiente para que ele visse o brilho de uma lâmina, caso ela tentasse atacá-lo, e os ouvidos sensíveis o alertariam da aproximação dela.
A tensão foi diminuindo à medida que os minutos iam passando e ele concentrou a mente nos acontecimentos do dia. Embora tivesse conseguido tirar o melhor de uma situação ruim, impedindo que os irmãos e a esposa entrassem em choque, agora sentia o coração apertado.
Desde a chegada deles, tinha estado ocupado demais para pensar na própria sorte, mas agora tudo estava muito claro. Na noite de núpcias, ele se via obrigado a se deitar no chão, permanecendo acordado. Então amaldiçoou o azar que o havia deixado com aquele graveto na mão. Sem dúvida qualquer um outro dos irmãos seria mais indicado para cumprir o decreto do rei, já que nenhum deles possuía no coração o mais remoto traço de romantismo.
Rony suspirou, tentando se convencer de que devia se conformar com o destino. Pelo menos não havia nenhuma outra mulher com quem ele quisesse se casar. Tinha levado para a cama várias delas, mas sem encontrar nenhuma que o inspirasse a tomá-la como esposa. Mesmo assim, muitas vezes vira-se tentando imaginar como poderia ser tal mulher. Conteve a respiração quando pensou na que era quase a personificação do ideal dele.
Aisley de Laci.
Tinha estado uma vez com a herdeira, uma mulher belíssima, brilhante como uma estrela, além de calma e inteligente. Elegante e de fala tranqüila. Inatingível. Rony imaginou-se enlaçado pelos alvos e quentes membros dela, afundando o rosto nos loiros e finos cabelos, mas pouco a pouco aquela visão foi mudando. Em vez de loiros, os cabelos agora tinham diferentes tonalidades de castanho, eram longos e incrivelmente abundantes. Enraivecido consigo mesmo, Rony virou-se de lado, procurando expulsar da mente aquela imagem.
Seria uma longa noite.

Rony levou um susto ao despertar, mas não fez nenhum barulho, permanecendo imóvel e mantendo as pálpebras cerradas. Deus do céu! Havia dormido! Era muita sorte ainda estar inteiro. Embora a luz da manhã começasse a entrar pela apertada janela, o quarto estava em silêncio, ouvindo-se apenas o cadenciado som de respiração que vinha da cama, a alguns passos de onde ele estava.
Teria Hermione adormecido também?
Bem devagar ele sentou-se e olhou para a cama.
Não percebeu nenhum movimento e levantou-se em silêncio. Depois de flexionar os músculos, que sempre protestavam quando ele era obrigado a se deitar num lugar duro, caminhou até onde estava a esposa, inteiramente vestida no meio das cobertas.
Que noite de núpcias.
Inclinando-se, Rony verificou que ela estava dormindo mesmo. Era a primeira oportunidade dele para examiná-la sem que ela estivesse prevenida. Espalhados, os cabelos pareciam um cobertor aberto à volta dela. Aqueles cabelos faziam com que ele pensasse em temperos exóticos e caros, como gengibre. Não, pimenta. Canela!
Era isso mesmo o que ela lembrava. Sentindo uma vontade muito grande de tocar naquelas tentadoras madeixas, Rony obrigou-se a olhar para o rosto dela e teve uma enorme surpresa. Agora os cabelos estavam bem espalhados e ele podia vê-la, vê-la de verdade pela primeira vez. A impressão inicial não tinha sido errada. Ela era linda.
Cachos de cabelos escuros repousavam nas faces levemente curvadas, alguns chegando perto do queixo rebelde. O nariz era afilado e atrevido e a pele tinha a alvura do leite. Rony sentiu o coração bater mais depressa. Seria aquela pele macia ao toque? Os dedos ansiavam por buscar uma resposta e ele teria cedido à tentação se ela subitamente não tivesse projetado a cabeça para cima. No instante seguinte Rony sentiu se encostar na garganta dele uma pequena lâmina.
- Saia de cima de mim, Potter! - ela vociferou.
O rosto que segundos antes ele havia considerado tão belo estava agora contorcido de tal forma que Rony se perguntou se não havia apenas imaginado a beleza que queria ver na esposa, algo bem diferente da feia realidade.
- Não estou em cima de você, Hermione. - ele disse, com enfado na voz.
O futuro não se revelava animador. Pelo resto da vida ele teria batalhas infindáveis, ameaças e brigas em público. Rony suspirou e começou a se afastar, enquanto ela corria para se encostar na parede, gritando ameaças.
Sem querer ouvir, ele marchou para a porta e saiu. A paz e a tranqüilidade eram coisas tão desejadas quanto difíceis de atingir. Talvez conseguisse um pouco procurando a solidão. Antes, porém, ele teria que se despedir dos irmãos, o que não faria com satisfação.
Rony estava quase no fim da escada quando se deu conta de que não havia trocado de roupa. Parou num dos últimos degraus, sem querer deixar que os irmãos tirassem a conclusão correta quando o vissem vestido da mesma forma que no dia anterior. Pensou em voltar ao quarto, mas a certeza de que se veria outra vez naquela manhã diante de Hermione o fez mudar de idéia. Seria melhor enfrentar os irmãos.
Antes de dar outro passo, porém, Rony ouviu o próprio nome pronunciado por Dino e hesitou. Sentiu um certo constrangimento por estar ouvindo a conversa alheia, mas achou melhor não entrar no salão quando era dele que se estava falando ali. Assim sendo, resolveu esperar.
- Se ele não descer logo, acho que devemos ir até lá para ver o que está acontecendo. Ela pode muito bem ter cortado a garganta dele e fugido pela janela durante a noite.
- Impossível. - discordou Harry. - Deixei um soldado de sentinela bem abaixo da janela.
Rony sentiu uma onda de revolta quando ouviu aquilo. Estando na própria casa, era ele quem devia dar as ordens. E não havia mandado que ninguém ficasse de guarda.
- E eu passei a noite toda no lado de fora da porta, como você mandou. - disse Nicholas. - Não ouvi gritos, nenhum barulho.
- Mas o que estava esperando? - perguntou Simas, com riso na voz. - Não pode ter pensado que o pobre Rony iria tentar alguma coisa. Aquela bruxa é a criatura mais horrorosa que eu já vi. Nem mesmo um cego ficaria com vontade de…
- Chega! - gritou Harry.
No silêncio que se fez, Rony ficou enraivecido com a intervenção não autorizada dos irmãos e com os insultos de Simas. Afinal de contas, Hermione não era uma mulher feia de se olhar!
- Pobre Rony. - murmurou Fred.
- Aqueles cabelos! - voltou a falar Simas, seguindo-se murmúrios de concordância.
Hermione devia se cuidar melhor, claro, mas talvez não tivesse nenhuma criada que pudesse ajudá-la a lidar com os longos cabelos. Bem tratada, aquela cabeleira seria belíssima, como já era o rosto. Embora não sendo de uma beleza clássica, as feições dela eram bonitas e os olhos negros chamavam atenção.
Será que eles não conseguiam ver o que tinham bem diante do nariz? E como podiam falar mal de uma pessoa que nem conheciam direito? Por acaso algum deles já havia falado com ela? Agora os irmãos dele pareciam pessoas intrometidas e insensíveis que houvessem ultrapassado todos os limites. Rony respirou fundo e entrou no salão, decidido a ordenar a partida deles.
Imediatamente se sentiu foco de todos os olhares. Evidentemente os irmãos estavam se perguntado se ele havia escutado alguma coisa da conversa, bem como buscavam sinais do que a esposa dele podia ter feito. Rony forçou um sorriso.
- Como vocês podem ver, estou vivo. Assim sendo, não preciso mais de babás para tomar conta de mim. - disse, correndo os olhos pela mesa, onde se viam migalhas de pão e canecas de cerveja vazias. - É bom ver que vocês já quebraram o jejum. Portanto, podem partir imediatamente.
Seis rostos demonstraram espanto, cinco deles se voltando para Harry.
- Mas eu pensei que… - começou Nicholas, calando-se ao ver que os outros aguardavam o pronunciamento do irmão mais velho.
Rony também voltou os olhos para o Lobo.
- Rony, você já viu como são as acomodações aqui. - disse Harry, parecendo pouco à vontade. - Embora eu não diga que o castelo de Wessex seja luxuoso, ele é maior… e bem mais limpo. Na minha opinião, você deveria ficar conosco.
- E a minha esposa? - inquiriu Rony, com firmeza.
Embora estivesse com o orgulho ferido, ele ainda não havia perdido a honra. Sabia o que devia fazer.
Harry mostrou-se ainda mais constrangido e Rony adivinhou qual seria a resposta. Todos ali esperavam que ele abandonasse a esposa para ir viver com o irmão! A expressão dura que ele fez deve ter dado uma idéia do que estava pensando, porque Harry se apressou em falar.
- Isso é muito comum, Rony. Mesmo pessoas menos nobres se habituam a viver no castelo de seu suserano. Como meu irmão, você seria duplamente bem-vindo.
Rony não duvidava disso, mas sabia também que a presença da esposa dele seria tão malvista quanto ele seria bem-vindo. Embora não dito claramente, isso estava implícito nas palavras do Lobo, bem como as razões que ele tinha para ser cauteloso. Harry tinha a obrigação de proteger Gina contra a louca com quem o irmão havia se casado.
No entanto, uma noite de sono havia servido para que Rony pensasse com mais calma na situação. Até aquele momento Hermione não tinha feito nada mais grave do que gritar alguns palavrões e deixar de pentear os cabelos. Ele se achava na obrigação de reconhecer isso. E não pretendia abandonar aquela propriedade. O lugar não encantava os irmãos, mas era dele. Qual dos outros Potter, excetuando-se Harry, era dono de um lugar mais valioso?
O conde de Campion esperaria que o filho cumprisse com o seu dever, e era justamente para isso que ele ficaria ali. Repararia os males causados por Voldemort a seu povo, melhoraria as condições de vida das pessoas do lugar, procuraria estabelecer a paz com a difícil esposa. Rony já estava ficando irritado com a falta de consideração dos irmãos. Nenhum deles recuava diante de um desafio, fosse qual fosse. Por que esperavam que ele recuasse? Se havia decidido se submeter ao sacrifício depois de ser escolhido pela sorte, não se acovardaria agora.
Como se fosse para confirmar aquela decisão, Hermione desceu rapidamente a escada. Estava com os cabelos ainda mais desarrumados do que durante o sono e Rony perguntou-se se ela não tinha feito de propósito alguma coisa para piorar a aparência. Depois de ter ouvido a opinião do irmão, sentiu uma necessidade muito grande de protegê-la. Para ele, naquele momento ninguém no mundo precisava mais de proteção do que ela. Mesmo assim…
Rony voltou-se para Harry.
- Não. - disse, balançando a cabeça. - Primeiro vou ter que deixar o castelo em ordem.
Hermione, que havia parado a uma certa distância, mas perto o suficiente para ouvir a conversa deles, apressou-se em discordar.
- Sua presença não é necessária aqui, Potter. - disse, com ênfase. - Tomarei conta de tudo para você.
- Não. - persistiu Rony. Como não queria que Hermione deixasse ainda mais enraivecidos os outros Potter, continuou a falar, sempre olhando para Harry - Avise-nos quando o bebê nascer. Irei visitá-los para lhes dar os parabéns.
Pela primeira vez o Lobo pareceu inseguro enquanto dirigia um rápido olhar a Hermione.
- Você será sempre bem-vindo, Rony. Imagino que saiba disso.
- Sim, eu sei. - disse Rony, sorrindo diante daquela rara demonstração de afeto do irmão.
Ultimamente Harry vinha dando mostras do apreço que sentia pelos irmãos, mas Rony achava que já era hora de declarar independência. Então ficou esperando, sabendo que, como suserano, Harry tinha o direito de transformar o convite em ordem. Mas esperava que, como irmão, ele não fizesse isso.
- Pois muito bem. - disse Harry, finalmente, sem esconder a desaprovação. - Que seja como você quer. - Depois de passar por Rony, ele parou diante de Hermione e olhou-a com frieza. - Esteja avisada, mulher: se alguma coisa acontecer com meu irmão, vou caçá-la até que você me suplique para ser morta.
Antes que Hermione pudesse dizer qualquer coisa, Rony adiantou-se e parou diante do irmão mais velho.
- Não ameace minha esposa, Harry. - disse, com calma.
Depois, postou-se ao lado dela, como se estivesse disposto a enfrentar os irmãos. Tinha uma nova vida e eles precisavam saber disso, deixando-o em paz.
Seis pares de olhos o fitaram, atônitos. Nenhum deles jamais havia censurado Harry, mas Rony não se mostrou disposto a pedir desculpas. Por vários segundos fez-se um silêncio tão tenso que nem mesmo Hermione ousou quebrá-lo, até que finalmente Harry fez um gesto afirmativo com a cabeça. Rony soltou a respiração enquanto os irmãos iam passando por ele, murmurando despedidas.
Depois que os Potter saíram, Rony sentiu que era observado por outros olhos. Não só os criados do castelo o fitavam, mas também vários dos antigos cavaleiros de Voldemort o observavam com uma postura vagamente ameaçadora. Até mesmo Serle, por mais covarde que fosse, olhava para ele de um jeito que o fazia perguntar-se se tinha sido prudente mandar os irmãos embora tão cedo. E bem ali perto estava Hermione, obviamente aborrecida com a decisão que ele havia tomado.
Rony sentiu que estava cercado de inimigos. Entre eles a própria esposa.


N/A: mais um capitulo para vocês, espero que estejam gostando, comentem, quero saber o que acham.
Agradecimentos especiais:
(-( Duda Pirini )-): que bom que gostou, espero que continue gostando. Assim que der eu passo nas suas fics, ainda hoje se for possível, Abraços.
Bianca: ela esta apenas começando com as loucuras, e o Rony vai ter que ter muita paciência. Beijos.

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