Os sentimentos dele e mais alg
Harry teve a ligeira impressão de que aquela conversa não seria nada fácil. Manteve uma certa distância de Gina, que continuou de costas, como se ele não estivesse ali, apenas continuando a encarar o reflexo da lua na água, como se sua vida dependesse disso. Ele respirou fundo.
- Er... Primeiro, eu queria te pedir desculpas. – disse Harry. Gina se mostrou intrigada.
- Porquê?
- Por não ter falado com você desde aquele dia na Ala hospitalar... Você deve ter achado que eu estava te ignorando.
- Pra falar a verdade, achei sim.
- Mas não foi isso. – disse ele depressa. – Não quero que pense que eu estava te ignorando. Eu não estava.
- Tecnicamente falando, estava sim. – disse Gina.
- Não, mas eu não queria. – disse ele, nervoso. – Quer dizer, a intenção não era te ignorar, mesmo que eu tenha feito isso. Não foi porque eu quis. Eu só precisava pensar.
Ele olhou ao redor exasperado, como se esperasse que as palavras que precisava dizer caíssem do céu ou pulassem de trás de uma árvore a qualquer momento.
- Eu precisava pensar e... – continuou ele. – Se eu ficasse do seu lado, agindo normalmente, eu não conseguiria pensar em nada. Você provavelmente acharia que eu estava ignorando todas as coisas que você tinha me dito. E eu não queria isso...
- Mas eu quero. – disse Gina.
- Quê? – perguntou espantado.
Ela continuou falando, mas não deu nenhum sinal de que olharia pra ele tão cedo.
- Tudo aquilo que eu te disse, Harry... Eu quero que você esqueça.
Harry levou um tempo pra absorver o que ela tinha dito.
- Esquecer? Mas porque? – perguntou sem entender.
- Eu cometi um erro ao te dizer aquelas coisas. – respondeu ela. – Eu não devia ter dito nada. Eu fiz você se sentir culpado por tudo que eu tinha passado, eu fiz com que você ficasse triste. Rony me contou. Quando eu estava na Ala hospitalar ainda, ele me disse que você estava agindo estranho, que estava distraído e eu sei muito bem que você estava se culpando por tudo que eu tinha passado.
- Não, mas...
- Harry, esquece tudo. – disse ela sem lhe dar atenção. – Você não precisa dizer nada. Esquece tudo que eu te falei. Eu sei o que se passa no seu coração, está bem? E eu sei que não estou nele. Posso até estar, somente como uma amiga, mas nunca como... – ela suspirou pesadamente. – Nunca como eu realmente gostaria de estar.
- Gina, me escuta... – ela o ignorou mais uma vez.
- Eu sei que você ama a Cho.
- Não, não amo.
- Ama sim. – disse ela, dessa vez mais alto. – Eu não quero que você se sinta obrigado a deixar de gostar da Cho por causa das coisas que eu te disse. Eu não quero que se sinta obrigado a ficar comigo, apenas por causa de tudo que eu falei.
- Mas eu não...
- Eu só quero que você esqueça aquilo. – disse ela. – Eu não quero que a nossa amizade acabe por causa disso. Ela é muito especial pra mim e eu me sentiria realmente mal se ela acabasse por causa disso e ainda mais desse jeito. Esquece tudo que eu te falei.
- Ah, e você acha que é fácil? – falou Harry com raiva, tentando não dar chance para que ela o interpelasse mais uma vez. – Você acha que eu vou simplesmente ignorar aquilo tudo? Esquecer? Fazer de conta que você nunca me disse nada e que eu não sei da verdade? Não é fácil, tá? As suas palavras ficam ecoando na minha cabeça a cada segundo. Nem se eu quisesse esquecer, eu conseguiria. E não pense que eu quero.
Harry parou e suspirou, tentando se acalmar. Não queria se descontrolar, queria apenas que ela entendesse.
- Você acha que foi fácil ficar esses dois dias longe de você, sabendo que eu te devia uma resposta e...
- Não, você não me deve nada. – interrompeu ela. – Muito menos uma resposta. Até porque eu não te fiz nenhuma pergunta. Você não me deve nada. – repetiu.
- Então eu devo isso a mim. – disse Harry. – Eu preciso falar e preciso que você me ouça.
Harry interpretou seu silêncio como um sinal para que ele prosseguisse.
- Olha, a Cho...
- Pára, Harry!
Gina finalmente se virou para ele. Seus olhos estavam marejados e Harry se amaldiçoou por fazê-la chorar. Também aparentava cansaço; como se estivessem conversando há muito tempo e ainda não tivessem chegado a nenhuma conclusão.
- Por favor, não perca seu tempo falando da Cho. – disse ela firmemente. – Principalmente se for pra mim. Eu não quero ouvir. Eu não preciso. Eu sei que você gosta dela, não precisa dizer mais nada e muito menos gastar seu tempo, ok?
Uma lágrima escorreu por seu rosto, mas Gina simplesmente a limpou impaciente e sem esperar resposta, andou em direção ao castelo.
Harry ficou ali parado, sem saber o que fazer. Passaram-se alguns minutos, antes de ele tomar consciência de que ficar parado ali não lhe ajudaria em nada ou melhoraria sua situação de alguma forma. Olhou para o castelo e correu, tentando alcançar Gina. Ela tinha que lhe escutar. Ele precisava que ela o escutasse. Chegou até a pensar que sua vida dependia disso.
Passou pela porta do saguão de entrada, olhou ao redor, mas não a avistou. Correu até a porta do salão principal e ao entrar, sentiu que todos os olhares estavam sobre ele, apesar de a música lenta continuar a tocar. Passou rapidamente entre as pessoas, tentando avistar Gina em algum lugar. As pessoas o olhavam curiosas e intrigadas, mas Harry não lhes deu atenção. Até que sentiu uma mão em seu ombro. Por um momento pensou que era Gina, mas ao se virar, encontrou Cho.
- Oi, Harry. – disse ela com um sorriso.
- Oi. – disse ele, procurando Gina com os olhos.
- Você demorou, achei que não viesse.
- Er... eu tinha, quer dizer, eu tenho que resolver uma coisinha, tá? – disse ele tentando se afastar, mas Cho o segurou pelo braço.
- Não quer dançar uma música comigo?
Harry olhou para ela e franziu a testa.
- Mais tarde, talvez. – disse recomeçando a andar. Cho novamente o segurou.
- Mas porque não agora?
- Por eu estou ocupado. Porquê você não vai dançar com o seu par?
- Porque eu não tenho par. – disse ela sorrindo. – E você? Tem?
- É, tenho. Você sabe muito bem que eu vim com a Gina. Eu te disse isso quando estávamos conversando hoje mais cedo, não?
Cho fez uma careta.
- É, disse. Mas ela não devia estar aqui com você?
- Eu estou procurando por ela e... – ele parou ao avistar, há alguns metros, Rony dançando com Hermione. – Eu tenho que ir. Tchau, Cho.
- Espera, Harry!
Ele não deu atenção ao grito da garota e correu direto para Rony e Hermione, que pararam e olharam pra ele meio espantados.
- O que você... – começou Rony.
- Vocês viram a Gina? – perguntou ofegante.
Os dois se entreolharam.
- Porquê? - perguntou Rony, franzindo a testa. - O que aconteceu? Harry, o que você fez com a minha irmã?
- Cala a boca, Rony. Harry nunca faria nada com a Gina ou então a magoaria de alguma forma. – disse Hermione severamente, mas parou e olhou para Harry. – Não é?
- Claro que não. – disse ofendido. – Eu só estou procurando por ela. Nós estávamos conversando lá fora, mas ela não me deixou terminar e...
- Harry, o que você disse pra ela? – perguntou Hermione parecendo preocupada.
- Ainda não disse nada, ela não deixou.
- Bem, você tem que entendê-la. – disse Hermione, com uma olhar de pena. – Gina sempre gostou de você e pra ela se tornou quase que impossível você gostar dela também. Ela não vai acreditar em você tão facilmente. Se você só chegar pra ela e dizer que gosta dela, ela vai pensar que é por causa de tudo que ela te disse.
- Espera, então quer dizer que você gosta mesmo da minha irmãzinha? – perguntou Rony.
- Cala a boca, Rony. – disse Hermione. – Você não tem nada a ver com isso.
- Claro que tenho. Gina é minha irmã.
- Gina não é nenhuma criança.
- Olha, eu sei que vocês se amam e tudo mais... – interrompeu Harry, fazendo os amigos ficarem vermelhos. – Mas se vocês não perceberam ainda, eu estou com um problema muito sério aqui. Eu tenho que encontrar a Gina e falar com ela. Ela está achando que eu não gosto dela, ela acha que eu queria apenas a dispensar dizendo que amo a Cho. Mas eu não amo a Cho. Será que seria muito apenas me responderem se a viram ou não?
- Não, não vimos. – disseram os dois ao mesmo tempo, espantados com a seriedade de Harry.
- Obrigado. Então eu vou procurá-la. – disse se afastando dos amigos.
- Espera, mas você me disse que eram apenas amigos. – falou Rony.
- É, e se eu não correr, nem isso vamos ser mais! – gritou para Rony, antes de se virar completamente e subir correndo as escadas que o levariam de volta até a Torre da Grifinória.
Talvez Gina estivesse lá. E se não tivesse, era fácil descobrir onde ela estava. Só precisava de uma ajudinha do mapa do maroto. Disse rapidamente a senha para a Mulher Gorda e entrou pelo buraco do retrato. A sala comunal estava vazia. Todos com certeza já estavam no baile. Subiu as escadas do dormitório masculino rapidamente, entrou no seu quarto e revirou o seu malão, encontrando o mapa quase lá no fundo.
- Juro solenemente não fazer nada de bom. – falou rapidamente. Passou os olhos rapidamente pelo mapa. – Vamos, cadê você? Gina, Gina.... – murmurava baixinho, como se assim pudesse encontrar mais rápido. – Cadê você? Onde... Achei!
Ele olhou para o ponto que indicava “Ginevra Weasley” e sorriu aliviado. Apagou o mapa rapidamente e atirou novamente dentro do malão, saindo do quarto.
O caminho parecia muito mais longo do que realmente era. Passou pelos corredores tão rápido que via apenas um borrão de tudo e qualquer coisa que aparecesse à sua frente. Parou ofegante, em frente à entrada da torre de Astronomia, respirou fundo mais uma vez e entrou.
Gina estava na janela, olhando distraída para o céu. Não deu sinal algum de que tinha notado sua presença, mas Harry teve certeza de que ela sabia que ele já estava ali.
- Por favor, será que já pode me escutar? Ou vai preferir fugir de novo? – perguntou Harry. Gina nem se mexeu.
Ele se aproximou cautelosamente, ficando à uma distância de quase três metros dela.
- Não precisa dizer nada. – falou ele. – Apenas me escuta. Depois, se você quiser que eu vá embora, eu vou. Mas eu preciso que você me escute, está bem?
Gina novamente ficou em silêncio. “Quem cala, consente”, pensou Harry.
- Olha, a Cho... – ele parou e pensou melhor. – Não, esquece a Cho. Ela não tem nada a ver com nós dois. Eu achava que sim, pensei que realmente gostasse dela, mas agora eu nem sei porquê achava isso. Eu não amo a Cho.
Harry se aproximou um passo.
- Eu passei o ano inteiro me enganado. – continuou ele. – Todo o tempo eu achava que gostava da Cho, mas porquê? Não faz sentido. Eu quase não falava com ela, não a conhecia, como podia dizer que gostava dela? Agora eu sei a reposta. Eu não podia. Eu simplesmente não posso dizer que gosto dela porquê nunca convivi com ela pra poder conhece-la e dizer que a amava.
Harry parou novamente e respirou fundo mais uma vez.
- Acho que agora eu sei que antes de dizer que se ama uma pessoa, nós temos que conhecê-la tão bem como conhecemos a nós mesmos. E acho que eu posso dizer que te conheço tão bem quanto eu.
Se aproximou mais um passo.
- Você estava lá durante o ano inteiro. – falou ele. Sorriu para si mesmo. – Não, na verdade você sempre esteve lá... Eu que fui idiota o suficiente para não perceber. Você sempre esteve do meu lado, todo esse tempo. Esse ano, acho que eu conheci tanto de você quanto conheci de Rony e Hermione durante cinco anos.
Deu mais um passo.
- Você se transformou na minha melhor amiga. Rony e Hermione são quase como que meus irmãos. Acho que você não iria gostar que eu dissesse o mesmo de você, não é? Porquê do mesmo jeito que você dizia que eu não sou seu irmão, você também não é minha irmã. Você é irmã do Rony. E isso não atrapalha nada, não é?
Ele sorriu novamente, imaginando que se ser irmã de Rony não atrapalharia, ser irmã de mais cinco ruivos maiores que ele, com certeza atrapalharia. Preferiu não comentar isso.
- Você não sabe como eu me senti horrível quando aqueles comensais te levaram, Gina. – falou em voz baixa. – Você não sabe como eu fiquei desesperado ao pensar na possibilidade de que talvez nunca mais te veria e que você podia estar... – suspirou mais uma vez. – Você não sabe o quanto eu fiquei aliviado quando te vi lá na Câmara, mesmo que a situação não fosse boa. Mas você estava viva e isso era o que importava. Eles não queriam que eu fizesse nada. Dumbledore... e até mesmo Rony e Hermione. Queriam simplesmente que eu esperasse sentado até que algum auror te encontrasse. Como se eu fosse conseguir... Naquele dia eu consegui enxergar o que estava tão claro na minha frente todo esse tempo. Mas eu sou tão tapado que ainda estava confuso. Depois de tudo aquilo lá na câmara, acho que as coisas ficaram mais claras pra mim. Tudo que aconteceu lá ajudou a abrir meus olhos. Tudo mesmo.
Harry deu mais um passo, deixando-o apenas há mais um passo de distância de Gina. Como ela não se importou, ou pelo menos não mostrou que se importava, ele continuou.
- Quando eu acordei na Ala hospitalar e te vi lá, imóvel, na cama ao lado da minha, eu fiquei desesperado. Parecia que os dias se arrastavam, mas você não acordava. Madame Pomfrey me dizia que estava tudo bem, que você iria acordar logo, mas parece que a idéia que ela tem de “logo” é muito longa. Até Dumbledore também dizia que você estava bem. Mas eu só acreditei realmente quando vi que você tinha acordado. Eu me senti tão aliviado como eu nunca pensei que me sentiria em toda a minha vida. Não era somente aquele alívio de respirar aliviado e sentir que se tirou um peso das costas. Meu coração estava mais leve. Acho que era ele que não estava acreditando que você estava bem, até ver que você realmente estava.
Harry deu o último passo que faltava, ficando muito próximo a ela.
- Eu realmente sinto muito que eu tenha demorado tanto pra perceber. – sussurrou ele, abaixando a cabeça. – Eu sinto muito que você tenha tido que esperar tanto. E eu sinto muito mesmo por não ter falado com você desde aquele dia em que você me disse aquilo tudo. Eu precisava pensar, entender, colocar os pensamentos em ordem. E como eu disse antes, perto de você eu não conseguiria. Mas também não foi fácil ficar longe de você sabendo que eu devia estar lá com você, que você precisava de mim. Eu só pensei em mim, fui egoísta e...
- Não, não foi. – disse Gina, pela primeira vez. Harry, um pouco assustado, ergueu a cabeça. Gina continuava de costas, mas somente o fato de ter falado alguma coisa, já parecia o bastante.
- Fui sim, eu...
- Não, Harry. – disse ela. – Eu acho que teria feito a mesma coisa. Eu sei que se ficasse perto de você, também não conseguiria pensar no que eu tinha que fazer. Eu entendo isso. Parece que nós ficamos mais concentrados na presença do outro, que esquecemos até mesmo de pensar. Acho que isso é normal.
- Eu acho que não. – disse Harry, franzindo a testa. – Isso nunca aconteceu comigo antes. Na maioria das vezes, eu me distraio das pessoas ao meu redor e me perco somente nos meus pensamentos. Acho que o contrário só acontece quando a pessoa é você.
- É, pra falar a verdade, isso só acontece quando é com você também. – admitiu ela. Harry sorriu fracamente.
- É, e eu realmente precisava pensar no que eu ia fazer.
Seguiu-se um pequeno silêncio às suas palavras. Harry queria continuar a falar, parecia ser o mais importante, mas ele não conseguiu abrir a boca.
- Pensei que estava com raiva de mim. – sussurrou Gina. Harry só conseguiu ouvir por estar perto demais dela.
- Eu? Porquê? – perguntou ele.
Gina suspirou.
- Justamente por não ter falado comigo. – respondeu ela. – Eu pensei que você ficaria com raiva de mim por causa do que eu fiz lá na Câmara.
- O que você fez salvou nossas vidas.
- É. Eu sabia que tinha que ficar perto de você. – disse ela. – Tentei apenas ficar do seu lado, segurar sua mão...
- É, ela ainda está vermelha de tanto que você apertou. – brincou Harry. Gina riu fracamente.
- Mas só isso não funcionou. – suspirou ela. – Então eu tive que fazer aquilo. Você me desculpa, não é?
- Você está me ouvindo reclamar? – perguntou Harry. – Além do mais, acho que foi exatamente o que você fez que conseguiu abrir meus olhos definitivamente.
- Foi? – perguntou Gina num sussurro.
Harry tomou coragem.
- Sim. – respondeu ele. – Eu acho que isso me fez perceber que eu te...
- Olha, está tudo... – começou Gina, virando-se pra ele.
Ela parou de falar ao se dar conta do quão próximos estavam. Não parecia ter se dado conta que ele estava tão perto todo esse tempo. Harry presumiu que era porquê estava falando baixo, o que talvez tivesse lhe dado a falsa idéia de que ele estava um pouco mais longe.
-...bem. – terminou ela, respirando com dificuldade.
Respirou fundo e recuou um passo, mantendo agora uma distância segura entre os dois.
- Não precisa dizer mais nada. – continuou ela. Deu um pequeno sorriso. Um sorriso triste, que Harry não estava muito acostumado a ver em seu rosto, tendo em vista que ela quase sempre estava feliz. – Somos amigos.
Harry suspirou desapontado. Porque ela não tinha o deixado terminar? Agora sua coragem já não existia mais.
- É... somos... – sussurrou ele.
Ficaram em silêncio durante um longo tempo. Harry tinha esperança de que ela falasse mais alguma coisa, desse uma dica de que ele devia continuar, mas Gina não o fez. Estava certo ao ter presumido que não seria fácil.
- Ahn... É melhor... eu ir... – disse ele, sem jeito.
- Claro. – disse Gina com um suspiro. – Er... depois eu vou. Prefiro ficar mais um pouco e... Aproveite o baile.
- Acho pouco provável. – disse ele para si mesmo, enquanto se dirigia até a porta.
Harry saiu e antes de fechar a porta, olhou mais uma vez para Gina. Mas ela já tinha lhe dado as costas, voltando a olhar para o céu através do vidro da janela.
Harry saiu dali se sentindo estranhamente vazio. Como se estivesse deixando uma coisa muito importante para trás. E ele não duvidava que realmente estivesse. Tinha tido muitas chances durante o ano inteiro de ter dito o que sentia por ela. Mas tinha sido suficientemente idiota para não perceber.
Os corredores do castelo estavam vazios tão vazios quanto antes. Quase melancólicos, diante de tanto silêncio. Harry escutava somente os próprios passos, que ecoavam tristemente ao seu redor.
- Amigos... – disse para o nada.
Pelo menos isso, pensou inconformado. Pelo menos Gina não estava com raiva dele. Podiam ter uma amizade normal, como antes. Mas Harry duvidava seriamente que fosse ser a mesma coisa. Pelo menos não depois de tudo que tinham passado nos últimos dias. Isso ser no mínimo... estranho. Para ele, pelo menos, seria.
***
Gina estava com muita raiva de si mesma. Porquê tinha feito isso? Sabia o que Harry ia dizer. Mas era o certo? E se ele estivesse apenas se enganando mais uma vez? Ela não queria que ele fizesse isso. Queria apenas que ele fosse feliz, independente de ser com ela, ou não. Já fazia quase dez minutos que Harry saíra dali, a deixando sozinha.
- Não existe ninguém mais idiota que você, Gina Weasley. – disse cansada. – Afinal de contas, do que você tem medo?
Sem perceber, andava por todo o lugar impaciente. Queria, de alguma forma, extravasar toda a raiva que estava sentindo de si mesma. Mas aquela forma parecia não existir.
- Eu não posso fazer isso. Quer dizer, tudo bem que o ano que vem, eu e ele vamos passar muito tempo juntos por causa dessas malditas aulas que eu vou ter. Vai ser estranho ficar ao lado dele fingindo que não está acontecendo nada, que ainda somos os melhores amigos e que nossa amizade é eterna. Isso é o certo?
Parou e suspirou cansada.
- Quanto mais eu penso, mais me parece que... – ela parou de falar, se dando conta do que estava dizendo. – O que eu estou dizendo? Ou melhor, porquê eu estou pensando?
Sem parar novamente para pensar, ela correu porta a fora. Porquê tinha demorado tanto a chegar a uma conclusão? Ou melhor, porquê estava tentando chegar a uma conclusão? Era tudo muito simples.
Correu pelos corredores vazios e silenciosos tentando encontrar Harry, mas ele não estava em nenhum lugar por ali perto. Provavelmente estava longe e talvez ela nem o encontrasse ainda essa noite.
- Porcaria de sapato. – praguejou atirando os sapatos longe e correndo mais rápido.
Parou na entrada de um corredor, ofegante. Olhou de um lado para o outro, se apoiando na parede, tentando ignorar a dor que sentia do lado esquerdo de seu corpo por ter corrido tão depressa.
- Onde... ele... se meteu? – falou ofegando.
Tirou os cabelos que lhe caiam sobre o rosto com impaciência, enxugando o suor da testa. Hogwarts não era assim tão grande, seria fácil encontrá-lo.
- Ok, Gina. Parece que seu nível de otimismo está muito elevado. O que eu estou pensando? Eu nunca vi nada maior do que Hogwarts em toda a minha vida. – falou desanimada. – Pelo menos não que eu me lembre.
Recomeçou a correr, agora mais devagar já que estava cansada. Parou novamente no meio do corredor, apoiando as mãos nos joelhos, tentando recuperar o ar que ela sentia que não mais existia.
- Olá, Srta. Weasley.
Gina se assustou. O pouco ar que tinha recuperado, sumiu novamente. Ela deu um pulo pra trás, levando as mãos ao peito.
- Gina, professor. – falou ela, ofegando. – Por favor... Gina.
- Ah, desculpe. Não pretendia assustá-la. – disse ele a fitando com interesse.
- Er... não me assustou. – mentiu ela. – Eu só estava distraída demais.
- Não devia estar no baile, Gina?
- Devia, mas... estou procurando o Harry.
Ela sentiu que estava corada. Não sabia se era por ter dito que estava procurando o Harry, ou por estar naquele estado.
- Entendo. – disse Dumbledore, sorrindo. Gina não pôde deixar de notar que seus olhos brilhavam de um jeito diferente.
- Ahn... então, eu... vou indo, sabe... tenho que encontrar ele hoje. – disse embaraçada.
- Mas a distância não importa. – disse ele. E recomeçou a andar pelo corredor. Gina o observou se afastar confusa.
- A distância não importa? Mas o que ele... – e de repente, ela se deu conta. – Mas eu sou muito burra mesmo!
Respirou fundo, tentando se acalmar e fechou os olhos, se concentrando apenas em Harry.
- Harry!
***
- Harry!
Ele se assustou. Olhou ao redor como se esperasse ver Gina do seu lado, mas era óbvio que ela não estava.
- Gina, o que...
- Mas que droga! Quer me esperar, por favor? – ela soava irritada. – Cadê você?
Harry olhou ao redor novamente e descobriu que não sabia exatamente em que corredor estava. Havia andado sem prestar atenção, perdido em seus próprios pensamentos.
- Eu não sei, em algum corredor.
- Ajudou bastante. – disse ela. – Fique onde está. Eu preciso falar com você.
Harry parou sem saber muito bem o que fazer e se encostou na parede do corredor. Esperou durante algum tempo. O que será que Gina queria? Ele já havia entendido o que ela havia dito. Não precisava repetir. Rompendo o silêncio do corredor, ele ouviu passos. Passos apressados e que provavelmente eram de alguém correndo.
- Gina? – falou quando viu ela aparecer no corredor aos tropeços. Olhou para ele, correu mais um pouco e o abraçou. Harry, pego totalmente de surpresa, quase caiu pra trás. – O que você...
- Eu entendi. – disse ela se afastando apenas para olhar em seus olhos.
- Entendeu o quê? – perguntou Harry, confuso. – E porquê você está descalça?
- Ah, era mais fácil correr. – disse ela impaciente. – Você precisa me escutar.
- Escutar o quê?
- Olha, eu sei que fui uma idiota, uma imbecil, eu tentei fechar meus olhos, mas como da primeira vez, isso não deu certo.
Ela falava muito rápido, mal parando pra respirar. Harry prestou atenção em suas palavras, se perguntando se ela estava querendo dizer o que ele achava que ela estava querendo dizer.
- Eu estava tentando achar uma desculpa pra não poder ficar com você, porquê no fundo eu estava com medo. Não me pergunte porquê, eu realmente não sei. Medo de dar certo, de não dar, de tudo acabar amanhã, de ser apenas um sonho. Eu estava apenas com medo. A Mione chegou a me perguntar se era medo de você, mas eu sei que não. Eu nunca teria medo de você, você sabe disso, não sabe?
- Sei... – disse Harry perdido com todas as palavras da ruiva.
- Acho que é medo dos meus sentimentos, o que eu sinto é forte demais e eu tenho medo que isso, de alguma forma, atrapalhe alguma coisa. Eu não sei, não sei explicar.
Harry também não sabia. O que estava sentindo naquele momento, com Gina tão próxima, falando aquelas coisas, estava acima do seu entendimento.
- E quando você saiu, eu fiquei sozinha naquela sala, eu realmente queria ficar perto de você, mas eu queria ficar longe. Eu sei que é confuso...
- É, muito confuso... – sussurrou Harry.
- É, sim. E eu estava lá sozinha, pensando, pensando em tudo. – continuou ela, agora tão próxima dele, que Harry mal conseguia pensar direito. – Mas aí eu parei e pensei: porque diabos eu estou pensando tanto? Eu nunca fui muito de pensar no que faria, sempre agi mais por impulso, acho que essa é uma característica marcante dos Weasley. Hermione quem gosta de pensar, saber o que vai fazer, tudo sempre programado. Mas pensando bem, ela é uma futura Weasley, então não faz muita diferença.
O máximo que Harry conseguiu fazer diante da observação dela, foi sorrir. Gina continuou tão rápido quanto antes.
- Eu não estava agindo normalmente. Eu devia estar seguindo meu coração, não a minha razão. Faz idéia de quanta diferença faz? Meu coração me dizia pra que eu ficasse com você, me dizia que isso era o certo, mas a minha razão me impedia de fazer qualquer coisa que meu coração quisesse. Então eu parei de pensar. Como eu não costumava seguir a razão, mas sim o coração, então eu percebi realmente como eu te...
Harry não esperou mais nada. Sabia o que ela queria dizer e agiu antes mesmo que percebesse o que fazia. Capturou seus lábios em um beijo apaixonado. Um beijo que só não o fez perceber que aquilo era a coisa mais certa a se fazer, como também o fez perceber o quanto gostava de Gina. Ter essa idéia o fez se sentir imensamente idiota, por ter tido Gina ao seu lado durante tanto tempo e nunca ter se dado conta disso.
Naquele momento, nenhum dos dois se preocupou com o “depois”, se preocuparam apenas com o “agora”. A sensação de estar ali, perto um do outro, de poder sentir seu toque. Harry sentiu que nunca tinha se sentido tão feliz, tão completo. Como se nada mais importasse, a não ser Gina e ficar ali com ela pra sempre.
-...amo. – completou Gina, ofegante, após separar-se dele.
- É, eu também. – disse Harry sorrindo para ela.
- Me desculpa? – perguntou ela, sorrindo nervosa.
- Pelo quê?
- Por ter demorado. Por ter pensado demais e...
- Tudo bem. E você? Me desculpa? – Gina franziu a testa para ele. – Pelo mesmo motivo. Por ter demorado tanto. Eu sempre fui muito tapado.
Gina riu.
- Você não é tapado, Harry. – disse ela.
- Não? Imagina se eu fosse, né?
Os dois riram. De repente, como se nada daquilo tivesse acontecido, Gina se afastou um pouco e lhe deu um tapa no ombro.
- Ei! – protestou Harry. – O que eu fiz?
- Você me fez correr pelo castelo inteiro, Potter. – respondeu ela cruzando os braços emburrada. – Olha o meu estado agora. E encontrei o Dumbledore, desse jeito aqui. Estou toda suada, descabelada e ainda por cima descalça.
Harry riu. Se aproximou dela novamente a abraçando pela cintura.
- Você está linda. – disse com a testa encostada na dela. Gina não pôde evitar o sorriso que apareceu em seu rosto.
- Eu ainda estou com raiva. – disse ela, mas agora seu tom era muito mais leve.
- Eu sei que está... – sussurrou ele, antes de beijá-la novamente. Nunca se cansaria de fazer isso.
- Eu não quero ir para o baile. – disse ela.
- Que ótimo, eu também não. – disse Harry. – As pessoas devem estar achando que eu sou louco. Apareci lá sozinho, correndo que nem um louco e de repente sumi. Se antes eu já não era um louco, pode apostar que agora eu sou.
Gina riu.
- Pelo menos não fui só eu que tive que correr atrás de você. – disse ela com um sorriso maroto.
- É, mas pelo menos eu fiquei em melhor estado.
- Harry!
Gina cruzou os braços novamente. Aquilo parecia ser um sinal de quando ela estava começando a ficar sem paciência ou brava. E ele já tinha tido muitas demonstrações do que ela era capaz de fazer, durante o ano inteiro.
- Estou brincando, Gina. – disse a abraçando e rindo. – Mas pra onde vamos?
- Eu não sei você, mas eu vou voltar para a Torre de Astronomia. Lá é um bom lugar pra quando não se quer ser incomodado.
- Ok. E você aceitaria que eu te fizesse companhia? – perguntou Harry sorrindo.
- Claro. – respondeu ela, feliz. – Vamos.
A Torre de Astronomia continuava vazia, sendo ocupada apenas pelos dois. Harry sentou perto da janela, onde dava para ter uma ótima visão do céu estrelado, e Gina sentou ao seu lado. Harry a puxou para mais perto, fazendo Gina ficar recostada em seu peito. Ela suspirou e olhou para o céu.
- Eu estava tão preocupada com tudo, que ainda não tinha reparado... – disse ela. – Mas está uma noite tão linda.
- Está sim... – concordou Harry.
- Espero que não se arrependa disso, Harry. – disse ela em voz baixa.
- Eu não tenho motivos pra me arrepender, Gina. Você não acredita quando eu digo que gosto de você de verdade?
- Acredito. – respondeu ela em um sussurro. Olhou para ele. Harry também a olhou. – Só não me decepcione, por favor.
- Não vou. Prometo. – disse antes de beijá-la novamente.
Continua...
N/A: Oi...
...
...
...
Sem comentários, eu estou muito nervosa.
...
...
...
Me digam vocês: ficou bom? Eu só quero saber isso.
...
...
...
Eu vou ter um ataque do coração.
...
...
...
Obrigada a todos que tentaram me animar. Já estou bem melhor. Principalmente porque eu estou de férias! :) Mas é muito pouco tempo. Dia 1° já começam as aulas de novo. Isso é culpa dos professores. Eles fizeram a greve e eu que pago. Não é justo. :(
Mas o capítulo ficou bom? Ficou razoável? Ficou uma porcaria? Me digam, por favor, eu estou tendo um ataque.
Me deixem dar algumas informações: o próximo capítulo é o último. Isso é tão triste. Eu sei que vai ter continuação, que não acabou, mas mesmo assim. “Minha amiga, meu amor” é minha primeira fic, minha paixão. E agora? Eu estou triste por ter acabado, mas estou feliz por ter estar concluindo meu trabalho. Sem comentários, não sei o que pensar...
Eu prometo (é sério) que posto o último ESSE fim de semana, no domingo, ou talvez até mesmo antes.
Eu pensei bastante, repensei, pensei de novo, mas isso já faz muito tempo e já estava decidido. A continuação vai se chamar “Meu amor, minha vida”
Beijos, amo vocês e até o último capítulo! ;D
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