Culpa
Uma coisa era se sentir culpada por um erro seu. Outra, completamente diferente, era fazer uma pessoa se sentir culpada por um erro seu.
Na verdade, existia uma enorme diferença entre os dois.
Gina podia muito bem conviver com a culpa de ter feito alguma coisa errada; era uma coisa que somente ela sentiria e que não prejudicaria ninguém.
Mas não conseguia suportar a culpa por fazer uma pessoa, principalmente quando essa pessoa era Harry, se sentir culpada pelo erro que ela cometeu. O erro de ter aberto a boca e ter dito tudo que sentia.
Agora estava se sentindo culpada por ter feito com que Harry se sentisse culpado. Podia sentir dentro dela (ela não sabia dizer como) todas as coisas que Harry estava sentindo naquele momento: a culpa, a tristeza e a confusão. E também sabia que ele estava sentindo isso, porque seu irmão havia feito o favor de lhe dizer que Harry estava estranho, distraído e calado desde que saíra da enfermaria dois dias atrás.
Ela sabia que ele estava desse jeito porque ela havia lhe dito aquelas coisas. Afinal, porquê tinha aberto a boca? Os dois estavam tão bem antes disso. Ela podia muito bem ter deixado as coisas como estavam.
Suspirou resignada, com raiva de si mesma. Ela ainda não sabia o que Harry achava disso tudo. Depois de sair da enfermaria, ele não tinha mais voltado. Gina só podia concluir que ele estava com raiva dela.
Não havia tentado falar com ele mentalmente. Tinha medo que ele não lhe respondesse. Pior do que as suas suspeitas, era confirmar as suas suspeitas.
E ficar deitada naquela cama sem ter notícias do mundo depois da porta daquela enfermaria não estava ajudando em nada. Queria sair dali.
- Madame Pomfrey! – chamou Gina aos berros. – Madame Pomfrey!
Ela ouviu passos apressados e Madame Pomfrey apareceu ofegante, saindo da salinha nos fundos da enfermaria.
- Que foi? – perguntou ela se aproximando rapidamente. – O que aconteceu? Onde está doendo?
Gina sorriu para a mulher.
- Em nenhum lugar. Eu posso ir? – perguntou.
Madame Pomfrey amarrou a cara.
- Não se brinca com uma coisa dessas, mocinha. – censurou ela. – Eu pensei que estivesse passando mal de verdade.
- Mas eu estou, quem disse que não? Estou passando mal de ficar aqui todo esse tempo.
- Eu já disse que pode ir, mas espere alguém vir até aqui para lhe acompanhar.
- Mas porquê? – choramingou ela.
- Eu não vou deixar você sair daqui sozinha. E se tiver algum problema no meio do caminho? E se desmaiar e não tiver ninguém para ajudá-la? – perguntou a enfermeira.
- A senhora é tão otimista. – comentou Gina. – Mas e se não vier ninguém?
- Claro que vem. – disse ela convicta. – Garanto que em menos de uma hora, o Sr. Potter ou qualquer outro vai aparecer por essa porta.
Gina tinha sérias dúvidas de que o Sr. Potter apareceria. E se sua amizade com Harry não fosse mais a mesma? E se depois de tudo que tinham passado durante aquele ano, ele simplesmente se afastasse dela, não ligasse nem mesmo para essa ligação que os mantinha unidos até quando estavam distantes um do outro? Harry não seria capaz disso... ou seria?
- Gina, acorda!
Ela deu um pulo na cama.
- Mas que droga! – reclamou irritada. – Precisava gritar desse jeito, Rony? Eu não sou surda.
- Pois parecia. – retrucou Rony. Estava parado do lado de sua cama, juntamente com Hermione, Fred e Jorge. Gina não sabia em que momento do seu pequeno devaneio eles haviam aparecido.
- Maninha, você estava dormindo de olhos abertos. – disse Fred.
- Em quê estava pensando, Gininha? – perguntou Jorge. Seus olhos brilharam maliciosamente. – Ou para ser bem específico, em quem?
- É, Gininha, em quem você estava pensando? – perguntou Fred, com o mesmo brilho nos olhos.
- Eu estava pensando no quanto seria difícil pra mamãe perder dois filhos de uma vez só. – disse ela sorrindo para os dois. – E no quanto seria mais difícil ainda se ela descobrisse que quem se livrou dos filhos dela, foi a sua filhinha caçula.
Fred e Jorge desmancharam os sorrisos que exibiam na mesma hora. Gina olhou ao redor, procurando por Harry, mas ele não estava ali. Sentiu um enorme peso no coração.
- Como você está, Gina? – perguntou Hermione. Gina reparou que ela estava de mãos dadas com Rony. Preferiu não fazer comentários. Pelo menos não naquele momento.
- Estou ótima. – respondeu ela. Virou-se para Madame Pomfrey. – Agora eu já posso ir?
- Pode sim. – respondeu a enfermeira cansada. Gina preferiu pensar que não era por sua causa.
- Que ótimo. – disse ela feliz, levantando da cama. – Tchau, Madame Pomfrey.
- Calminha, Gininha. – disse Jorge.
Gina parou e olhou para ele confusa, mas não precisou esperar muito pra saber o que estava aprontando. Fred se aproximou e, sem dar aviso nenhum do que iria fazer, a pegou no colo. Ela soltou um grito de surpresa.
- O que está fazendo? – perguntou ela, assustada.
Fred sorriu.
- Mamãe não foi embora enquanto não prometemos que iríamos cuidar de você direitinho... – respondeu ele.
- Impedir que você se metesse em mais encrenca... – completou Jorge.
- Você sabe, fez muitos passeios a Ala hospitalar durante esse ano.
- Eu sei disso, mas eu tenho certeza que não vou voltar pra Ala hospitalar se eu andar com as minhas próprias pernas, Fred. – disse ela emburrada, tentando se desvencilhar dele.
- Nada disso, maninha. – disse Jorge. – Vamos assim. Não queremos que mamãe diga outra vez que nós não te protegemos.
- Fred e Jorge Weasley! É melhor me soltarem agora mesmo! – gritou ela. – Eu vou matar vocês!
- Relaxa, Gina. – disse Rony rindo, enquanto saiam da Ala hospitalar.
- Eu não vou relaxar desse jeito! – disse com raiva. – Me coloquem no chão agora mesmo!
Mas eles apenas riram. Ela odiava quando eles faziam isso. Será que eles não entendiam? Faziam ela se sentir pequena, vulnerável e indefesa. Praticamente uma criança. E ela odiava sentir isso.
Já estava vermelha de raiva.
- Me. Coloquem. No. Chão. – pediu pausadamente, com uma paciência que nunca existiu.
- Mas Gina...
- Agora, Fred!
Seu grito ecoou pelas paredes do castelo. A raiva a dominou fortemente. Fred e Jorge se entreolharam e sorriram.
- Quê? – perguntou Gina, emburrada. – Porque estão sorrindo? Eu quero que me coloquem no chão e quero que me coloquem no chão agora. – mas eles nem se mexeram. - Querem parar de sorrir e me olhar desse jeito? – acrescentou ríspida.
- Sentimos falta disso, Gina. – disse Jorge sinceramente.
Sua raiva se dissipou rapidamente, como se nunca tivesse existido.
- Quê? – perguntou espantada. Os gêmeos provavelmente estavam tentando lhe pregar alguma peça.
- Sentimos falta dos seus gritos. – disse Fred sorrindo. – Você ficou duas semanas deitada naquela cama, faz idéia do que isso significa?
- Significa silêncio. – falou Jorge. – Nada de gritos de raiva, nada de ameaças... Apenas uma vida normal... e quem gosta de ter uma vida normal?
Gina encarou um, depois o outro. Olhou para Rony e Hermione, que apenas sorriram para ela. Voltou a encarar os gêmeos. Nunca havia passado pela sua cabeça que um dia Fred e Jorge lhe diriam isso.
- Vocês estão falando sério? – perguntou. – Quer dizer, não estão tentando me enganar, estão?
- Claro que não, Gina. – respondeu Fred. – Nós realmente sentimos sua falta.
- É, você é nossa irmã preferida. – complementou Jorge.
Gina ergueu as sobrancelhas para eles.
- Eu sou a única irmã de vocês.
- Por isso mesmo. Nós te amamos e não gostamos nada de te ver imóvel naquela cama. Preferimos te ver gritando com a gente.
- Exatamente. – concordou Fred, sorrindo. – Mas tenta não contar isso pra ninguém, tá? Principalmente a mamãe. Acabaria com a nossa reputação.
Gina riu. Esses sim eram seus irmãos, brincalhões. Mas mesmo assim ela sabia que estavam falando a verdade. Se sentiu envergonhada por ter gritado com eles há poucos minutos.
- Tudo bem, me desculpem. – disse ela. – Mas será que podem me botar no chão? Eu odeio ser carregada desse jeito, igual a um bebê.
- Em troca, você não conta nada disso a ninguém. – propôs Jorge.
- Eu não vou contar, até porque ninguém acreditaria. – resmungou ela. – Mas tudo bem, agora pode me pôr no chão, Fred?
- Prontinho. – disse ele a soltando. – Mas você não vai mesmo...
Gina se precipitou e abraçou os dois.
- Podem deixar, eu não vou contar nada do que aconteceu aqui pra ninguém. Nossa, parece até que vocês cometeram um crime. – acrescentou rindo.
- Cometemos um crime contra a nossa fama de marotagem. – disse Jorge com uma careta, como se realmente tivesse acabado de cometer um crime horrível. Gina riu mais uma vez.
- Vamos logo. – disse os puxando, para que continuassem o caminho até a torre da Grifinória.
Gina começou a ouvir o que eles diziam apenas com metade de sua atenção. Novamente, só para variar, estava pensando em Harry. Ele não viera até a Ala hospitalar como sempre fazia. Seria um sinal de que estaria bravo com ela? Ou simplesmente estaria ocupado? Gina rezou para que fosse a segunda opção.
- Rony... – chamou ela. Seu irmão, que andava um pouco mais a frente com Hermione, olhou para trás.
- Quê?
- Cadê o Harry?
Rony trocou um olhar com Hermione. Aquilo a incomodou.
- Não sabemos, não o vejo desde ontem à noite. Quando levantei ele não estava no dormitório.
Gina assentiu voltando a ficar em silêncio novamente. Agora lhe parecia ainda mais claro que Harry não queria vê-la. Sentiu uma enorme vontade de gritar. Ou pior, chorar. Mas antes que pudesse fazer isso, completamente distraída, ela esbarrou nas costas de Rony, que por alguma razão que ela desconhecia, tinha parado de andar.
- Rony! Enlouqueceu? – perguntou brava. – O que você...
Ela parou de falar com a boca repentinamente seca. Um pouco mais adiante no corredor, Harry conversava com Cho Chang. Se sentiu incrivelmente mal, como se estivesse doente. Mas qual era o problema? Os dois eram amigos, então podiam conversar a vontade, ela não ligava.
Ela ligava sim...
Lhe ocorreu o pensamento de que Harry talvez não tivesse ido buscá-la na Ala hospitalar apenas porque estava ocupado demais conversando com Cho... Isso a machucou profundamente.
Ela sentiu que Rony, Hermione, Fred e Jorge, estavam observando-a. Harry e Cho ainda não tinham notado a presença deles. Ela engoliu em seco, tentando manter a voz firme e livre de qualquer emoção.
- Não é melhor a gente continuar?
Infelizmente ela não conseguiu. Sua voz saiu falha, baixa e até mesmo um pouco embargada.
- É, é melhor sim. – disse Hermione depressa.
Os cinco retomaram a caminhada em silêncio e somente quando chegaram perto o bastante, Harry e Cho notaram suas presenças. Para se mostrar forte por fora, porque por dentro estava destruída, Gina encarou Harry firmemente. Ele estava um pouco pálido e desviou o olhar rapidamente.
- Er... oi. – disse Hermione, quebrando o silêncio.
- Oi. – disse Harry. – O que vocês estão fazendo aqui?
Era uma pergunta meio idiota, pensou Gina. Para qualquer pessoa, até mesmo Cho, a resposta era bastante óbvia.
- Fomos buscar a Gina... – respondeu Rony. – Na Ala hospitalar...
- E aí, Weasley? – perguntou Cho. – Como é que você está?
- Ótima. – respondeu Gina. – Nunca estive melhor, Chang.
- Fico feliz por você.
- Ah, eu sei que fica. – disse Gina sarcástica. Cho lhe lançou desdenhoso e se virou para Harry.
- Tchau, Harry. Depois a gente se fala.
E se afastou. Ficaram todos em silêncio. Gina teve medo de abrir a boca e falar alguma coisa que não quisesse que saísse. Então preferiu continuar seu caminho em silêncio. Os outros a seguiram.
- O que ela queria? – ouviu Rony perguntar a Harry.
- Nada de mais. Eu a encontrei aqui por acaso e ficamos conversando, só isso.
- E o baile de hoje? – perguntou Hermione.
- Er... o que tem ele? – ela ouviu Harry perguntar.
- Bem, imagino que você já tenha par, não?
- Er... tenho sim. – respondeu Harry.
Gina acelerou o passo. Não queria escutar mais nada. Queria apenas desaparecer. Se possível, pra sempre.
- Gina, quer fazer o favor de andar mais devagar. – pediu Rony.
Mas ela não lhe deu atenção e tampouco respondeu. Continuou andando. Sentiu o olhar de Harry às suas costas, mas ignorou isso também. Se ele queria ficar longe, ela que não iria insistir.
***
Gina não sabia há quanto tempo exatamente estava ali, sentada naquela cama, criando coragem para sair daquele quarto. Tinha a impressão que fazia anos.
Respirou fundo mais uma vez, levantou e andou até a porta, colocando a mão na maçaneta.
Afinal de contas, qual era o problema? Era muito simples, ela só tinha que sair e aproveitar o baile. Não era tão difícil assim, era?
Era...
E tudo se tornava mais difícil ainda quando lembrava o quão distante Harry estava. Tudo se tornava mais difícil quando pensava o quanto ele estava a ignorando. Desde que tinha saído da Ala hospitalar, ele ainda não havia lhe dito uma palavra. Tentando evitar qualquer constrangimento, ela também não falou com ele.
Sobrava vontade, mas faltava coragem...
- Qual é o seu problema, Gina Weasley? – falou para si mesma. – É só ignora-lo... Ou então coloca-lo contra a parede. Isso se você tiver coragem de fazer isso, não é? Mas primeiro arrume coragem pra sair da porcaria desse quarto.
Ela parou, suspirou e em seguida riu de si mesma. Estava parecendo uma idiota. Andou até a cama e sentou-se novamente. Definitivamente, estava parecendo uma idiota.
Escondeu o rosto nas mãos. Queria realmente desaparecer. Agora mais do que nunca.
- Gina, você já está pronta?
Ela ergueu a cabeça e viu Hermione entrando no quarto. Já estava pronta, provavelmente apenas esperando por ela.
- Diz ao Harry que eu morri, Mione. – falou completamente desolada.
Hermione sorriu e andou até ela, ajoelhando-se na sua frente.
- Qual é o problema, Gina?
Gina olhou para ela. Seu motivo por estar daquele jeito poderia ser considerado idiota. E se Hermione risse dela?
- Estou com medo. – sussurrou. Hermione não riu e Gina agradeceu intimamente por isso.
- Medo de quê? – perguntou ela franzindo a testa. – Medo do Harry?
- Não! – exclamou Gina mais alto do que realmente pretendia. – Claro que não estou com medo do Harry, Mione. Que idéia.
- Então do quê?
Gina desviou os olhos para o chão.
- Não sei bem. Estou com medo do que pode acontecer quando eu sair desse quarto. Estou com medo do que Harry pode me dizer ou simplesmente de ele não me dizer nada. Do jeito que ele está me ignorando... – olhou para Hermione. – Você deve ter percebido, não?
Hermione hesitou.
- Pra falar a verdade, percebi sim. – respondeu ela. – Não só eu, mas algumas pessoas...
- Em outras palavras, a escola inteira. – disse Gina, a interrompendo.
Hermione sorriu como se pedisse desculpas.
- É, acho que sim. – disse ela.
Gina suspirou cansada.
- Todos já estavam... como eu posso dizer? “Acostumados” com vocês andando juntos pra cima e pra baixo, Gina. – continuou Hermione. – Se torna estranho que de repente vocês estejam tão afastados um do outro. Assim, do nada... Não tinha como não perceber.
- Não foi do nada. – disse Gina. – Muita coisa aconteceu, Mione. Eu e minha boca grande, entende.
Hermione pareceu um pouco confusa. Gina quase podia ver o cérebro da amiga funcionando. Em seguida, ela arregalou os olhos.
- O quê... Você quer dizer que contou tudo pra ele? – perguntou ela e Gina assentiu. – Mas... quer dizer, tudo mesmo?
- É, Mione. – disse Gina. – Eu disse tudo a ele. O que eu sentia, o que eu passei durante todo esse tempo gostando dele, até mesmo sobre a minha burrice ao pensar que tinha o esquecido.
- Não acredito. – disse Hermione em voz baixa. – Então é por isso que estão afastados?
Gina assentiu novamente.
- Mas porquê...? Quero dizer, ele ficou com raiva, foi isso?
- Não, acho que não. – respondeu Gina, desejando de todo coração que o que estivesse dizendo fosse verdade. – Acho que ele só ficou meio confuso, sei lá.
- Mas então porque você não pergunta pra ele? – perguntou Hermione.
Gina riu sem alegria.
- Como, Mione? – perguntou triste. – Eu não estou com coragem nem de sair desse quarto e ficar a noite inteira do lado dele nesse maldito baile. Eu não estou com coragem de encará-lo depois de ter dito tudo aquilo pra ele. Eu não estou com coragem pra nada.
Houve um momento de silêncio em que Hermione apenas a encarou.
- Eu não estou te reconhecendo, Gina. – falou ela, por fim.
Gina franziu a testa confusa.
- Quê?
- Eu não estou te reconhecendo. – repetiu Hermione. – Você sempre foi tão corajosa, Gina. Você sempre enfrentou seus problemas de cabeça erguida.. Sem querer ofender, mas algumas vezes você dá até medo.
Gina riu fracamente.
- É sério, Gina. – continuou Hermione, sorrindo. – Eu tenho certeza que o Harry não está com raiva de você.
- Como você pode saber?
- Eu não posso, mas você pode. – disse ela levantando. – É só sair desse quarto. Ele está lá embaixo te esperando, sabia?
- Ele está?
- Claro que está. Você é o par dele, lembra?
- Ah, claro. Mas como ele está? Quer dizer... – disse se sentindo muito idiota. – Como está a expressão dele, entende.
Hermione pareceu pensativa e em seguida sorriu.
- Bem, ele não parece com raiva, se é isso que você quer saber. – disse ela. – Na verdade, ele parece apenas um pouco nervoso.
- Nervoso?
- É.
Gina ficou novamente em silêncio. Sua única certeza era que não podia ficar naquele quarto pra sempre.
- Estou parecendo uma idiota, não é? – perguntou.
- É claro que não, Gina, você só... é, você está sim. – disse ela rindo e Gina a acompanhou. – Mas eu te entendo, Gina. Eu entendo o seu medo.
Gina sorriu para ela e suspirou mais uma vez.
- Parece que as paredes desse quarto estão se fechando ao meu redor. – falou ela.
- Então saia dele.
- Eu não consigo, Mione. – choramingou ela.
Hermione bufou.
- Tudo bem, então eu vou sair desse quarto e vou dizer ao Harry que você está com medo de olhar na cara dele. Ele vai para o baile sozinho, mas lá vai encontrar com a Cho e os dois vão ficar juntinhos durante a noite inteira, mal lembrando que você existe e...
- Tudo bem, Mione. – disse Gina se levantando. – Você venceu.
A imagem que lhe veio à cabeça, de Harry e Cho juntinhos, não lhe agradou nem um pouco.
- Isso foi golpe baixo, Mione.
- Que seja. – disse ela sorrindo. – E então? Vamos?
- Er... vai indo na frente, Mione.
- Mas...
- Eu prometo que eu vou. – garantiu Gina. – Mas vai na frente, por favor.
Hermione a encarou, mas pareceu decidir por não discutir, o que Gina agradeceu muito.
- Certo, Gina. Eu vou, mas se você não descer em menos de 10 minutos, eu venho aqui de novo e te arrasto até lá embaixo.
- Ok, Mione. E aproveite a noite com o meu irmão. – acrescentou rindo. Hermione ficou extremamente vermelha.
- O quê? Eu não sei do que você está falando.
- Ah, não sabe? Então deixa eu refrescar sua memória, Mione. Eu vi, quando estava lá na Ala hospitalar, você de mãos dadas com meu maninho mais novo. Em outras palavras, meu querido Roniquinho.
- Gina, você sabe que ele não gosta que o chamem desse jeito. – disse Hermione sorrindo envergonhada.
- Ora, mas está melhor do que eu imaginava. – falou Gina rindo. – Você já está até defendendo ele.
- Gina! – exclamou ela vermelha. – Quer parar com isso, por favor.
- Ok, parei. – disse se controlando. – Mas é sério, Mione. Eu fiquei muito feliz por vocês dois.
- Obrigado, Gina. – disse Hermione sorrindo sinceramente.
- Pois é. Você é minha cunhadinha agora.
- Gina!
- Quê? Não é verdade? Mas tudo bem, pode deixar, agora eu parei. – disse rindo. – Vai lá, Mione. E não me espera.
- 10 minutos, ouviu bem, mocinha? – disse Hermione parada na porta. – E conversa com o Harry, Gina. É o melhor que você tem a fazer.
- Tem certeza que o melhor que eu tenho a fazer não é sair correndo? Ou então ficar aqui nesse quarto mesmo?
- Só você, Gina. – disse Hermione balançando a cabeça, mas ela sorria. – Eu vou dizer ao Harry que você está descendo.
Ela saiu e na mesma hora Gina perdeu o sorriso que tinha no rosto. Sentou novamente na cama e sentiu que empalideceu consideravelmente. Não podia descer tão pálida, então achou melhor esperar.
Esperou somente alguns minutos, que ela sinceramente desejou que fossem mais longos, respirou fundo e saiu de uma vez, para não correr o risco de fraquejar e entrar novamente.
***
Harry nunca havia se sentido tão nervoso em toda a sua vida. Suas mãos suavam, seu coração batia forte no peito e sua cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento. Estava sozinho na sala comunal, apenas esperando Gina descer. Esse era exatamente o motivo do seu nervosismo.
Hermione havia descido há alguns minutos e apenas havia dito que Gina já estava descendo, antes de sair puxando Rony pelo buraco do retrato e o deixando sozinho ali. Harry ficou indignado. Ela havia passado tanto tempo lá em cima com Gina (para ele, pelo menos, pareceu muito tempo) e depois descia e dizia apenas que Gina já estava descendo.
Ela podia pelo menos ter dito se Gina não estava com raiva dele por tê-la evitado nos últimos dias.
Harry não queria ter feito isso...
Não queria ter ficado longe dela, mas simplesmente não conseguia olhar pra ela por mais de meio segundo sem se lembrar das palavras dela, que pareciam ecoar em sua cabeça.
Havia tomado uma decisão... Ele sabia que era a coisa mais certa a ser feita. Ele realmente queria fazer isso. E iria fazer isso hoje. Não iria mais fugir, como tinha feito desde que ela tinha lhe dito todas aquelas coisas. Estava agindo como um covarde. Estava machucando a si mesmo e, muito provavelmente, à Gina também. Estava fazendo a coisa errada.
Andou pela sala comunal nervosamente. Ficar sentado não lhe agradava; tinha a sensação que explodiria se fizesse isso.
Olhou mais uma vez para a escada do dormitório feminino, mas Gina não aparecia.
- Calma. Você só tem que ficar calmo. – disse a si mesmo.
Mas a calma parecia ter tirado férias. Parecia que nunca tinha existido em nenhum lugar do mundo.
Passou as mãos pelos cabelos e deixou escapar um suspiro frustrado. Porque Gina não descia logo pra ele acabar de vez com aquilo tudo e fazer o que queria, dizer o que já devia ter dito? Isso se não caísse duro antes.
- Oi...
Harry não caiu duro, mas chegou perto disso. Olhou imediatamente para a escada, onde Gina descia. Estava tão linda como Harry jamais a vira antes. Os cabelos, que no outro baile estavam presos, dessa vez estavam soltos, mas levemente cacheados. Dessa vez, seu vestido era branco. Parecia um anjo.
Ela não olhava pra ele. Olhava para a escada, ou era para os próprios pés, Harry não saberia dizer exatamente.
Ela parou à sua frente e finalmente o encarou. Seus olhos estavam inexpressivos. Harry não conseguia saber o que Gina estaria sentindo naquele momento. Estava um pouco pálida. Harry supôs que ele próprio também devia estar.
Com um esforço supremo, abriu a boca e tudo que conseguiu dizer foi:
- Vamos?
- Claro. – disse ela.
Os dois saíram pelo buraco do retrato em silêncio. Gina nem ao menos o olhava. Os corredores estavam silenciosos e desertos, parecia que todos já estavam no baile. Harry não estava com a menor vontade de participar desse baile. Imaginou que provavelmente, Gina também não.
Ela estava distraída. Talvez estivesse se esforçando apenas para não olhar para ele, isso fazia com que não prestasse atenção em mais nada. Muito menos no caminho e pra onde estavam indo. Ela apenas o seguia, sem perceber exatamente pra onde ele a levava.
Somente quando saíram pela porta do saguão de entrada, Gina pareceu se dar conta de onde estava. O vento frio bateu em seu rosto e ela tremeu. Olhou para ele e franziu a testa.
- Mas o que...
- Por favor, vem comigo. – pediu ele a interrompendo.
Gina continuou olhando pra ele, meio confusa e espantada.
- Você confia em mim? – perguntou Harry.
- Você sabe que sim. – respondeu Gina, séria.
- Então vem comigo. – falou ele, estendendo a mão.
Gina olhou para sua mão e novamente em seus olhos. Houve alguns poucos segundos de silêncio, em que Harry receou que ela entrasse correndo no castelo.
- Tudo bem – disse ela finalmente, segurando em sua mão.
A mão dela estava gelada. Harry deu um aperto de leve, que ela retribuiu. Isso o deixou um pouco aliviado. Se ela pelo menos concordou em acompanhá-lo, não devia estar tão zangada quanto ele pensava.
Andaram novamente em silêncio. Apesar de continuar bastante nervoso, estava se sentindo um pouco confiante. Quando chegaram em frente ao lago, Harry parou.
Gina olhou para ele, mas não falou nada. Ela soltou sua mão e andou até a beira do lago, onde ficou observando o reflexo da lua.
- Porque me trouxe até aqui? – perguntou ela depois de um longo tempo em que os dois ficaram em silêncio.
- Ah, certo. – disse Harry, nervoso. – Er... eu preciso falar com você.
Gina continuou de costas para ele.
- Pode falar. – disse ela.
Harry sentiu o coração acelerar em seu peito. Só esperava que conseguisse falar tudo que queria, antes de ter um ataque.
Continua...
N/A: Olá, amores da minha vida! :D
Primeiro, não me matem. Deixem eu explicar de novo: eu disse que tinha salvado os capítulos da fic no meu celular, não foi? Foi. Mas quando eu fui ver, quase morri. Antes, o programa instalado no meu computador era o Word 2007. Dessa vez, o carinha instalou o Word 2003. Quando eu fui ver, não era compatível, não abria. Eu quase morri, me deu uma raiva, sabem. Eu falei até com um amigo (beijos, Tarlen) e ele me disse que eu podia ter baixado um conversor que podia tornar compatível, mas eu já tinha excluído e não tinha mais jeito. :(
E por fazer muito tempo que eu tinha escrito (acho que quase dois meses), eu não lembrava de muita coisa. Tive que reescrever tudo de novo e pelo que eu me lembre, parece que ficou muito diferente, mas talvez até tenha ficado melhor, vocês é que vão me dizer isso.
Desculpem novamente pela demora, mas minha vida está um verdadeiro inferno. Eu estou em semana de provas (provavelmente levando bomba em tudo, hoje vai ser Química e eu vou tirar um zero bem redondo), tenho que estudar, mas quem disse que eu estou com cabeça pra isso? Parece que problemas na minha vida nunca são demais.
Minha mãe acabou de fazer uma cirurgia de apendicite, ela passou quase uma semana no hospital, mas já está em casa (graças a Merlin :x). Ela está bem, mas isso me deixou com menos tempo pra escrever já que eu tenho que ajudar ela, espero que entendam.
E também eu estou com raiva. Estou com muita raiva mesmo. De quem? Do meu querido padrasto que não pára de implicar comigo um só segundo.
“Ela fica sentada nesse computador o dia inteiro.”
“Ela não faz nada.”
“Ela não ajuda ninguém.”
Isso é o que ouço ele dizer. E sabe o que é o pior? Minha mãe concorda com ele. Mas sabe qual é o problema? Parece que as pessoas só reparam no que eu deixo de fazer, e nunca no que eu faço. E ainda tem o filho dessa praga (Deus me perdoe) que agora vive me atormentando. Um dia eu meto a paulada nele...
E pra completar, ainda tem a minha querida irmãzinha. Ela resolveu implicar comigo também. Eu não sou muito de discutir com ninguém, prefiro ficar calada porque não quero magoar ninguém com qualquer coisa que eu diga, mas tudo nesse mundo tem limite. Ela começa a implicar comigo, mas eu termino rapidinho. Acho que ela é a única pessoa que já experimentou só um pouquinho da minha raiva, porque eu nunca liberei ela completamente. Eu lembro até de uma vez quando eu tinha 7 anos... Nós estávamos brigando e eu, com uma raiva descomunal, peguei a primeira coisa que eu achei e atirei nela. Era uma escova de cabelo. Cortou a testa dela. Teve outra vez também que eu joguei um cofre, sabe, aqueles porquinho de plástico. Cortou o lábio dela. E isso era só um pouco da minha raiva, ok?
Agora ela resolveu que eu sou rebelde. Eu não posso responder nada (sabem quando uma pessoa responde ironicamente, sarcasticamente, ou então malcriadamente?) que ela acha que eu sou a pior das rebeldes. É só o que eu ouço ela dizer a minha mãe:
“Mãe, faça alguma coisa.”
“Mãe, essa menina não está normal.”
“Mãe, coloque limites nessa menina, antes que seja tarde demais.”
No dia que ela disse isso dos limites eu não agüentei e falei: “Eu coloco meus próprios limites.”
Pra quê, meu Deus? Ela olhou pra minha mãe e disse: “Está vendo?” Aí minha mãe falou: “Pode deixar, que eu vou botar limites.”
Me subiu o sangue, sabem. Eu não disse nada, mas me deu uma raiva tão grande. Quer dizer, EU coloco meus próprios limites. EU SEI os meus limites. Não é que eu seja aquele tipo rebelde que acha que pode fazer qualquer coisa. Eu REALMENTE sei os meus limites.
Ela tem até um pouco de razão, eu até mudei um pouco. Deixei de ser a idiota que ficava calada. Só pra ficar registrado, eu sempre ganho dela nos bate-bocas. E acho que é a isso que ela se refere.
Quando uma pessoa fala alguma coisa que você não gosta, o que você faz? Algumas pessoas brigam, começam a berrar, destroem a casa e o mundo. Eu fico calada, ignoro, guardo a raiva para mim mesma, entendem. E por alguma razão que eu desconheço, isso a incomoda. Qual é o problema desse povo? Se eu respondo, ela fica com raiva. Se eu não respondo, ela também fica com raiva. Vou experimentar destruir a casa, quem sabe isso a agrade, não é?
Eu estou cansada de tudo. Estou com muita raiva mesmo.
Algumas pessoas daqui no FeB abandonaram as fics que estavam escrevendo, justamente por estar com problemas pessoais. Não se preocupem, eu não estou pensando nisso. Escrever aqui é a minha única terapia, a única coisa que me deixa mais calma. Poder viajar pra outro mundo e esquecer a minha realidade. Eu já disse que odeio a realidade? Pois eu odeio.
Quase quebrei o meu teclado enquanto digitava, é sério. A barra de espaço já está até com problemas. Tadinha...
Ah, e minha irmã também está me irritando ultimamente por ficar dizendo em alto e bom som que o HARRY devia ter ficado com a HERMIONE. Fazem idéia do quanto eu fiquei com raiva? Quer dizer, eu sou completamente H/G, aí a minha própria irmã, que mora na minha casa, que dorme na minha cama, chega pra mim e diz uma coisa dessas? Eu quase surtei. Eu até falei com minha amiga (beijos, Marina, te amo) e ela me disse que minha irmã era uma fã pôser e eu concordo plenamente. Ela nunca leu um livro de HP, só assistiu aos filmes. Não é viciada nem fanática como eu, mas gosta, sabem. Mas se gostasse mesmo, pelo menos lia os livros, não? Aí ainda completa dizendo que a Gina é chata, que ela é feia, que ela é sem-graça. É sério, ela já disse isso duas vezes. Na primeira, eu fiquei triste. Na segunda, eu fiquei com raiva. Mas na terceira, eu mato. Quem sabe eu não atire alguma coisa de ponta agora pra ver se perfura o cérebro dela? Não vou fazer isso, mas imaginar ajuda bastante.
Droga, isso ficou grande. Desculpem. Isso se alguém tiver lido até o final, não é?
Desculpem por qualquer coisa, pela demora, por isso tudo aqui. O próximo capítulo, eu não vou demorar, juro. Prometo que posto o próximo (e acho que é o mais aguardado :D) até esse fim de semana. Minhas provas já estão acabando e vai ficar mais fácil.
Beijos para todos, principalmente para a Vanny que ficou me enchendo até eu decidir postar. E pra Marina, que me ajudou com o lance lá da minha irmã. Ela é minha companheira de contagem regressiva para o filme. Faltam 26 dias *-*
Agradeço todos os comentários e quero saber o que acharam desse. Ficou bom? Comentem, tá? Droga, estou atrasada pra escola.
Beijos e abraços.
Amo vocês.
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