Do meu lado
Abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi a escuridão. Tentou forçar a vista a enxergar alguma coisa, mas tudo que conseguiu foi fazer com que sua cabeça explodisse de dor. Tentou levar as mãos a cabeça, mas percebeu que estavam amarradas. Começou a entrar em pânico. Queria gritar, mas sentia que se abrisse a boca, poderia vomitar. O cheiro daquele lugar também não estava ajudando em nada. Parecia que tinha alguma coisa morta há muito tempo. Sentia frio, mas nada podia fazer para se esquentar. Sentiu alguma coisa escorrer pelo lado esquerdo
Ouviu passos. Sentiu o sangue gelar e prendeu a respiração, como se assim pudesse impediu a pessoa de lhe ver. Os passos pararam, mas ela sabia que estavam bem próximos.
- Lumus! – uma voz fria ordenou.
Quando a luz iluminou um pouco o lugar, ela pôde ver a pessoa que estava parada a sua frente. Os olhos vermelhos que a fitavam e o sorriso de prazer por vê-la naquele estado.
- Você vai morrer, Ginevra. – disse com a voz sibilante. – Eu vou matar você.
Ela ficou calada. Estava em pânico, não conseguia pronunciar uma palavra, mas também não queria. Nada que disse poderia ajudá-la naquele momento.
- Ninguém pode te ajudar nesse momento. – continuou ele. – Nem o seu heróizinho... E sabe porque?
Novamente Gina ficou calada.
- Porque Harry Potter está morto. Eu o matei.
Gina fechou os olhos e sentiu as lágrimas caírem dolorosamente.
***
- Não! – gritou desesperada.
- Gina! – ouviu alguém chamá-la.
- Não, não, não! – repetia sem querer abrir os olhos. Não queria saber o que iria encontrar.
- Gina, se acalma.
- Pára, Rony. Não sacode ela.
- Mas ela está gritando feito louca.
- Mas não é para sacudi-la, seu idiota. Assim você vai assustá-la mais ainda.
- Saiam daí vocês dois. Eu cuido dela.
- Não, ele não está. – gritou Gina.
- Gin, se acalma. – pediu uma voz doce. – Sou eu, o Harry. Fica calma, eu estou aqui com você. Abre os olhos...
Gina abriu os olhos lentamente. Viu Harry sentado na beirada da cama em que ela estava. Ele estava a segurando pelos ombros e a olhava com preocupação. Um pouco mais atrás, como se tivessem medo de se aproximar, estavam Rony e Hermione. Madame Pomfrey estava um pouco distante cuidando de alguém.
- O que aconteceu? – perguntou olhando para todos.
- Você está na Ala hospitalar, Gina. – disse Rony.
- É, isso eu percebi. – disse com um pouco de irritação. – Mas porque eu estou aqui? Quem me trouxe?
- Harry. – respondeu Rony. – Ele trouxe você.
- Mas porque? – ela perguntou olhando para Harry interrogativamente. – O que aconteceu?
- Eu vou acabar com você, Weasley. – disse alguém um pouco afastado.
Gina olhou novamente para onde Madame Pomfrey estava e viu ela cuidando de Cho, que a olhava como se pudesse explodi-la com os olhos.
- O que a Chang está fazendo aqui? – perguntou confusa. – O que eu estou fazendo aqui?
- Gina, você...
- Harry, vem cá. – chamou Cho o interrompendo.
Harry suspirou, levantou da cama de Gina e foi até a cama de Cho.
- O que foi? – perguntou ele.
- Você não vai acreditar na cara de boazinha dela, não é? – perguntou irritada. – Ela me atacou, sem eu ao menos ter feito nada. Ela simplesmente puxou a varinha e me atacou. Ela é louca.
- Eu a ataquei? – perguntou Gina sem entender. – Eu não ataquei ninguém.
- Gina, sinto muito, mas atacou. – disse Hermione nervosa. – Você estuporou a Cho.
- Não, eu não fiz isso. – disse ela balançando a cabeça. – Eu não ataquei a Chang.
- Todos viram, Weasley. – falou Cho com desdém. – Tem várias testemunhas.
- Mas eu não fiz isso. – gritou Gina exaltada. – Eu não me lembro de ter feito isso. – completou mais controlada.
- Não adianta se fazer de coitada, Weasley. – rebateu Cho. – Você me atacou sem eu fazer nada contra você.
- Você é uma cobra Chang. – disse Gina se lembrando do que a garota tinha lhe dito. – Devia estar na Sonserina.
- Eu não saio por aí atacando ninguém, Weasley. – retrucou com um pequeno sorriso sarcástico. – Você devia estar na Sonserina.
- Eu não te ataquei, Chang. – gritou Gina nervosa.
Ela olhou para os amigos e suspirou.
- Rony, você acredita em mim... não é? – perguntou sem muita certeza.
Rony pareceu bem nervoso.
- Gina, eu vi... – disse ele como se pedisse desculpas. – Todos viram.
- Mione? – perguntou Gina virando-se para a amiga.
- Eu não sei, Gina. – disse apertando as mãos em nervosismo. – Eu vi, quer dizer, todos viram. Não tem como não ter feito, não é?
Gina baixou a cabeça desanimada. Olhou para Harry como se perguntasse a mesma coisa, mas ele não respondeu. Ficou parado, apenas a encarando com uma expressão indecifrável no rosto. De repente um peso pareceu cair sobre os seus ombros. Descobriu que não adiantaria de nada. Ou Harry acreditava nela ou acreditava em Cho. E Gina sabia que isso era uma batalha perdida, porque ele nunca iria duvidar da garota que dizia amar.
Voltou a baixar a cabeça totalmente desanimada. Estava sozinha. De novo. Como no seu primeiro ano. Não sabia o que tinha feito e ninguém acreditava nela. Se pelo menos ele acreditasse. Mas sabia que ele não faria isso. Sempre soube.
- Vocês já estão vendo que suas amigas estão ótimas, então agora os três podem ir embora. – disse Madame Pomfrey os expulsando.
- Mas quando elas vão sair? – perguntou Harry deixando de olhar para Gina.
- A Srta. Chang já pode ir, ela disse que já está ótima. – informou a mulher.
Cho levantou da cama e caminhou até Harry.
- Vamos, Harry. – disse o puxando pela mão.
- Espera, mas e a Gina? – perguntou ele para a enfermeira.
Ela andou até Gina e começou a examiná-la.
- Está se sentindo bem, Srta. Weasley?
- Não. – respondeu Gina encarando o teto que, aos seus olhos, parecia girar.
- O que está sentindo?
- Estou tonta. – era verdade. Sentia que se levantasse daquela cama desabaria e não teria ninguém para ajudá-la a levantar.
- Vai ter que ficar aqui, pelo menos até amanhã, está bem? – disse a enfermeira.
- Tá bom. – disse Gina suspirando aliviada.
Pela primeira vez, não fazia questão de sair daquela enfermaria. Não queria sair dali agora e encarar todo o castelo, que com certeza também achavam que ela tinha atacado Cho.
- Agora, podem ir vocês quatro. – disse Madame Pomfrey empurrando os outros para fora.
- Gina. - chamou Harry.
Gina fechou os olhos tentando não olhar para ele e também não escutar nada, mas era impossível.
- Gina, olha pra mim. - ele pediu, mas Gina não olhou.
- Tchau, Sr. Potter. – disse a enfermeira o empurrando. – Ela vai ficar bem. – e fechou a porta.
- É, eu vou ficar... – disse Gina sem abrir os olhos. – Um dia eu vou ficar...
- Do que está falando, Srta. Weasley? – perguntou Madame Pomfrey.
Gina abriu os olhos e a encarou.
- Do futuro, Madame Pomfrey. – respondeu com um suspiro cansado. – Do futuro.
***
Harry não conseguia dormir. Gina estava na enfermaria e não quis falar com ele quando a chamou. Mas ele entendia. Ela achava que ele não acreditava nela. Mas isso ele não entendia. Como ela não tinha atacado Cho, se ele a viu fazer isso? “Se eu dissesse que não fiz uma coisa, mas todas as provas indicassem que eu fiz, você acreditaria em mim?”, a pergunta de Gina lhe veio a cabeça. Ele tinha dito que sim. Então porque não conseguia acreditar?
Gina disse que não se lembrava de ter feito nada. E se ela não lembrava mesmo? Então, ela devia estar se sentindo igual ao seu primeiro ano, quando não sabia o que estava acontecendo. Ele disse que sempre acreditaria e sempre estaria com ela... E faria isso. Não iria abandoná-la. Gina era muito especial pra ele para perder sua amizade por causa disso.
Olhou para o relógio, eram duas horas da manhã. Pegou a capa da invisibilidade e saiu do dormitório decidido a ir até a Ala hospitalar. Queria que Gina soubesse que ele acreditava nela e que podia contar com ele sempre. Andou rapidamente até a enfermaria e abriu a porta. A enfermaria estava escura, mas o brilho da lua entrava pela janela e iluminava um pouco o lugar.
Gina não estava dormindo. Ela estava sentada na cama e abraçava as próprias pernas. Tinha a cabeça apoiada nos joelhos e estava pensativa. Ela balançou a cabeça como se quisesse se livrar de algum pensamento. Colocou as pernas pra fora da cama e levantou lentamente, como se receasse cair a qualquer segundo. Andou até a janela e apoiou no parapeito.
- Gina... – chamou Harry.
Ela não se assustou. Apenas continuou parada na janela, como se já soubesse desde o começo que ele estava ali. E ele não duvidava nada que ela sabia.
- Gina, eu...
- Shhh... – sussurrou Gina sem se virar. - Madame Pomfrey pode acordar.
Harry suspirou, retirou a capa e colocou em cima da cama. Se aproximou alguns passos em direção a ruiva, mas mesmo assim ela não se virou.
- Porque não está dormindo? - perguntou ela.
- Não consegui. - disse sinceramente. - E você?
- Eu estava pensando. - disse ela olhando para o céu através da vidraça.
- Pensando em quê?
- Você não vai querer saber. - disse ela.
Seu tom de voz não era raivoso, mas sim triste. Harry preferia que ela estivesse gritando com ele, do que ver aquela tristeza na sua voz e no seu olhar.
- Eu quero saber. - falou ele.
Gina suspirou tristemente.
- Estava pensando em como isso pode ter acontecido. - respondeu ela. - Em como eu posso ter atacado a Chang, mas não me lembro. Eu disse que era besteira, já que você não acredita em mim e...
- Eu acredito. - disse ele a interrompendo.
Gina se virou para ele, encostou no parapeito da janela e cruzou os braços. Seu olhar não continha raiva e nem surpresa. Mas sim tristeza e mágoa.
- Acredita? - perguntou ela.
- Acredito. - disse ele se aproximando mais. - Agora eu acredito.
- Porque agora e antes não? Porque a mudança? - perguntou franzindo a testa. - Porque teve que esperar eu me sentir sozinha de novo, para poder acreditar em mim?
Harry suspirou.
- Eu prometi, lembra? - disse ele. - Eu prometi que sempre acreditaria em você e estaria com você.
- Acredita em mim, ou só está fazendo isso porque prometeu? - perguntou ela. - Porque se for por causa da promessa, pode se sentir livre de qualquer obrigação, está bem?
- Eu acredito em você, Gina. - disse ele. - Não sei porque não acreditei desde o começo, mas agora que eu parei pra pensar, vi que você nunca faria isso. Eu te conheço... e sei muito bem que você não atacaria alguém e diria que não fez nada.
Gina ergueu as sobrancelhas.
- E porque acha que eu não faria isso? - disse ela. - Não acredita na Chang?
- Não é questão de acreditar ou não, Gina. - disse nervoso. - Eu vi o que aconteceu, todos viram. Não é só a palavra da Cho, é de todos. Eu vi. Todos só estão dizendo o que viram. Eu estou dizendo que acredito que você não lembra. Pra quê você mentiria? No dia que você bateu no Malfoy toda a escola sabia que foi você. Então porque negar isso agora, ainda mais se todos viram? - ele respirou fundo. - Eu acredito que você não lembra, acredito que você não a atacaria por livre e espontânea vontade.
- Claro que atacaria. - disse ela dando um fraco sorriso. - É só ela fazer por merecer.
Harry sorriu.
- Mas você não lembra mesmo de ter feito isso, não é? - Gina negou. - Então você não fez isso porque você quis.
- Está dizendo que alguém me induziu a fazer isso? - perguntou ela. - Como? Com a maldição Imperius?
- Talvez. - disse dando de ombros. - Você me perdoa?
Gina sorriu e virou novamente para a janela.
- Me dê um bom motivo para lhe perdoar, Potter. - disse ela, mas agora ele sabia que ela estava apenas brincando.
Sorriu, andou até ela e a abraçou pelos ombros.
- Hum... deixa eu ver. - brincou ele. - Qualquer um que me ama me perdoaria.
- E quem disse que eu amo você? - perguntou ela o encarando sorrindo.
- Todos me amam. - disse convencido. - Logo, você me ama também.
Gina deu um sorriso de lado.
- Voldemort não te ama. - disse ela.
O sorriso de Harry murchou.
- Puxa, ruiva. - disse cruzando os braços e fingindo aborrecimento. - Você não é fácil mesmo. Cortou o meu barato.
Gina teve que prender o riso para não acordar Madame Pomfrey. Ela sorriu e o abraçou.
- Isso significa que me perdoa? - ele perguntou sorrindo.
- Claro que sim. - disse Gina.
Foi a vez dele a abraçar.
- Você está bem, não está? - ele perguntou a afastando, mas sem deixar de soltá-la totalmente.
- Claro que estou. Porque? - perguntou confusa.
- Você disse a Madame Pomfrey que estava tonta.
Gina sorriu.
- Naquela hora eu estava. - explicou ela. - Estava me sentindo sem chão, mas agora eu estou ótima.
Gina o abraçou mais uma vez e fechou os olhos. Ficaram assim, abraçados por um longo tempo que nenhum dos dois sabia, mas não importavam. Tudo que precisavam estava ali. Tinham um ao outro. Gina soltou um longo suspiro.
- Eu tive um pesadelo. - disse ela, sem abrir os olhos.
Sentiu Harry a apertar com mais força contra si, como se quisesse protegê-la. E estava conseguindo. Se sentia segura ali com ele, sentia que podia enfrentar qualquer um se ele estivesse do seu lado.
- Com Voldemort? - perguntou ele.
- É.
- Foi só um sonho, Gin. - disse ele carinhosamente. - Não foi real.
- Mas eu tenho medo. - disse ela. - Não dele. Tenho medo que esse sonho se torne real.
- O que foi que você sonhou?
- Ele me disse que você estava morto. - disse angustiada. - Ele disse que tinha te matado.
- Isso não vai acontecer, Gin. - disse ele.
- Eu não quero que aconteça.
- Não vai. - disse com firmeza.
- Eu não sei o que eu faria se te perdesse, sabia?
Harry sorriu.
- Eu ainda vou viver muito pra atormentar a sua vida, ruiva.
- Tomara, Harry. - disse bocejando. - Tomara.
- Claro que eu vou. Não pense que vai se livrar de mim assim tão fácil, ouviu bem? - brincou ele.
Gina sorriu.
- Eu não vejo a hora de ir pra Toca. - falou ela. - Estou com saudades de todos. Principalmente meus irmãos.
- Em menos de uma semana você estará com eles. - disse Harry desfazendo o abraço lentamente. - É melhor eu ir. Boa noite, Gin.
- Boa noite, Harry. - disse ela lhe dando um beijo na bochecha.
Harry andou até a porta e antes de sair acrescentou.
- Eu vou estar sempre aqui, Gin. Eu sempre vou estar com você.
Gina sorriu.
- Eu sei que vai.
Continua...
N/A: Mais um capítulo. Agradeço pelos comentários e continuem comentando.
Beijosss!!!!!!!!!!!
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