Poder desconhecido



Durante os dias que se seguiram, Harry e Gina não trocaram mais uma palavra. Gina não conseguia entender. Qual era o problema dele? Eles eram amigos, não era? Era uma briga ridícula, ela sabia, mas mesmo assim não iria dar o braço a torcer. Ele que começou então ele que viesse se desculpar. Mas Harry não veio.
No dia do passeio a Hogsmeade, o castelo estava em clima de animação, mas Gina se sentia desanimada. Já havia se passado uma semana desde a briga com Harry e ele ainda não tinha vindo falar com ela. Para completar, ela ainda estava brigada com suas amigas, então teria que ir a Hogsmeade sozinha.
Quando acordou no sábado de manhã, foi direto ao salão tomar café. Harry estava sentado no meio da mesa com Rony e Hermione à sua frente. Gina sentou ao lado de Hermione e começou a comer em silêncio.
Foi estranho. Rony e Hermione não estavam se falando e também não falavam com ninguém. Gina preferiu não tirar os olhos do seu cereal para evitar encontrar o olhar de Harry e ele, por sua vez, pareceu muito interessado nas suas próprias torradas. Foi um café da manhã em clima de enterro total. Parecia que alguém tinha morrido e Gina sabia o que era. A amizade dela com Harry. Sentia vontade de chorar e aquele silêncio sepulcral não estava ajudando em nada. Balançou a cabeça com raiva tentando afastar a dor enorme que sentia no peito.
- Você está bem, Gina? – perguntou Hermione parecendo preocupada.
Gina continuou fitando seu prato. Sabia que se levantasse a cabeça iria encontrar os olhos de Harry, e isso não ajudaria em nada para fazer com que sua vontade de chorar passasse.
- Estou ótima. – respondeu em uma voz que era um pouco mais que um sussurro. – Eu só... não estou com fome.
- Tem certeza? – Hermione insistiu.
Gina suspirou e se esforçou em forçar um sorriso para a amiga.
- Tenho, Mione. – respondeu olhando para a amiga. – Eu já vou indo.
Ela levantou da mesa e seguiu para fora do salão. Harry a seguiu com o olhar tristemente. Era culpa dele, era tudo culpa dele. Sabia que Gina não estava bem, mas também sabia que ela era orgulhosa o suficiente para admitir. Ele também sabia que ele devia pedir desculpas a ela, sabia que já devia ter feito isso há muito tempo, mas não sabia porque ainda não tinha feito.
Suspirou resignado consigo mesmo.
- Harry, aconteceu alguma coisa? – perguntou Hermione hesitante.
- O quê? – perguntou Harry distraído.
- Aconteceu alguma coisa? – ela repetiu.
- Não... – respondeu lentamente. – Não aconteceu nada.
Hermione não pareceu nem um pouco convencida, mas preferiu se calar.
- Vamos, as carruagens vão sair daqui a pouco. – Harry falou levantando sendo seguido pelos amigos.
***
Quando chegaram a Hogsmeade, eles foram direto à Madame Malkins comprar suas roupas para o baile. Harry não estava em clima de festas, não estava em clima para fazer compras, não estava em clima para nada. Pensaria que estava morto se não tivesse certeza que seu coração continuava batendo. Hermione comprou um vestido, mas Harry não viu qual era e nem fez questão de ver. Rony não comprou nada, porque no começo do ano letivo os gêmeos já o tinham presenteado com uma veste a rigor, a pedido de Harry.
Depois de comprar tudo que precisavam, eles decidiram ir ao Três Vassouras. Quando chegaram lá, sentaram em uma mesa mais afastada e pediram três cervejas amanteigadas. Mais uma vez, o silêncio reinou entre eles. Harry estava calado apenas encarando seu copo. Rony e Hermione olhavam um na cara do outro e também não falavam com Harry, porque viram que ele não queria conversar com ninguém. Então o silêncio era a única opção.
Inacreditavelmente, para ele, não conseguia parar de pensar em Gina e na possibilidade dela estar com aquele garoto naquele exato momento. Mas porquê? Imaginou que era uma atitude protetora, não conhecia aquele garoto, ele podia fazer alguma coisa com ela. Afinal, qual era o problema dela? Ele só estava tentando protegê-la.
Harry foi tirado de seus pensamentos quando começou a ouvir estampidos de feitiços sendo lançados e alguns gritos. Olhou rapidamente para Rony e Hermione, eles também pareciam ter notado.
- O que é isso? – perguntou Hermione assustada.
Mas a pergunta dela foi respondida quando um aluno do terceiro ano da Lufa-lufa entrou correndo no bar e berrou:
- Os comensais estão atacando!
Naquele momento, Harry teve um único pensamento. Gina.
***
Gina andava distraída pelas ruas de Hogsmeade sem realmente ver por onde andava. Não conseguia parar de pensar em Harry e na vontade de azará-lo por ele ser tão idiota. Ainda não tinha comprado nada, não estava em clima pra isso. Foi tirada de seu transe, quando escutou algumas pessoas gritando. Olhou ao redor e viu alguns alunos da escola e pessoas do povoado correndo desesperadas. Gina viu algumas pessoas de capa presta e usando máscaras atacando algumas pessoas. Pegou sua varinha e a única coisa que escutou antes de sair correndo na direção contrária, foi um comensal da morte gritar:
- Procurem a garota!
Ela se obrigou a não pensar no que escutou e correr o mais rápido que conseguia. Corria sem olhar para trás, mas sentiu quando foi empurrada por um homem que corria logo atrás dela desesperado. Ela caiu no chão com um baque e sentiu seu rosto bater contra o chão. Imediatamente levou a mão a testa e viu que estava sangrando. Tentou ficar de pé, mas sentiu uma dor no pé esquerdo e caiu de novo.
- Você consegue, Gina. – ela disse para si mesma.
Forçando-se a ficar em pé e tentando ignorar a dor que estava sentindo no seu pé que não parava de latejar, Gina andou sem saber para onde ia.
***
Harry ficou desesperado. Olhou para fora e viu que já tinha alguns aurores duelando com os comensais. Correu até a porta e tentou sair, mas sentiu Rony o segurar.
- Harry, você não pode sair daqui. – ele falou o segurando.
- Eu preciso ir, Rony. – disse tentando se soltar.
- Aonde você vai? – perguntou Hermione apavorada.
Harry parou um pouco e pensou. Não sabia onde encontrar Gina, mas não podia ficar parado tinha que encontrá-la de qualquer jeito.
- Fica aqui, Harry. – pediu Hermione.
- Não. – ele disse firme. – Eu tenho que encontrar a Gina.
- O quê? – perguntou Rony.
- Harry, os aurores já estão lá fora tentando controlar a situação. – disse Hermione. – Gina deve estar bem.
- Não, Hermione. – ele retrucou sério.
- Não o quê? – perguntou Rony confuso.
- Ela não está bem. – disse balançando a cabeça e encarando o chão.
- Harry, me escuta. – pediu Rony. – Eu também estou preocupado com a minha irmã, mas nós não podemos sair daqui. Ela deve estar bem.
Harry parou de se debater e encarou o amigo por alguns segundos.
- Não, ela não está bem. Eu sei que não está.
Se soltou dos braços do amigos, abriu a porta e saiu correndo. Tinha que encontrá-la o mais rápido possível.
***
Gina andou por um tempo totalmente desconhecido e se viu diante da casa dos gritos. Se deixou cair no chão segurando seu pé. Já não escutava mais os gritos e nem os estampidos dos feitiços. Deixou seu olhar perdido em algum lugar a sua frente, não sabia se era seguro voltar.
- Inacreditável como nem em uma situação como essa eu paro de pensar nele. – falou aborrecida. – Tomara que ele esteja bem.
Suspirou pesadamente.
-Cadê você, Harry?- pensou desesperada. – Eu preciso de ajuda. Eu preciso da sua ajuda.
***
Harry correu pelas ruas desesperado. Às vezes lançava um feitiço em algum comensal que via, desviava de alguns e se protegia de outros.
- Gina! – gritava ele.
Não acreditava que fosse encontrá-la assim, mas não conseguia ficar parado. Desviou de um feitiço, olhou para trás e viu um comensal com a varinha apontada para ele. Apontou a varinha para ele e o estuporou. Quando voltou a olhar para frente, esbarrou em alguém e caiu para trás.
- Olha por onde anda, Potter. – disse alguém.
Harry levantou a cabeça e viu o amigo de Gina, Léo. Sentiu o sangue ferver.
- Onde está a Gina? – perguntou mais agressivo do que pretendia.
- Gina? – ele perguntou parecendo muito surpreso. – Eu não sei dela.
- Como assim não sabe dela? – Harry gritou se desesperando.
- Abaixe a voz, Potter. – o outro falou desdenhoso.
Harry fez o possível e o impossível para conseguir se controlar. Respirou fundo.
- Tudo bem. – disse com uma paciência que não existia. – Ela não veio com você? Onde ela está?
- Ela não veio comigo. – o outro falou com uma careta.
Foi a vez de Harry ficar surpreso.
- Ela não veio com você?
- Não, ela disse que vinha com uns amigos e não aceitou o meu pedido. – ele respondeu impaciente.
- Mas ela não... – começou ele lentamente. – Que droga! Eu tenho que encontrá-la.
Ele largou o outro garoto lá e saiu correndo. Agora mais do que nunca estava se sentindo um verdadeiro idiota.
-Cadê você, Harry? – ele parou de chofre com o susto ao escutar a voz de Gina. Olhou ao redor, mas não a via em nenhum lugar. - Eu preciso de ajuda. Eu preciso da sua ajuda.
- Gina... – chamou ele, mas não obteve resposta.
Não entendia o que estava acontecendo, mas agora tinha certeza que Gina estava mesmo em perigo. Mas como estava conseguindo escutá-la se ela não estava ali? E porque a voz dela ecoava em sua cabeça pedindo sua ajuda?
- Gina... - pensou. – Onde você está?
- Harry?
Ele escutou a voz de Gina mais uma vez. Ela estava o escutando?
- Gina... Onde você está?
- Em frente à casa dos gritos.
- Você está bem? Está machucada?
- Eu torci o pé... não consigo andar...
- Me espera, eu estou indo aí.
- Vem logo, por favor.
Harry começou a correr o mais rápido que conseguia até chegar à casa dos gritos. Não sabia como tinha conseguido falar com Gina, mas isso era o que menos importava agora. Ele sabia que ela não estava bem, que precisava de ajuda.
Quando avistou a casa dos gritos, Harry acelerou o passo e viu Gina sentada no chão com uma das mãos no pé.
- Gina! – ele gritou correndo até ela.
Gina ergueu a cabeça depressa.
- Harry... – falou o abraçando.
- Gina, você está machucada. – ele disse passando a mão na testa dela, onde tinha um corte sangrando. – Vamos, nós temos que sair daqui.
- Eu torci o meu pé. – ela apontou para o pé que estava um pouco inchado.
- Vem, eu te ajudo.
Harry passou o braço dela sobre os seus ombros e a segurou pela cintura.
- Vocês não vão a nenhum lugar, Potter.
Os dois sentiram o sangue gelar. Harry segurou a varinha mais firmemente na mão que estava livre e virou.
- Estup...
- Expeliarmus! – falou o homem rapidamente.
As varinhas de Harry e Gina voaram para as mãos do homem. Eles olharam ao redor e viram que estavam cercados. Havia no mínimo uns dez comensais ali, eles não teriam a menor chance ainda mais sem as varinhas.
- Protegendo a namoradinha, Potter? – desdenhou um dos homens.
- O Lord vai gostar muito se nós levarmos para ele as duas pessoas que ele mais quer ver. – falou o outro homem que estava à esquerda do primeiro.
- Como? – perguntaram os dois ao mesmo tempo.
- Venha conosco garota. – falou o comensal. – Se você vier por bem, nós podemos até pensar no caso de deixar o seu namoradinho em paz.
- Não. – disse Harry firmemente apertando mais Gina contra si. – Porque Voldemort a quer?
- Você é muito curioso, Potter. – desdenhou o comensal. – Venha, Weasley.
- Eu não vou a nenhum lugar com vocês. – disse Gina com cara de nojo. – O que querem comigo?
- Nós, nada. – respondeu o outro comensal. – Mas o Lord quer.
- Eu não vou deixar ele chegar perto dela. – falou Harry com raiva.
- Nós tentamos ser amigáveis, Potter. – disse o comensal apontando a varinha para eles. – Mas você não me deixa escolha.
- Avada Kda... – começou ele.
Gina fechou os olhos antes do homem terminar o feitiço, escondeu o rosto no peito de Harry e involuntariamente levou uma das mãos à frente.
Ela esperou, mas não aconteceu nada. Se afastou um pouco de Harry e o fitou. Ele continuava olhando para frente com a boca aberta. Gina seguiu seu olhar e arregalou os olhos. Todos os comensais estavam caídos no chão desmaiados. Ela voltou a olhar para Harry.
- O que... O que você fez? – perguntou com a voz trêmula.
Harry olhou para ela espantado.
- Eu não fiz nada. – ele disse lentamente.
- E quem fez? – perguntou Gina olhando para os comensais. – O que aconteceu com eles?
Harry não respondeu, mas continuou olhando-a fixamente.
- Você está pálida. – ele disse preocupado. – Vamos, temos que sair daqui.
- É claro que eu estou pálida. – retrucou aborrecida. – Eu quase morri. Que cor você queria que eu estivesse? Rosa?
Harry sorriu. Adorava o humor de Gina.
- Vamos.
Harry se abaixou perto do comensal e pegou suas varinhas. Os dois começaram a se afastar da casa dos gritos. Ouviram mais passos, ergueram as varinhas, mas não eram comensais. Eram alguns aurores que estavam no povoado.
- Vocês estão bem, crianças? – perguntou um dos aurores se aproximando deles.
- Sim. – respondeu Harry, embora não estivessem tão bem assim. – Tem alguns comensais ali atrás desmaiados. Perto da casa dos gritos.
Gina estava calada, mas Harry a viu resmungar alguma coisa muito parecida com “Criança é a vovozinha.” Sorriu intimamente.
- Comensais? – perguntou um dos aurores. – Quantos?
- Uns dez. – respondeu Gina simplesmente.
Os aurores se entreolharam espantados.
- E como vocês conseguiram se livrar deles?
- Não importa. – disse Harry aborrecido. – Gina está machucada, eu preciso tirá-la daqui.
- Claro, venham comigo. – disse uma aurora.
Ela os levou até uma das carruagens que os levaria de volta a Hogwarts. Harry ajudou Gina a subir e subiu logo em seguida. Harry puxou Gina mais para perto e a abraçou pelos ombros. Harry viu Gina levar a mão à cabeça onde estava o corte e fechar os olhos com força.
- Que foi? – ele perguntou.
- Eu estou tonta. – disse sem abrir os olhos. – E cansada. – completou.
- Daqui a pouco passa. – ele falou.
Gina assentiu e encostou a cabeça em seu ombro.
- Você está bem mesmo? – ele perguntou preocupado.
Gina sorriu.
- Agora eu estou. – respondeu sinceramente.

Continua...

N/A: Eu quero agradecer os comentários de todos, mas de uma pessoa em especial: Carolina Villela Good God. Ela é a pessoa que mais comenta e eu sei que ela está acompanhando e está adorando a fic. Espero que gostem desse capítulo. No outro, teremos algumas explicações... Por favor, comentem mais... Beijoos!

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