Leonardo Macfryn



Quando Harry acordou no dia seguinte, foi com espanto que ele percebeu que já eram quase dez horas da manhã, mas se lembrou que era domingo e se deixou cair na cama de novo. Essa tinha sido uma das melhores noites de sono que ele já tinha tido em toda sua vida, se não a melhor. Tinha sonhado com o lugar que Gina havia o levado e, é claro, com Gina. Imaginou que talvez fosse porque ela o havia levado lá.
Se arrumou rapidamente e desceu para a sala comunal, mas ela estava vazia. Saiu pelo buraco do retrato em direção ao salão principal. Estava se sentindo estranhamente bem, como nunca tinha se sentido antes.
O salão principal estava muito vazio, a não ser por alguns poucos alunos que provavelmente também tinham acordado muito tarde. Ao dar uma olhada na mesa da Grifinória, Harry sorriu ao visualizar os cabelos vermelhos da pessoa que tinha proporcionado o melhor dia de sua vida.
- Bom dia, Gina. – disse animado sentando ao seu lado e lhe dando um beijo na bochecha, totalmente alheio aos olhares curiosos dos outros.
- Bom dia, Harry. – ela falou também dando um beijo na bochecha dele e sorrindo.
Mas Harry reparou que havia alguma coisa errada. Era um sorriso meio triste, não era o sorriso dela.
- O que aconteceu, Gina? – perguntou preocupado.
- Ahn? – disse totalmente distraída. – O quê?
- Você está triste. – ele falou.
- Não, Harry. Não estou, é impressão sua. – falou pouco convincente.
- Você não disse que confiava em mim? – Harry insistiu. Gina assentiu. – Então, por favor, me conta o que aconteceu. Onde estão Rony e Hermione? E porque está aqui sozinha?
- Bom, sozinha eu estou porque acabei de acordar e todos já tinham tomado café. – ela respondeu. – Eu não faço idéia onde o Rony está. Hermione deve está na biblioteca.
- Não vai me contar o que aconteceu?
- Eu só... bom, eu discuti com umas amigas minhas. – ela falou fitando algumas torradas distraidamente.
- Que amigas? Do seu dormitório? – perguntou Harry.
Gina fez uma careta.
- Você só pode estar brincando. – ela disse desdenhosa. – Eu não seria amiga das garotas do meu dormitório nem que elas fossem as últimas pessoas do universo.
- Porque?
- Elas são muito fúteis. – ela respondeu tomando um gole de suco. – Ficam o dia todo falando de unhas, cabelos, maquiagem, roupas que estão na moda e contando sobre os cinqüenta garotos que elas beijam todo dia. Ninguém merece.
- Tem razão. – perguntou Harry pegando uma torrada do prato dela. – Então quais foram as amigas?
- Algumas da Corvinal, outras da Lufa-lufa, acho que você não conhece, elas também são do quarto ano.
- E porque vocês discutiram?
- Elas falaram umas coisas que eu não gostei, ficaram insistindo e eu acabei explodindo. – disse monótona.
- Entendo. – disse Harry vendo que ela não queria mais tocar nesse assunto.
- E você? – Gina perguntou depois de alguns minutos de silêncio.
- Eu o quê?
- Porque acordou tão tarde?
- Eu estava cansado. – confessou pegando o copo de suco dela. – E você também devia estar, não é? Me disse agora a pouco que também tinha acabado de acordar.
- É verdade, mas o dia ontem valeu muito a pena. – disse sorrindo.
- Eu concordo. – disse Harry.
- Bom, hoje nós estamos livres de deveres e também não temos nada pra fazer. – lembrou Gina. – O que vamos fazer?
- Eu não sei. – disse Harry dando de ombros, mas lembrou de uma coisa. – Você já viu o Profeta diário?
- Já. – disse Gina parecendo preocupada. – Mas não tem nada lá, não aconteceu nada.
Harry estranhou.
- Mas deve ter acontecido alguma coisa. – disse ele lentamente. – Voldemort estava feliz ou com raiva.
Gina ficou em silêncio parecendo muito pensativa e depois de algum tempo falou.
- Você acha que ele pode estar planejando alguma coisa? – perguntou nervosa. – E ele pode estar feliz porque esse plano talvez dê certo?
- É provável. – ponderou Harry.
- Acha que é melhor contarmos a alguém?
- Não. – disse Harry depois de pensar um pouco. – Nós não sabemos de nada, é só uma suspeita. É melhor não causar confusão.
Gina concordou.
- Você já viu o quadro de avisos? – perguntou mudando de assunto.
- Não. Porquê?
- No próximo fim de semana tem visita à Hogsmeade. – ela disse animada.
Harry sorriu.
- Eles já querem que a gente compre logo as roupas para o baile de ano novo. – continuou ela.
- Porquê? – perguntou Harry estranhando, já que ainda faltava muito tempo para o ano novo, eles ainda estavam na metade do mês de setembro.
- Não sei, o baile vai ser depois das férias de natal, não é? – perguntou Gina. Harry assentiu. – Acho que eles querem que a gente se livre logo disso e fique livre somente para estudar. Hermione deve gostar disso, só vive metida naquela biblioteca.
Harry riu.
- Que eu saiba a senhorita também gosta de livros, e de Transfiguração. – disse lembrando o que ela tinha dito.
- Shhh... – sussurrou ela risonha. – Não espalha, Harry.
Harry gargalhou e Gina riu junto com ele.
- Você realmente não existe, ruiva.
- Eu sei, eu sou tão incrível que é difícil de acreditar. – disse ela convencida.
Harry riu mais um pouco.
- Escuta, Harry. – disse ela ficando séria. – Nós temos que dar um jeito do Rony convidar a Hermione para esse baile.
- Como?
- Você é amigo do Rony, fale com ele.
Harry arregalou os olhos.
- E o que você quer que eu diga? “Rony, você tem que convidar a Mione pra ir ao baile com você porque eu a Gina já estamos ficando loucos.” – disse com ironia. – Eu não acho que ele vá fazer isso pra deixar nós dois felizes.
Gina revirou os olhos.
- É claro que não, Harry. – disse impaciente. – Você tem que incentivá-lo a fazer isso, dizer que é o que ele quer fazer e dar a certeza que a Mione vai aceitar. Ele tem medo dela dizer não, mas se ele tiver certeza que a resposta dela vai ser positiva, ele vai convidá-la e talvez lá no baile eles se acertem de vez. É a nossa única chance.
- Mas e se ele não acreditar em mim?
Gina bufou exasperada cruzando os braços.
- Meu irmão é uma lesma. – ela resmungou. – Porque ele não podia ser como eu?
- Como você? – disse Harry erguendo as sobrancelhas. – Como assim “como você”?
- Desenrolada. – falou ela.
- Como é? – perguntou Harry sem entender.
- Ora, meu irmão é todo enrolado em relação às garotas, principalmente a Hermione. – explicou ela. – Ele se enrolou por causa do que sente pela Hermione, de um jeito que nem ele mesmo sabe mais o que está sentindo e se confunde.
- E você é a Srta. desenrolada? – perguntou Harry divertido.
- Claro, você já me viu enrolada com alguém? – ela perguntou. – Mas enfim, vamos deixar de falar em como eu sou demais e falar sobre as duas mulas.
Harry riu.
- Eu vou falar com a Hermione. – ela continuou. – Apesar de eu ter certeza que ela quer ir aquele baile com o meu irmão, eu quero ter o gostinho de arrancar isso dela.
- E como você vai fazer isso? – perguntou Harry. – É bem difícil arrancar alguma coisa da Hermione, ela é muito inteligente.
Gina sorriu travessa.
- Ela pode ser inteligente, mas eu sou muito mais esperta. – ela disse fazendo um gesto exagerado com as mãos. – Eu tenho meus modos de arrancar as coisas de alguém. Como você acha que eu fiquei sabendo sobre o mapa do maroto quando ele estava com os gêmeos? E também tem isso, eu cresci armando com os gêmeos, Harry, querido. Eu sou igual, ou mil vezes melhor do que eles. Eu sou a versão feminina e perfeita dos gêmeos Weasley.
- Sério?
- Claro, eu sou um pouco de todos os Weasley juntos. – ela falou orgulhosa. – Por exemplo: eu sou um pouco do Gui, que é a minha parte descolada. Sou um pouco do Carlinhos, que é a minha parte corajosa, essa eu tenho muito. Sou um pouco, muito pouco do Percy, que é mínima parte em mim que gosta de estudar e segue algumas regras. – Harry riu nessa parte. – Sou um pouco dos gêmeos, que é a minha parte marota e bagunceira, ou simplesmente malvada, que é o que eles são às vezes. Sou um pouco do Rony, que é a parte não de ser lesma, mas a parte que é muito leal aos amigos e acho que a parte de comer também, em questão de comer eu só perco para o Rony. – Harry gargalhou com o comentário da ruiva. – Sou um pouco do papai, que é a parte que se encanta muito fácil, mas papai se encanta por coisas trouxas, eu me encanto por coisas bonitas e belas. E por último e a melhor, sou uma grande parte da mamãe. Sou muito pior do que ela quando estou brava.
- Nossa... – foi a única coisa que Harry conseguiu dizer depois de todas as palavras da ruiva.
- Resumindo... – disse Gina sorrindo. – Eu sou a mais perfeita dos Weasley.
Os dois terminaram de tomar café e decidiram sair para dar uma volta nos jardins. Antes de sair da mesa, Gina, mais uma vez, pegou algumas tortinhas de chocolate. Quando estavam saindo para o salão, Gina estava tão distraída rindo com Harry que esbarrou com alguém e caiu no chão tonta.
- Hey, olha por onde anda. – falou Harry ajudando Gina a levantar.
- Desculpe, Gina. – pediu a pessoa que tinha esbarrado nela.
Gina levantou, balançou a cabeça, olhou para a pessoa a sua frente e sorriu.
- Oi, Leonardo. – ela cumprimentou educadamente.
- Você está bem? – ele perguntou sorrindo.
Um sorriso exagerado, na opinião de Harry.
- Estou, não foi nada. – respondeu Gina. – Eu tenho que ir, vamos Harry.
Ela o pegou pela mão para saírem dali, mas o garoto a chamou de novo.
- Gina!
- O quê? – perguntou Gina, soltando um suspiro e virando para encará-lo.
- Eu posso falar com você? – ele perguntou.
Harry ergueu as sobrancelhas para ele e voltou seu olhar para Gina. Ela parecia indecisa, mas por fim, aceitou.
- Pode ir andando, Harry. – ela disse soltando sua mão. – Eu te encontro lá nos jardins.
- Tem certeza? – perguntou Harry lançando um olhar desconfiado ao outro garoto.
Gina sorriu.
- Tenho, Harry. Eu não demoro.
Harry lançou ao garoto um último olhar e viu que ele sorria vitorioso. Harry se virou sentindo um desconforto, mas foi embora. Gina voltou o olhar para o garoto e sorriu.
- E então? – falou pedindo para o garoto começar a falar.
Leonardo Macfryn era um garoto bonito, isso Gina admitia. Ele era aluno do quinto ano da Corvinal. Tinha a mesma altura de Harry, os cabelos castanhos e lisos, olhos azuis claros e uma expressão simpática no rosto.
- Bom, eu queria te fazer uma pergunta. – ele disse.
- Pode fazer.
- Você gostaria de ir comigo a visita a Hogsmeade no próximo fim de semana?
Gina estava visivelmente surpresa. Ela encarou o garoto a sua frente sem saber o que dizer durante alguns minutos, onde ele a encarava com expectativa.
- Olha, Leonardo...
- Léo. – ele a interrompeu. – Pode me chamar de Léo.
- Tá, Léo... – ela recomeçou. – Olha, não vai dar. No passeio a Hogsmeade, eu vou com alguns amigos, nós vamos comprar as vestes para o baile. Eu já combinei de ir com eles.
- Então, tá bom. – disse ele sem deixar sorrir. – Quem sabe na próxima, não é?
- É, quem sabe na próxima.- disse ela sorrindo como se pedisse desculpas. – Eu vou indo. Harry está me esperando.
- Vocês dois... er... tem alguma coisa? – ele perguntou hesitante.
Gina novamente foi pega de surpresa pela pergunta. Ela estudou a expressão do garoto por alguns segundos.
- Não. – respondeu lentamente, franzindo a testa. – Nós não temos nada. Porque?
- Nada. – ele respondeu depressa. – Era só... curiosidade.
- Tá bom. – respondeu desconfiada. – Eu já vou. Desculpa de novo por não poder ir com você.
- Sem problemas. – disse ele, sorrindo.
Gina sorriu, girou nos calcanhares e saiu o mais rápido que pôde de perto do garoto. Saiu sem olhar para trás em direção aos jardins.
Harry estava sentado em baixo de uma árvore nos jardins. Gina se aproximou, sentou ao seu lado, mas Harry pareceu não notar. Ou pelo menos, fingiu não notar.
- Harry... – chamou ela.
Ele não respondeu. Olhava para o lago como se sua vida dependesse disso e tinha uma cara de poucos amigos.
- Harry... – chamou de novo.
Nada.
- Harry, eu estou falando com você. – disse irritada. – Quer fazer o favor de falar comigo?
Harry apenas olhou para ela com uma expressão que Gina nunca havia visto antes. Tinha um brilho estranho em seus olhos que ela não conseguia decifrar o que queria dizer.
- Porque você não fala com o seu amiguinho Leonardo? – perguntou com uma voz estranhamente fria.
Gina deixou o queixo cair, literalmente.
- O que disse? – perguntou só pra ter certeza se tinha ouvido direito.
- Você me deixou sozinho pra falar com aquele garoto. – ele disse com raiva. – Afinal, quem era aquele?
- Harry, aquele era o Léo, ele...
- Léo? – Harry a interrompeu dizendo o nome com desdém. – Quer dizer que ele já é o Léo?
- Harry, qual é o seu problema? – ela perguntou levantando e o encarando com raiva.
- O meu problema? – perguntou ele também se levantando. – Eu não tenho nenhum problema. Porque acha que eu tenho algum problema?
- Então porque está agindo assim? – ela perguntou gritando.
- Quem era aquele garoto? – ele perguntou fugindo da pergunta dela. Na verdade, nem ele mesmo sabia porque estava agindo assim.
- Eu já disse. – ela respondeu gritando. – É o Léo, um amigo meu da Corvinal, do quinto ano.
- E o que ele queria? – ele perguntou virando de costas para ela, desviando do seu olhar marejado.
Ele a estava fazendo chorar e isso o machucava muito, mesmo sem saber porque. Não agüentava vê-la desse jeito. Se sentia a pior pessoa da face da terra apenas por fazê-la derramar uma lágrima.
- Ele queria me convidar para ir com ele a Hogsmeade no próximo final de semana. – ela respondeu em voz baixa, vendo que estavam atraindo alguns olhares das outras pessoas que também estavam nos jardins.
Harry se virou tão rápido que Gina achou que ele tinha quebrado o pescoço.
- O quê? – ele berrou a pergunta.
- Pára de gritar, Harry. – ela gritou exaltada deixando uma lágrima escapar e se amaldiçoando por isso.
- Eu não estou gritando. – ele gritou, mas ao perceber que estava, baixou a voz. – Tudo bem, desculpa.
Gina suspirou, limpou os olhos com raiva e começou a andar em direção ao castelo.
- Espera, Gina. – chamou Harry. – Aonde você vai?
Gina parou de andar e sem se virar respondeu:
- Eu vou embora antes que você diga mais alguma coisa que faça eu me arrepender profundamente de confiar tanto em você. – ela disse com a voz embargada.
Ela continuou a andar deixando um Harry abobado para trás.
- O que vocês estão olhando? – foi a última coisa que ele ouviu Gina gritar para as pessoas que observavam a cena curiosos, antes de se deixar desabar no chão e se arrepender do que tinha feito.
Na verdade, ele não sabia, não fazia a menor idéia de porque tinha feito isso. Na hora ele só tinha sentido raiva. E a raiva o deixou cego.
- Tomara que ela não perca a confiança em mim. – sussurrou para si mesmo. – Você é um idiota, Harry Potter... Você estragou tudo... e nem sabe o motivo...

Continua...

N/A: Às vezes dá vontade de matar o Harry por ele ser tão cego e lerdo, não é? Mas enfim, é a história... Fazer o que, né? Comentem...

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