Conhecendo melhor



Capítulo 2 – Conhecendo melhor




Para Harry, era algo extremamente estranho dormir cedo. Quanto mais acordar cedo, sendo que, noite passada, não havia bebido qualquer tipo de bebida alcoólica; fato incomum nos hábitos diários dele. Bocejando, foi em direção ao banheiro de seu quarto. Ao olhar-se no espelho, percebeu que algo nele havia mudado. Não sabia o que era, mas sentia-se mudado, diferente. “Talvez seja o efeito de uma noite tranqüila!” pensou o rapaz.




E ao sentir a água quente do chuveiro, lembrou-se da garota que conhecera num dos porões do instituto de sua falecida mãe. Algo nela lhe chamava a atenção, lhe atraía. Não conseguia definir muito bem se era o cheiro floral e entorpecente dela ou a voz doce e perturbadora. Talvez fossem os dois, não sabia ao certo. Mas sabia que necessitava encontrá-la novamente, conhecê-la mais, vê-la, tocá-la... Tirando estes pensamentos, saiu do banho e se trocou rapidamente. Desta vez, vestiu um terno sem a gravata, deixando alguns botões de sua camisa verde desabotoados. Uma visão avassaladora para qualquer mulher que visse. Olhando as horas, percebeu que estava adiantado: eram 7: 20h, e o horário de chegada no instituto beneficente eram às 8: 00h. Resolveu, então, tomar o café-da-manhã na mesa e conversar um pouco com Hagrid.




Aos pulos e assoviando uma música qualquer, desceu a enorme escadaria da mansão Potter e foi em direção à sala de jantar, onde excentricamente, comeria o seu café-da-manhã. Hagrid notou o brilho nos olhos verdes do rapaz e, se aproximando dele, perguntou num tom jocoso:




- Essa felicidade toda é porque está indo trabalhar?




- Vai rindo, Hagrid... Vai rindo... – Aos sorrisos, o rapaz respondia – Mas pra ser sincero, nem eu sei ao certo o porquê de tanta alegria.




- Bom, pelo menos você está contente, e isto basta. O que vai querer para o café?




- Ovos com bacon e um pouco de presunto, por favor. E um café bem forte, também, com um pouco de leite quente. E amargo, de preferência.




Hagrid impressionou-se com o pedido. Harry não pedia isso desde que tinha 10 anos, quando seus pais morreram no acidente. Afinal, este era o café que ele e o pai dele, James, tomavam juntos toda manhã. Resolveu perguntar:




- Algum motivo especial para este pedido?




- Hoje é um dia de mudanças, Hagrid. Meu primeiro dia de trabalho, meus hábitos diários estão se modificando gradualmente, tenho de me tornar um alguém mais responsável, agora... E acho que está na hora de voltar a ser quem eu era antes... Antes da morte de papai e mamãe.




Harry falara com certo pesar na voz. Parecia ser algo difícil pra ele, já que se fechara muito desde que os pais morreram. Guardou todo o seu sofrimento dentro de si, o que só fez piorar a sua situação. E Hagrid sabia o quanto que ele havia sofrido e o quanto estava sendo difícil para ele tudo isso. Afinal, aquele trabalho no instituto beneficente era só uma maneira mais eficaz de poder ocupar o lugar que era de seu pai na empresa Black & Potter.




- É, eu entendo muito bem, Harry. Agora, se me der licença, vou à cozinha mandar preparar o que pediu. – E saiu, deixando Harry sozinho na enorme mesa da sala de jantar da Mansão Potter.





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- Ora, ora, ora! Vejam só quem está aqui: Harry James Potter! Quanto tempo, menino! – Falou uma mulher muito bonita e alegre, ao ver o moreno sair de um Corvette azul. Ele, ao vê-la, abriu um enorme sorriso e abraçou-a.




- Nem faz tanto tempo assim, Tonks. Visitei você, Lupin e Ted há uma semana e meia.




- Sabe muito bem do que estou falando, Harry. Desde que Lílian morreu que você não deu mais as caras por aqui.




- Mas agora estou de volta, não? Vim continuar o que minha mãe começou, e pretendo fazê-lo com excelência!




- Assim é que gosto de ouvir, Harry: com animação, vontade, determinação! – Dissera Tonks com bastante entusiasmo. Harry somente deu um enorme sorriso em resposta, enquanto ela lhe guiava por toda a instituição, lhe mostrando as dependências da mesma:




- Aqui é a quadra poliesportiva. Pelas manhãs, temos aulas de basquete; à tarde, temos futebol de salão e, à noite, vôlei. Do outro lado, está a piscina, onde os garotos praticam natação. – Dizia Tonks a Harry, quando os dois passaram por uma enorme quadra onde alguns adolescentes que estavam numa cadeira de rodas praticavam basquete. Andando mais um pouco, ela lhe mostrou o almoxarifado, o escritório, a piscina, a escola que existia no instituto para os adolescentes e para as crianças, e como dormitório dos alunos ser num lugar mais afastado, somente o apontou ao longe. Subiram um andar do prédio onde se situava o colégio, e Harry escutou na mesma hora uma música bastante convidativa. Perguntou:




- De onde vem este som?




- Este andar é específico para a música. Em cada sala, você verá um professor tocando um instrumento e ensinando seus alunos. Geralmente são pessoas cegas, paraplégicas ou surdas que participam destas aulas. Venha, vou lhe mostrar. – E guiando Harry até uma das muitas salas existentes por ali, abriu a porta e mostrou ao rapaz o que ocorria:




- Esta é a sala do Prof. Flitwick. Ele ministra aulas sobre instrumentos de sopro. Geralmente são flautas transversais, trompetes, gaita e saxofone. – Enquanto Tonks lhe explicava, Harry pôde ver algumas crianças paraplégicas tocando flauta transversal, enquanto uns adolescentes cegos tocavam sax ou trompete. O professor era muito pequeno, mas muito velho, também. Saíram da sala, e partiram para outra:




- Já esta aqui é de Prof. Binns. Ele dá aulas de instrumentos de corda. Violão, guitarra, contra-baixo, violino, viola... Enfim. Uma infinidade de coisas. – Harry, então, pode ver muitos jovens tocando música popular e clássica ao mesmo tempo. Enquanto uns tocavam Pink Floyd, outros tocavam Vivaldi. E o que mais impressionava em tudo era que todos tocavam bem e em harmonia, mesmo possuindo suas deficiências. Mas o prof. Binns parecia ser bastante exigente com eles. Partiram, então, para outra sala:




- E esta aqui é da Profª. Weasley. Ministra aulas de piano. É uma professora nova, por isso somente temos crianças nesta sala. Mas até agora, só recebemos boas notícias sobre ela, e está fazendo valer à pena a confiança que depositamos nela. É uma garota brilhante! – Tonks falou com um brilho nos olhos que impressionou Harry. Se ela falava deste modo daquela garota, é porque ela realmente era muito especial. Percebeu, então, que os alunos dela estavam quietos, escutando a professora tocar uma peça musical. Não dava para vê-la por completo, só conseguia enxergar parte dos cabelos dela, que eram ruivos. E ela tocava lindamente, devia admitir. Curioso, perguntou:




- O que a torna tão especial assim, Tonks?




- Simples: ela é cega. Assim como todos os demais que estão nesta sala. E há alguns anos atrás, era ela quem estava aqui, nesta sala, sendo aluna de sua mãe. Ela enfrentou muitas barreiras, Harry. E as superou como ninguém. E hoje em dia, é considerada uma das maiores pianistas do mundo, apenas com 22 anos. Além de ser linda... Acredite, ela é única.




Harry assustou-se quando soube que ela fora aluna de sua mãe. Indagou:




- Ela... Ela foi aluna de minha mãe?




- Sim. Por três anos. Lílian lhe ensinou as primeiras notas. Mas vamos deixar de falar na Profª. Weasley e vamos continuar nosso “passeio”. – Dissera Tonks, novamente com seu tom animado, e deixando Harry mais curioso sobre esta professora brilhante. Seria ela a mesma garota misteriosa?






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Após muita luta, Harry encontrou a portinhola. Havia sido justamente ali que ele havia se perdido ontem, e atrás daquela porta estava a garota que, não sabia como, lhe perturbava os sentidos. Com um sorriso tentador no rosto, abriu a porta e passou a descer a escadaria rapidamente. A escuridão que assolava o lugar lhe causava certo receio, mas a vontade de ouvir novamente a voz daquela garota era maior que qualquer medo. De repente, quando ele já estava no final da escadaria, uma voz doce e com ar de zombaria lhe fez sorrir:




- Olha só... O rapaz resolveu seguir meu conselho... Veio uma hora mais cedo!




- Como soube que eu estava aqui?




- Os passos na escada. Quando dados com força e rapidez, fazem a madeira ranger. – Explicou a garota, como se fosse algo óbvio demais. Contanto, para Harry, isso era algo muito difícil de assimilar:




- Eu não escutei nenhuma madeira rangendo.




- Porque não prestou atenção. Geralmente, as pessoas não prestam muita atenção ao que está ao seu redor, ou ao que está na frente delas. Depois, quando percebem, ficam impressionadas por nunca terem notado.




- Você é bem detalhista, não?




- Sou, sim... Se eu não me apegar a detalhes, não consigo fazer ou saber muitas coisas. Pra falar a verdade, eu necessito ser detalhista. – Ela falara isso com uma voz maviosa, musical, fazendo Harry impressionar-se ainda mais com ela. Mudando de assunto, perguntou:




- Tem quantos anos?




- Vinte e dois. Não é muito, mas durante este tempo aprendi muito e adquiri uma experiência enorme. – Harry adorou o fato de ela ter dado detalhes à resposta. Indagou, num tom desinteressado:




- Aprendeu o quê, por exemplo? Harry, então, ouviu um ruído vindo da boca dela. O ruído de um sorriso. Sorriso que o fez sorrir, também. Ela falou com uma voz alegre:




- Vou lhe mostrar. Espere aí. – O rapaz, então, ouviu passos ritmados e, segundos depois, percebeu que o som dos passos acabara. Escutou um rangido e, logo depois, o som de uma música. A música preferida de sua mãe.








 - Aprendeu a tocar piano?




- Meu primeiro contato foi aos 3 anos de idade. Desde então, não parei mais. – Falara a garota, tranquilamente, enquanto tocava a música. Continuou a falar, apesar de Harry não ter perguntado nada. - Chama-se “For Elise”, de Beethoven. Foi a primeira peça que aprendi.




- É linda. Lembra minha mãe. – O moreno falara com a voz triste. A garota, tocando perfeitamente, perguntou num tom interessado:




- Sua mãe?




- Sim. Ela era professora de piano. Foi uma das melhores pianistas do país. Ela adorava Beethoven, esta música em especial.




Ao ouvir isso, a garota calou-se e se resignou a tocar a música. Harry ficara admirado: além de ter a voz mais linda que já ouvira e um perfume envolvente, tocava piano como ninguém. Como ela seria? Qual o formato de seu rosto, o seu tamanho, a cor dos olhos, do cabelo, da pele? A voz que ele adorava lhe tirou dos devaneios:




- Por que não se aproxima?




- Porque não sei onde está e fica difícil encontrá-la no escuro.




- Oras, não é tão difícil. É só seguir a música. – No tom zombeteiro, a garota respondeu. Ainda tocava a música. E Harry não fazia idéia de como segui-la.




- Seguir a música?




- É. Concentre-se no som. Você está no escuro, e não tem nada mais com o que se distrair. Fica até fácil. Vamos, siga a música e vai me encontrar.




Harry, com medo, passou a andar pelo porão. Tropeçou, esbarrou em móveis e ainda trilhou um caminho errado, o que fez a garota sorrir alto, contrastando com a bela peça de Beethoven que continuava a tocar:




- Comumente, quem tem medo do escuro são as crianças. Mas hoje, percebo o contrário.




- Eu não tenho medo do escuro! – Harry respondeu rapidamente, com frustração. Seu pé doía, havia batido num objeto que não conseguia identificar.




- Então é o quê?




- É difícil me locomover na escuridão, principalmente quando não conheço o local onde estou.




- Realmente... O porão é grande, eu sei. E tem muitos objetos, que são meus, aliás, espalhados nele. Mas se você se concentrar na canção, vai me encontrar facilmente. Feche os olhos, e não pense em mais nada! Deixe somente a música ocupar sua mente, vamos! – Falou ela animadamente.




- É fácil falar, não? Esse lugar já é muito escuro, pra quê fechar os olhos? Aliás, porque escolheu um local tão mal-iluminado pra morar?




- Isso não é questão de escolha. Eu não escolhi ficar no escuro. Eu nasci para viver no escuro. É bem diferente. – Harry percebeu que a voz dela ganhara um tom muito sério, diferente do costumeiro ar de brincadeira que ela possuía. – Nunca gostei da escuridão. Mas aprendi a lidar com isso desde pequena. A contragosto, mas aprendi. Então, não reclame por passar somente algumas horas num local mal-iluminado, pois eu passei 22 anos de minha vida em total escuridão! Harry assustara-se com o tom raivoso da voz dela. E ela continuava a tocar a música como se não tivesse alterado o seu humor em momento algum. Percebeu, então, que ela ficara zangada com o comentário dele e com as reclamações que fazia. Resolveu desculpar-se:




- Me... Me desculpe. Eu só... Só não estou acostumado a isso. Não sabia de sua história.




- Concentre-se na música. – Ela falou, no tom sério de antes.




- Não vai me perdoar?




- Perdôo se você concentrar na música e me encontrar.




Harry, então, fechou os olhos. Não pensou em mais nada. Deixou somente a música penetrar em sua mente. Logo, viu-se andando calmamente, em passos ritmados, em direção ao som que escutava. Tropeçou num pequeno objeto, e resmungou, fazendo a garota sorrir levemente enquanto tocava. Ela falara, com a voz doce e calma que ele adorava:




- Está perto. Continue, está indo bem.




Com um sorriso, Harry continuou o caminho que trilhava e, em segundos, o som do piano tornou-se muito mais nítido e alto. E um cheiro floral invadiu-lhe as narinas, entorpecendo-o. Aquela fragrância sempre tinha esse poder:




- Pronto. Está perdoado.




O moreno, então, passou a tatear a procura do corpo da garota. Até que sua mão encontrou o ombro dela. E sentiu que ela estremeceu ao seu toque, o que o fez vibrar internamente. Aproximando-se ao ouvido dela, sussurrou:




- Você toca muito bem, sabia?




Ele percebeu que ela se arrepiara ao ouvir aquilo. A música já havia acabado. Ela, então, falou com o ar zombeteiro de sempre:




- Sabia que ainda não respondeu minha pergunta?




- Qual?




- Quem é você?




- Ah, não! Lá vem você com essa pergunta! Não enjoou ela, não?




- Enquanto não me der a resposta, não vou enjoá-la. Vamos, responda! – Ela insistiu, e Harry, não tendo escapatória, deu a primeira resposta que daria à qualquer um que fizesse esta pergunta:




- Eu sou o Harry. Harry Ja...




- Eu não perguntei seu nome, perguntei quem é você. – A garota cortara antes que Harry terminasse de dizer seu nome. E voltou com o tom brincalhão. – Mas pelo menos já sei como chamá-lo.




- Espertinha... Vamos lá... Quem eu sou? Sou o dono daqui.




- Eu não perguntei do quê você é proprietário, perguntei quem é você.




- Mas que diabos! Toda resposta que dou está errada! – Harry reclamou, cansado de nunca dar a resposta certa para esta pergunta.




- Vai ver é porque você ainda não tem a resposta para esta pergunta. Ou seja, você não sabe quem você é. Ainda.




Harry, então, procurou e encontrou a banqueta onde ela estava sentada. Pondo-se ao lado da garota, encostou novamente sua boca na orelha dela, e sussurrou novamente, provocante:




- E será que você poderia me ajudar a descobrir a resposta para esta pergunta? Me ajudar a descobrir que eu sou, de fato?




- Talvez... Talvez eu... Possa fazer isto por você. – Ela respondeu com uma voz falha, e a sua respiração parecia ter acelerado. E isso não passou despercebido por Harry, que falou animadamente, afastando-se dela:




- Então, eu venho aqui amanhã. O que acha?




- Acho perfeito. No mesmo horário, ok?




- Ok. Até mais. – Harry dissera por fim, quando encontrou com muita luta as escadas daquele porão.




- Harry? – A garota havia pronunciado o nome dele. Pela primeira vez. E com a voz mais doce que já tinha escutado de sua boca. Não tinha como não atender ao chamado:




- Sim?




- Só queria saber como era o seu nome em minha boca... A pronúncia... O som. E eu gostei. – Ela falou novamente, agora com uma voz musical e sussurrante, extremamente provocadora. Harry arrepiou-se com isso, e respondeu:




- E eu, mais ainda. - E subiu as escadas com um sorriso estampado no rosto.


 


 


 


 


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N/A: Desculpem a demora. Contanto, aqui está o segundo capítulo. Esperam que tenham se deleitado com ele. O próximo irá demorar a sair, pois agora vou me dedicar à minha outra fic. Mas não se preocupem, tentarei atualizá-la o mais breve possível.




Dani W. Potter: Que bom que adorou o primeiro capítulo. Você acertou quando disse que a fic vai ser bonita e emocionante, pretendo que ela assim o seja. O capítulo está postado, espero que tenha ficado do jeito que esperava. Beijos!




Patty Black Potter: Olá, querida amiga! Que bom que gostou! A gente se vê por aqui. xD Beijos!




Carpe Diem




Hannah B. Cintra

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Comentários (1)

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