Dividindo e multiplicando



Na manhã seguinte, Doumajyd saiu bem cedo, antes que Mary acordasse, com a certeza absoluta de que iria conseguir um café-da-manhã decente para ela. E, mesmo ainda sem jeito com o modo que inventara para pescar, naquela vez conseguiu pegar dois peixes.

Feliz consigo mesmo, carregando os peixes dentro da rede, ele voltava sorridente para a caverna quando algo chamou a sua atenção. Em uma árvore não muito alta, avistara um ninho. Se encontrasse algum ovo lá, teriam mais comida do que comeram em uma semana inteira. Então, sem perder tempo, ele escalou pelos galhos até alcançar o seu objetivo. Dentro do ninho, haviam três ovos, e ao recolhê-los, o dragão teve outra surpresa.

***

Mary observava admirada como Doumajyd se arranjavam com o que tinham. No seu estado dos últimos dias, não havia dado credibilidade as coisas que ele fizera usando um cartão deformado, como o tapete onde dormiam. Muito menos achara que ele conseguira pegar alguma coisa com um emaranhado de folhas de palmeira entrelaçadas e galhos. Mas lá estavam dois peixes, espetados em galhos, assando na fogueira e ele também trouxera ovos.

Porém, mesmo com o estômago roncado e a perspectiva de ter uma boa refeição, ela conseguiu manter o bom senso em não elogiar o dragão. Tudo poderia ir por água abaixo se ele ficasse convencido demais com aquele único sucesso em dias de derrota.

- Você vai ficar melhor se comer isso. – ele comentou contente, como há tempos ela não via, enquanto arrumava o peixe no fogo.

- Obrigada, Chris. – ela agradeceu ainda com a voz fraca por causa do que acontecera.

- E também, – ele começou, com o seu jeito típico de quem tinha uma surpresa e já não agüentava mais guardar em segredo – tem isso!

Ele retirou algo do bolso e estendeu na frente dela.

- O colar! – Mary exclamou, espantada, o pegando em um pulo – Onde achou?!

- Veio como brinde com os ovos. – ele comentou, como se tivesse sido algo sem importância.

- Um pássaro pegou? – ela apertou o colar nas mãos e essas contra o peito, em uma promessa silenciosa de nunca mais iria ser tão descuidada.

- Ouvi dizer que alguns gostam de enfeitar os ninhos com coisas brilhantes. – ele contou, avivando o fogo com um galho.

Então ele olhou para ela e vê como ela está feliz por ter recuperado o colar, e comenta:

- Que bom, não é?

Mary não soube dizer sobre o que exatamente ele comentava: por ter o colar de volta ou por ela estar sorrindo. Então, meio sem jeito por tudo o que tinha ocorrido naqueles últimos dias, e que havia criado uma distância entre eles, ele se levantou e foi se sentar ao lado dela, dizendo:

- Sabe, Mary. Acho que você se esqueceu que é responsável pelo que fez comigo.

- O que eu fiz com você? – ela pediu, sem conseguir esconder um tom de susto com a acusação repentina.

- Me fez te dar esse colar. – ele respondeu muito sério – A prova de que somos de Saturno, e que fomos feitos um para o outro.

Há anos ela não ouvia essa teoria do dragão, e achava que ele já havia se esquecido dela. Então sorriu para ele, prometendo:

- Não se preocupe. Nunca mais vou esquecer.

***

Os dias após aquele incidente passaram de uma forma muito mais fácil. Mary e Doumajyd não só tinham superado o problema de falta de alimento como haviam desfeito a distância que crescera inconscientemente entre eles. Nunca, desde que se conheceram, os dois estiveram tão próximos e por tanto tempo juntos, como podiam estar naquela ilha.

Para Mary, não ter que ficar com o herdeiro Doumajyd, o dragão-líder do D4, o presidente da D&M, mas simplesmente estar com Christopher, o seu noivo, até aquele momento era algo fora da realidade. Sempre estiveram envoltos de problemas, trabalho e mais problemas. Conviver com o dragão daquela forma todos os dias, servia para que ela entendesse que, por mais problemas que ainda fossem surgir, estaria tudo bem, desde que estivesse ao lado dele.

Doumajyd, por seu lado, experimentava uma liberdade que nunca tinha tido. E essa liberdade não era somente estar fora de responsabilidades e decisões, mas sim em poder fazer coisas por ele mesmo. Não havia nenhum elfo doméstico a sua disposição, não havia um secretário pronto para atender a qualquer ordem sua, não havia ninguém para lembrar que do no outro lado do mundo as esferas Doumajyds já faziam parte do cotidiano dos bruxos. Era somente ele, Mary e todo o tempo que possuíam.

Mary pensava em tudo isso, sentada na faixa branca de areia, sobre o sol, observando a paisagem, enquanto Doumajyd mergulhava na água salgada, tão feliz como um menino que pela primeira vez via o mar.

Mesmo naquela distância, ela podia perceber como aqueles dias estavam marcando o noivo. Ele não só havia recuperado o corpo forte de quando jogava quadribol na escola, mas se bronzeara como nunca teria conseguido em férias normais na praia. Foi então que ela olhou para as próprias mãos e notou, surpresa, que sua pele também escurecera, e provavelmente escureceria ainda mais se ficasse lá por mais tempo.

- Ei, Mary! – o dragão a chamou, virado para frente da praia, com a água lhe batendo na cintura, cruzando os braços como alguém que se dera conta de uma coisa óbvia somente naquele momento – Quanto tempo será que passou desde que viemos para cá?

Mary pensou um pouco, mas não sabia dizer com certeza:

- Acho que um mês ou mais... Por quê?

Ele olhou em volta, incomodado, como se tivesse um grande problema, e comentou:

- Então quer dizer que a sua formatura já passou.

- Ah! Minha formatura! – ela exclamou assustada – Eu tinha esquecido completamente!

Quando viajara com Doumajyd em busca da tiara para Los Angeles, Mary não fazia idéia da dimensão de tempo que aquela aventura lhe tomaria, e muito menos que ficariam presos em uma ilha deserta. Naquele momento, a sua formatura era a sua menor preocupação e nem lhe ocorrera que poderia perdê-la.

Diante do susto dela, Doumajyd também ficara assustado. E diante dessa reação dele, ela não pôde agüentar e riu, comentando:

- Não fiz meus testes finais mesmo, então, é impossível me formar.

- Ah, que droga! – ele se deixou cair na água afundando, e logo voltou, jogando o cabelo molhado e raramente liso para trás, dizendo – Eu queria que o nosso casamento fosse na sua formatura!

Mary sorriu. Lembrou da primeira vez que ele lhe dissera, muito sério, que deveriam se casar, quando ela tinha dezessete anos e enfrentara a terrível senhora Doumajyd de frente. Desde aquele tempo, ele sempre teve a sua certeza de Ilustríssimo Eu que chegariam a isso.

- Sabe. – ela começou, se levantando e batendo a areia das roupas – Estando aqui, eu pensei sobre o que significa viver junto com uma pessoa.

- O quê? – ele perguntou se aproximando um pouco mais, para poder ouvi-la bem.

Mary começou a andar sobre a areia molhada, pisando na linha aonde as pequenas ondas vinham quebrar, e continuou:

- As dificuldades e as tristezas podem ser divididas, e elas se tornam metade. E as alegrias e felicidades, podem ser multiplicadas, e elas dobram.

Os dois riram. Era perfeitamente simples, e completamente verdadeiro.

- Não seria tão ruim. – ele comentou, acompanhando o andar dela, seguindo pela água – Viver para sempre aqui nessa ilha... Eu posso olhar para você todos os dias e ninguém vai nos atrapalhar!

Então, Mary se lembrou de uma pergunta. De algo que a perturbara no dia antes de partirem de Hong Kong, e que em outras circunstâncias ela não teria dito:

- Chris, qual é o seu sonho?

- O meu sonho? – ele perguntou surpreso, e então se virou para ela, na sua pose típica de líder do D4 – É claro que já se realizou!

- Já? – ela perguntou confusa, não tendo a mínima idéia do que poderia ser.

Ele avançou, até sair do mar e ficar de frente para ela e poder dizer:

- Você.

Mary ficou paralisada encarando um Doumajyd sorridente a sua frente. Ele ainda tinha o poder de a deixar sem reação com somente um palavra.

Vendo que abalara a noiva, ele a abraçou e sussurrou:

- Não importa o que aconteça, eu nunca vou te deixar.

Era exatamente isso que ele fizera quando ela havia se jogado naquele buraco de depressão. Por mais negativos e insuportáveis que fossem os seus pensamentos naqueles dias, ele nunca a abandonara. Então, em resposta, ela retribuiu o abraço, o segurando forte, agradecida e feliz como nunca esteve.

- E qual é o seu sonho, Mary Ann Weed? – ele devolveu a pergunta.

- O meu? – ela pensou por um tempo.

Na verdade, nunca pensara seriamente nisso. Ser advogada e defender as pessoas que como ela eram excluídas da sociedade mágica, não podendo ser inteiramente bruxa e também não conseguindo ser como um trouxa, era mais uma ambição e uma vingança. Porém...

- Meu sonho... – ela repetiu baixinho, soltando o abraço dele – Acho que... – mas não pôde concluir o seu raciocínio.

Lá longe, na linha do mar, havia algo diferente.

- O que é aquilo?! – ela apontou.

Doumajyd se virou e logo avistou o que chamara a atenção dela. Estava cada vez mais perto, flutuando perto da superfície do mar, fazendo um grande barulho que ficava mais intenso conforme ele se aproximava.

- É um helicóptero! – exclamou Mary, correndo até a beira da praia e acenando- AQUI! ESTAMOS AQUI!

Vendo que o helicóptero estava vindo diretamente para eles e que logo seriam resgatados, Mary voltou para Doumajyd, que ainda estava parado na areia, olhando com desconfiança.

- Conseguimos, Chris! – ela praticamente gritava de alegria – Vieram nos buscar! Estamos salvos!

- Espera. – ele disse em um murmuro, sem tirar os olhos do objeto voador estranho – Tem alguma coisa errada.

- Passaram bem? – perguntou uma voz magicamente amplificada.

Mary olhou novamente para o mar, onde o helicóptero parou e virou de lado, e ela pôde avistar quem o tripulava. Mesmo usando roupas trouxas normais, o ladrão da tiara era inconfundível.

- O bicho-papão foi derrotado. – ele disse, com um sorriso triunfante – Vim buscá-los.

- O QUE VOCÊ PRETENDE?! – Doumajyd gritou para ele.

- Preparei o último estágio para vocês. – ele contou, de forma simples, apenas obscurecendo ainda mais a situação.

- O Segredo Ancestral... – Mary sussurrou, lembrando que ainda teriam que passar por mais uma armadilha dentro da sua teoria da tiara.

***

Nota da L:
Tekitta! o/ Três caps de uma vez para compensar o tempo que levou para postar xD

Foi um tanto trabalhoso adaptar essa parte do filme. Ela é praticamente feita de cenas, várias cenas, daquelas que a gente vê e já subentende o que está acontecendo, como a depressão progressiva da Mary... E ô partezinha enjoativa de escrever essa! Mais do que nunca, eu percebi como o ânimo de um personagem pode influenciar em quem escreve :P... Acho que atores e atrizes têm muito dessas frescuras xD... Mas, sem enrolar, é o seguinte sobre esses três caps: tudo o que acontece é muito rápido, muito jogado. Acho que, se ao invés de filme, Hana Yori Dango Final fosse outro seriado, eles explorariam melhor essa questão da depressão. Mas como já estamos em duas horas de filme, e ainda tem um punhado de coisas para acontecer, não dá para ficar enrolando xD

E eu não podia deixar o cartão de crédito de fora! xD Desde a primeira vez que eu vi a cena do Doumyouji amolando o seu cartão de crédito negro super-exclusivo de gente mega-rica, eu rolava de rir xD Outra cena divertida e aleatória dessa parte do filme é ele e a Makino correndo pela floresta e de repente ela some... Sim, a gúria evapora! xD Ela afunda dentro de um buraco e, como a atriz é pequena, piscou não viu xD Quando o Doumyouji se aproxima e vê ela toda torta caída dentro do buraco, ele começa a gargalhar, e toda a aura de Ilustríssimo Eu dele vai pro ralo, pq ele vira somente Jun e a sua risada-estranha-do-além que ele tem desde moleque (só mudando a intensidade) xD... Mas essa cena é tão bônus para os fãs de Hanadan rirem, que não iria ter contexto nenhum na fic e para quem não conhece o seriado (ou o Jun), então tive que deixar de lado... Tbm não coloquei a cena do Jun de topeless no mar, exibindo os seus incríveis ossos de costela, porque ficaria muito tosco xD Se alguém quiser ver a cena por sua própria conta e risco pode procurar no youtube que as fãs dele fizeram o favor de disponibilizar (não querendo ofender as fãs do Jun! Gomen, Thata, Shuri-kun xD Eu só não posso desperdiçar a minha chance de zoar com o Ore-sama, já que a LAP faz parte da minoria mundial que consegue fazer isso xD... Nós e o Mion, neh? “Esse é o drogado!”)

E eis que agora estamos no último estágio da fic! Será que a teoria da Mary sobre a tiara está certa?! Será que finalmente acabaram-se os problemas?!... E avisando que a próxima atualização irá demorar um pouco (não faço idéia de quanto), já que só restam poucos caps e será melhor postar tudo de uma vez xD

Ah, e como no blog da LAP EDDFinal já está acompanhando as publicações nos sites, vou postar esses últimos caps separados por lá. Então, quem não quiser esperar até a minha bom vontade, pode conferir nele xD (induzindo as pessoas a visitarem o blog da LAP?! Eu?! Magiiiina!)

Até, pessoal!

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