Declaração



Severus acordou com uma lentidão nata, como nunca lhe tinha acontecido. Estava com a cabeça bem mais leve do que antes; sentia-se tão confortável… e lembrou-se repentinamente de tudo em que estivera a pensar: coordenar a informação descoberta na mente de Kurt com as suas dúvidas em relação a Tonks. Será que ela não quereria nada com ele por ainda amar o maldito e ranhoso lobisomem? Será que era culpa que ela sentia por amar os dois? Sim, ele agora não tinha dúvidas que ela também o amava. Ele estava com medo de a magoar, de tentar fazer apenas com que ela esquecesse o ex-namoradinho morto e enterrado sem o fazer de facto.

Cerrou as pálpebras com mais força, como se com esse simples acto pudesse ‘limpar’ a culpa que sentia conspurcar-lhe a mente e corromper-lhe a alma. A consciência martirizava-o, implacável, martelando-o com perguntas, com dúvidas, com dilemas, atormentando-o com as decisões a tomar e as realidades a enfrentar… mas que complicação que está a minha cabeça! Será que eu desmaiei? Como foi possível ficar assim tão fraco? Será por causa de dela? Onde estou afinal?

Abriu os olhos. Estava deitado, era noite alta de uma lua cheia cuja luz iluminava todo o quarto (já que aquelas coisas estranhas chamadas pelos muggles de ‘estores’ estavam levantadas, deixando a luz passar pela janela) e alguma coisa ligeiramente pesada do seu lado direito puxava levemente os lençóis.

Virou a cara e deparou-se com Tonks supostamente velando o seu sono. Estava sentada numa cadeira junto ao colchão, mas dormia apoiada nos seus braços com a face iluminada pela lua virada para ele. Severus supôs que fosse para acordar e vê-lo logo mal ele se mexesse. Certamente tinha ficado muito tempo sem dormir.

Deu-se então conta que a sua mão direita estava bem mais quentinha e aconchegada do que a esquerda. Mas que…? Ao olhar um pouco mais abaixo, viu com deleite que ela segurava a sua mão, como se não quisesse que ele fugisse. Nymph, não vou a lado nenhum sem ti… notou também que estava sob os lençóis de tronco nu, mas vestido da cintura para baixo. Será que tinha sido ela a despi-lo? Ficou levemente afogueado, mas feliz com a ideia.

Lentamente, para não a acordar, afagou-lhe os cabelos que estavam novamente com um toque arroxeado – mas ainda não rosa-choque – sentindo-os suaves sob a sua mão. Ao lhe afastar algumas madeixas da fronte, ela abriu um pouco os olhos. Ao vê-lo acordado, levantou-se rapidamente com um ar preocupado e a ajudá-lo a sentar-se.

- Severus, estás bem? Como te sentes? Dói-te alguma coisa?

Severus estava com uma vontade enorme de se rir da preocupação excessiva dela. – Estou óptimo, e tu? Não me digas que foste suficientemente louca para tentar ficar acordada TODA A NOITE para ver se eu melhorava…

- Não brinques! Estás aqui há dois dias!

- Há dois dias?! – disse Severus alarmado.

- Praticamente.

- E estiveste aí apenas a olhar para mim este tempo todo? – ironizou Severus ao reparar que o lençol tinha descido deixando o seu tronco nu exposto – Sinto-me lisonjeado.

Tonks olhou-o com reprovação – Para além de me deixares constantemente preocupada, também estive a pensar…

Severus emudeceu. Será que ela lhe iria dizer que a relação entre eles não podia acontecer? Isso era o que ele mais temia.

- Severus, eu… - começou ela com um ar sério.

Nem teve tempo para acabar. Severus tinha-se aproximado dela com uma rapidez surpreendente e tinha-a beijado.

- Eu amo-te Nymph.

Tonks ficou sem fala e abismada perante tal repentina declaração. Ele continuou a olhá-la de modo amoroso e devoto.

- Não irei conseguir aguentar se me disseres que não me queres. É um paradoxo curioso: há anos que estou treinado para aguentar tudo, excepto esta situação. Sei que antes te desprezava, mas sei agora como fui estúpido. Mesmo o Lupin – Tonks reparou que ele fizera um esforço para não o chamar de estúpido lobisomem, o que a agradou – foi bem mais inteligente e perspicaz que eu ao reparar no que tu tens de melhor. Sei que ainda sentes alguma coisa pela sua memória, mas não me podias dar uma oportunidade?

Tonks teve uma grande dificuldade em articular as palavras – Sev… eu apenas te queria dizer que precisava que me levasses ao Departamento dos Mistérios.

Severus ficou abananado. Ups…

Tonks começou a rir ao ver o embaraço dele – Mas agradeço o que disseste. – e acabando de dizer isto, beijou-o de volta. – Achas-te mesmo que eu te ia dizer que não poderia acontecer nada entre nós? Ou que não te quisesse? Como se isso fosse possível…

Ele ficou aliviado. Que peso que me tiras de cima Nymph… mas…

- Nymph, porque é que precisas de ir ao Departamento dos Mistérios?

A expressão dela ficou mais grave e distante – Por favor Sev…

- Já percebi. – disse ele com calma – Não te preocupes, eu levo-te lá. Mas se precisares de ajuda não hesites em chamar-me OK? Não me iria perdoar se te acontecesse alguma coisa…

- Sev, a única coisa que me pode acontecer de mal é eu ficar perdida lá dentro, o que por sinal é bem provável que aconteça! – brincou ela. Mas voltou à expressão séria – Preciso mesmo de lá ir. Para ficar bem em consciência acrescentou ela sem o dizer em voz alta.

Severus tentou não demonstrar o medo que sentia de a perder, apenas assentindo com a sua testa na dela – Eu vou lá contigo.

(continua...)

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