O Sonho de Tonks
Nessa noite, mal falaram ao se dirigirem ao quarto e demoraram a adormecer.
Tonks teve uma noite especialmente agitada.
Sonhou que estava no Departamento dos Mistérios, mais exactamente na Sala do Véu. O maldito véu que levara o seu primo Sirius. Mas não era por ele que ali estava.
Algo a atraía àquele lugar, nem ela sabia o quê.
Ao se aproximar do Véu, sentiu alguém chamar por ela. Uma voz suave, familiar, estranhamente amorosa…
Ao concluir a subida dos degraus, olhou para o véu e só se lembra de visualizar uns olhos dourados muito doces, amorosos, preocupados e compreensivos a olhar para ela. Olhos que ela conhecia muito bem…
Tonks acordou sobressaltada, a chorar compulsivamente, e Severus veio logo em seu socorro. Parecia que estivera acordado até àquela hora.
Amparou-a como se fosse uma criança, e como uma criança ela se agarrou a ele. O abraço era de um forte desespero. Ela voltara a ter o cabelo preto. Severus tinha a certeza de que ela teria sonhado algo ruim. Ou seja, ele tinha a certeza que ela sonhara com o maldito lobisomem, principalmente após os acontecimentos daquela noite.
Imediatamente se sentiu culpado por a ter beijado, cedendo às ordens absurdas que seu corpo exigia; tantos anos de treino e de prática e mesmo assim, deixando-se levar por uma paixão arrebatadora como nunca antes tivera.
Era pura insanidade, amar alguém como aquele desastre ambulante que não poderia tocar nalguma coisa sem a rachar…
…Pela Magia, Severus Snape, acalme-se e controle-se! Ela agora nem quebra nada… ela mudou e para melhor!...
Amar alguém que jamais olharia para ele da mesma maneira…
Mas ela correspondeu! Também ela transmitia essa fome de amor e paixão! Ela BEIJOU-TE idiota! Acorda!
Sentia-se traidor… ela confiara nele, até lhe pedira para a tratar por ‘tu’, ficara feliz com o seu apoio e agora ele traía-a dessa maneira…
Mas reparaste claramente que ela não te amaldiçoou! Com o seu humor tão alterado ultimamente, ela nem teria de pensar duas vezes antes de o fazer se não gostasse mesmo de ti!
Esses ataques de consciência pesada, de dúvidas e certezas dúbias foram interrompidos pela respiração regular que ele ouvia. Ela agora também já não tremia. Só continuava abraçada a ele e com a cabeça escondida no seu ombro.
Severus concluíra que ela tinha adormecido, mas não a queria largar… era…
- … tão bom assim… - disse Tonks com uma voz de quem parecia estar a ter um bom sonho, que por acaso completara o que Severus estava a pensar com tão poucas palavras.
Merlin, será que ela consegue ler a minha mente sem que eu o perceba? Amanhã, teremos que falar sobre isso… aquela ‘conversa de olhares’ não foi normal… nem eu mesmo alguma vez ouvi falar de alguém que comunica olhando sem saber conscientemente o básico sobre legilimância e/ou oclumância. Não que ela antes não soubesse, aliás tinha de ser relativamente boa nisso para ser auror, mas a partir do momento que Remus Lupin morreu, ela mudou completamente, tudo o que aprendera sobre essas questões esfumou-se.
Ao mesmo tempo, Severus receava essa conversa… teriam inevitavelmente de lembrar aquele momento maravilhoso e que não deveria ter acontecido. Isso seria penoso, pelo menos para ele, mas não tinha escolha… assim talvez houvesse uma hipótese mais simples e menos dolorosa e desgastante de ‘trabalhar’ com Kurt.
oOo
Tonks acordou na manhã seguinte sentindo-se quentinha, aconchegada e protegida.
Ela abriu os olhos e olhou o que parecia uma face serena mas cansada. Só passado um bom bocado é que se apercebeu que olhava a cara de Severus.
Intrigada, levantou-se sem fazer barulho.
Olhou para Severus mais uma vez. Parecia que ele estivera a tentar ficar acordado toda a noite a zelar pelo seu sono pois estava meio sentado, apenas encostado a um monte de almofadas. Depois lembrou-se com vergonha o que ocorrera na noite anterior… ela sonhara com a Sala do Véu do Departamento dos Mistérios e acordara a chorar. Severus viera em seu auxílio, dando-lhe mais uma vez o seu apoio incondicional. Talvez tivesse adormecido assim mesmo, pois não se lembrava de mais nada.
Droga! Agora ele deve achar que sou infantil por não controlar a minha insuportável vontade de chorar… droga, droga, droga!
Severus realmente ficava lindo a dormir… mas aparentava estar cansado.
Droga Severus! Não devias ter ficado aqui… eu é que sou uma estúpida, deveria saber controlar-me. Sete meses depois e embora já não esteja tão desastrada como antes, ainda não me consigo controlar totalmente… afinal porque é que eu não morri junto com Remus?
No duche, a consciência mostrava outra via… ela não se teria divertido tanto se tivesse morrido, certo? Ela não teria outra oportunidade de ser feliz, ao lado de Severus, não teria descoberto que aquele homem tão frio e aparentemente sem sentimentos tinha uma capacidade enorme para os guardar sem os transparecer… e que quando os demonstrava, podia ‘pegar fogo’ a quem ele se importasse.
Será que seria um bom companheiro para a vida?
Afastou rapidamente esses pensamentos.
Nymphadora Tonks, tens de ter noção que esse homem embora lindo à sua maneira, tremendamente sexy quando decide dar uma hipótese a si mesmo para isso, compreensivo, altruísta, bondoso (embora muitas pessoas achem exactamente o contrário e com certa razão), aparentemente com corpo esbelto embora não ‘musculoso’, não vai olhar para ti sem ser a típica “Desastre Ambulante”…
Interiormente, Tonks pedia a Merlin que fizesse Severus mudar de ideias a seu respeito… para melhor.
Mal sabia que já tinha o desejo realizado.
oOo
Tonks ficou no duche durante um tempo bem longo. Quando terminou, não encontrou Severus no quarto e ficou levemente preocupada.
Quando tinha acabado de se vestir ele entrou no quarto de cabelo molhado, bandeja nas mãos com um pequeno-almoço tremendo, um sorrisinho bonito a iluminar-lhe a cara e um brilho estranho nos olhos.
- Estavas a demorar muito no duche, portanto fui ao da piscina.
Tonks ficou surpresa, e disse esboçando um sorriso:
- Uau Severus, qual a ocasião?
Ele apenas encolheu os ombros. Ela baixou os olhos.
- Desculpa.
Agora era ele que estava espantado. Será que ela não gostou? - Por quê? – perguntou ele.
Tonks estava decidida a contar todos os fios de tecido do tapete do chão. O cabelo ocultava-lhe a expressão.
Severus ficou preocupado. – Está tudo bem contigo? Passa-se alguma coisa? Queres falar?
Tonks deu uma risada forçada - Severus… - nem tinha a certeza do que dizer, mas forçou-se a continuar – Eu não mereço o que estás a fazer por mim… sou um bebé grande…
Severus nem sabia o que pensar. A sua cabeça há muito tempo que não ficava tão baralhada.
- Tonks, nunca pensei dizer isto, mas estás a ser tonta. O que houve para de repente te teres em tão baixa estima? Afinal o que sonhaste esta noite? – não conseguiu evitar a última pergunta.
Tonks estava a tremer muito. Severus resmungou interiormente consigo próprio por ser tão estúpido ao ponto de não conseguir refrear a sua curiosidade.
Ele dirigiu-se ao armário da roupa dela e tirou de lá um fato de banho que ele achava que iria ficar muito bem nela, pondo-o em cima da cama.
- Tonks, por favor, faz apenas o que eu digo, eu trato de tudo. Veste isso, desce até lá abaixo, e dirige-te à piscina. Vou estar à tua espera, não demores. Tomas o pequeno-almoço quando acabarmos.
Tonks nem pôde protestar, pois Severus já tinha saído do quarto. Achando melhor não resistir, vestiu-se e dirigiu-se à piscina.
Não estava lá ninguém. A princípio, pareceu-lhe ver um peixe enorme dentro de água, mas descobriu que afinal era Severus. Quando emergiu da água, Tonks achou que ele não podia estar mais sexy do que assim, com água a escorrer pelo corpo, de calções pretos de banho, olhando para ela com aquela ónix que eram seus olhos. Por momentos, perdeu-se nele. Foi a sua voz que a acordou.
- Nymph… - chamou carinhosamente Severus estendendo-lhe a mão.
Tonks achou maravilhosa a maneira como ele a chamou; parecia que lhe estava a chamar de ninfa… como as fadas dos contos muggles, que ela tantas vezes já lera por curiosidade e gostara.
Severus pegou na sua mão quando ela se aproximou, puxando-a para dentro de água, que estava quente, sem desprenderem os olhos um do outro, puxando-a ao mesmo tempo para perto de si.
- Queres experimentar o tango ou a rumba debaixo de água? Acredita que é um exercício óptimo e ajuda a esquecer o que nos atormenta durante um tempo.
Tonks não conseguiu responder. No entanto, a Severus parecera-lhe que mais uma vez ouvira a voz dela dentro da sua cabeça, concordando com a proposta.
Foi uma manhã de dança subaquática inesquecível… sem saberem que estavam a ser observados das sombras por um velho senhor, um ex-auror, que lhes tinha uma enorme afeição paternal…
Decidira ser naquele dia que tudo se iria compor, pois eles já não precisavam de mais ajuda do que aquela que ambos pudessem dispor um ao outro… estava na hora. Mas mesmo assim, ainda se iria divertir à custa deles. Dumbledore era um tipo realmente esperto e inteligente.
(continua...)
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