A Grande Noite



Estavam ambos tensos. Mal puderam dormir de antecipação.

Tonks tinha subido ao quarto e ainda não descera. Severus estava preocupado e Kurt tentava acalmá-lo dizendo-lhe que ela lhe tinha dito que antes de chegar iria passar pela cozinha do restaurante para ir buscar uma maçã… era a oportunidade perfeita para ele, Severus, se ir vestir a rigor para as danças.

Severus concordou e apressou-se a subir.

Por Morgana, vou ter mesmo de vestir esta coisa… tanto tempo em Slytherin e iria vestir vermelho… oh Merlin!

Quando desceu, Tonks já lá estava. Cruzaram-se olhares e ambos paralisaram.

Tonks achou que Severus estava cómico e muito atraente e sensual ao mesmo tempo. Não sabia se havia de rir ou ficar embasbacada a olhar para ele. Enquanto não se decidia, continuava a olhar para ele como se o visse pela primeira vez.

Severus estava com uma camisa vermelha com suaves e poucas riscas pretas aleatórias, de decote em V que terminava a meio do seu peito. As calças eram de um material estranho, pretas com suaves e poucas riscas aleatórias vermelhas. Os sapatos eram de dança.

Severus tinha ficado embasbacado a olhar Tonks. Ela estava… como arranjar palavras para a ilusão que estava a ter? É que só poderia ser isso. Ela estava lindíssima, fantástica, sensual, tudo ao mesmo tempo… desde quando era possível juntar tanta perfeição? O fato dela era vermelho e preto, ambas as cores às riscas na diagonal, mas fluidas, contornando bem o corpo maravilhoso que estava debaixo. Havia uma racha lateral direita (visto do ponto de vista dele) que chegava ‘bem acima’. O cabelo dela estava vermelho, mas não o mesmo vermelho de quando ela se irritava… este era bem mais claro, luminoso e cheio de vida. Só quando se aproximou mais é que notou umas poucas madeixas alaranjadas escuras.

Mas que estado de espírito é que faz com que ela tenha madeixas no cabelo laranjas escuras com vermelho vivo?

Ao se aproximarem, não resistiram em tocar o fato de dança um do outro. No entanto, resistiram ao impulso de se abraçarem.

- Estás… - começou Severus. Como haveria de acabar a frase? – Acho que não encontro adjectivos suficientes.

Tonks sorriu de uma maneira desconhecida dele, mas que o fez sentir febril e feliz.

- Tu também me surpreendeste. Não sabia que ias dançar hoje… então TU, nunca mesmo! - conseguiu dizer Tonks.

Morgana! Até ela conseguiu articular melhor as palavras do que eu! Mas como é que consegui perder o controlo desta maneira?

- E tu? Eu é que nunca pensei que TU fosses dançar. Não partiste braços a ninguém? Pernas…?

Severus continuava a gostar de ‘guerrear’ com Tonks que apenas sorriu.

- Então pelos vistos vamos concorrer um contra o outro, não é?

Ambos estavam tristes por isso, não queriam de maneira nenhuma concorrer um contra o outro. Tinham-se apercebido de que tudo o que fizessem dali para a frente seria juntos, nunca mais separados.

- Podias ao menos ter avisado que estavas a aprender… - começou Severus.

- EU? E TU? Quando é que me ias avisar que também estavas a aprender?

Ambos se sentiam um pouco traídos. Tanto tempo seguido e partilhado juntos tinha-os aproximado mais do que eles alguma vez pensariam.

Kurt chegou ao pé deles e quebrou o encanto.

- Muito bonitos os dois, belo par! Agora têm de ter atenção quando vos chamarem.

Eles olharam um para o outro. Ele quis mesmo dizer o que eles entendiam estar implícito nas suas palavras?

- NOS chamarem? – perguntaram ao mesmo tempo.

- Ah, sim! Ainda não vos tinha dito? – Kurt fingiu surpresa – Vocês vão dançar os dois juntos, sem os vossos professores.

Severus e Tonks ficaram sem reacção. Num segundo sentiram-se totalmente felizes, mas logo depois veio a indignação.

- Mas provavelmente nem temos a mesma coreografia! E agora é que nos avisa? – disse Tonks um pouco desesperada.

Severus olhava para Kurt e simplesmente disse:

- Não… você planeou tudo isto desde o início não foi? E certamente se assegurou de que eu e ela teríamos a mesma coreografia… o que pretende afinal?

Tonks não sabia o que dizer. Olhou para Kurt para receber a resposta.

Kurt apenas sorriu e disse com o que pareceu a Severus ser ‘calma a mais’:

- Claro! De que outra maneira eu vos conseguiria pôr a dançarem juntos? Sei que não iriam concordar… mas eu adoro ver pessoas que conheço a dançarem para mim…

Severus e Tonks olhavam um para o outro e confirmaram com o simples olhar: aquele homem não batia bem da cabeça.

Kurt acrescentou:

- Menina Tonks, está tão bela hoje que era uma pena não a ver dançar, já que ser eu a dançar consigo é totalmente arriscado para os seus pezinhos. Embora isso me deixasse muitíssimo mais feliz do que vê-la a dançar com Severus…

- Sr. Snape! – quase gritou Severus – Apenas deixo as pessoas mais próximas e às quais atribuo logicamente mais valor chamarem-me de Severus.

Tonks ficou muito tocada com o que Severus acabara de dizer, pois verificou que pertencia a esse grupo restrito. Sorriu para ele com um carinho que não pôde esconder.

Severus percebeu que ela o olhava com o sorriso mais ternurento que havia recebido na vida e esforçou-se por não perder a compostura rígida perante Kurt. Estava prestes a enfeitiçá-lo ali mesmo, quando a atracção do olhar de Tonks foi mais forte do que o seu desejo assassino.

Olhou-a. Realmente era uma pena desperdiçar uma oportunidade tão boa de estar com aquela maravilha da Natureza. Subitamente, ao olhar nos seus olhos, pareceu-lhe que ela enviava uma mensagem telepaticamente, lembrando-o de que se mantivessem Kurt animado, facilmente lhe poderiam retirar a informação depois.

Severus relaxou. Não sabia como ela conseguira contactar com ele visto que ela esquecera tudo acerca de legilimância desde a morte de Lupin, mas tinha razão. Não podiam desistir agora, tão perto do seu objectivo. Voltou a olhá-la e desta vez foi ele a enviar a mensagem: já que assim era, fariam o seu melhor! A sua melhor prestação de dança até ao momento.

Severus acenou com a cabeça a Kurt, que percebeu que eles iriam dançar ficando muitíssimo feliz.

Kurt sentou-se, mas Severus e Tonks não despregavam os olhos um do outro, continuando em pé, alheios a tudo o resto. No entanto, ouviram o serem chamados e, continuando com os olhos pregados um no outro, Severus pôs a mão em frente a Tonks, que a pegou, sendo levada por ele até à pista de dança.

Puseram-se em posição. Nunca na vida tinham estado tão concentrados, relaxados e com um sentimento estranho que não passava, mas que não era mau de sentir.

Quando a música começou, a magia aconteceu.

Nunca ninguém tinha visto semelhante par dançar tão maravilhosamente; parecia que eles eram a música. A música tinha sido feita apenas para aquele par dançar, tão suavemente como sensualmente e com aqueles movimentos bruscos típicos do tango que a todos fazia arrepiar. É claro que estava sempre presente a típica agressividade que este tipo de dança requer.

Tonks e Severus não mais pertenciam àquele mundo. Estavam numa outra dimensão, onde apenas eles enxergavam. Nada mais importava a não ser o outro. Nenhum deles jamais tinha pensado que conseguiria dançar com tamanha qualidade, respeito, destreza e paixão. Sim, paixão. E também amor, muito amor.

O final da dança foi marcado pela ‘aparente’ ânsia que ambos sentiam em relação ao outro, acabando (tal como seria de prever na coreografia) com o nariz de um a milímetros do outro. Foi gigantesca a força que tiveram de fazer para não se aproximarem mais do que o que era previsto pela coreografia.

Começaram com os olhos fixos um no outro e assim acabaram.

Esperaram o que lhes pareceu milénios (mas na realidade foram apenas segundos) até começar o ritmo de rumba.

Desta vez, dançaram com mais sensualidade, e mais juntos. Os seus corpos não se separavam, e perceberam que jamais tinham dançado daquela maneira com os seus pares nas aulas. Era a isto que eles se referiam, a ‘paixão e entrega’ necessárias para bem dançar este ritmo.

Severus apercebeu-se de que jamais tinha estado tão perto daquele corpo que desejava tornar seu, daquela beleza que tinha sido estúpido o suficiente para não ter reparado mais cedo, sem ter a consciência do que estava a perder. Por momentos sentiu ciúmes de Lupin, que tinha sido bem mais inteligente e soube aproveitar enquanto vivo aquilo que realmente importava.

Tonks estava completamente perdida naquela ónix que a atraía como nada antes o tinha feito. Os olhos de Severus eram o seu mundo, nada mais importava. Olhos esses que a olhavam cheios de paixão, amor e ternura que não conseguiam conter. Nunca tinha estado tão perto dele e sentia que se compreendiam como nunca. Sentia-se tão livre… tão leve, como uma folha de árvore levada pelo vento meigo que era Severus. Ele levava-a para outro espaço, um sítio melhor onde eram mais do que humanos.

Subitamente a música pára. Mais uma vez, os seus narizes quase se tocam. Não se ouve nada. As pessoas estão completamente extasiadas, sem reacção. Os dançarinos continuam de olhos pregados um no outro, como se nada mais existisse.

Ouve-se uma pessoa a bater palmas, ao fim de algum tempo. Aos poucos, as pessoas vão acordando do sonho maravilhoso onde estiveram, e começam também a bater palmas. O silêncio transforma-se aos poucos num barulho ensurdecedor. Entre o barulho, os ouvidos de Tonks e Severus captam a voz de Kurt dizendo “Beijo!”
Nem foi preciso repetir.

Não era estranho que depois de tanta emoção junta isso fosse a ‘cereja em cima do bolo’. Severus e Tonks corresponderam ao pedido. Os seus lábios quando se tocaram fizeram vibrar e arrepiar os seus corpos. Toda a gente presente sentiu as ondas de paixão emanadas dos dois. Foi um beijo simples, suave e sem nada ‘elaborado’. No entanto, ambos sentiram uma certa sensação de perda quando acabou.

Olharam-se nos olhos ainda durante um tempo e aperceberam-se que se amavam. Não restavam dúvidas. Tudo antes perfeitamente calculado… tudo desmoronou nestes dias. Erros de cálculo, mesmo. Será que nunca podemos controlar a vida por um bocadinho?

(continua...)

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