Aulas de Dança
Os dias que se seguiram foram também passados no parque de diversões, experimentando sítios e actividades diferentes, sempre terminando com uma ronda no campo de batalha de balões de água.
À medida que o tempo passava, Tonks e Severus ficavam mais unidos, mais amigos e confiavam mais um no outro.
Tonks não conseguia explicar os sonhos que andava a ter, nem Severus. Nenhum deles falava dos sonhos que tinha e ainda bem, pois se tivessem esse hábito estavam tramados.
Tonks passava noites a fio a sonhar com Severus e vice-versa. Nenhum deles compreendia o porquê disso, mas nenhum ligava muito.
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Depois de já conhecerem o parque de trás para a frente, Severus reparou com alarme que nem se lembrara de espreitar a mente de Kurt, de tão feliz que tinha estado nestes últimos dias. Tinha de tentar o mais rapidamente possível, mal surgisse a oportunidade.
Quando apanhou Tonks momentaneamente sozinha, Kurt propôs-lhe a hipótese de ela ter aulas de tango e/ou rumba para a grande noite de dança dali a dois dias.
Tonks ficou espantadíssima. E um pouco assustada. E sem fala durante um momento.
-EU? Aulas de dança, duas danças em dois dias? – perguntou ela céptica – Não me parece um plano que resulte.
- E se resultasse? Já imaginou a cara que o Sr. Snape faria se a visse a dançar? Era de gritos! – insistiu Kurt – Por favor, faça-o por mim… - acrescentou Kurt olhando para Tonks com olhinhos de cachorrinho abandonado à chuva em dia de mudanças.
Tonks teve que esconder o riso.
- E Severus? Não quero que ele saiba disto até que não tenha outro remédio!
Desta vez foi Kurt que teve de esconder o riso.
- Não se preocupe com isso… tudo se vai arranjar. – disse Kurt com uma piscadela de olho.
oOo
- EU??????????? – quase gritou Severus.
- Sim, qual o problema? – disse Kurt com naturalidade.
- Qual o problema? Não sei, talvez o único probleminha seja mesmo o de dançar em frente a toda a gente do hotel e da Tonks! – ironizou Severus.
Kurt desejou rir às gargalhadas, mas conteve-se.
- Vamos lá ter calma…
- CALMA?!?!?!?!? TER CALMA? COMO É POSSÍVEL TER CALMA SE ME PEDE ALGO ASSIM? – gritou Severus desesperado – Nunca na minha vida dancei e acha que vai ser agora que vou começar?
Agora percebo o que Dumbledore quis dizer… Merlin, dançar…! Poupem-me!
- Não seria capaz de fazer isso por mim? Um velho senhor de idade? – disse ele fazendo olhinhos. – E isso iria fazer-me muito feliz.
Apercebendo-se de que mesmo assim seria difícil demover Severus da sua decisão de não dançar, acrescentou:
- Acho que é uma boa altura… quando chegou, eu reparei que a sua amiga não estava lá muito bem emocionalmente… - reparou que tinha tocado no ponto sensível de Severus – Acho que vê-lo dançar lhe faria muito bem!
Resultou. Severus estava mesmo a ponderar nessa hipótese.
- Talvez… talvez ela fique melhor a rir um pouco mais, sim… - disse Severus pensativo.
Kurt não estava espantado. Há já muito tempo que se tinha apercebido que aqueles dois gostavam um do outro, mas aparentemente apenas eles não se apercebiam disso. Desconfiara desde o primeiro dia (em que se apercebera que ela estava emocionalmente desequilibrada e ele muito preocupado com ela), mas tivera a confirmação no primeiro dia de guerra de balões de água… aliás, tivera essa ideia de os levar lá não só porque era o seu sítio preferido mas para confirmar esse amor subentendido. Ele sempre gostara de presenciar romances. Se pudesse dar uma ajudinha, melhor ainda!
Severus interrompeu os seus pensamentos.
- Bem, talvez esteja inclinado a aceitar… - disse ele relutante - mas por favor, que ela não saiba de nada até à data!
O amor move montanhas! pensou Kurt alegremente.
oOo
- Um, dois, três e quarto! Atenção Sr. Snape, mais atenção! O tango não é fácil, mas tem de se esforçar mais! Estique a perna. – dizia a rígida professora de dança.
Severus não se podia sentir mais humilhado. Ou melhor, podia mas só dali a dois dias. Mas porque raio concordei com aquela ideia estúpida? Droga!
Por momentos chegou a pensar se os seus alunos sofriam tanto com ele como ele estava a sofrer naquele momento com a aula… certamente que não…
- Se ajudar, pense em alguém de que goste e que queira impressionar – sugeriu a professora de dança agora mais simpática – Normalmente costuma ser mais fácil para a aprendizagem.
Mas porque raio a mulher não o disse antes??
Severos pensou durante um bocado. Ele seria capaz de se importar com alguém assim como a sua professora dizia?
Acho que já sei…
E a partir dali tudo se tornou mais fácil.
Severus estava deveras agradecido por Tonks não ser tão boa em legilimância como ele.
oOo
Tonks estava a ter aulas de dança noutra divisão, bem longe de onde estava Severus. E, ao contrário dele, ela estava a progredir imenso naquela área, o que lhe valeu a aprovação de Kurt, que observava o seu progresso com a ajuda do professor de dança. As suas dicas eram valiosas; embora Kurt dissesse que não era muito bom a se coordenar a ele próprio, era certamente excelente a coordenar os outros e a criar coreografias.
Kurt dissera-lhe logo no início para pensar que estava a dançar ou a querer impressionar alguém de quem ela gostasse. Tonks não precisou de muito tempo para se concentrar em Severus… os sonhos que tinha tido ultimamente ajudavam a manter a mente ‘presa’ nele. No final, ela já nem abria os olhos, de tão concentrada que estava no seu Severus…
O quê? Eu não estou bem da cabeça…
Abriu os olhos com brusquidão e baralhou-se toda. Quase que fez o seu professor de dança cair. Desculpou-se e disse que tinha de descansar, voltando para o seu quarto partilhado e caindo na cama, exausta.
Foi pouco depois que Severus chegou, também estoirado, e a repensar pela milionésima vez porque se tinha convencido, por momentos, que estava a dançar com Tonks… foi nesse momento único que a professora o elogiou.
Foi então que reparou que Tonks também lá estava e a dormir profundamente. Nem se tinha coberto, nem despido o que lhe parecia o fato de sair.
Ainda conseguiu tomar um duche sem adormecer em pé, e voltou para junto de Tonks apenas com uma toalha a tapar da cintura para baixo.
Ficou a olhá-la durante o que pareceram horas, até se decidir a cobri-la. Foi nesse acto que a mão de Tonks que estava fora da cama sentiu a humidade da toalha de Severus, que tinha roçado a sua mão. Inconscientemente, Tonks agarrou a toalha firmemente. Severus alarmou-se e tentou puxar a toalha, sem sucesso. A toalha ficou presa na mão de Tonks, ficando Severus completamente pelado.
Apanhado de surpresa, Severus fez a única coisa de que se lembrou: ir a correr para a sua cama e enfiar-se sob os lençóis.
A missão não estava a correr como previra, definitivamente. Tudo o que calculara tinha vindo por água abaixo.
oOo
Na manhã seguinte, Tonks estava espantada por ter uma toalha na sua cama e por Severus não estar a pé antes dela.
- Estás doente Severus? Estás tão tapado… - observou ela preocupada.
Severus tentava não corar.
- Não é nada de mais…
- Olha, sabes por que razão eu acordei com uma toalha na minha cama? Ainda por cima molhada?
Severus teve de desviar o olhar.
- Eu não tenho culpa se alguém é sonâmbulo aqui…
Tonks deu uma gargalhada.
- Duvido muito que eu o seja mas agora não interessa. Vais ficar aqui muito tempo?
- Não, é só mais um pouco…
Ela foi ao banho. Quando voltou de um duche rápido já vestida e tudo disse:
- Severus – disse Tonks de maneira que parecia estar a enrolar o nome de maneira propositada – eu vou dar uma volta pelo hotel… não esperes por mim ok? Sou capaz de demorar um pouco…
- Ok.
Enquanto via Tonks sair do quarto, agradeceu silenciosamente a Morgana por Tonks se ter ido embora sem levantar grandes ondas.
O resto do dia foi trabalhoso como o anterior, bom, talvez mais, já que a rumba era uma dança em que se tinha de transmitir paixão e sensualidade enquanto se dançava, o que era coisa em que ambos estavam a falhar. Mesmo assim, Kurt dizia que na noite seguinte eles iriam conseguir. Mas não disse porquê. “É um mistério, mas sempre resulta!” era sempre o que dizia quando os dois (cada um à sua vez e separadamente) se dirigiam a ele desesperados.
(continua...)
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