Atentados
CAPÍTULO 15 - Atentados
Hermione, ao cair, bateu fortemente a cabeça no chão de pedra. Sentiu uma dor espalhar-se por todo o crânio, e seu olhar começou a ficar zonzo. Através da visão embaçada, ela viu que o assassino estava sobre o corpo dela.
Ela sentia as mãos do criminoso segurando seus pulsos com força. Lentamente, a visão ia entrando em foco. O borrão que enxergava era diferente... Não era branco como a máscara do assassino que ela vira no ataque no corredor... Por um instante, ela pensou que ele estava sem máscara.
Mas assim que sua visão se ajeitou, ela viu que ele usava uma máscara diferente. Esta era feita de madeira, emoldurada em formato de monstro, e não como de carnaval, assim como a outra. Ela olhou para as mãos que seguravam seus pulsos. As mangas da roupa do assassino eram brancas e sujas, o que indicava que ele trocara de roupa também. No outro dia, ele usava preto. Aquela noite estava muito vívida em sua mente, e ela tinha certeza daquilo.
-Eu vou te matar – disse o assassino, com uma voz esganiçada.
Ele tirou as mãos dos pulsos de Hermione e colocou-as sobre o pescoço da garota. Começou a apertar forte para estrangulá-la. Mione sentiu a respiração falhar, mas não muito. Era como se Michael não estivesse colocando tanta força em seu propósito de matá-la.
Mione olhou para o lado. Com a queda, a varinha tinha voado para um canto do corredor. Não tinha como usa-la para se livrar. Depois olhou para o assassino que a segurava, e viu que ele estava debruçado sobre ela. Fez a primeira coisa que lhe parecera viável.
Deu um chute no meio das pernas do louco homicida.
Ele tombou para o lado. Mione levantou-se agilmente, lutando contra a tontura e praticamente se jogou na direção da varinha, apanhando-a.
O assassino estava se levantando naquele instante, e teve um sobressalto ao ver a garota em pé, com a varinha apontada bem em sua direção, com uma expressão de extrema decisão e coragem estampada no rosto.
Mione franziu a testa, ao ver como o assassino tremia.
-E agora? Você está nas minhas mãos, Michael Evans. O jogo virou.
O assassino continuou tremendo, e num momento olhou para a ponta do corredor. Depois se virou de novo para Hermione, e ela podia jurar que o rosto escondido por trás da máscara estava lívido de pavor.
-Está com medo, não é? Bem que eu podia imaginar que o Michael Evans não era tão corajoso quanto parecia... E agora você vai ter que me obedecer se não quiser que eu exploda seus miolos.
As pernas do assassino balançaram.
-Tire a máscara – ordenou Mione, com a voz carregada de fúria.
O criminoso pareceu hesitar, de modo que Hermione levantou ainda mais a varinha e contorceu ainda mais o rosto.
-Tire a máscara, agora! Ou eu não respondo por mim, estou avisando...
Ele pareceu hesitar novamente, mas levantou as mãos enluvadas em direção ao rosto, lentamente. Segurou a borda da máscara de madeira. Ia levanta-la...
-Hermione, o que...? – gritou uma voz do fundo do corredor, ecoando fortemente.
-Kevin? – Mione distraiu-se, olhando para o lado. Foi o que bastou para que o assassino a empurrasse para o chão.
Mione caiu com tudo novamente, mas não bateu a cabeça. O assassino voltou para cima dela e começou a estrangula-la novamente. O campo de visão dela limitou-se à máscara do assassino, mas ela ouviu os passos de Kevin entrando pelo corredor.
O rapaz empurrou o louco homicida, tirando-o de cima dela. Mione libertou-se, esfregando o pescoço. Dessa vez o assassino fora mais violento. Depois, voltou a atenção para a briga.
Kevin dera um soco na barriga do maníaco, que agora se dobrava de dor.
-O que houve, seu louco? Só sabe agredir bruxas? Quero ver me encarar... – disse Kevin, alteando a voz ao vangloriar-se. Ele caminhou até o assassino. – Ninguém encosta um dedo sequer na Hermione, ouviu bem? Vamos ver agora quem está brincando de se esconder atrás dessa porcaria de máscara.
O assassino reagiu e empurrou Kevin. O rapaz caiu, e o criminoso desatou a correr pelo corredor. Só não contava com a voz que ecoou e disse:
-Pode parar. Agora você não me escapa.
O assassino estancou, desajeitado, próximo à dobra do corredor. Virou a cabeça lentamente e encontrou Mione, novamente com a varinha apontada bem na sua direção.
-Agora vai fazer tudo o que eu...
-Hermione, cuidado – gritou Kevin, de repente se levantando. – Eu pego esse infeliz.
-Não, Kevin, deixe que eu...
Hermione tentou mirar novamente em Michael, mas Kevin entrara na frente, começando a perseguir o assassino com a varinha na mão. Foi o que bastou para que o criminoso saísse correndo. Hermione virou na dobra do corredor para acompanhar Kevin na perseguição, mas ao virar-se encontrou Kevin caído, com um filete de sangue escorrendo pelo canto da boca, e o assassino, com a sua estranhíssima roupa branca, correndo, já dobrando o outro corredor.
Mione suspirou, desistindo, e arremessou a própria varinha no chão, com raiva.
-Droga! – reclamou, abaixando-se em seguida para acudir o pobre Wallace, que estava sangrando. – Você está bem? – perguntou, levantando a cabeça do rapaz e apoiando-a no joelho.
-Tudo bem – respondeu ele, com a voz fraca. – Só a boca que está ardendo um pouco... E o meu pé também, acho que torci.
-Não precisava fazer isso, Kevin. Eu ia dar um jeito na situação...
-Desculpe se atrapalhei, mas... É que, quando eu vi você sendo ameaçada, precisei fazer alguma coisa. Precisei tomar alguma atitude para ajuda-la. Pode não ter sido a mais sensata, mas quero que saiba que foi o que o meu coração mandou que eu fizesse.
Mione sentiu-se embaraçada. Ajudou-o a se levantar e, quando ele ficou em pé, envolveu o ombro dela com o braço, procurando apoio para equilibrar-se.
-Eu entrei nessa pra te ajudar e estou saindo carregado por você – disse ele, com um sorriso torto, enquanto os dois caminhavam lentamente pelo corredor.
-Mas você me ajudou sim. Na hora em que ele ia me estrangular, você o tirou de cima de mim.
-Claro. Acontece que, se ele fizesse alguma coisa com você, nunca iria me perdoar. E acho que pediria até para ser morto também. Porque pra mim, Mione, sem você não existe vida.
-Que isso, Wallace... – ela sorriu.
-É sério. Eu te amo, Mione. Por você fui capaz de enfrentar a morte e seria capaz de enfrentar coisas ainda piores...
-Kevin, não...
-Escute, pois é verdade. Dê-me apenas uma chance, por favor...
Hermione suspirou. Os dois estavam saindo do corredor escuro e entrando no corredor claro que dava acesso àquele e levava em direção à ala hospitalar.
-Está bem. No primeiro fim de semana em Hogsmeade, eu posso sair um pouco com você.
-Nossa Mione – ele abriu um largo sorriso. – Obrigado.
-Mas não prometo nada. E eu vou com os meus amigos. Mas, quem sabe, se nos encontrarmos lá, podemos passear juntos pelo povoado. Aceita assim?
-Claro. Por você aceito qualquer coisa.
Ele virou um pouco o rosto para dar um discreto sorriso cínico. Estava conseguindo. Para conquistar Hermione não demoraria muito.
* * *
Draco correu até o ponto combinado com Úrsula. A garota estava no corredor, aguardando-o, batendo os pés no chão e passando a mão inquieta pela cascata de cabelos loiros.
Ele só parou ao chegar perto dela, olhando para trás para se certificar de que realmente não fora seguido. Tirou a máscara de madeira, revelando a Úrsula o rosto avermelhado e molhado de suor. Draco apoiou-se na parede para tomar ar. Úrsula sorriu.
-Pelo que vejo, a experiência não foi tão boa assim para você – falou ela, irônica.
-Dá um tempo – reclamou ele, dando uma pausa entre cada palavra para tomar ar. – Escute... Nunca mais... Eu finjo... Que sou... Essa bosta de... Assassino...
-Por que? Deu tudo certo, não deu?
-Deu sim. Mas quase que não! – ele despiu a capa branca. – Pra começar os pontos negativos, essa capa ridícula que esquenta demais. E essa máscara, então? Não estava agüentando.
-Não acredito que você está reclamando só por causa disso, garoto?
-Claro que não... Pra piorar teve a Granger. Droga, eu devia ter contado com a esperteza dela. Acredita que quase desmascarou tudo?
-Como você é lerdo, Malfoy...
-Lerdo? Eu? Lerdo foi o Kevin. Muito lerdo, por sinal. Era para aquele idiota entrar enquanto eu estrangulava a Hermione, mas não... Ele demorou tanto que ela me chutou e me ameaçou com a varinha... E sabe o que mais? Obrigou-me a tirar a máscara! E nada do Kevin aparecer... Quando eu estava quase tirando, ele entrou.
-Eu sabia que confiar em vocês era perda de tempo... – disse Úrsula, balançando a cabeça.
-Mas quem iria se ferrar nessa história se eu tirasse a máscara? Eu! Afinal, o que você acha que todos iriam pensar? Que eu era o assassino!
-Vai saber se não é mesmo...
-Não sou não – resmungou ele, enquanto ela ria. – Depois disso, eu fingi que a estrangulava de novo. A idéia não era de o Kevin salvar a pobrezinha? Então... Aí ele me socou na barriga, mais forte do que o combinado, aliás. Eu o empurrei. E, quando eu estava saindo, mais uma vez a Granger me ameaçou. Quase, por pouco. Sorte que o Kevin avançou pra cima de mim e não a deixou me atingir. No outro corredor eu dei um soco no nariz dele pra sangrar... – ele deu uma risada – e depois saí correndo.
-Que papelão, Malfoy. Fugindo de uma garota.
-Me poupe de suas piadas, Úrsula.
Ela o segurou pela gola da veste e o levantou. Com o olhar furioso, encarou a face amedrontada de Draco e deu-lhe um lembrete.
-Não se esqueça de que quem dá as ordens aqui sou eu – falou, friamente. – Cuidado com o que você fala, Malfoy.
Ela o largou. Draco, com medo, ficou quieto, apenas a observando.
-Pelo menos deu tudo certo. Tenho certeza que Kevin voltará com grandes novidades a respeito de Hermione Granger. Ela logo estará apaixonada por ele. Tanto que esquecerá do Rony e o deixará livre para mim.
* * *
Hermione entrou na ala hospitalar, ainda carregando Kevin. Madame Pomfrey veio logo acudi-los. Mione olhou para a cama de Rony e viu que o amigo já estava pronto para sair e a fitava com espanto.
Para ele, aquela cena era a mais surreal do mundo: Hermione entrando na ala hospitalar junto com Kevin Wallace.
Madame Pomfrey puxou Kevin para um canto, para fazer um curativo no corte da boca dele e para dar um jeito no tornozelo do rapaz. Mione, sozinha, foi até Rony, que ainda estava boquiaberto.
-O que você está fazendo com o Wallace? – perguntou ele, apontando para o garoto.
-Pra que o espanto? Se quiser saber, ele acabou de salvar a minha vida.
-Como assim “salvar sua vida?” Você correu perigo, Mione? O que houve? – Rony começou a se assustar. – Foi o assassino?
-Foi ele, Rony. Corri perigo, mas está tudo bem.
-Como foi? – perguntou uma voz, e Hermione já ia responder quando percebeu que não fora Rony quem perguntara.
Lentamente, ela foi virando a cabeça até a cama ao lado. O cortinado da cama estava entreaberto e, através da abertura, ela podia ver os olhos de Harry virados para ela e Rony. Um sorriso surgiu na boca do paciente.
Mione e Rony aproximaram-se de Harry, os dois com sorrisos largos.
-Estou tão feliz – falou Mione, segurando a mão de Harry. – Você nem pode acreditar o quanto, Harry. Pensei que nunca mais veria você vivo de novo...
-Foi realmente uma barra, Harry – concordou Rony. – Seu estado não era dos melhores...
-Eu pensei que não iria mais ver vocês. Mas, me digam, antes que Madame Pomfrey perceba que eu acordei, o que aconteceu no tempo em que estive desligado do mundo?
Rony e Hermione se entreolharam, apreensivos.
-Bom, não foram coisas boas, Harry – começou Hermione. – Mas creio que você já esperava que algo teria acontecido...
-Sim – respondeu ele, suspirando.
-Houve mais um assassinato. Na noite passada...
-Minha nossa... Quem morreu, Mione?
-Dino Thomas – respondeu ela, olhando triste a reação desagradável que a notícia causara em Harry. – Afogado. Seguindo a lógica do enigma que o assassino escreveu para ele.
-É verdade – disse Harry, intrigado, enquanto repuxava mentalmente o enigma feito para Dino. – E o que mais aconteceu?
-Nada. Quero dizer, acabou de quase acontecer. Foi isso que eu estava conversando com o Rony.
-Eu ouvi – Harry sorriu. – Mas você se esqueceu de responder a minha pergunta! Como foi?
Hermione relatou como tudo ocorreu, desde o início, com a voz a chamando de dentro da escuridão, até a fuga do assassino, que largou Kevin com o nariz sangrando e caído no chão.
-Mas existem certos detalhes que estão me intrigando, Harry – falou Hermione, após a conclusão. – Michael Evans estava, de certa forma, um tanto esquisito.
-Como assim esquisito?
-Medroso. Quando eu apontei a varinha para ele, tremeu da cabeça aos pés.
-Isso não é esquisito. É natural – opinou Harry. – Ele se viu encurralado, prestes a ter a identidade revelada... Ficou com receio, deve ter sido isso.
-Tem mais um detalhe estranho. Harry e Rony, vocês se lembram muito bem da roupa que ele usava naquela noite em que nos atacou, não lembram? Veste preta, máscara de carnaval...?
-Sim. Dificilmente conseguirei esquecer – falou Rony, e Harry balançou a cabeça em sinal de concordância.
-Então. Hoje ele não estava com essa roupa. Usava uma roupa branca, e a máscara não tinha nada a ver com a que vimos no outro dia. A de hoje era bem simples, feita de madeira.
-Vai ver ele é muito seletivo em relação à moda e não quer repetir o modelito – disse Rony, com um sorriso torto.
Hermione já ia argumentar, mas, naquele momento, Madame Pomfrey terminou os curativos em Kevin e percebeu que Harry havia despertado. Eles ouviram os passos altos dela vindo na direção deles, e depois a voz dela:
-Harry, pobrezinho, finalmente! – ela bateu palmas. – Vocês dois, dêem licença, por favor. Preciso examinar o amigo de vocês. Você pode ir – ela olhou para Rony, depois apanhou um pequeno frasco de vidro e passou para ele. – Passe isso toda a noite sobre o local do ferimento, para cicatrização.
Rony guardou o frasco no bolso, ele e Mione despediram-se de Harry e encaminharam-se para a saída da ala hospitalar. Antes de sair, Mione acenou para Kevin.
-Mais uma vez, obrigada – disse ela.
O rapaz sorriu para ela, enquanto acariciava o tornozelo torcido. Pensou, nervoso, que nunca mais iria participar de um plano em que ele mesmo saía ferido.
Na cama de Harry, Madame Pomfrey o examinava. Olhou o corte na barriga do rapaz, examinou a temperatura... Para alívio de Harry, ela terminou aquele exame com um sorriso.
-Está tudo ótimo, Harry, mas você ainda está um pouco fraco. Por isso não posso lhe dar alta. Você vai ter que passar essa noite aqui. Quem sabe amanhã não lhe dou alta... Mas hoje, não.
Ele balançou os ombros, conformado. Madame Pomfrey apanhou um frasco da mesinha, igual ao que dera a Rony, tirou a tampa e pediu para que Harry abrisse a boca. Ela despejou duas gotas na boca do garoto. O líquido tinha um gosto amargo, mas Harry tomou sem reclamar. Madame Pomfrey fechou o frasco e depois pegou um cálice de cristal de dentro de uma gaveta, que Harry percebeu estar cheio daquele líquido estranho.
-Essência de Kaviazat – disse ela, vendo a dúvida no rosto de Harry. – Estimula seu corpo a fazer uma rápida cicatrização do ferimento. Todas as noites você deve toma-la. Esse cálice será seu. Está cheio da Essência. Espero que, amanhã, longe dos meus cuidados, você tome a dose corretamente. Agora pode dormir.
Harry se ajeitou sob o lençol, encolheu-se, tirou os óculos e fechou os olhos, esperando o sono chegar.
Ouviu Madame Pomfrey conversando com Kevin, e depois os passos do garoto saindo. A enfermaria mergulhou na escuridão, e ele só ouvia Madame Pomfrey mexendo em gavetas e prateleiras. Logo depois ouviu os passos dela se afastando.
Ainda com os olhos fechados, prestes a adormecer, ouviu passos no corredor. Madame Pomfrey devia estar retornando... Os passos eram apressados... Estavam cada vez mais pertos... Ligeiros...
Parou. Depois começou novamente... Os passos... Dessa vez lentos... Aproximando-se dele... Não podia acreditar que Madame Pomfrey iria examina-lo de novo, já estava quase dormindo... Os passos estavam bem perto... E pararam de novo.
Ele ouviu ela apanhar alguma coisa na cama ao lado... Será que iria medicá-lo de novo? Mas...
Ele sentiu algo contra o rosto.
Alguém apertava alguma coisa contra o rosto dele. Harry tentou respirar, não conseguiu, tentou gritar, mas sua boca estava tapada pelo...
Travesseiro.
Debateu-se em vão. O travesseiro era comprimido com força contra o seu rosto, e ele não podia fazer nada. Mas seus olhos libertos encontraram a máscara de Michael Evans debruçada sobre ele.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!