A aliança da falsidade
Com o baque, Harry caiu no chão.
-Acalme-se, Harry! – pediu suplicante e bondosamente uma voz.
Harry, que estava encolhido, abriu os olhos ao reconhecer a voz. Era Hermione.
Rony, que estava ao lado da garota, olhava perplexo para o amigo. Harry endireitou-se, tentou recuperar o fôlego perdido e acalmou as batidas aceleradas do coração. Suspirou.
-Nossa, Harry, por que todo esse... pânico? – indagou Mione, segurando no ombro do rapaz.
Harry olhou para o rosto de cada um dos dois. Diante daquilo tudo, Hermione e Rony pareciam aguardar ansiosamente a explicação de Harry.
-É melhor conversarmos num lugar mais... reservado – murmurou Harry, por fim, dando um impulso e levantando do chão gelado. – Os alunos já estão começando a chegar e, posso lhes assegurar, o assunto é sério.
Rony e Hermione se entreolharam. Balançaram afirmativamente a cabeça.
-Ótimo – disse Harry, virando-se em direção ao quarto novamente. – Antes eu preciso fazer uma coisa.
Harry entrou no dormitório. Rony e Hermione aguardaram na porta, dando uma espiada no que o amigo iria fazer.
Rony soltou uma exclamação de surpresa ao ver a flecha dourada que reluzia, fincada na parede. Hermione conteve-se em somente arregalar os olhos. Ela já imaginava o que teria acontecido.
Harry se aproximou da parede e tirou, com um pequeno esforço, a flecha, cujo corpo reluzia sob a luz do sol de fim-de-tarde, que logo se poria. Com a flecha nas mãos trêmulas, Harry virou-se para os amigos.
-Isso aqui era para estar dentro do meu corpo agora. Por pura sorte consegui me safar. Neste exato momento era para vocês terem entrado aqui e terem encontrado meu corpo morto, em cima da cama, com a flecha atravessada no pescoço, com o sangue fresco escorrendo. E, provavelmente, com um “M.E.” pintado na parede, ou talvez na minha testa, com meu próprio sangue. Afinal, isso é a marca que ele está deixando em cada pessoa que mata.
Hermione e Rony escutavam as palavras melancólicas e perturbadas do amigo em silêncio. Harry indicou com a cabeça a linha quebrada no chão.
-Era um mecanismo perfeitamente planejado para eu morrer. Quando eu sentasse na cama, a linha quebrava e a flecha se soltava. Como eu já disse, por sorte, eu estava muito cansado e joguei-me deitado na cama.
Harry guardou a flecha dentro das vestes e olhou para os amigos.
-Agora vamos. Os outros alunos não demorarão a chegar. Não queria que eles vissem essa flecha. Iriam estranhar.
Já iam saindo do dormitório quando Rony, intrigado, resolveu perguntar:
-Harry... Quem é esse “ele” que deixa as letras “M.E.” nos corpos da vítima, como você mesmo disse agora a pouco?
-Espere um pouco, Rony. Vamos até um lugar mais reservado para conversarmos melhor.
* * *
Os três passaram rapidamente pela sala comunal da Grifinória. Com a pressa que estavam, e com as mentes atormentadas pelo atentado que Harry acabara de sofrer, nem perceberam o par de olhos que os observava com concentração, principalmente a garota e o jovem de cabelos ruivos.
Para Úrsula, Harry Potter não era o centro das atenções.
Sua mira era Hermione Granger. Seu troféu, Rony Weasley.
* * *
Os três estavam reunidos em um círculo, num canto afastado do jardim da escola. Harry relatara tudo para Rony: quem era Michael Evans, porque ele era considerado uma “lenda viva”, a conversa que ouvira no vestiário entre Snape e Michael.
-Essa história é realmente assombrosa – comentou Rony, passando a mão nos cabelos vermelhos. – Mas você não acha que ele vai querer matar a gente, vai?
-Você viu, Rony, ele tentou me matar hoje mesmo! – exclamou Harry.
-Mas por que ele iria querer te matar?
-Ele é louco, Rony! Ele vai matar qualquer pessoa, sem motivo algum. O professor Snape foi assassinado por alguma vingança, pois eu ouvi a conversa no vestiário que deixava isso claro. Mas ele não tinha motivo nenhum para matar a Pansy. A presa que se tornar acessível, ele mata.
-Ele também pode ter tentado te matar pelo fato de que você sabe muita coisa a respeito dele – sugeriu Hermione.
-Então, se for por saber demais, esse seu novo amigo, Baker, também está correndo riscos, Harry – opinou Rony. – E agora... – a voz do garoto falhou – eu e a Mione também estamos!
-Não pense que você está ameaçado somente a partir de agora, Rony – falou Harry, decidido. – Desde que Michael Evans saiu daquele amuleto, todos nós estamos correndo riscos. Qualquer um da escola pode morrer em qualquer momento.
Os três permaneceram em silêncio por um minuto ou dois. Harry retomou a conversa.
-Eu acho que devemos investigar e descobrir quem encontrou o amuleto e está com a alma de Michael Evans.
Hermione bateu os braços.
-Está vendo? Era por isso que eu tentei evitar que você lesse aquele livro e descobrisse quem era Michael Evans! Eu sabia, Harry, que, se você soubesse, iria querer enfrentar o perigo de ir atrás dele.
-Mas, Mione! – disse Harry, mudando o tom de voz. – Você acha que devemos deixar esse louco eliminando todos da escola? Ele tentou me matar, Mione! E logo tentará matar vocês também.
-Deixe as investigações com os professores, Harry – falou a menina. – Por favor, não tem porque se metermos nessa história.
-Me desculpe, Hermione, mas eu tentarei encontrar esse assassino, sim! Teremos muitas chances a mais de encontra-lo. Estamos infiltrados no meio dos alunos e, se ele for um, vai ser moleza.
-Espera aí! – exclamou Rony. – Talvez ele não seja um aluno?
-Como eu tinha dito, ele pode ser qualquer um. Até um dos professores.
-Pronto, outro motivo para não nos arriscarmos! Michael Evans não vai se revelar facilmente. Não temos idéia de quem é ele. Podemos estar conversando com algum colega de classe sem saber que ele é Michael Evans.
-Para isso, poderemos dar um jeito – murmurou Harry.
-Ah, é, e como? – indagou Hermione, incrédula.
-Aguarde uma próxima ação do Michael Evans – disse Harry. – Dependendo de como ele agir, posso colocar minha idéia em ação.
-Era só o que faltava – balbuciou Rony. – Agora você vai me deixar morto de curiosidade.
-Eu estou dizendo que vai dar tudo certo, Mione, pode acreditar.
Hermione observava o amigo.
-Esse seu espírito aventureiro às vezes me assusta, Harry. Você tem consciência de todo mal que Michael Evans pode causar, mas mesmo assim quer enfrenta-lo. Mas, já que você considera importante procura-lo, eu vou ajudar você em tudo o que precisar.
Harry sorriu para a amiga.
-Eu também vou ajudar. Mas já estou imaginando o que esse Michael vai querer fazer com a gente ao descobrir que estamos atrás dele. Enquanto ele não nos matar, não vai sossegar. E...
Rony parou abruptamente. Algo tinha se mexido no arbusto logo atrás deles. Rony empalideceu e sentiu o corpo estremecer. Harry começou a suar frio. As pernas de Hermione bambeavam, como se um frio de quarenta graus negativos tomasse conta de seu corpo.
As palavras saíram como sussurros, em um tom sinistro...
-Avada Kedavra!
Os três se jogaram rapidamente no chão, para desviar do feixe de luz mortal que sairia da varinha. Todos fecharam os olhos. Esperavam, amedrontados e imóveis, o que viria a seguir.
-Há! Há! Há!
Risadas. Altas gargalhadas. Harry, Rony e Hermione abriram lentamente os olhos. Endireitaram o corpo com a mesma lentidão. E, finalmente, viraram, totalmente encabulados, para as três pessoas que riam alto.
Eram eles. Draco Malfoy, Kevin Wallace, Crabbe e Goyle.
Harry, Mione e Rony se entreolharam. Os três estavam com a sensação de serem os bruxos mais estúpidos do planeta.
-Não tem graça! – falou Harry, pausadamente.
Os quatro, ignorando o comentário de Harry, continuavam a rir, quase perdendo o fôlego.
-Eu vou morrer de tanto rir! – falou Kevin, resfolegando.
-Quem dera que isso fosse possível – murmurou Rony, com raiva.
-Se o verdadeiro “Avada Kedavra” não fosse uma Maldição Imperdoável, eu a lançaria sobre cada um de vocês com o maior prazer – vociferou Hermione, enquanto limpava a barra das vestes, que estavam sujas de terra.
-Fique quieta, sua sangue-ruim! – falou Draco, com malvadez. – Estava tremendo de medo de morrer e agora quer dar uma de corajosa?
Hermione fechou ainda mais a cara.
-Aliás, quem era esse tal de Michael Evans que vocês têm tanto medo?
-Não te interessa! – bradou Rony.
Harry suspirou de alívio. Se Draco não sabia quem era Michael, era porque não tinha escutado a conversa dos três desde o início.
Wallace deu um passo a frente. Sob a luz do luar, seu rosto parecia ficar mais pálido do que o de costume.
-Eu sei quem é Michael Evans, Draco – disse ele, com a voz carregada de arrogância. – Mas ele é apenas uma lenda. Mas, claro que, para criancinhas, as lendas são verdadeiras.
Draco, Crabbe e Goyle riram da piada mesquinha de Wallace.
-Um dia você vai ter que engolir tudo o que disse agora – desafiou Harry. – Você vai ver como nós, como você disse, “criancinhas”, estamos certos. Mas aí vai ser tarde demais.
Wallace se aproximou de Harry com as sobrancelhas franzidas.
-Isto, por acaso, é alguma ameaça, Potter?
Harry encarou-o fixamente nos olhos.
-Encare como quiser, Wallace. Mas lembre-se bem do que eu disse.
Tudo permaneceu em silêncio por alguns segundos. Kevin e Harry se encaravam. Os outros observavam, atônitos. Quem quebrou o silêncio estarrecedor foram os estômagos de Crabbe e Goyle, que roncaram alto.
-Draco, não é melhor irmos jantar? – perguntou Crabbe.
Draco olhou para os dois, depois para Kevin, e disse:
-É melhor irmos sim. Vamos, Kevin. Pare de perder seu tempo com essas crianças. Vamos jantar. É mais interessante.
Kevin tirou os olhos de Harry e virou-se, sem antes deixar de dizer:
-Você ainda vai me pagar por ter me desafiado, Potter. Você vai ver.
Os quatro sumiram na escuridão quando entraram no castelo. Harry virou-se para Rony e Hermione, que sorriam.
-Você foi ótimo, Harry – aplaudiu Hermione. – Não demonstrou medo nenhum para aquele idiota do Kevin Wallace!
-É, mas você o viu te ameaçando também, não viu, Harry?
-É, Rony, ele me ameaçou – disse Harry, a voz perdendo um pouco da segurança. – O problema é descobrir se quem me ameaçou foi Kevin Wallace ou Michael Evans.
Rony e Hermione aproximaram-se do amigo.
-Você acha que o Kevin é o Michael Evans? – perguntou Rony, com a voz fraca.
-Como eu disse, por enquanto temos que desconfiar de todo mundo – falou Harry. – E eu acho que o Kevin pode ser Michael Evans simplesmente pelo fato de que ele quer que a gente ache que a história de Evans foi uma lenda. Porém, se ele não for Michael, ele realmente acha que tudo é uma verdadeira mentira.
-Não entendi o que você disse, Harry – ressalvou Hermione. – Você falou que só temos que desconfiar de todo mundo “por enquanto”. Por que?
-Você vai ver, Mione. Como eu já tinha falado, para a minha idéia se concretizar, só devemos esperar que o Michael ataque de novo. Dependendo da forma como ele atacar, é claro.
Rony e Hermione ficaram algum tempo pensativos, olhando para o céu estrelado, como se tentassem decifrar o que se passava pela cabeça de Harry.
-Bom, acho melhor irmos jantar agora – sugeriu Harry. – Senão, logo nossas barrigas vão roncar, que nem as panças do Crabbe e do Goyle.
Os três sorriram e começaram a caminhar em direção ao castelo. Quando entravam no saguão de entrada, Harry avistou Cho Chang, encostada junto a parede, conversando com um colega. Harry sentiu uma pontada de ciúme, mas continuou a caminhar de cabeça erguida, como se não tivesse visto nada.
Tentando reprimir sua raiva, ele comentou com Rony e Hermione, ao ver, da porta, que o Salão Principal estava cheio.
-Talvez a minha idéia possa ser colocada em prática hoje mesmo – murmurou ele, misteriosamente.
Enquanto se encaminhavam para a mesa da Grifinória, não repararam nos olhos cheios de rancor de Úrsula, que os olhava com atenção, não gostando nada da conversa que Rony travava com Hermione.
Com raiva, a garota se levantou da mesa, largando um pouco do jantar. Com seu sorriso bondoso e seus cabelos dourados, conseguia disfarçar a raiva.
Com descrição, Úrsula saiu do Salão Principal. Encostada junto a porta, verificou se tinha alguém olhando e fez sinal para Draco Malfoy, que jantava na mesa da Sonserina.
Draco só viu a menina quando levantou o olhar. O garoto não entendeu porque aquela aluna da Grifinória o chamava tanto. Mas, com curiosidade e fascinado pela beleza da garota, Draco resolveu atender ao chamado. Quando largou os talheres e começou a se levantar, Kevin, Crabbe e Goyle estranharam.
-Aonde vai, Draco? – perguntou Kevin, com curiosidade.
-Não preciso dar satisfações para vocês – argumentou Draco. – Eu vou pro lugar que eu quiser.
Draco saiu da mesa e, com passos largos, logo chegou até a saída do Salão Principal. Úrsula não estava mais lá. O garoto olhou pros lados. Úrsula estava encostada num canto.
-O que você quer comigo, princesa? – perguntou Draco, lançando seu charme.
Úrsula deu um tapa na cara do garoto. Com o impacto, o corpo de Draco bambeou.
-Deixa de ser abusado! – reclamou ela.
Draco passou a mão pelo rosto dolorido.
-Quem você pensa que é para me dar um tapa, garota? – perguntou Draco. – Você sabe quem sou eu?
-Sei, e daí? – perguntou Úrsula. – Mas garanto que você não sabe quem eu sou.
Draco fez um sinal negativo com a cabeça.
-Eu sou Úrsula Hubbard – falou a jovem, mexendo suavemente nos cabelos dourados.
-Ah, já ouvi falar na sua família – respondeu Draco, com voz amarga. – Os Hubbard são ricos, mas também são muito babacas.
-É, eu concordo – falou Úrsula, surpreendendo Draco pela resposta. – Um bando de tontos que não sabem o que quererem da vida. Mas eu sou a única exceção daquela família.
-Estou gostando do seu jeito sabia? – falou Malfoy, com um sorriso. – Mas estou realmente surpreso. Você parecia tão doce, tão boazinha...
-Nem tudo é o que parece, Draco. Não que eu seja uma pessoa ruim, mas preciso me fazer de boazinha para alcançar o que eu quero.
Draco sorriu ainda mais.
-Nossa, estou surpreso. Mas, por que precisa de mim?
-Por que você pode ser muito útil para mim. Você pode me ajudar a alcançar os meus objetivos. E eu posso ajudar você a alcançar os seus.
-É, uma proposta interessante – murmurou Draco, coçando o queixo. – E, por acaso, você sabe quais são os meus objetivos?
-Quem não sabe? Eu sei que você odeia o Harry Potter. Eu posso ajudá-lo a destruí-lo.
-Ah, ta bom, e como?
-Você sabe muito bem que Gina Weasley é apaixonada pelo Harry. Harry a ignora, mas tenho certeza que no fundo ele a ama. Tenho experiência. Quando Gina começar a ignorá-lo, ele vai perceber que gosta dela.
-Então você...
-Vou ajudar você a conquistar Gina Weasley. Quando Harry perceber que a menina está gamada em você, ficará furioso e perceberá o quanto gosta de Gina. Mas será tarde, pois ela estará apaixonada por você.
Draco deu uma risada.
-Que ótimo! Harry ficará fulo da vida!
-Mas, para que eu possa te ajudar, utilizando a minha “bondade” excessiva, você vai ter que me ajudar a conquistar o irmão de Gina, Rony Weasley.
Draco segurou a risada. “Como uma garota como essa pode gostar daquele pobretão?”, pensou.
-Ah, e como eu vou fazer com que ele goste de você? – perguntou, disfarçando a graça que tinha achado.
-Está na cara que ele e a Hermione se amam, mas não têm coragem de se confessarem. Para que ele olhe para mim, você tem que arranjar um jeito de tirar a Granger de meu caminho.
Draco ficou um ou dois minutos pensativo, e depois, sorrindo, falou:
-Já sei como! Mas, para isso, precisarei da ajuda de meu amigo, Kevin Wallace. Será que você topa?
-Tudo bem – resmungou Úrsula. – Mas só ele. E não precisa contar todo o nosso plano para esse garoto. Só o essencial.
Draco estendeu a mão pálida para a garota:
-Então a nossa aliança está feita?
-Claro – disse Úrsula, apertando a mão estendida do jovem. – Mas lembre-se: tudo tem que ficar em segredo.
-Pode deixar – disse Draco, se retirando.
O rapaz já ia saindo quando estancou de repente e virou-se para Úrsula.
-E se um dos dois planos ou os dois não derem certo?
-Fique sossegado. Eu já tenho um ás na manga.
Os dois trocaram seus sorrisos sinistros. Draco voltou ao Salão Principal, enquanto Úrsula continuou encostada na parede, voltando novamente a fazer sua face angelical.
* * *
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