"A lenda viva"



Harry nunca tinha estado no salão comunal da Corvinal. Por isso, foi praticamente guiado pelo caminho inteiro por Christian. O garoto, vendo que Harry estava perdido, não pôde deixar de zombar.
-Não posso acreditar que o intrometido Harry Potter não sabe onde é a sala comunal da Corvinal.
Harry nem respondeu. Aquele menino já estava lhe dando nos nervos. Mas não podia brigar com ele agora. Precisava saber quem era Michael Evans, e aquele garoto parecia ter todas as respostas que ele desejava.
Naquele momento, os dois subiam uma longa escada circular, iluminada nas paredes por grandes e luminosas tochas de fogo. No meio da escada um vento suave bateu no rosto de Harry. A escada logo chegou ao fim, e eles saíram em um corredor bem amplo, decorado com diversas estátuas. Havia estátuas de cavaleiros, gárgulas e bruxos. Harry não pôde deixar de perceber que os bruxos tinham feições extremamente humanas, e logo notou que eram baseados nas feições dos fundadores de Hogwarts.
Os quatro estavam lá. A estátua de Slitheryn era imponente. Os olhos estavam fundidos numa expressão fria e arrogante. Na parte de baixo da estátua estavam os dizeres, numa pequena placa de prata: Salazar Slitheryn – Sonserina. Ao lado da de Slitheryn, estava a de Ravenclaw e a de Gryffindor. Godric Gryffindor segurava em suas mãos uma espada, que Harry logo reconheceu como a que, no segundo ano, havia retirado do Chapéu Seletor.
Harry parou. Chris olhava fixo para a estátua de Rowena Ravenclaw, passando a mão pela cabeça, em dúvida.
-Qual é a senha mesmo? – perguntou para si mesmo.
-Era só o que me faltava! – reclamou Harry, batendo as mãos. – Veio até aqui, ando tudo isso, e quando chego na entrada da sua sala comunal, você consegue esquecer a senha!
Harry, chocado, passava a mão pela cabeça. Chris sorriu ao ver a expressão de Harry. Olhou para Corvinal e disse:
-Limão azedo.
A estátua, sem sair do chão, foi para o lado, dando passagem para os dois alunos.
-Obrigado por ter me inspirado – provocou Chris. – Sem o seu agradável humor, eu não teria lembrado do limão azedo. Aliás, essa senha é a sua cara, sabia?
Os dois entraram na sala comunal. Harry constatou que era do mesmo tamanho que a da Grifinória. Havia diversas poltronas e uma mesa num canto. A lareira estava sem fogo. Tinha uma largura um pouco maior que a da sala comunal da Grifinória.
-Vamos lá para cima – falou Chris. – Tenho tudo sobre Michael Evans lá no dormitório.
Harry obedeceu e seguiu o garoto. A porta da esquerda era das meninas e a da direita a dos meninos. Não havia escadas para os dormitórios. A parte de cima era utilizada como continuidade da sala comunal. Era um ambiente agradável onde os alunos podiam conversar ou estudar.
Harry entrou no dormitório. Chris foi até sua cama e tirou uma pasta plastificada que estava escondida embaixo. Colocou a pasta sobre a cama. Harry, que estava em pé logo ao lado, leu na capa os dizeres: “MICHAEL EVANS”.
-Por que você tem essa pasta, Chris? – perguntou Harry sem compreender. – Você teve que fazer algum trabalho sobre ele é isso?
-Não, Potter, eu tenho essa pasta por vontade própria – admitiu o garoto. – Há anos recolho todo o tipo de material que sai na imprensa bruxa sobre o Michael. Além disso, tenho dois livros em que Michael está citado.
Harry continuava sem entender.
-Mas, por que tudo isso?
-Quando eu era pequeno, meus pais às vezes citavam em conversas o nome de Michael. Falavam dele como se ele fosse alguém que realmente tivesse existido. Porém, quando perguntei para eles quem era Michael Evans, eles insistiram em dizer que ele era uma lenda. Mas era tudo demasiado intrigante. Escutava-os falando sobre Michael de vez em quando, e o tratavam como alguém que conhecia. Fiquei muito intrigado. Como eles poderiam conhecer Michael se ele era uma lenda? Como sabia que nunca encontraria a resposta verdadeira dessa pergunta por eles, decidi pesquisar. Fucei nas revistas e jornais que tinha lá em casa. Procurei em diversos números do “Semanário dos Bruxos”, do “Profeta Diário”, do “Pasquim”, do “Mundo Mágico”, entre outros... Encontrei poucas coisas, mas o bastante para eu iniciar esta pasta. Com as reportagens, que se resumiam a pequenos artigos, descobri alguns elementos sobre a história dele. E, curioso, todos diziam que ele era uma lenda. Mas eu nunca acreditei. Até hoje procurava algo que provasse para mim que a maldição de Michael Evans não era apenas uma lenda. Acreditava fielmente que um dia algo ia me provar sua existência. Até que houve o assassinato da Pansy Parkinson, marcado com as iniciais “M.E.”. Eram as iniciais de Michael. A Marca Negra também provava que era ele. Agora acredito na sua existência e que a maldição não é simplesmente uma lenda. Ele existe. E agora está aqui na escola. Matando. E, se quer saber, ele vai continuar.
Harry sentou-se na cama, boquiaberto.
-E... por que Michael está matando os alunos da escola? Por que você acha que ele vai continuar matando?
-Por que eu sei que ele é cruel, Harry – falou Chris, com a voz fraca. – O motivo exato de tanta maldade eu desconheço, já que, como lhe falei, tudo o que diz respeito a ele é muito pouco. Nada se fala sobre o porque da maldade de Michael. Mas lá já está bem claro que ele não tem nada de “bonzinho”.
-Será que eu posso dar uma olhada no que você tem aí? – perguntou Harry, indicando a pasta preta.
-Claro – respondeu Chris. – Tenho aqui algumas coisas que falam sobre a “lenda” de Michael Evans, embora ele não tenha nada de lenda.
Chris abriu a pasta.
A primeira página tinha um desenho de um jovem de olhos vermelhos, sobrancelhas franzidas, de ar sinistro, com uma varinha nas mãos. Ao lado do desenho estava a assinatura do pintor: “Christian Baker”.
-Foi você quem fez esse desenho?
-Que pergunta tola, Harry! – riu Chris. – Quem mais seria Christian Baker?
-Copiou-o de algum lugar? – perguntou Harry.
-Não, eu mesmo fiz. Somente segui as descrições de Michael e o desenhei. Os olhos vermelhos que transmitem a maldade, o olhar que já e capaz de amedrontar a pessoa mais corajosa do mundo... Tudo isso está contido aí, neste desenho.
Harry virou a folha. Na outra, estava um recorte do “Semanário dos Bruxos”.

“Hogwarts cheia de mistérios”
Quem imaginava que a Câmara Secreta da escola era apenas uma lenda, se enganou: ela realmente existia, como foi comprovado por todos que estudam e trabalham na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Depois de diversos alunos terem virado pedra, as suspeitas sobre a veracidade da câmara aumentaram. Ontem, ela foi realmente encontrada na escola. Comenta-se que o local exato de entrada é um dos sanitários.
Isso nos leva a pensar que as lendas às vezes podem realmente existir. Hogwarts ainda possuí uma outra lenda que foi bastante famosa há anos atrás: a de Michael Evans. Segundo a lenda, Michael foi um aluno de Hogwarts que teve a alma aprisionada em um amuleto pelo Lord das Trevas. Voldemort o teria escolhido por causa de sua maldade. O amuleto estaria escondido nos terrenos da escola, e quem o encontrasse libertaria a alma negra de Michael, que tomaria conta do corpo do individuo.
Parece mentira, mas, como se provou com a lendária Câmara Secreta, as lendas podem ser reais. Muito mais reais do que possamos imaginar.
Por Listeryn Star


-Uma alma presa em um amuleto por Voldemort – balbuciou Harry, pasmo. – Esse garoto não deve ter sido nada bonzinho.
-Claro que não – falou Christian. – Ele era mau. Eu te disse.
-Uma alma presa em um amuleto... Então, quer dizer, que alguém da escola encontrou o amuleto e teve a alma substituída pela de Michael? Mas... Então... Ai, droga! Então Michael está no corpo de alguém?
-Exatamente.
-Então ele pode ser qualquer um de nós...
-Sim. Eu posso ser Michael Evans, você pode ser, um de meus amigos pode ser, ou até algum professor. Qualquer um pode ser Michael Evans.
-Mas é só percebermos alguma mudança de comportamento em alguém! – exclamou Harry, entusiasmado. – Será fácil descobrir quem é Michael!
Chris balançou os ombros.
-Duvido muito que será fácil. Voldemort não o escolheu de bobeira. Michael deve ser muito mais esperto do que nós imaginamos. Com certeza sabe fingir muito bem.
Harry levantou-se da cama, inquieto:
-Olha, Christian, será que não estamos atrás de uma lenda? Essa história está um tanto... sombria demais. Pode ser que algum aluno deixou aquelas iniciais nos corpos para que todos pensem que foi o Michael! Deve ser alguém tirando sarro da nossa cara! Alguém que queria brincar de ser Michael Evans.
-Tenho certeza de que o Michael está solto pela escola, Harry – falou Chris, decidido. – Não é somente pelo “M.E.” deixado nos corpos. Tem outras evidências que levam á acreditar que foi Michael Evans quem matou aqueles dois.
Chris se abaixou e tirou um livro de debaixo da cama. Limpou a poeira que havia se acumulado na capa e depositou-o sobre a cama, ao lado da pasta. O título era justamente o livro que Harry não havia conseguido pegar na biblioteca: “Lendas do Mundo Mágico”.
-Tentei pegar esse livro na biblioteca hoje, na hora do almoço – falou Harry para Chris. – Mas não consegui. Madame Pince disse que estava proibida de emprestar o livro por Dumbledore. Disse-me que os motivos eram confidenciais.
-Está aí, a primeira evidência de que é o verdadeiro Michael quem está matando. Se Madame Pince o proibiu de pegar o livro, é porque ele fala da vida do Michael. Eles não querem que nenhum aluno esteja sabendo sobre a Lenda de Michael Evans.
Chris continuava folheando o livro, afoito. Finalmente pareceu encontrar o que queria.
-Aqui está, Harry! – exclamou o garoto. – Apesar de ter somente poucas linhas, é o relato mais completo sobre o Michael. Leia!
Harry apanhou o livro da mão do garoto. Na parte de cima, em destaque, estava escrito: “Lendas escolares do mundo mágico”. Logo abaixo estava um quadro, com “Michael Evans” escrito em destaque.

Nascido em Torquay, Inglaterra, Michael Evans iniciou sua vida escolar em Hogwarts, aos onze anos. Aluno aplicado, inteligente, Michael nunca chamava a atenção de nenhum aluno. Era solitário, sem amigos.
A vida do jovem mudou quando desapareceu durante o período letivo. Buscas foram feitas nos terrenos da escola, até que o corpo do aluno foi encontrado, sem vida. Michael não tinha sequer uma gota de sangue e estava com o rosto pálido. Isso levou as pessoas a criarem histórias e uma lenda. Diz a lenda que a alma de Michael foi presa num antigo amuleto, que traz a Marca Negra como símbolo, por Lord Voldemort, que estava em plena ativa na época.
Voldemort teria escondido o amuleto e lançado-lhe uma maldição. Quem o encontrasse seria o possuidor da alma de Michael Evans. Quando o amuleto fosse encontrado, a Marca Negra brilharia no céu com grande intensidade. Conta-se que, para tamanho efeito, o amuleto teria que ser encontrado durante uma noite de lua cheia. Segundo a lenda, Michael era cruel, não tendo nada a ver com a personalidade de pessoa boa que aparentava ter.
Até hoje, alguns bruxos que estudaram em Hogwarts têm o costume de que quando uma pessoa muda de comportamento, soltar as frases: “Deve ser a maldição de Michael”, ou “Você deve estar possuído pela alma de Evans”.
Durante o passar dos anos, a lenda de Michael Evans foi perdendo o impacto e a fama. Atualmente, muitos alunos de Hogwarts nem conhecem a lenda que proliferou há anos atrás no castelo.


Harry olhou para o rosto de Chris, que esperava sua reação.
-Então Michael Evans realmente existiu?
-Sim, mas atualmente poucos acreditam nisso – falou Chris. – O caso foi abafado pelos diretores de Hogwarts na época. Como a lenda de Michael se espalhou, alguns livros, como este, aceitaram a história lendária. Os jornais não publicaram, dizendo que só fariam tal coisa se comprovassem a morte do aluno.
-O enterro de Michael também foi sigiloso?
-Deve ter sido. Talvez os Evans quisessem privacidade, e também relutassem na publicação da morte prematura do filho adolescente.Além disso, estavam espalhando que Michael era cruel. Acho que eles não queriam que tal coisa se espalhasse.
-Ele realmente é uma “lenda viva” – comentou Harry. – Por isso o chama assim?
-Exatamente. Uma lenda viva. Por isso levei a sério a história do amuleto.Tinha certeza que ele tinha existido, só não sabia se a lenda era verdadeira. Afinal, uma alma presa em um amuleto parece um tanto estranho. Mas agora consegui a confirmação. A lenda era real.
Harry começou a andar de um lado para o outro do dormitório, pensativo.
-Então, – começou – quem criou a lenda, porque ela não deve ter saído do nada, devia saber toda a história e devia ter certeza de que era verdade.
-Também acho – concordou Chris, coçando o queixo. – A lenda tem alguns detalhes muito claros. Alguém devia saber e a história foi se espalhando pela escola, que aos poucos tomou ares de lenda. Ninguém teria inventado uma história que é real.
Harry balançou a cabeça. Naquele instante, a porta do dormitório se abriu com um baque.
Harry gritou. Chris também. O livro despencou no chão.
-Estava procurando por você, Chris.
Na porta, estava um garoto baixo, de cabelos bem lisos e pele pálida. Usava óculos de aros grossos e tinha a voz rouca. Harry logo reconheceu, pela voz, como o garoto que havia gritado “É o Harry Potter!”, para os colegas no jardim.
O magrelo começou a entrar.
-Vim te avisar que não teremos a próxima aula, e...
O garoto parou subitamente, ao ver quem estava perto de Christian. De repente, a expressão leve do rosto do menino foi substituída por uma de intenso pavor.
-Olha, só vim dizer isso, mesmo – falou, fraquejando a voz. – Eu já... tenho que ir. Até logo.
E saiu em disparada, o corpo magro sacolejando. Ao sair, bateu a porta com um baque um pouco menor do que o da entrada. Harry desviou o olhar da porta para Chris:
-Já percebi que todos vão imaginar que o culpado pelas mortes fui eu – disse Harry.
-Não se preocupe. Encontraremos Michael Evans. Você terá sua inocência provada. A propósito, você me prometeu contar sobre a conversa que ouviu no vestiário.
-Tem razão – disse Harry, sorrindo. – Ia me esquecendo. Mas vou logo dizendo que foi realmente uma conversa um tanto confusa.
-Pode começar. Estou super-ansioso! – exclamou o jovem Chris.
Harry começou a contar tudo o que tinha ouvido no vestiário. Relatou nos mínimos detalhes a discussão entre os dois bruxos, e o tom de voz daquele que havia matado Snape: jovem e fria.
-Só pode ser a voz do Michael... fria e cruel – comentou Chris, quando Harry havia terminado.
-Será que era a voz é dele ou de quem ele está no corpo?
-Acredito que seja a dele – falou Chris, coçando a cabeça. – Quem sabe ele não tenha a capacidade de usar as duas vozes?
Os dois permaneceram em silêncio por alguns segundos. Depois desse instante de hesitação, Harry levantou-se da cama.
-Bom, acho melhor eu ir. Tenho que ver se minhas aulas também foram canceladas e ir limpar a minha roupa. Não quero que mais ninguém me veja com a roupa manchada de sangue.
-Tudo bem. Qualquer coisa que descobrir, venha me contar. Farei o mesmo quando souber de alguma coisa importante sobre Michael.
Harry sorriu para Chris e saiu:
-Até logo, Chris.
Harry passou correndo pelo salão principal da Corvinal. Percebeu que os alunos que se encontravam
lá o olharam com desconfiança, mas resolveu ignorar.
Passou pelas estátuas dos fundadores de Hogwarts e depois desceu a escada circular. O ventinho arrepiou sua nuca e ele sorriu. Passou em disparada pelos corredores e seguiu diretamente para o salão comunal da Grifinória.
Chegou até a Mulher Gorda, que o olhou com certa desconfiança pelo horário em que ele se encontrava lá em cima, e foi diretamente até o dormitório, onde trocou de roupa. Ao esconder as vestes manchadas de sangue, suspirou.
Olhou o relógio. Dali a alguns minutos, os alunos da Grifinória apareceriam. Resolveu esticar as pernas na cama, descansando o corpo cansado.
Jogou-se na cama e, numa fração de segundos, sentiu algo passar velozmente rente ao seu corpo. Harry sentiu o coração disparar. O que havia sido aquilo?
O garoto sentou-se na cama e virou-se para a parede logo atrás dele. Uma pequena flecha estava cravada na parede. Era dourada e parecia ser muito pontiaguda. Harry, recuperando o fôlego aos poucos, pegou a flecha. Realmente, a ponta era bastante afiada, capaz de perfurar o pescoço de qualquer pessoa. Mas é claro...
“Essa flecha estava preparada para perfurar o meu pescoço!”, pensou ele, boquiaberto. O dormitório estava um pouco escuro, mas ele tinha certeza de estar sozinho, já que a porta estava fechada. De onde teria saído aquela flecha mortal?
Harry seguiu em linha reta, da onde ela teria saído. No canto, na parede escura, do lado extremo de sua cama, estava uma linha quebrada. A outra ponta da linha estava abaixo de sua cama. Harry entendeu tudo. Era um mecanismo perfeitamente preparado para que, quando ele sentasse na cama, a linha quebrasse, liberando, com o impacto, a flecha que estava presa nela. Conseqüentemente, a flecha perfuraria o corpo de Harry. A sorte do garoto foi ter deitado de uma vez. Se tivesse sentado na cama, estaria morto.
Em pânico, Harry abriu rapidamente a porta do dormitório. Sentiu-se repentinamente inseguro. Foi quando trombou violentamente com outra pessoa.
Harry berrou.

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