A lista negra



Harry observou de longe, enquanto comia um peixe grelhado, o retorno de Draco, que se encaminhou diretamente para a mesa da Sonserina, com um discreto sorriso transpassando-lhe os lábios.
-O que será que deixou Malfoy tão feliz? – murmurou Harry, intrigado.
-Você está pensando que ele pode ser Michael Evans? – perguntou Hermione.
-Não sei, talvez... Mas, mesmo se não for, deve estar tramando alguma coisa. Esse sorriso dele não me engana nem um pouco.
O resto do jantar transcorreu normalmente. Enquanto comia seu pudim de chocolate, Harry levantou os olhos para a mesa de Dumbledore, que batia numa taça dourada, pedindo atenção.
Quando o salão inteiro silenciou-se, o que não demorou muito, Dumbledore começou a falar:
-Caros alunos, como vocês já sabem, hoje foi um dia trágico. Durante a manhã, encontramos o corpo de uma aluna, Pansy Parkinson, na sala de Poções. Mais tarde, encontramos morto o Professor de Poções, Severo Snape, assassinado brutalmente. Enfim, foi um dia terrível. Felizmente, ninguém mais foi morto. Mas, eu imploro para cada um de vocês que fiquem atentos. Quando não estiverem em aula, permaneçam em suas salas comunais. Ao caminharem pelos corredores, permaneçam em grupo. Fiquem alerta a qualquer movimento suspeito. Não confiem em ninguém que não conheçam, mesmo que seja outro aluno. Vocês são em grande número, e não poderemos vigiar cada um em específico. Por favor, vigiem.
O salão inteiro mergulhou em profundo silêncio. Dumbledore, após um ou dois minutos, continuou a falar:
-Por favor, eu vou pedir para que os seguintes alunos se apresentarem aqui na frente. Depois explicarei o motivo. Por favor: Hermione Granger, Kevin Wallace, Vicent Crabbe, Harry Potter, Gina Weasley, Cho Chang, Christian Baker, James Smith, Ronald Weasley, Charles Sheppard, Jennifer Yumi, Laurie Sawyer, Dino Thomas, Draco Malfoy e Parvati e Padma Patil.
Houve uma movimentação no Salão Principal. Os alunos que haviam sido chamados empalideceram, sem compreender o por quê daquilo tudo.
Apreensivos, eles levantaram-se, envolvidos pelos olhares curiosos dos outros alunos.
Quando todos estavam em frente à mesa dos professores, Dumbledore sorriu, fitando-os, e disse:
-O que tenho para lhes falar tem que ser falado reservadamente. Por favor, peço que vocês me acompanhem até a sala logo ali atrás.
O diretor virou-se para Jane, a professora de Defesa contra as Artes das Trevas e para Hagrid.
-Por favor, peço que vocês dois também me acompanhem.
Os dois professores ficaram com olhares tão atônitos quanto o dos alunos.
-Por aqui – indicou Dumbledore.
Os alunos deram a volta na mesa e começaram a entrar na sala. Christian aproximou-se de Harry e zombou, como parecia gostar de fazer:
-E então, será que o excelentíssimo Sr. Harry Potter não sabe por que estamos sendo chamados? Afinal, todos sabem que você e seus amigos são o “xodó” do diretor.
-Não, Christian, eu não sei – murmurou Harry, com desânimo. – Aliás, eu não estou muito para brincadeiras. Quando voltei para a sala comunal da Grifinória, depois de nossa conversa, sofri uma tentativa de assassinato.
Christian arregalou os olhos.
-Nossa, Harry! Como foi que aconteceu? Foi ele que tentou te matar
Seguiu-se a isso uma breve explicação sobre o incidente com a flecha dourada. Christian ouviu o relato com atenção, soltando em alguns momentos alguns “oh!”, tamanho era o assombro que parecia sentir.
Enquanto isso, Rony olhava de esguelha para Draco, Kevin e Crabbe, que pareciam estar zombando dele. Crabbe estava impaciente, talvez estranhando a falta de Goyle, seu inseparável amigo. Draco E Kevin, ao contrário, pareciam estar se divertindo muito, rindo de todos, inclusive da professora Jane, que usava um enorme chapéu escarlate.
Dumbledore permanecia aos cochichos com Hagrid. Pela feição do guarda-caça, Harry supôs que não vinha coisa boa pela frente. Dumbledore pigarreou, pedindo atenção e, quando obteve o silêncio que esperava, começou a discursar, com a voz forçadamente serena:
-Vou resolver rapidamente a curiosidade de vocês sobre o que estão fazendo aqui. Suponho que alguns até já sabem ao que essa convocação está relacionada. Ela tem a ver com os crimes ocorridos no dia de hoje, aqui na escola.
Christian e Harry se entreolharam, um pouco entusiasmados.
-Eu encontrei este pequeno pedaço de pergaminho na saída de minha sala – continuou o diretor. – Com uma distinta caligrafia, muito clara e perfeita, a pessoa escreveu algumas ameaças para alguns alunos e professores da escola. E, infelizmente, as ameaças são destinadas a cada um de vocês.
Dessa vez, o silêncio foi fúnebre. O suor escorria de cada um dos rostos.
Depois de um ou dois minutos daquele silêncio estarrecedor, Dumbledore continuou:
-Sei que é um grande choque para vocês. Mas preciso continuar. Bem, como eu estava dizendo, essa pessoa escreveu ameaças. Ele escreveu o nome de cada um de vocês na frente de cada uma das ameaças. Acima da folha está a inscrição VÍTIMAS, em letra maiúscula.
Novo silêncio. Novos arrepios. Novos suspiros.
-Será que o senhor não pode ler tudo o que está escrito nesta folha? – perguntou Harry.
-Claro – respondeu o diretor, olhando para o garoto.
Dumbledore ajeitou os óculos de meia-lua e começou a ler o pergaminho ameaçador:

VÍTIMAS
Hermione Granger – fecharás os olhos e não despertarás. O sono da morte te dominará.
Kevin Wallace – nada de profano irás dizer, pois, dominado de sangue, não conseguirás viver.
Vincent Crabbe –de teu pecado viveis, de teu pecado morrereis. Pelo teu pecado te condenareis.
Harry Potter – por ter escapado, sua morte será um enigma ainda maior, mais envolvente. Assim ocorrerá com qualquer sobrevivente.
Gina Weasley – cabelos cor de fogo, sangue cor de fogo. Ambos se misturarão, tu não terás perdão.
Cho Chang – de lâminas afiadas ele é formado. Ele gira rapidamente. Tome muito cuidado, quando o sol se pôr no Oriente.
Christian Baker – aquilo que mais utilizaste, trará seu calvário, sua dor.
James Smith – tu irás morrer, na escuridão, sem sangue te deixarei, sem dó te matarei.
Ronald Weasley – sua morte será feita com minhas próprias mãos.
Charles Sheppard – tu honrarás teu lar e por causa dele morrerás.
Jennifer Yumi – de sua descendência vem a inteligência. Use-a para tentar descobrir como morrerás, pois eu não direi.
Laurie Sawyer – Seu corpo será tomado pelo veneno, após a picada cheia de dor.
Jane Reynolds – sangrarão suas tripas, sob um sol ardente, seu sangue às gramíneas se misturará.
Dino Thomas – ar, ar, ar... Onde estarás? O procurarás e não o encontrarás.
Rúbeo Hagrid – alcançarás a dor por meio do que mais gostaste.
Draco Malfoy – como dispuseste de máscaras para viver, assim, também, por elas, irás morrer.
Parvati e Padma Patil – Não terei dó. Serão dois coelhos com uma cajadada só.

“Ao redor desses existem outros enigmas. Mas adianto que nenhum de vocês irá sobreviver. Eu sou implacável. A maldição – Dumbledore fez uma pausa na leitura, como se tivesse pulado alguma parte, que Harry presumiu que fosse ‘de Michael’ – acaba de se abater sobre vocês”.


Todos estavam chocados demais para qualquer comentário. Harry olhou para Rony e Hermione, depois olhou para cada uma das pessoas que estavam naquela sala. Todos pareciam ter a mesma expressão amedrontada.
-Ele vai matar cada um de nós, Harry – murmurou Chris. – Estamos perdidos.
-Estamos mesmo... – falou Harry.
-E o pior é que nossas prováveis mortes foram transformadas em enigmas... – argumentou Hermione, inconformada. – Alguns até com rima! O que ele quer? Zombar da gente?
-Pra ele até parece que isso tudo é uma forma de diversão – disse Rony.
Jennifer, James e Laurie se aproximaram do grupinho, que era formado por Harry, Rony, Hermione e Christian.
-Vão me dizer que vocês também estão pensando a mesma coisa que o Christian? – perguntou Laurie, com sarcasmo. – Francamente, não é possível...
-Mas você teima que tudo é uma besteira, não é, Laurie? – falou Christian. – Você, o James e a Jennifer não acreditam mesmo em mim!
-Não podemos acreditar em uma lenda, Chris – falou James.
Chris ia responder novamente, quando uma voz grossa e alta começou a pedir a atenção do Professor Dumbledore. Harry virou-se para ver quem era. Era um jovem de estatura mediana, cabelos castanhos e olhos pretos. Era Charles Sheppard, um aluno que, conforme as vestes indicavam, era da Sonserina.
Dumbledore, que conversava com a igualmente nervosa Professora Jane, franziu as sobrancelhas ao perceber que estava sendo chamado. Fez um gentil sinal para a professora esperar um pouco e olhou para Charles.
-O que deseja, por favor – falou o diretor.
Charles hesitou por uns instantes, ao ver que toda a atenção se voltava para ele, mas resolveu perguntar:
-É que... Eu queria saber se vocês já têm alguma idéia sobre quem é essa pessoa que está matando tanto. Afinal, ela sempre deixa as letras M.E. nos corpos, e agora deixou na folha com o nome das futuras vítimas.
Dumbledore olhou discretamente para Hagrid e Jane. Depois disso, voltou ao olhar para o aluno novamente.
-Bem, a gente não sabe quem é o assassino, não – falou ele, tentando parecer convincente. – Talvez sejam iniciais, talvez não. Mas... vamos deixar isso para lá. Que tal tomarmos alguma coisa para refrescar as idéias?
Harry, Rony, Hermione e Christian estavam boquiabertos.
-Ele mentiu – murmurou Hermione, atônita.
-Eu falei que tudo isso não tinha nada a ver com Michael Evans – salientou Laurie.
-Como você é inocente! – exclamou Chris. – Na certa, ele não falou a verdade porque quer esconde-la. Ele sabe que quem está fazendo tudo isso é o Michael Evans.
-E por que teria mentido? – indagou Jennifer.
-Ele não quer que ninguém saiba dessa história – explicou Harry. – Eu, por exemplo, fui procurar na biblioteca o livro “Lendas do Mundo Mágico” e não encontrei. Madame Pince disse que não podia me contar porque os alunos não podiam ter acesso ao livro. Mas a explicação é simples: porque, conforme Chris me contou, uma parte falava sobre Michael Evans.
-Então ainda acham que ele existe? – perguntou James em tom zombador.
-Nós não achamos – respondeu Rony, com voz firme. – Infelizmente, nós temos certeza.
Hagrid, que havia saído para buscar uma jarra de suco de abóbora no Salão Principal, conforme pedido pelo Professor Dumbledore, acabava de entrar na saleta, com a jarra dourada segura em suas mãos enormes.
Jane pegou a jarra das mãos do gigante e foi colocando o suco em cada um dos copos. Harry, de uma certa distância, balançou a cabeça.
-Isso é completamente ridículo. Patético... – murmurou ele.
-O que é tão patético? – perguntou Mione.
-Esse teatro que o Professor Dumbledore, o Hagrid e a Professora Jane estão fazendo! Estão tentando disfarçar. Inventaram essa história de suco para mudar de assunto, quando o aluno da Sonserina fez aquela pergunta.
Jane terminou de colocar o suco nos dezenove copos que estavam dispostos na mesa. Arrumou-os numa bandeja e começou a servir. Dumbledore e Hagrid pegaram rapidamente os seus copos. Jane foi servindo os alunos. Todos aceitaram a bebida, afinal o calor na sala era terrível.
-Bem que vocês podiam servir uma cerveja amanteigada bem gelada – reclamou Kevin. – Você também não acha, Draco?
Malfoy não respondeu. Estava completamente em transe, desde que o diretor leu sua sentença na folha. Kevin deu um cutucão no menino, que pareceu ser despertado de um sonho.
-Ah... O que? O que você disse?
-Parece que você ficou com muito medo daquela ameaça, Draco... – falou Kevin, rindo.
-Eu? Com medo? Imagina... – desconversou o rapaz. – Eu sou muito corajoso para me sentir ameaçado por um pedaço velho de pergaminho.
Draco pegou o copo de suco.
-Mas será que não podiam servir cerveja amanteigada? Mas que droga!
-Está vendo como você está mal? – falou Kevin. – Eu tinha acabado de falar isso e você nem percebeu!
-Você é muito medroso, Draco – disse Crabbe, passando a mão na pança, antes de pegar, com muito prazer, o copo oferecido pela professora.
Draco ignorou o comentário. Puxou Kevin pelo braço e afastou-se de Crabbe. Quando se afastaram, deu um gole na bebida e virou-se para Kevin:
-Depois tenho que conversar com você. É sobre um assunto particular. Terei que ajudar uma garota e você vai ter que colaborar também.
-Ah, e posso saber quem é?
-Úrsula Hubbard – cochichou Draco.
-Logo essa? Tudo bem, ela é linda, uma bela loirinha, mas é da Grifinória. E também é muito... melosa. Muito boazinha pro meu gosto.
-É o que você pensa – disse Draco. – Menina de ouro, vai ver só. E ouro podre, cruel, capaz de qualquer coisa para alcançar o que quer.
Kevin olhou de esguelha para Draco, mas abriu um sorriso, captando a informação.
-Uma menina má na Grifinória... Isso ainda pode nos ajudar – falou ele.
-Claro que pode, e vai. Vai mesmo. Com ela, Harry Potter vai virar pó – sibilou Draco, gargalhando, voltando para o lugar em que estavam anteriormente, sendo esperados por um Crabbe nada feliz por ter sido excluído da conversa.
Na outra ponta da sala, Cho Chang, Dino Thomas, Padma e Parvati conversavam. As garotas lançavam alguns olhares a Harry que pareceram zombadores ao seu ver. O que Cho estaria dizendo sobre ele? Será que num momento tão delicado ela não poderia se comportar mais adequadamente?
Dumbledore saiu discretamente da sala, quase trombando com Charles Sheppard, que caminhava com o copo na mão. O diretor deixou Hagrid e Jane atrás da mesa, com a função de ficar de olho nos alunos e tentar descontrair o ambiente.
Laurie, Jennifer, James e Christian se afastaram e se juntaram próximos á mesa. Gina Weasley estava em pé, encostada numa parede perto dali. Hermione, ao ver que a garota estava sozinha, pediu licença para Harry e Rony e foi até ela.
-Por que está sozinha, Gina? – perguntou ela, amavelmente.
-Ah, não tem motivo pra ficar sorrindo hoje. Estou ameaçada de morte e o Harry nem olhou para minha cara desde que entramos aqui.
-Um dia ele ainda vai olhar pra você. Pode esperar.
Crabbe, guloso como sempre, terminou de tomar o suco de abóbora rapidamente, e foi atrás de outro copo. Draco e Kevin balançaram a cabeça ao verem a cena.
-Por isso que o tal assassino falou que ele ia morrer pela gula – falou Kevin, com desprezo. – Ele não pára. Acabou de jantar lá no salão e, agora que veio pra cá, fica enchendo a cara de suco.
Só havia um copo cheio na mesa, em cima da bandeja. Crabbe disfarçou um pouco, olhou para os lados para ver se alguém estava olhando e o pegou.
Escondeu o copo debaixo das vestes e, quando chegou perto dos amigos, começou a beber compulsivamente, sem parar nem para respirar.
Draco olhou para a mesa.
-Que pena, Crabbe, o suco acabou. Não tem mais nenhum copo lá. Vai ter que se contentar somente com isso.
Naquele instante, Hagrid pediu silêncio e avisou:
-É melhor irem para as suas salas comunais. Daqui a pouco vai ser tarde, e o Professor Dumbledore não quer nenhum aluno, principalmente vocês, andando sozinhos pelo castelo.
Os alunos já iam saindo da sala, quando um grito de sofrimento, que parecia ter saído do fundo da alma, ecoou pelas paredes, acompanhado de um barulho forte de vidro se quebrando.
Todos se apavoraram, procurando de onde vinha o grito. Draco e Kevin estavam de joelhos no chão, balançando o corpo inerte de Crabbe, inquietos e assustados.
Os alunos estavam abismados. Hagrid e a Professora Jane pediram licença e aproximaram-se, aflitos, do corpo de Crabbe.
Jane ajoelhou-se ao lado de Crabbe. Segurando seu corpo enorme, tentou sentir o pulso do garoto. Foi em vão. Ela, pálida, olhou para Draco e Kevin. Respirou fundo e deu a sentença, que já era de se esperar.
-Por incrível que pareça, ele está morto. Não há nada que possamos fazer.
Draco e Kevin ficaram com os rostos vermelhos, mas, como se chorar ferisse a dignidade de alguém, pareciam segurar a dor.
-Vamos leva-lo para Madame Pomfrey – falou Hagrid, que estava com o rosto brilhante de suor. – Ela poderá nos dizer o que houve com o garoto.
Hagrid, com suas mãos enormes, ergueu, sem a ajuda de ninguém, o corpo sem vida de Crabbe.
Os alunos, atônitos, o seguiram. Harry, Rony, Christian e Hermione, ao contrário, ficaram dentro da sala, parados. Harry, subitamente, virou-se para a mesa e apanhou o pedaço de pergaminho que o assassino tinha enviado para Dumbledore.
Procurou o nome de Crabbe e leu:

Vincent Crabbe –de teu pecado viveis, de teu pecado morrereis. Pelo teu pecado te condenareis.

-O maior pecado de Crabbe era a gula – disse ele, levantando os olhos para os colegas. – A gula, para os trouxas, é um dos sete pecados capitais.
-Então... Você acha que ele está seguindo o que escreveu na folha, é isso? – perguntou Rony, com certo temor.
-Sim. Está seguindo direitinho. E vai cumprir cada promessa que fez nesta folha. Para cada um de nós.

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