Memórias




- Onde estão Hermione... E Lupin?
A pergunta ecoou nos ouvidos de Harry num volume absurdo, fazendo sinfonia com o som distinto da chuva que se tornava mais fraco batendo nos vidros avermelhados do lugar.
Os sons.
Aqueles ruídos mínimos que passavam imperceptíveis aos ouvidos do grupo agora martelavam na cabeça de Harry, obrigando-o a fechar os olhos com força na tentativa de pará-los.
Vozes vinham de todos os lados, e em seguida a escuridão já conhecida por ele.

- Harry você está bem? – perguntou Gina vendo a palidez em seu rosto. Não houve tempo para respostas, pois o garoto foi sugado em direção ao chão sendo aparado pelos braços da ruiva. Gina o colocou levemente no assoalho frio enquanto gritava seu nome desesperada. Todos circundavam o garoto tentando reanima-lo, mas nada parecia funcionar. Elisabeth se afastara do grupo e olhava a sua volta como se procurasse algo além daquelas paredes. Algo que ela sabia que estava ali, espreitando.
Enquanto essa procura da mulher não resultava em nada. Harry se contorcia no chão com espasmos tomando-lhe o corpo.

Harry abriu os olhos com relutância, no fundo sabia o que lhe estava acontecendo e o medo de descobrir as lembranças que agora veria lhe obrigavam a ter cautela.
Ao olhar a sua volta o garoto deparou-se com uma sala totalmente redonda. Uma escada de madeira em espiral levava ao nível superior, onde vários livros podiam ser vistos dispostos nas prateleiras em ordem alfabética.
No primeiro nível havia mais prateleiras e uma enorme mesa em seu centro com um candelabro onde duas velas queimavam já pela metade. O lugar encontrava-se na penumbra, apenas iluminado pelas velas e dois archotes que iluminavam cantos opostos.
Um som de passos atraiu sua atenção para o segundo piso e ele viu Dumbledore. O diretor, mais novo, descia as escadas levando uma pilha de livros suspensos a sua frente. Ele colocou os livros sobre a mesa e com um leve aceno da varinha eles começaram a folhearem sozinhos procurando algo importante, ou ao menos parecia para Harry já que ele conhecia muito bem aquelas rugas do diretor no meio dos olhos.
Harry aproximou-se a fim de ver o que tanto prendia atenção do mais velho. E foi neste instante que a porta da sala abriu-se bruscamente.
Elisabeth entrou no lugar com violência, batendo a porta atrás de si. Ela apontava a varinha na direção de Dumbledore. Encontrava-se com os cabelos desgrenhados e toda vestida de branco.
“O hospital... Então foi pra cá que ela veio quando fugiu do hospital.” – concluiu Harry.
A mulher caminhou com passos largos até o diretor que olhou com certo interesse.
- Elisabeth... É bom saber que se libertou daquele lugar.
- Onde está meu filho? – a mulher apertava a varinha com tanta força que Harry conseguia enxergar as veias soltando em suas mãos pálidas. Dumbledore não respondeu apenas se virou e caminhou até a escada calmamente. – Seu filho da mãe... NÃO VIRE AS COSTAS PRA MIM! – Ele parou e tornou a olhá-la.
- O que quer que eu diga?! Se você já sabe a resposta?!
- Eu quero ouvir dessa tua boca imunda. Onde está meu filho?
- Elisabeth, acalme-se. Ele está seguro. Ele está na Ordem.
- Traga-o de volta, agora mesmo!
- Não posso...
- PORQUE NÃO! VAMOS, EU QUERO VÊ-LO AGORA! Ou eu juro que acabo com a sua vida seu velho desgraçado.
- Se realmente quisesse me matar teria o feito a um minuto atrás quando entrou por aquela porta. – a voz de Dumbledore continuava calma o que deixava a mulher mais irritada. Ela não respondeu. O ódio em seu olhar falava por si. - Apenas pense nos inocentes que salvamos ao usá-lo para atrair seu pai. Ao fazê-lo acreditar que Sam era realmente o amuleto de que tanto precisava.
- Como é que é? – ela soltou uma risada irônica – Pensar nos inocentes? Que inocentes? Meu filho era inocente, e o que você fez?! Você o jogou pros abutres como um pedaço de carne podre. VOCÊ ME ENOJA! VOCÊ ME FAZ LEMBRAR PORQUE ME AFASTEI DISSO TUDO! VOCÊ É UM MERDA... UM NADA...UM...
- CONTROLE-SE ELISABETH! – a voz do professor ecoou no lugar fazendo a chama das velas tremeluzirem, tamanho seu poder. Em seguida ele voltou ao tom normal – Sam não é o único inocente que tivemos que por em risco pra salvar a comunidade mágica. Nós salvamos toda uma comunidade, isso são milhares de bruxos em todos os cantos da Terra. E você só consegue pensar em seu filho?! Se não tivéssemos feito o que fizemos, seu filho não estaria vivo. Ele está a salvo na Ordem e isso é a única que precisa saber! – Dumbledore finalizou a conversa e voltou até as escadas subindo-as devagar. Elisabeth foi até a base da escada e gritando falou para um Dumbledore que não parecia ouvi-la.
- A ORDEM É UMA MENTIRA! VOCÊS FALAM DE TODAS AS PESSOAS QUE SALVARAM E QUANTO AS PESSOAS QUE FERIMOS? COMO OS GAROTINHOS DE QUATRO ANOS SE PERGUNTANDO PORQUE ELES FORAM ABANDONADOS?! ESTÁ ME OUVINDO? VOCÊS TODOS SÃO UMA MENTIRA! UMA MENTIRA! AAAHHHHHHHHHHHHH!!! – e girando sobre o corpo, um feixe de luz partiu da varinha da mulher e estourou os livros esquecidos em cima da mesa por um diretor que já não se encontrava mais na sala.
Harry desviou do jato com medo de ser atingido, sem lembrar que aquilo era apenas um memória. A mulher continuou destruindo o lugar com sua raiva. Primeiro foi uma cadeira, depois a própria mesa e em seguida a estante deixando um rombo em seu centro. Pedaços de papéis queimados voavam pela sala caindo lentamente no chão. Elisabeth perdera as forças e deixando o corpo se render sentou-se na ponta da escadaria chorando. Não o veria de novo. Nunca mais veria Sam. Não enquanto a Ordem estivesse com ele. Não enquanto fizessem de tudo para esconde-lo de sua mãe.
Harry olhou para aquela figura e sentiu uma vontade enorme de abraça-la. De dizer que acreditava no seu diretor que ele estava certo e isso tudo seria para o bem de Sam. Mas como dizer isso se ele mesmo não acreditava em suas próprias palavras? Harry não entendia porque aquele homem que o ajudou tanto pode agir de forma tão fria como o fez. A vontade de abraçá-la e dizer que sentia muito continuava forte em seu peito enquanto sua visão tornava-se turva pelas lágrimas que sem querer já lhe brotavam por trás dos óculos.
Ele se aproximou dela calmamente e agachou-se a sua frente. Harry olhou para os olhos da mulher que fitavam uma pulseira de prata. A mesma que reluzia no dia que seu padrinho foi preso. E sem saber porque ele olhou na mesma direção e percebeu que havia uma borboleta presa pela asa e que ela batia lentamente como se fizesse um vôo triste e solitário. Elisabeth agora chorava em silêncio e acariciava as asas da borboleta como se quisesse acalma-la. O garoto estendeu a mão e a colocou de leve sobre a mão da mulher sem conseguir senti-la. ‘É uma lembrança’ – falou a si mesmo quando sentiu tocar o nada ao invés da mão pretendida.
- Potter! – a voz de Elisabeth o chamou, ele a olhou, mas ela continuava na mesma posição. – Potter! – foi quando sentiu aquela náusea e o corpo ser puxado. Harry apertou os olhos e quando reabriu estava estirado no banco Gringotes com Elisabeth olhando-o. Ela estendeu a mão para ajuda-lo, e ao segurar sua mão, Harry viu a pulseira com a borboleta imóvel como um pingente comum. – Você assustou sua namorada.
- Gina?! Ela não é minha... – mas foi interrompido por várias janelas sendo quebradas ao mesmo tempo. Por elas, bruxos em suas vassouras entraram voando. No mesmo instante o grupo se juntou, varinhas em punho para se defender dos desconhecidos.

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