Cantarolando.




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Cantarolando.

Me diziam que eu cantarolava demais. Eu cantarolava no banho, cantarolava podando as minhas violetas, cantarolava fazendo o dever de casa, acabava cantarolando até mesmo fazendo os exames. E isso irritava a todos, principalmente á Lílian, que tentava estudar na biblioteca. Mas eu não conseguia mais me controlar. Digo, quando eu via, já estava cantando uma música qualquer baixinho, mas acaba incomodando de qualquer modo. Aquilo era um saco, e eu sempre era expulsa dos lugares. Digo, não tinha mais entrada permitida na biblioteca a não ser com um feitiço silenciador, seria informada por fora das reuniões do teatro e tinha que fazer as minhas refeições ou quieta ou conversando. Pelo jeito, ninguém mais agüentava ouvir a minha voz.Maldição.

Bom, assim eu fiquei durante meses. Até que, enquanto eu andava no corredor cantarolando “pretty girl” do sugarcult, alguém começou a cantarolar comigo. Uma vozinha baixa e tímida, mas grave, linda. Eu fiquei tentando achar a pessoa, mas o corredor em que eu estava permanecia vazio.

Recomecei a cantar e a pessoa continuou a cantar comigo. Olhei para trás parando rapidamente. Certo, aquilo era uma brincadeira de muito mau-gosto. Parei de caminhar e coloquei meus materiais no peitoril da janela, olhando o céu nublado através dos vidros.

-”And that’s what you get for falling again, you can never get him out of your head” - A pessoa continuava a cantar comigo, e meus ouvidos captaram que as duas vozes juntas ficavam realmente bem. Continuei a cantar [It’s the way, that he makes you feel, it’s the way, that he kisses you, it’s the way, that he makes you fall in Love] mais empolgada, mas a voz parou. Então eu vi os Marotos se aproximando no corredor e parei de cantar, corando. Céus, odiava quando me pegavam cantando empolgada. Era humilhante

-Hey Lice – Sirius me cumprimentou com um aceno da cabeça, assim como Tiago, Pedro e Remo. Eles eram engraçados. E desde que Marlene começara a namorar o primeiro da listinha de nomes aí em cima, bom, eu e Lílian somos praticamente obrigadas a passar parte do dia com todos eles. Deprimente, eu sei, mas se não é assim, agente quase nem fala com a Lene, e aí a coisa não funciona. Perder amiga pra namorado é barra, pode crer.

Pois é, mas tinha um menino com eles agora. Bonito. Bem bonito. Alto, mais alto que Sirius ainda, isso que ele era altíssimo – certo que eu media 1,57, mas eu tinha noção do que era alto e muito alto. Não ria da minha cara, sim? Não é fácil ser baixa, irritante e tão... Normal. Cabelos e olhos castanhos são normais. Pele clara por aqui é normal. Então eu sou normal de aparência e irritante de atitudes. É, certo. Já parei de falar. Esqueci de avisar que além de irritante, eu falo demais. Mais um defeito pra minha lista.

Pois bem, só que o rapazinho nem olhou pra mim. Não deu oi. Não disse nada. Nem um sorriso. Estúpido. Grosso. Odeio gente assim, antipática, arrogante, que acha que não precisa dar oi pra gente abaixo - não literalmente – dele. Detestei-o a partir daquele momento, descobrindo que seu nome era Frank Longbottom.

Ele começou a andar com os Marotos, e isso foi um problema pra mim. Eu não olhava para ele e ignorava-o, mas só a presença dele era irritante para mim. Eu sempre fui rancorosa, e aquela vez que ele me ignorara deliberadamente me zangara. Não deixei barato e ignorei-o também, chegando ás vezes a ser grosseira, como ele foi comigo. Ele não me dirigia a palavra ainda, e isso me deixava ainda mais irritada. Na realidade, eu nunca tinha ouvido a voz dele. O que era estranho, tanto tempo perto dele. Era só eu chegar perto e ele parava de falar, e eu achava aquilo ainda mais grosseiro. Ignorava-o, enfurecida.

Só que ao mesmo tempo, toda vez que eu estava sozinha cantarolando, aquela voz maravilhosa e tímida fazia dueto comigo. Era como um anjo que ficava perto de mim para eu não me sentir mais sozinha naquelas cantaroladas, quando as pessoas não me queriam perto. E eu ficava cada vez mais alegre com isso, procurando ficar sozinha para ouvir aquela voz de novo. Uma daquelas tardes eu estava á beira do lago cantando, então a voz, que anteriormente cantava comigo, agora me interrompia.

-Alice, Alice, deixa eu te dizer uma coisa – A voz disse e eu percebi que estava exatamente do meu lado. Eu estava tranqüila, e de algum jeito não queria saber quem estava ao meu lado. Não precisava saber. Só precisava saber que gostava daquilo, e gostava bastante, aliás. Não me sentia mais uma idiota solitária que cantarolava. Agora Lílian estava engajada numa batalha entre Amos Diggory e o Potter, que não podiam nem se olhar sem soltarem faíscas. Então eu ficava cada vez mais sozinha. Yeah, desse jeito viraria emo. Suspirei.

-Que foi? – Me virei para a voz, achando estranho falar sem ver com quem. Resignei-me, voltando a fitar o lago.

-Eu queria que dizer que venho te observado. E que não me incomodo com a sua cantoria. Apesar de acabar fazendo-o em horas inconvenientes para os outros, você canta bem – A voz tentava ser amigável. Meio que consoladora. – Mas eu não posso mais fazer isso com você. Além de que ficar cantando invisível por aí é estranho, principalmente para um garoto, e... Bem, isso é insano! E eu vou parar de fazer isso. Eu não devia nem ter começado. Me desculpe – Ouvi o som de passos na grama e senti frio. Um frio que veio de dentro e se instalou.

Isso sim era insano. Digo, eu não devia sentir isso. Eu me acostumara com aquela companhia, e gostara dela, me afeiçoara àquilo. E naquele momento tiravam aquilo de mim. Ele tirava. Ele quem? Me senti ainda mais tola por sentir falta de alguém que eu nem sabia quem era. Bizarro. Seria como sempre fora. Sempre. Eu cantarolando sozinha.

Foi aí que eu parei de cantarolar. Não quis mais. Não estava mais ansiosa, como sempre estive, então não precisava mais descontar a minha ansiedade naquela porcaria de cantoria. Eu finalmente comecei a ser aceita nos lugares com as pessoas, e o engraçado era que eu não me sentia bem como eu achei que me sentiria no momento em que conseguisse aquilo. Não era o que eu pensara que fosse, eles não eram legais, e normalmente criticavam se eu não fazia como eles queriam. Voltei a andar sozinha e, mesmo sem cantarolar mais nada, sabia que preferiria a música.

Um dia desses em um dos meus “passeios” sem rumo pelo colégio, ouvi vozes alteradas em uma briga. Uma voz feminina muito aguda, e uma masculina que eu pensei ser familiar. Me aproximei sem perceber e logo estava olhando o casal se brigando. Ela, loira, lufana e desconhecida. Ele, Frank Longbottom. Imediatamente achei estranho reconhecer a voz dele, mas devia tê-la ouvido em algum momento quando estávamos almoçando ou algo do gênero, já que agora eu ficava perto deles. Permaneci paralisada no chão ouvindo os dois brigarem, percebendo aonde suas palavras iriam levar.

-Eu já disse que acabou, Kirsten! Eu cansei disso, cansei do seu ciúme doentio, cansei do seu ciúme doentio pela Alice – Quando ele citou meu nome foi um baque. Por que diabos ela teria ciúmes de mim? Eu nem falava com ele. Não gostava dele. Achava-o antipático. Fiquei curiosa.

-Mas você vive falando dela pros seus amigos, vive escrevendo sobre ela e as iniciais dela! Eu já vi isso tudo, Frank. Não tente me dizer que era de brincadeira porque não era! Eu não estou louca, Frank, e é por isso que estou terminando contigo. Não é ciúme, é por saber que você está apaixonado por ela, e não por mim! Espero sinceramente que você não me queira mal, Frank, e que você consiga-a como quer. – Ela beijou o rosto dele e saiu sem me ver. Sábia, muito sábia, pelo jeito de falar ao menos. Mas, droga, o que ela disse era uma baita mentira. Ele não podia estar apaixonado por alguém que nunca tinha falado. A loirinha estava enganada.

Então Frank deu um giro no lugar, furioso, e deixou-se cair no chão sentado, apoiando as costas na parede de pedra. Passou a mão pelos cabelos e então olhou para o chão. E, para o meu espanto, começou a cantarolar alguma coisa, distraído, se levantando do chão e limpando as roupas.

Então eu reconheci.

-Você que é o garoto que ficava comigo cantando! Mas... Você? Por que você não me deu nem oi? Nunca falou comigo, e sempre ficava calado quando eu estava por perto? – Eu disse tudo muito repentinamente, minha voz ficando estridente por causa da raiva. Frank primeiro ficou surpreso, demorou alguns segundos para se recuperar, então me olhou calmamente, sem pressa nenhuma para falar. Tomou ar:

-Eu não podia falar porque queria ficar perto de você e ver como você era enquanto invisível, sem que você soubesse quem eu era, e se eu falasse com você junto com os Marotos você reconheceria minha voz. Já passei por isso antes. E desse jeito você estaria sendo totalmente sincera. Me desculpe por omitir a minha identidade desse jeito, eu não queria que fosse assim. Mas deu certo. – Ele disse e eu fiquei estarrecida. E mais curiosa ainda.

-O que deu certo?

-Isso de fingir ser outra pessoa. Você foi natural, e eu me apaixonei justamente por isso. Eu não queria, eu queria só ver se valia a pena. Desculpe por desconfiar de você. – Ele repetiu. Mas eu estava mais prestando atenção no ‘apaixonado’.

-Não, você não está apaixonado – Eu neguei olhando para ele. Ele riu da minha confusão.

-Sim, eu estou Alice. Com a sua confusão e tudo. Não era pra isso acontecer, mas acho que passei tempo demais com você. – Eu tinha certeza de que estava ficando branca.

-Lice, você ta bem? – Ele se aproximou de mim, mas eu recuei. E como uma criança assustada, eu corri para longe dali.

Fiquei evitando Frank durante semanas á fio. Ele obviamente estava bravo comigo por eu ter fugido daquela maneira. Deveria estar. Eu estaria. Mas era impossível ele gostar de mim daquele jeito que ele falava. Eu estava confusa. Uma parte minha dizia que ele estava me enganando, e a outra pulava de alegria. Alguém, ele, o garoto da voz maravilhosa, que perdia tardes perto dos amigos pra não me deixar sozinha, me fazer companhia, conversar comigo. O garoto que cantava as músicas mais tolas comigo só pra me fazer sentir mais confortável. Era estranho pra mim. Muito estranho.

Ao mesmo tempo, Lily veio correndo me dizer que o pessoal estava com saudade das minhas cantorias. Por incrível que pareça, a minha voz sempre cantando algo, a que antes chateava-os, agora os faz falta. E eu fui convidada a voltar a fazer o que eu fazia antes. Cantar.

Só que eu não conseguia mais. Não sozinha. E quando percebi isso eu fui falar com ele. Frank. Ele de algum jeito tinha roubado uma parte de mim com aquelas palavras simples. “Estou apaixonado por você” significava muito mais do que eu achava para mim. Do mesmo modo que aqueles duetos que fazíamos. Fui procurá-lo.

Frank estava na beira do lago embaixo de uma árvore, onde estivemos pela última vez antes de eu saber que era ele o garoto por trás da capa de invisibilidade. Sim, Tiago, agora com Lílian, me contara que Frank pedira a capa dele emprestada várias vezes, e que ele não sabia o por que. Mas eu sabia. Fui me aproximando do garoto bonito da voz maravilhosa, dando um sorriso.

Frank deu um sorriso genuíno pra mim, e eu vi que sentadinha atrás dele estava uma menininha loira, deveria estar no primeiro ano. Ela tinha os olhinhos avermelhados e marcas de lágrimas em volta dos olhos, mas agora tinha um sorriso no rosto, enquanto me via aproximar.

-É ela, Frank? – Eu ouvi ela perguntar baixinho pra ele. Ele sorriu e disse que sim, voltando a me olhar logo depois. Eu olhei para a menina.

-Oi, sou Sofie McFoster, prazer – Ela me disse sorridente, e eu apertei a mão dela – Você deve ser Alice Fillibet – Ela completou quando eu ia me apresentar, e eu fiquei meio surpresa.

-Como sabe meu nome? – Perguntei e ela soltou uma risadinha.

-Todo mundo sabe. Você é a menina da cantoria. O salão principal fica muito silencioso sem a sua voz, Alice – Ela disse gentilmente e eu sorri para ela. Frank fez sinal para que eu me sentasse do lado esquerdo dele, já que a menina se sentara no direito. Mas eu fui me sentar ao lado da garotinha.

-Quantos anos você tem? – Eu perguntei á ela.

-Onze.

-Novinha demais para estar interessada em Sirius Black definitivamente – Frank disse e ela corou batendo no braço dele. Olhei-a sorrindo.

-Isso é sério? – Eu perguntei e ela assentiu com a cabeça.

-É sim. Ele é tão lindo! – Ela argumentou, olhando de mim para ele – E você não tem moral, Frank, se apaixonou por uma menina sem nem deixar ela saber quem você era! – Ela disse e tampou a própria boca rapidamente quando Frank e a olhou repreensivamente – Desculpa, escapuliu.

Eu olhei para ele e o fitei insistentemente, até ele se voltar para mim. – Isso é sério, Frank? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.

-Eu estava exatamente explicando para ela que tem coisas que são impossíveis. – Ele falou desviando o olhar do meu. Eu dei um sorriso e passei um braço pelos ombros da menina, abraçando-a.

-Sabe, eu posso te apresentar ao Sirius. Mas você não vai gostar dele. Ele é muito velho e fedorento. Tem um menino que eu conheço, da sua idade, bem parecido com ele. E eu ouvi ele dizer outro dia que gostava bastante de você – Ela me olhou esperançosa.

-Sério? – Os olhinhos dela brilhavam. Frank então olhou para mim.

-Quem? – Ele perguntou como um irmão mais velho ciumento. Eu então olhei para frente e apontei para Marc Sullivan, um pequeno de cabelos escuros e olhos azuis, e um sorriso lindo. Ele era pequeno, mas quando crescesse com certeza seria a cópia de Sirius. A menina fez uma careta, franzindo o nariz.

-Mas ele puxa as minhas tranças, Alice. Ele não pode gostar de mim – Ela falou, mas foi interrompida. O menino, que estivera correndo e brincando de molhar os amigos, se aproximou dela, molhado também. Estendeu a mãozinha.

-Quer brincar com agente? Eu protejo você – Ele prometeu em confissão, e ela olhou para mim. Eu encorajei-a com o olhar e Frank me olhou, nos entreolhamos e ele olhou para ela, dando de ombros, como se dissesse “vai logo, se não tem jeito mesmo”. Ela pegou a mão do menino e saiu correndo com ele, e ele a fazia correr á sua frente, protegendo-a com o corpo dos jatos de água que os amigos lançavam neles.

-Sabe o que é uma pena? – Eu falei em voz alta. Frank ficou em silêncio, me olhando. – Eu estava prestes a dizer á ela que, ás vezes, o amor chega de jeitos inesperados – Eu me virei e fitei os olhos castanhos dele, que deu um sorriso de lado. E, menina, esse sorriso faz as minhas pernas virarem gelatina até hoje.

-Você acredita mesmo nisso ou era só pra encantar a menina? – Ele perguntou se aproximando de mim, sentando-se bem do meu lado. Eu sorri.

-”You’re just too good to be true, can’t take my eyes off of you…-Eu comecei e ele sorriu, me acompanhando.

-I love you baby, and if is quite all right, I need you baby, to warm the lonely nights, I love you baby, trust in me when I say - Ele cantou e logo haviam algumas pessoas ao nosso redor, ouvindo. Sofie, Marc e os amigos já tinham parado a brincadeira para observar.

-Oh pretty baby, don’t bring me down I pray, oh pretty baby, not that I found you, stay and let me love you baby, let me love you… - Cantamos juntos e nos beijamos, sob uma salva de aplausos e palmas de todos que estavam olhando (bastante gente, pode crer).

Eu tinha consciência de que aquilo era absolutamente clichê. Como em “High School Musical” ou “Greese, nos tempos da brilhantina”. Mas a minha declaração de amor foi um dueto cantado em um jardim em uma tarde preguiçosa. Assim era a minha vida. Clichê.

E nem por isso deixava de ser feliz.

A minha cantoria, junto com a dele, começou a ser requisitada no colégio. O que era maldição, acabou virando presente, e acabamos gravando um CD e abrindo uma espécie de rádio trouxa por alguns anos em Hogwarts, dando chance pra mais gente. Saímos de Hogwarts, casamos, tivemos um filho, que também gostava de cantarolar. Alguns anos depois fomos padrinhos do casamento de Sofie e Marc – mais clichê ainda, casando com o primeiro amor. Eu me consolava pensando que clichê podia não ser tão ruim assim. E pensando que sempre tinha alguém em situação pior. Como Marc e Sofie – afinal, quem se casa com o primeiro amor de quando tinha onze anos?

Eu só não percebi nada quando via o meu pequeno Neville brincando com a loira Lauren, filha de Remo e Dorcas. Inferno, aquilo seria clichê demais.

E foi.

Mas essa já é outra história. O que importa é que eu fui feliz.

Tudo isso graças ás minhas cantorias.

FIM!

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