Nariz Gelado.




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Nariz gelado.

-Marlene, eu não posso me levantar daqui! – Eu resmunguei quando ela me destampou. Busquei novamente o edredom, mas ele já estava bem longe do meu alcance. Eu estava tiritando de frio – Marlene, ninguém no mundo pode ser tão cruel quanto você. Você sabe que eu morro de frio – Aquilo não era mentira.

-Vamos tomar um chocolate quente e acabar com esse seu nariz gelado, Lily – Ela declarou colocando um sobretudo bege por sobre a roupa de sábado que ela colorara. Eu me levantei e fui tomar um banho quente, colocando uma roupa mais quente ainda – meia calça de lã sob a calça jeans justa, blusa de lá de gola alta vermelho-vinho e mais uma meia sobre a meia calça, tudo isso dentro de uma bota sem salto preta e enfiei as minhas mãos com luvas sem dedos nos bolsos do jeans claro. Eu morria de frio. E Marlene sabia, sabia que o meu maior frio era em um lugar que eu não podia cobrir. Eu tinha frio no meu nariz.

Era uma história longa. Minha tatara-tatara-tatara-tataravó foi amaldiçoada por uma bruxa feia porque ‘roubou’ o namorado dela, e a próxima Evans ruiva que nascesse teria esse problema de nariz gelado assim como a minha ancestral. Descobri isso na biblioteca no segundo ano, em “maldições antigas lançadas em trouxas”. É, livro estranho, eu sei. Fazer o quê. Bom, eu descobri isso e bem, eu sou a próxima Evans ruiva. Porque a minha mãe não nasceu Evans. Isso só porque a minha tatara-tatara-tatara-tataravó era ruiva. Essa era uma maldição absolutamente tosca. Mas era verdade. Era só o tempo esfriar e meu nariz virava gelo, e não havia o que o esquentasse. Impossível. Eu já tinha o colocado em água quente, fervendo, e nada adiantava. A temperatura era imutável. Eu teria que me acostumar.

Mas aquilo era extremamente incômodo, se você quer saber. Impossível de se acostumar. Aquela parte do meu corpo gelada me fazia ter frio o tempo todo. Eu pedi á Marlene para ir ao banheiro, e ela disse que me esperaria na mesa do salão principal. Eu assenti e fui.

Quando estava voltando pelo corredor do salão principal, resolvi tomar um atalho. E comecei a ouvir vozes discutindo em voz alta. Não era muito de meu feitio, mas ao perceber á quem as vozes pertenciam, fiquei imensamente curiosa. Sentei-me na esquina do corredor onde Sirius Black e Tiago Potter discutiam.

-Mas Sirius, eu não consigo mais esperar! Me irrita! Como é que ela não pode entender tudo que eu sinto por ela, visto que tenho exposto isso ao mundo durante todos esses anos! – Era a voz do Potter que dizia isso, impaciente, irritada, desapontada. Ele estava triste. E eu nunca o havia visto assim.

-Talvez você esteja mostrando isso do jeito errado, Pontas. A Lílian é tímida e você sabe disso melhor do que ninguém! Por que acha que ela gostaria de algo grande, como tudo que você planeja? – Sirius perguntou, e eu pude ver sua sombra se projetar pelo corredor. Me encolhi atrás de uma armadura.

-Porque eu sei que se ela gostasse de alguém, ela deveria gostar das coisas que a pessoa faz. E o meu jeito de dizer que a amo é esse. Se ela não gostar disso, nunca conseguirá gostar de mim, porque eu sou desse jeito - Ele disse e eu pude imaginá-lo passando a mão pelos cabelos, enquanto a outra pousava em sua cintura. Sua sombra me dizia que ele tinha feito aquilo, ao menos.

-Bom Pontas, então talvez você deva mudar por ela de novo. Apesar de eu não gostar muito desse novo Tiago, mais maduro e menos Maroto, acho que posso suportar isso se for por uma causa maior. E não poderia haver causa maior que a sua felicidade, mano. – Sirius bateu amigavelmente no braço de Potter, que deu um suspiro desanimado – Se você acha que é o que deve fazer, então o faça. Você mais do que ninguém merece ser feliz, e se a sua felicidade vai vir junto com aquela ruiva pros seus braços, então agente vai achar um jeito de amansá-la. – Tiago abraçou Sirius ao ouvir aquelas palavras.

-Valeu Pad’s. Te devo essa – Ele disse enquanto abraçava o outro. Eu me senti comovida. Será que ele gostava tanto assim de mim mesmo? Pronto, agora além de comovida eu estava tocada e confusa. Oh céus. Oh céus duplos. Oh droga. Ele está vindo.

Eu me levantei rapidamente dali, me dirigindo á saída do corredor, o lugar de onde eu vinha vindo antes de ouvir aquela conversa estranha. Corri para o salão principal, mas este já estava vazio, e sem comida alguma. Fui então até a cozinha, onde já entrei pedindo chocolate-quente. O “chocolate” para aplacar as minhas dúvidas e me acalmar, e o “quente” para aplacar meu frio e me esquentar. E talvez ambos juntos me dessem uma espinha e alguns quilos a mais, mas eu não ligava. Não naquele momento de extrema tensão.

Já estava pensando em começar a evitar o Potter deliberadamente, mais do que eu já evitava, quando o maldito retrato das frutas da cozinha se abre e o dito cujo entra por ali. Eu até tentei ficar meio escondida, mas os meus cabelos vermelhos e aquela maldita blusa não ajudavam. Ele sobrou o hálito quente nas mãos e esfregou-as, também com luvas pretas sem dedos. Então ajeitou os óculos, me viu e deu um sorriso largo, aquele que derretia o coração de qualquer garota. Até mesmo o meu.

Mas, diferente das outras garotas, aquele sorriso me causada arrepios na espinha, espalhando um calor gostoso pelo meu corpo. Apesar de ser calor, eu não queria mais sentir aquilo.

Potter se sentou no meu lado na mesa de madeira ao canto da cozinha, pedindo donuts de baunilha para um elfo que corria apressado com louças sujas do café nas mãos. Este assentiu e foi logo buscar para ele. Eu fui me levantando da mesa e me virando para a porta da cozinha quando o Potter pegou meu antebraço com a sua mão e me fez sentar de novo.

-Detesto comer sozinho. Por favor, fique aqui comigo – Ele pediu sem me olhar, e eu achei estranho. Fiquei sentadinha do lado dele bebendo o meu chocolate lentamente, quase queimando a língua de vez em quando, enquanto o Potter agora pegava dois donuts de baunilha e começava a comer.

Eu inconscientemente fui me aproximando dele. Me aproximei um pouquinho de nada só, inclinando o corpo, e logo me repreendi. O que eu estava fazendo? Logo percebi que o meu corpo tentava se esgueirar para o calor. Potter era quente, literalmente falando, é claro. O corpo dele emanava um calor aconchegante, e eu logo desisti de ficar ali passando frio e me sentei bem próxima a ele, me encolhendo contra o corpo cheio de casacos. Potter então me olhou e deu um sorriso. Não disse nada, somente colocou um braço por cima dos meus ombros e me aproximou de seu peito, que era infinitamente mais quente que os braços. Em pouco tempo eu estava quase completamente aquecida. Faltava ele. O meu maldito nariz.

-Você fica toda gelada assim mesmo ou é só hoje? – Ele perguntou sorrindo divertido para mim, mordendo mais um pedaço do donuts. Ele me ofereceu um pedaço e eu neguei com a cabeça.

-Sim, sou gelada o tempo inteiro. Dificilmente algo consegue me esquentar. Eu sofro no inverno – Revelei á ele e, sem querer, passei meu nariz pelo pescoço dele, que se arrepiou todo. Céus, ele cheirava bem. Nunca imaginava que diria aquilo, mas se tem um homem que é cheiroso nesse colégio, esse homem é o Potter. Incrível.

-Mas o que...? – Ele disse assim que o meu nariz roçou no pescoço dele, se afastando um pouco, num ato puramente instintivo. Então ele riu. – Lily, a ponta do seu nariz parece uma pedra de gelo – A surpresa dele era evidente. Então o Potter aproximou o rosto do meu, e eu só tive tempo de estremecer quando ele tocou a ponta do meu nariz com a ponta do nariz dele. Era um toque acolhedor e... Quente.

Senti algo rodopiar na boca do meu estômago e as minhas mãos suaram. Meu coração disparou quando a mão dele foi para a minha cintura, e a minha respiração ficou suspensa quando vi o Potter fechar os olhos e se aproximar mais ainda de mim. Então eu não vi mais nada enquanto os lábios dele tocavam os meus, mornos e doces da baunilha, e eu fechava os meus olhos e entreabria a minha boca quando ele levemente pediu passagem.

Eu enlacei o pescoço dele e, inspirando profundamente, colei o meu corpo ao dele, sentindo o calor que provinha dele. Potter enlaçou a minha cintura com as mãos e elas entraram, quentes, por baixo da minha blusa de lã, tocando a minha pele fria e fazendo-me sentir arrepios, esquentando-me. Em alguns minutos de beijo eu estava aquecida, da ponta dos pés á raiz do cabelo. Me soltei dele quando não tinha mais ar em meus pulmões, mas o Potter fez as nossas testas permanecerem coladas, nossos corpos juntos e nossos narizes se tocando. E não é que o malditinho também tava quente?

Santo Potter.

Sério, isso é estranho. Não é?

-Lily, eu devo ser classificado agora como “uma das únicas coisas que conseguem aquecer a enregelada Lily Evans” – Ele disse divertido, sua respiração quente e cheirando a baunilha me incitando a beijá-lo de novo. Me contive.

-Hum... Certo. Talvez você queira ser um pouco mais que isso – Eu o aproximei mais com os braços envolvendo o pescoço dele, dando um sorrisinho. Ele dissera que me amava. Ele causava todas aquelas sensações em mim. E agora eu percebia que não queria me afastar dele. Queria aquela sensação de carinho para sempre. Eu percebi que estava apaixonada por Tiago Potter, o garoto que eu jurara que odiaria para sempre. E o meu nariz gelado seria curado sempre que ele estivesse por perto. Adorei a idéia. O que antes era uma maldição, se tornara um presente. Que me trouxera e me manteria perto dele.

-Como assim? – Ele perguntou aturdido. Eu dei um selinho nele.

-Potter, me chama pra sair – Eu comandei e ele passou a mão nos cabelos, confusos. Eu dei um sorriso.

-Lily, quer sair comigo? - Ele perguntou e eu sorri, beijando-o profundamente, sentindo aqueles arrepios quentinhos pela minha cintura novamente.

-Só se você me pedir em namoro antes – Eu disse sorrindo e o sorriso dele se alargou. Demais. Parecia que Tiago (?) iria explodir.

-Lily, namora comigo? – Ele perguntou e eu dei uma risada alta.

-Só se você me beijar nesse momento e não deixar mais meu nariz congelar – Ele me beijou profundamente, expressando toda a felicidade que sentia. E eu retribuí, sentindo meu nariz já quente ser mantido naquela temperatura ao roçar a pele do Potter.

Ele cumpriu as condições do contrato. E meu nariz gelado estava curado. E todos nós conseguimos o que queríamos. O final feliz perfeito.

Isso se Harry não tivesse o maldito nariz gelado também.

Mas isso já é uma outra história.

FIM!

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