Discoteca.



A sessão do dia seguinte foi mais árdua. Com as brilhantes cores outonais do Central Park como fundo, as idéias que ocorreram a Neville foram variadas e cheias de energia. Tal e como Harry havia predito, o dia era luminoso e ensolarado. Folhas de tonalidades douradas e avermelhadas caíam das árvores e cobriam o chão. Com aquela variedade de tons, Gina posou, correu, jogou discos voadores, subiu em árvores, alimentou as pombas e trocou três vezes de trajes à medida que o dia ia passando. Ao longo da sessão, surpreendeu-se várias vezes procurando Harry, embora na realidade não o esperasse. A desilusão que sentiu por sua ausência a surpreendeu e a desagradou e se recordou que a vida seria muito mais tranqüila se nunca tivesse posto os olhos sobre certo homem moreno de olhos verdes.
-Alegre-se, Gina. Deixe de franzir o cenho - ordenou-lhe Neville, tirando-a assim de seus pensamentos. Com resolução, ela afastou Harry Potter de sua cabeça e se concentrou no trabalho.
Naquela noite, introduziu seu esgotado corpo na banheira e suspirou ao sentir como a água, cálida e perfumada, exercia seu efeito sobre seus doloridos músculos. «Graças a Deus que terminei até na segunda-feira», pensou.
Aquela série fotográfica era um projeto muito importante e haveria muitos dias mais como aquele. Além disso, aquele trabalho daria um grande impulso para sua carreira. Aparecer repetidamente em uma revista com a reputação e a qualidade do Mode daria a sua imagem um reconhecimento internacional. Além disso, com o apoio de Harry, teria dado um passo de gigante para converter-se em uma das melhores Top models do país.
De repente, franziu o cenho sem saber por que. « por que não me agrada essa perspectiva? Ter êxito em minha profissão é algo que eu sempre desejei...». Quando a imagem do Harry abriu passo em seus pensamentos, sacudiu a cabeça com ferocidade para fazê-la desaparecer.
—Não, você não —lhe disse em voz alta a sua imagem—. Não vou permitir que se introduza em meus pensamentos e confunda meus planos. Você é o imperador e eu sua humilde súdita. E vamos continuar assim.
Gina estava sentada com o Draco Malfoy em uma das discotecas mais populares de Nova Iorque. A música enchia todos os espaços, injetando o ambiente com seu ritmo enquanto que os efeitos de luz refletiam cores cambiantes sobre os bailarinos. Enquanto a música ia apropriando-se deles, Gina refletiu sobre as razões que tinha para que sua relação com o Draco continuasse sendo platônica.
Não que ela não gostasse da companhia masculina nem que não desfrutasse com os abraços ou os beijos de um homem. Sem que pudesse evitar, um par de olhos verdes de olhar zombador apareceu em seus pensamentos. Gina franziu o cenho.
Se estava longe das relações mais íntimas era porque ninguém a tinha interessado o suficientemente , não tinha encontrado ninguém interessante para um relacionamento de longo ou curto prazo. Até aquele momento, o amor a tinha evitado, algo pelo qual ela se sentia muito agradecida. Com o amor vinham os compromissos, compromissos que não se encaixavam com os planos que tinha para seu futuro imediato. Não. A relação com um homem lhe daria complicações e interferiria em sua organizada vida.
-É sempre um prazer sair com você, Gina - disse Draco, tirando-a assim de seus pensamentos.
Gina olhou para seu acompanhante e viu que ele sorria e que, continuando, olhava o copo que ela tinha entre as mãos desde que chegaram ao local.
-Além disso, sai-me tão barata.
Gina sorriu também e afastou seus pensamentos.
—Por muito que procurasse por aí, asseguro-o que não encontraria outra mulher que se preocupasse tanto pelo bem-estar de seu bolso.
—É certo —afirmou Draco. Então, suspirou e adotou uma atitude de grande tristeza—. Elas vêm por meu corpo ou por meu dinheiro. Você, minha doce Gina, não vai atrás de nenhuma das duas coisas —acrescentou enquanto lhe agarrava as mãos e as cobria de beijos—. Talvez se casasse comigo, amor de minha vida, e me permitisse afastá-la de toda esta decadência. Encontraríamos uma casa de campo rodeada de vinhas, teríamos 27 filhos e sentaríamos na mesa para almoçar e jantar todos os dias.
—Sabe que, se eu dissesse “sim”, cairia morto imediatamente, não é? —comentou ela, com um sorriso.
—Quando tem razão, tem razão —rebateu Draco—. Por isso, em vez de levá-la a uma casa de campo rodeada de vinhas, me conformarei levando-a à decadência.
Olhos cheios de admiração contemplaram à alta e esbelta mulher vestida com um traje muito azul. A saia de Gina tinha uma abertura o suficientemente atrevida para revelar longas e torneadas pernas enquanto girava e rebolava com seu acompanhante. Ambos possuíam uma graça natural para a dança e uma afinidade tal com a música que a presença do casal era esplendorosa sob a pista.
Terminaram a dança com um profundo e dramático movimento Draco baixou Gina até o chão. Quando ela voltou a ficar de pé, ria a gargalhadas pela excitação do momento.
Saíram da pista e retornaram a sua mesa. Draco tinha lhe rodeado os ombros com os braços. Entretanto, as risadas do Gina emudeceram quando se encontrou de frente com olhos verdes que a tinham perturbado poucos minutos antes.
—Olá, Gina —disse Harry, saudando-a de forma casual. A jovem se sentiu muito agradecida pelo fato de que o sistema de luzes a ajudasse a ocultar a mudança de cor que se produziu em seu rosto.
—Olá, senhor Potter — respondeu ela. Perguntou-se por que tinha começado a sentir uma sensação estranha no estômago ao vê-lo.
—Acredito que já conhece Cho.
—É obvio —afirmou ela ao perceber a presença da japonesa, chinesa, coreana, ou seja lá o que ela fosse. —. Me alegro de voltar a vê-la, Cho —acrescentou. Então, Gina se voltou para seu acompanhante e o apresentou também. Draco deu a mão a Harry com grande entusiasmo.
— Harry Potter? De verdade é você Harry Potter? —exclamou Draco, cheio de admiração.
—Não conheço nenhum outro —respondeu ele, com um sorriso.
-Por favor, unam-se a nós para tomar uma taça —sugeriu Draco enquanto indicava a mesa.
O sorriso de Harry se fez ainda mais amplo. Continuando, olhou para Gina, que estava fazendo tudo o possível por ocultar o desconforto que sentia.
-Sim, por favor -disse ela, com escrupulosa cortesia.
Olhou-o nos olhos diretamente, decidida a ganhar a batalha com os estranhos e pouco comuns sentimentos que lhe produzia a presença de Harry. Não obstante, quando olhou seu acompanhante, o desconforto se transformou em regozijo ao observar que Cho Chang se alegrava tão pouco quanto ela de estar em sua companhia. Talvez a incomodava ter que compartilhar Harry com alguém, embora fosse por um breve espaço de tempo.
—Os dois fizeram uma demonstração impressionante na pista de dança —comentou Harry—. Devem dançar muito freqüentemente para fazê-lo tão bem juntos.
—Não há melhor companheira que Gina —declarou Draco. Então, tocou brandamente a mão da jovem com grande afeto—. Ela é capaz de dançar com qualquer um.
-De verdade? -perguntou Harry-. Talvez me permita que lhe roube durante alguns momentos para comprová-lo por mim mesmo.
O pânico se apoderou de Gina e se refletiu em seus expressivos olhos. levantou-se com um sentimento de indignação quando Harry se aproximou dela e a ajudou a ficar de pé sem esperar que ela aceitasse.
—Pare de parecer uma mártir —sussurrou ele ao seu ouvido enquanto se aproximavam da pista de dança.
—Não seja ridículo —afirmou ela com admirável dignidade. Sentia-se furiosa por ele a conhecê-la tão facilmente.
A música ficou mais lenta, por isso Harry se colocou frente a frente com ela e a tomou entre seus braços. Ao sentir o contato, Gina sentiu o imediato reflexo de separar-se dele, embora se esforçasse para que não se notasse tanta a tensão. Harry tinha o torso firme, uma masculinidade avassaladora. O braço que lhe tinha colocado ao redor de sua cintura a mantinha próxima, tanto que seus corpos pareciam fundir-se enquanto se moviam pela pista de baile. Inconscientemente, ela tinha se posto nas pontas dos pés e tinha permitido que a bochecha descansasse ao lado da dele. O aroma que emanava do corpo do Harry assaltava seus sentidos e a fazia perguntar-se se teria tomado sua bebida com muita rapidez. O coração pulsava rapidamente contra o dele, por isso teve que se esforçar para seguir os passos que ele marcava.
—Devia ter imaginado que dançava bem —murmurou Harry, contra a orelha do Gina.
-Verdade? —replicou ela fazendo um grande esforço por manter um tom casual que não refletisse a excitação que experimentava ao notar a boca dele contra o lóbulo da orelha—. Por que?
—Pelo modo como caminha e como se move. Tem uma graça tão sensual, um ritmo tão natural...
Gina tentou de rir ao escutar aquele comentário quando olhou nos olhos de Harry. Entretanto, encontrou-se perdida neles, incapaz de articular qualquer palavra. Os lábios de ambos estavam a um suspiro de distância...
—Sempre acreditei que os olhos verdes eram como vastos campos —murmurou ela, consciente de que estava pondo voz a seus pensamentos—. Os seus parecem mas com florestas...
— Ameaçadores? —sugeriu ele sem deixar de olhá-la.
—Às vezes —sussurrou Gina, imersa no poder que emanava de Harry—.Nunca sei o que esperar...
— Não? —repôs enquanto lhe olhava os lábios—. Já deveria sabê-lo...
Gina lutou contra a fraqueza que a invadiu ao sentir aquela resposta e se aferrou à sofisticação.
— Mas bom, senhor Potter! Está tentando me seduzir no meio de uma pista de dança?
—Alguém deve aproveitar o que está disponível. Lhe ocorre outro lugar? —replicou ele.
—Sinto-o — desculpou-se ela. Então, girou a cabeça para que seus olhares já não se cruzassem—. Os dois estão comprometidos com outras pessoas. O musica terminou —acrescentou, com a intenção de soltar-se dele.
Harry não o permitiu. Estreitou-a com mais força contra seu corpo e voltou a lhe sussurrar ao ouvido.
—Não deixarei que vá, ate que pare de usar «senhor Potter» e comece a usar meu primeiro nome. Eu gosto assim -acrescentou, ao ver que ela não respondia—. É uma mulher destinada a estar entre os braços de um homem. De fato, encaixa perfeitamente nos meus.
—Muito bem —afirmou Gina, entre dentes—. Harry, se importaria de me soltar antes de que me esprema tanto que não possa me reconhecer?
—É obvio —replicou ele. Afrouxou a pressão, mas não a soltou—. Não vai dizer que estou a machucando, vai? —comentou, com um sorriso.
-Direi isso quando tirar uma radiografia.
—Duvido que seja tão frágil como você quer sugerir com essas palavras.
Enquanto a conduzia à mesa, ainda seguia rodeando-a com o braço. Reuniram-se com seus respectivos pares e o grupo conversou durante alguns minutos. Gina sentiu uma inconfundível hostilidade por parte da outra mulher, hostilidade a qual Harry não se deu conta ou preferiu ignorar. Não obstante, a jovem modelo se sentia muito incômoda. Sentiu um grande alívio quando o casal se levantou, depois que Harry recusou o convite de Draco para que tomassem outra taça. Cho mostrava um aborrecimento e não fazia nada por ocultar.
—Acho que Cho não gosta muito de discotecas —explicou Harry enquanto rodeava com um braço os ombros da morena. Imediatamente, Cho lhe dedicou um sorriso que era um convite descarado. De sua parte, Gina sentiu uma série de emoções que se negou a identificar como ciúmes—. Esta noite só veio para me agradar . Estou pensando em utilizar uma discoteca no projeto —disse a Gina, com um enigmático sorriso—. Acredito que foi uma sorte encontrá-la aqui esta noite, Gina. Assim vi muito mais claramente como organizar tudo. Até a segunda-feira, Gina —concluiu, enquanto ele e sua acompanhante se dispunham a partir.
— Até a segunda-feira? —repetiu Draco quando ficaram sozinhos uma vez mais—. Pequena … vejo que queria guardar o senhor Potter exclusivamente para você.
—Isso não é verdade —espetou ela, irritada pela conclusão a que Draco parecia ter chegado—. Nossa relação é estritamente profissional. Estou trabalhando para sua revista. Ele é meu chefe, nada mais.
—Muito bem, muito bem —disse Draco. Seu sorriso se fez ainda mais amplo ao ver a veemência com que Gina tinha negado tudo—. Não me corte a cabeça. É um equívoco lógico e eu não sou o único que pensou assim.
— Do que está falando?
-Minha doce Gina, acaso não percebeu como lhe cravavam as facas pelas costas enquanto estava dançando com seu famoso chefe? —perguntou. Ao ver que ela o olhava sem compreender, suspirou—. Sabe uma coisa? Depois de estar três anos vivendo em Nova Iorque, continua sendo muito ingênua. Uma certa japonesinha esteve lançando adagas com o olhar durante todo o tempo que esteve dançando. De fato, eu quase estava esperando que se desmoronasse em meio a um atoleiro de sangue a qualquer momento.
—Isso é absurdo —afirmou Gina—. Estou certa de que a senhorita Chang sabia muito bem que a única razão pela qual Harry estava dançando comigo foi para preparar seu maravilhoso projeto.
Draco a observou atentamente durante um instante. Então, sacudiu a cabeça.
—Como já disse antes, Gina, é incrivelmente ingênua.

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