Atleta
Enquanto o táxi se misturava com o tráfico, Gina sentiu que seus sentimentos estavam completamente revolucionados. Harry Potter era um homem incrivelmente atraente que poderia distraí-la muito facilmente. Além disso, havia algo nele que a turvava. A idéia de ter um contato profissional com ele a intranqüilizava profundamente.
«Eu não gosto», decidiu com uma firme inclinação de cabeça. «É muito seguro de si mesmo, muito arrogante, muito...».Tratou de procurar desesperadamente uma palavra. Físico. Embora a contra gosto, admitiu que Harry Potter era um homem muito sensual e que esse fato a punha nervosa. Não sentia desejo algum de que ele a incomodasse. Havia algo no modo como a olhava, algo no modo como seu corpo reagia quando estava perto dele.
Encolheu os ombros e começou a olhar pela janela. Não queria pensar nele. Melhor dizendo, pensaria em Harry Potter só como a pessoa que a tinha contratado, não como um homem. Ainda sentia na mão o calor dele e, depois de olhar-se suspirou. Era necessário, para sua tranqüilidade mental, realizar seu trabalho evitando mais contatos pessoais com ele. A relação que teria com ele seria exclusivamente profissional. Isso era, exclusivamente profissional.
A menina se transformou em uma tenista muito na moda. Um curto vestido branco de tênis acentuava as longas e esbeltas pernas e deixava descoberto os braços. Enquanto esperava na quadra de tênis, os cobriu com uma jaqueta leve, dado que aquela tarde de outubro estava agradável embora um pouco fria. Levava o cabelo preso com um lenço azul, o que deixava seu delicado pescoço completamente descoberto. Maquiou os olhos, acentuando-os com lápis de olhos negro, e os lábios, com um profundo carmim rosado. Impecáveis sapatilhas de tênis completavam seu traje, junto com a raquete leve que tinha entre as mãos. O branco imaculado do vestido contrastava muito bem com a pele dourada e o cabelo ruivo de Gina e lhe dava um aspecto muito feminino e profissional ao mesmo tempo.
Atrás da rede, começou a esquentar um pouco e a jogar bolas a um companheiro inexistente enquanto Neville se ocupava de encontrar os ângulos e as medidas corretas.
—Acredito que seria melhor que alguém lhe devolvesse a bola.
Quando Gina se voltou, viu que Harry a estava observando com um brilho jocoso nos olhos. Ele também estava vestido de branco, com a jaqueta de seu traje de aquecimento arregaçada até os cotovelos.
Acostumada a vê-lo de terno, Gina se surpreendeu ao ver a atlética aparência de seu corpo, esbelto, ombros largos, com braços firmes e musculosos... Naquele momento, sua masculinidade era muito dominante.
— Não estou bem? —perguntou com um sorriso. Ao escutar aquelas palavras Gina se ruborizou ao dar-se conta de que o tinha estado olhando fixamente.
—Surpreende-me vê-lo vestido desse modo.
—É mais adequado para o tênis, não acha?
— Acaso vamos jogar? —perguntou ela, atônita.
—Eu gosto bastante da idéia da fotografia de ação. Prometo que não serei muito duro com você. Meus golpes serão suaves e fáceis.
Gina precisou de toda sua força de vontade para não lhe mostrar a língua. Jogava tênis freqüentemente e o fazia bem. O senhor Potter ia ter uma boa surpresa.
—Tentarei lhe devolver a bola —prometeu, com o rosto tão ingênuo como o de uma menina—, para assim poder dar realismo às fotografias.
—Muito bem —respondeu Harry. Então, dirigiu-se ao outro lado da pista enquanto Gina pegava uma bola—. Sabe jogar?
—Vou tentar —respondeu ela. Depois de olhar para Neville para ver se estava preparado, lançou a bola brandamente no ar. Ao ver que o rosto de Neville já estava oculto pela câmera, colocou-se ao outro lado da linha e lançou a bola uma vez mais. Daquela vez, golpeou-a com a raquete e lançou um bom serviço. Harry o devolveu com suavidade, mas ela golpeou a bola com força e a mandou à esquina oposta da pista—. Acredito que também me lembro como se ganha —acrescentou, franzindo o cenho—. Quinze a zero, senhor Potter.
—Bom golpe, Gina. Joga freqüentemente?
-De vez em quando -replicou ela-. Preparado?
Harry assentiu. A bola viajou com rapidez de um lado ao outro do campo. Gina se deu conta de que ele estava se contendo para que Neville tirasse as fotografias, mas ela também o estava fazendo. Golpeava a bola com rapidez e sem nenhum estilo. Permitiu alguns golpes mais antes de lançar a bola muito longe dele, quase do outro lado da pista.
—Oh —sussurrou ela. Colocou um dedo sobre os lábios, fingindo inocência-. Isso é trinta a zero, verdade?
Harry entreabriu os olhos enquanto se aproximava da rede.
— Por que está me dando a sensação de que está tirando sarro de mim?
-Sarro? -repetiu ela, com os olhos muito abertos—. Sinto muito, senhor Potter, não me pude resistir —acrescentou. Então, pôs-se a rir – Estava se comportando de um modo tão condescendente...
-Muito bem -replicou ele, também com um sorriso para alívio de Gina—. Já não há condescendência que valha. Agora, quero sangue.
—Começaremos desde do início—disse ela enquanto retornava à linha—. Não quero que diga que eu tinha uma vantagem injusta.
Harry lhe devolveu o serviço com força. Os dois se moviam com rapidez pela pista. Batalhavam com esforço pelos pontos. Gina se esqueceu por completo da câmera, dado que o clique da mesma ficava completamente mascarado pelos golpes das bolas e os sussurros das raquetes contra o ar.
Gina se amaldiçoou quando não pôde devolver uma bola limpa. Rapidamente pegou outra e se preparou para jogar.
—Isso foi muito bom —disse Neville, rompendo assim a concentração da jovem—Tenho fotos fantásticas. Parece uma verdadeira profissional, Gina. Já podemos deixar por hoje.
— Deixar? —replicou ela olhando-o com incredulidade—. Perdeu a cabeça? Estamos jogando.
Depois de olhá-lo durante uns instantes como se estivesse louco, retomou o jogo rapidamente. Durante os seguintes minutos, os dois jogaram para recuperar a vantagem até que Harry a conseguiu e lançou a última bola muito longe para que ela pudesse devolvê-la.
Gina colocou as mãos nos quadris e respirou profundamente.
—Bom, essa é a agonia da derrota -disse com um sorriso. Então, aproximou-se da rede—. Parabéns —acrescentou enquanto estendia a mão—. Joga de um modo muito competitivo.
Harry aceitou a mão que lhe oferecia, mas, em vez de estreitar-lhe limitou-se a agarrá-la.
—Asseguro que me obrigou a ganhar, Gina. Acredito que eu gostaria de provar sorte em dobro, mas com você a meu lado -disse. Olhou-a durante um instante antes de olhar a mão que ainda tinha cativa entre as suas—. Que mão tão pequena! —acrescentou enquanto as levantava para examiná-las cuidadosamente-. Surpreende-me que possa manipular uma raquete desse modo...
Então, a girou e depois de colocar a palma para cima, a levou aos lábios. Ao sentir aquele beijo, Gina experimentou sensações estranhas correndo pelas costas. Olhou a mão como hipnotizada, incapaz de falar ou de retirá-la.
—Vamos —disse Harry, consciente da reação que ela tinha tido-. Vamos comer algo. Você também, Neville.
—Obrigado, Harry —respondeu Neville enquanto recolhia seu equipamento—, mas quero ir para meu estúdio revelar este filme. Comerei um sanduíche.
—Bem, Gina —murmurou Harry voltando-se para ela—. Sozinhos você e eu...
—O agradeço muito, senhor Potter— replicou ela. Sentia-se em pânico ante a perspectiva de almoçar com ele—, mas não é necessário que me convide para almoçar.
—Gina, Gina... É tão difícil você aceitar um convite ou só quando eu a convido?
—Não seja ridículo —respondeu ela. Tentou manter um tom casual, mas cada vez mais notava a calidez da mão dele sobre a sua. Olhou fixamente as mãos unidas e se sentiu completamente indefesa—. Senhor Potter, pode me devolver a mão, por favor?
—Harry, Gina —lhe pediu ele sem prestar atenção alguma à petição que lhe tinha feito—. É muito fácil. Tem somente duas sílabas. Vamos.
—Está bem —disse ela. Sabia que, quanto antes aceitasse, antes se veria livre—. Harry, poderia me devolver a minha mão, por favor?
—Agora sim. Superamos o primeiro obstáculo. Não foi tão difícil, verdade? —repôs ele, com um ligeiro sorriso nos lábios. Assim que a soltou, Gina se sentiu imediatamente mais segura.
—Não muito.
—Agora, ao almoço —afirmou. Ao ver que Gina abria a boca para protestar, levantou uma mão para impedir - Você come , não?
—Claro, mas...
—Não há Mas. Quase nunca presto atenção alguma a mas ou a porém.
Em pouco tempo, Gina se encontrava sentada frente a Harry em uma pequena mesa do clube. As coisas não foram tal e como ela tinha planejado. Era muito difícil manter uma relação profissional e impessoal quando estava tão freqüentemente em sua companhia. Era inútil negar que o achava muito interessante, que sua vitalidade a estimulava e que Harry era um homem tremendamente atraente. Entretanto, recordou-se que ele não era seu tipo. Além disso, não tinha tempo para relações sentimentais naquele momento de sua vida. Não obstante, os sinais de alerta que recebia seu cérebro lhe diziam que tomasse cuidado, que aquele homem era capaz de mudar seus cuidadosos planos.
— Alguém já lhe disse que tem uma ótima conversa?
Gina levantou os olhos para encontrar-se com o olhar zombador de Harry.
—Sinto muito. Estava pensando em outras coisas —se desculpou. Uma vez mais, o rubor tinha lhe tingido as bochechas.
—Já me dei conta. O que vai beber?
-Chá.
-Só?
—Sim —afirmou. Então, disse-se que devia relaxar-se—. Não bebo muito. Temo-me que não me sinta muito bem. Com mais de duas taças me transformo. Deve ser o metabolismo...
—Eu adoraria ser testemunha dessa transformação —comentou ele, depois de soltar uma gargalhada—.Teremos que combinar isso mais tarde.
Para surpresa de Gina, o almoço foi uma experiência muito agradável, apesar de Harry reagir com certo desgosto e puro desdém masculino pelo fato de que ela escolhesse uma salada. Assegurou-lhe que era uma comida mais que adequada e fez um comentário sobre a brevidade da carreira das modelos com sobrepeso.
Quando relaxou por completo, a jovem se divertiu muito e se esqueceu de manter distância entre Harry e ela. Enquanto comiam, lhe falou dos planos que tinha para a sessão do dia seguinte. Tinha escolhido o Central Park para mais fotos externas em que se ressaltasse uma imagem atlética.
—Amanhã tenho reuniões durante todo o dia e não poderei ir supervisionar a sessão. Como pode sobreviver com isso? —perguntou-lhe mudando abruptamente de conversa. Estava indicando a salada de Gina—. Não quer um pouco de comida de verdade? Vai sumir!
Ela negou com a cabeça e sorriu enquanto tomava um gole de chá. Harry, por sua parte, murmurou algo sobre as modelos meio mortas de fome antes de retomar o fio da conversação.
-Se tudo der certo, começaremos o próximo segmento na segunda-feira. Neville quer começar cedo amanhã.
—Como sempre —afirmou ela, com um suspiro—. Se o tempo o permitir.
—O sol vai brilhar -comentou Harry, com absoluta segurança em si mesmo—. Já me ocupei disso.
Gina se recostou no assento e contemplou ao Harry com uma desinibida curiosidade.
—Sim —afirmou—. Acredito que poderia tê-lo feito. A chuva não se atreveria a cair.
Sorriram e, enquanto se olhavam nos olhos, Gina experimentou uma estranha sensação correndo por suas veias, algo rápido, vital e inominável.
— Sobremesa?
—Está decidido a me fazer engordar, não é? —comentou ela, com um sorriso—. É uma má influência para mim, mas mostrarei uma determinação de ferro.
— Bolo de queijo, bolo de maçã, mousse de chocolate? —perguntou, com um malicioso sorriso. Entretanto, ela negou com a cabeça e levantou o queixo.
—Não adianta, não me rendo.
—Tenho certeza que tem uma fraqueza. Com um pouco mais de tempo, eu a encontro.
—Harry, querido, que surpresa vê-lo aqui!
Gina deu a volta e observou à mulher que acabava de saudar o Harry com tanto entusiasmo.
—Olá, Cho -disse ele, referindo-se a elegante oriental com um encantador sorriso—. Cho Chang, Gina Weasley.
-Senhorita Weasley —repôs Cho com uma inclinação de cabeça como saudação. Então, entreabriu os olhos apertados—. Nos conhecemos?
—Não acredito —respondeu Gina.
—O rosto do Gina aparece na capa de muitas revistas —explicou Harry—. É uma das melhores modelos de Nova Iorque.
—É obvio —comentou Cho. Gina observou como a mulher entreabria ainda mais os olhos, examinava-a e a catalogava como mercadoria inferior—. Harry, devia ter dito que estaria aqui hoje. Poderíamos ter passado algum tempo juntos...
—Sinto muito —respondeu ele—. De todos os modos, não vou estar aqui muito tempo. Além disso, vim por negócios.
Sem que pudesse evitar, Gina se sentiu um pouco desiludida por aquela afirmação. Apesar de saber que era uma reação ridícula, ergueu imediatamente as costas e disse a si mesma «Não lhe adverti isso? Eu tinha razão, só estamos aqui por negócios». Então, recolheu suas coisas e ficou de pé.
-Por favor, senhorita Chang, tome meu assento. Eu já estava de saída.
Voltou-se para olhar ao Harry e sentiu uma ligeira alegria ao ver que ele se mostrava um pouco zangado por sua apressada saída.
—Obrigado pelo almoço, senhor Potter —lhe disse. Ao ver que ele franzia o cenho ao escutar seu sobrenome, sorriu—. Foi um prazer conhecê-la, senhorita Chang.
Depois de dedicar à oriental um cortês sorriso, Gina se dispôs a partir.
—Não sabia que convidar a suas empregadas para almoçar era algo tão corrente, Harry...
Enquanto se afastava da mesa, Gina escutou o comentário de Cho. Sentiu o desejo de dar a volta e lhe dizer que se ocupasse de seus assuntos, mas se controlou e partiu sem escutar a resposta de Harry.
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