Menina-mulher.
Harry Potter se moveu muito rapidamente. Em menos de duas semanas, assinaram os contratos e combinaram que as sessões fotográficas começassem a princípios de outubro. A primeira imagem que tinham que conseguir era a da inocência juvenil e a simplicidade imaculada.
Gina se reuniu com Neville em um parque que Harry tinha selecionado. Embora a manhã fosse fresca e luminosa e o sol se filtrasse calidamente através das árvores, o parque estava deserto. Gina não pôde evitar se perguntar se o todo poderoso senhor Potter seria o responsável por aquela solidão.
Uns jeans arregaçados até a metade da panturrilha e pulôver de cor vermelha era a roupa que tinha escolhido para a sessão. Gina tinha prendido seu brilhante cabelo com duas tranças seguras por presilhas vermelhas. Aplicou-se uma leve maquiagem, apoiando-se simplesmente na beleza natural de sua pele. Era a quinta essência da juventude sincera e vibrante e seus olhos brilhavam de antecipação.
—Perfeito —lhe disse Neville—. Jovem e inocente. Como conseguiu?
—Eu sou jovem e inocente —replicou ela enrugando o nariz.
—Muito bem. Vê isso? —perguntou-lhe Neville enquanto mostrava um parque infantil no que havia balanços, barras e um tobogã—. Vá brincar, garotinha, e deixa que este senhor tire umas fotos.
Gina pôs-se a correr para o balanço. Ali, deu-se uma total liberdade de movimentos. Estirou-se por completo e inclinou a cabeça para o chão enquanto sorria ao brilhante céu. Continuando, subiu no tobogã e levantou os braços. Então, depois de soltar um grito de desinibida alegria, deslizou-se até o chão para acabar com o traseiro sobre a terra. Neville não deixava de tirar fotografias de vários ângulos, sempre deixando que fosse ela quem dirigisse a sessão.
—Parece que tem doze anos —disse, com uma risada depois da foto.
—Tenho doze anos —afirmou Gina. Então, subiu às barras—. Aposto que você não pode fazer isto —acrescentou. Pendurou-se de barriga para baixo em uma das barras, de maneira que as tranças varreram o chão.
—Surpreendente...
Aquela afirmação não veio de Neville. Quando Gina girou a cabeça, encontrou diretamente com um par de calças feitas sob medida. Ao subir um pouco mais, encontrou- com uma jaqueta e, um pouco mais acima, com uma sorridente boca e zombadores olhos verdes.
—Olá menina, sabe onde esta sua mãe?
— O que está fazendo aqui? —replicou Gina. De barriga para baixo se sentia em franca desvantagem.
—Fiscalizando meu projeto. Quanto tempo vai ficar pendurada nesta barra? O sangue deve estar subindo à cabeça e vai ficar tão vermelha quanto seus cabelos.
Gina agarrou a barra com as mãos e lançou as pernas em uma cambalhota que a deixou cara a cara com Potter. Deu-lhe um suave golpe na cabeça, disse-lhe que era uma boa menina e se voltou a falar com o Neville.
-Como foi, Neville? Parece que conseguiu boas fotos.
Os dois homens começaram a falar dos aspectos técnicos da sessão enquanto Gina balançava brandamente. Tinha visto Harry em várias ocasiões durante as duas últimas semanas e, cada vez, havia se sentido muito inquieta em sua presença. Era um homem vital e perturbador, com um potente poder masculino, por isso ela não estava de todo segura de querer ver-se associada a ele. Sua vida era organizada e corria pelos caminhos que ela tinha esboçado, por isso não queria complicação alguma.
Entretanto, havia algo em Harry Potter que sugeria complicações com letras maiúsculas.
—Muito bem —disse a voz de Harry—. Organizaremos tudo no clube à uma em ponto. Já está tudo preparado —acrescentou. Gina levantou do balanço e se dirigiu para Neville—. Não tem que ir agora, pequena. Tem mais ou menos uma hora livre.
—Já não quero mais brincar nos balanços, papai —replicou ela muito tensa. Então, agarrou sua mochila e a pendurou no ombro. Conseguiu dar alguns de passos antes que Harry agarrasse seu braço.
—Vejo que é uma menina mimada, não é? —murmurou—. Talvez deveria lhe dar alguns tapas sobre meus joelhos.
—Isso seria mais difícil do que acredita, senhor Potter — replicou ela com toda a dignidade que pôde reunir—. Tenho vinte e quatro anos, não doze, e sou bastante forte.
— Verdade? —replicou ele. Então, inspecionou o esbelto corpo de Gina como se o duvidasse—. Suponho que é possível. Vamos tomar um café.
Soltou-lhe a mão, mas entrelaçou seus dedos com os dela. Gina apartou a mão, surpreendida e desconcertada pela calidez encontrada.
—Gina —disse ele, com a voz marcada por uma tensa paciência—. Eu gostaria de convidá-la ...para tomar um café —acrescentou. Mais que um convite, era uma ordem.
Potter avançou pela grama a grandes passadas, arrastando-a atrás dele. Neville observou os movimentos de ambos e, automaticamente, tirou uma fotografia. Decidiu que compunham um estilo muito interessante. Um homem alto, cabelos pretos, aparência imponente, vestido com um traje muito caro agarrado a uma esbelta menina-mulher.
Quando ela se sentou de frente a Harry no pequeno café, tinha o rosto avermelhado de indignação e o esforço que tinha dito para manter o passo. Harry observou atentamente as rosadas bochechas e os brilhantes olhos e sorriu um pouco.
—Talvez devesse lhe comprar um sorvete para que se refresque —disse. A garçonete apareceu então, o que evitou Gina ter que responder. Imediatamente, Harry pediu dois cafés.
—Chá para mim — afirmou Gina secamente. Agradava-lhe contradizer em algo.
— Como disse? —perguntou ele friamente.
-Eu disse que tomarei chá, se não se importar. Não bebo café. Deixa-me muito nervosa.
—Nesse caso, um café e um chá —informou Harry à garçonete antes que ela partisse—. Como é capaz de despertar pelas manhãs sem a inevitável xícara de café?
—Sou uma mulher de hábitos saudáveis.
—Efetivamente, neste momento parece um anúncio da vida saudável —replicou ele. Então, recostou-se em seu assento e tirou um pacote de cigarros. Depois de oferecer um a ela, que não aceitou, acendeu o seu antes de prosseguir falando-. Temo que nunca aparentaria vinte e quatro anos com essas tranças. Não se vê freqüentemente um cabelo tão ruivo... São fabulosos —acrescentou, depois de olhar um instante— Além disso, sua estrutura óssea é elegante e exótica. Diga-me, onde conseguiu esse rosto tão maravilhoso?
Gina já se acreditava imune a comentários e elogios sobre seu físico, mas, de algum jeito, as palavras de Harry a sobressaltaram. Deu graças ao ver que a garçonete se aproximava com o que tinham pedido, porque assim teve tempo de recuperar a compostura.
—Conforme dizem, sou a viva imagem de minha avó -disse, depois de tomar um gole de chá. — Ela também era ruiva.
— Então tem os cabelos de sua avó?
— Não. Pertencem-me.
—A você —repetiu ele—, e, durante os próximos seis meses, a mim. Acredito que gostarei de ter a propriedade conjunta. De onde é, Gina Weasley? Você não é de Nova Iorque.
-Dá para perceber? Pensei que já tinha adquirido toda a cobertura da Grande Maçã —comentou. Então, encolheu os ombros e agradeceu que a intensidade do exame ao que a tinha submetido Potter tivesse terminado—. Sou de Kansas. Vivia em uma granja a alguns quilômetros ao norte de Abilene.
Harry inclinou a cabeça e levantou a xícara do café.
-Parece ter saído do trigo ao concreto sem dificuldade alguma. Não há cicatrizes da batalha?
—Algumas, mas já sanaram. Não acredito que tenha que lhe explicar as vantagens de Nova Iorque, especialmente no mundo em que trabalho.
Harry assentiu com uma leve inclinação de cabeça.
—É muito fácil vê-la, tanto como uma garota que vive em uma granja no Kansas como uma sofisticada modelo. Tem uma notável habilidade para se adaptar ao que a rodeia.
-Isso me faz parecer como se não tivesse personalidade alguma, como se fosse... Quase invisível.
— Invisível? —repetiu Harry. Então, deu uma gargalhada que fez que várias pessoas se voltassem para olhar—. Não, não acredito que seja invisível, mas sim uma mulher muito complexa com uma notável afinidade com o mundo que a rodeia. Não acredito que seja um talento adquirido, mas sim uma habilidade nata.
Aquelas palavras agradaram a Gina. Teve que ficar mexendo seu chá para não mostrar o quanto estava envergonhada . Por que um simples comentário era capaz de deixá-la completamente muda?
—Joga tênis?
Uma vez mais, a rápida mudança de assunto a deixou completamente confusa. Olhou-o fixamente, sem compreender, até que recordou que a sessão daquela tarde teria lugar no campo de tênis de um elegante clube de campo.
—Consigo golpear a bola para que, as vezes, passe por cima da rede —replicou ela.
—Bem. As fotografias serão melhores se for capaz de realizar corretamente os movimentos —disse. Então, olhou o relógio de ouro que levava no pulso e tirou a carteira—. Tenho algumas coisas para resolver em meu escritório.
Harry ficou de pé e a ajudou a levantar-se. Uma vez mais, deu-lhe a mão sem prestar atenção alguma aos esforços que Gina fazia para soltar-se.
—Conseguirei um táxi. Levará algum tempo para se transformar de menina pequena em atleta. Seu traje de tênis já está no clube e suponho que tem tudo o que necessita nessa pequena mala, verdade? -disse, indicando a bolsa que Gina tinha pendurada do ombro.
—Não há por que se preocupar, senhor Potter.
—Me chame Harry —repôs ele. De repente, começou a lhe acariciar brandamente a trança esquerda—. Eu não tenho intenção alguma de deixar de lhe chamar por seu primeiro nome.
—Não há por que preocupar-se —repetiu ela, evitando fazer uso do primeiro nome tal e como lhe havia dito—. Mudar de imagem é parte de minha profissão.
—Vai ser muito interessante observá-la —murmurou ele, ainda com a trança na mão. Então, adquiriu um tom mais profissional—. A pista está reservada para a uma. Até então.
-Você também vai? —perguntou Gina. Não pôde evitar franzir o cenho. Incomodava-a o fato de ter que voltar a vê-lo.
-É meu projeto, lembra? —afirmou. Então, meteu-a em um táxi, sem dar-se por aludido ou sem dar-se conta do cenho franzido de Gina—. Tenho a intenção de fiscalizá-lo muito cuidadosamente.
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