Contrato.
Enquanto se vestia para uma entrevista aquela noite, Gina tentou, sem êxito, esquecer-se do ocorrido aquela manhã. Sentia a completamente segura de que seu caminho não voltaria a cruzar nunca com o do Harry Potter. Depois de tudo, na realidade tinha sido um estúpido acidente que se conhecessem. Rezou para que fosse certo o velho ditado de que o raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar, porque ela, definitivamente, havia se sentido como atravessada por um raio quando ele revelou seu nome. Ao recordar aquele momento e o modo que tinha lhe falado, a face se tingiu de uma cor muita parecida ao vestido que estava usando.
O som do telefone a tirou de seus pensamentos. Quando atendeu, descobriu que a pessoa que a chamava era Neville.
-Olá, Gina, me alegro de encontrá-la em casa —disse. Sua excitação era quase tangível.
—Pois foi por pouco pois estava a ponto de sair. O que aconteceu?
-Agora não posso lhe dar muitos detalhes. Harry o fará amanhã pela manhã.
Gina percebeu que para Neville já tinha deixado de ser «senhor Potter».
— Do que está falando, Neville?
—Harry explicara isso amanhã —respondeu—. Tem uma entrevista com ele às nove em ponto.
— O QUE? —perguntou ela, atônita—. Neville, do que está falando?
-É uma oportunidade tremenda Gina. Harry lhe contará isso tudo amanhã. Já sabe onde é seu escritório —afirmou. Todos que trabalhavam no mundinho da moda sabiam onde era o quartel geral do Mode.
—Eu não quero vê-lo—replicou Gina. Ao pensar nos olhos verdes do Potter, sentiu que o pânico se apoderava dela—. Não sei o que ele contou para você, mas fiz um papel ridículo essa manhã. Pensei que ele era o fotógrafo. Na realidade —acrescentou, com renovada irritação—, você tem parte a culpa porque...
—Não se preocupe com isso agora —a interrompeu Neville—. Não importa mais. Só limite-se a estar ali amanhã às nove. Até logo.
—Mas Neville...
Imediatamente se interrompeu ao dar-se conta de que não havia razão alguma para prosseguir falando. Neville tinha desligado. Desesperada, pensou que aquilo era muito. Como Neville podia esperar que fosse ‘aquela entrevista? Como podia enfrentar Harry Potter depois do modo como tinha lhe falado? Decidiu que a humilhação era algo para o qual ela não estava preparada e deu os ombros. Certamente, Harry Potter só queria outra oportunidade para rir dela por sua estupidez.
Muito bem, pois não ia poder com Gina Weasley. Com firme orgulho, disse-se que não se arredaria ante ele. Aquela plebéia enfrentaria o imperador e demonstraria que era feita da mesma matéria que ele.
Gina se vestiu para sua entrevista daquela manhã com muito cuidado. O vestido branco de fina lã era esplendoroso por sua simplicidade e se apoiava nas formas que cobria para se tornar atraente. Prendeu o cabelo no alto da cabeça para acrescentar um ar de profissional a sua aparência. Aquela manhã, Harry Potter não se encontraria frente a uma mulher que gaguejava e se ruborizava com facilidade, e sim com uma fria e segura de si mesma. Colocou um delicado sapato de pele e ficou satisfeita com o efeito que davam a sua imagem. Os saltos altos dos sapatos acrescentavam centímetros a sua altura, por isso não teria que levantar o olhar para ver os olhos verdes de Potter, mas sim os olharia de frente.
Manteve a confiança em si mesmo durante o breve trajeto de táxi e até chegar ao alto do edifício que Harry Potter possuía seus escritórios. Quando estava no elevador olhou para o relógio e se alegrou ao ver que ia chegar com pontualidade a sua entrevista. Depois do enorme saguão da recepção encontrou uma morena muito bonita a quem deu seu nome., depois de uma breve conversação telefônica, a mulher acompanhou Gina por um longo corredor até chegar a pesadas portas de carvalho.
Entrou em uma sala grande e bem decorada em qual foi recebida por outra mulher muito bonita que se apresentou como Luna Lovegood, a secretária do senhor Potter.
—Por favor, entre, senhorita Weasley. O senhor Potter a está esperando —disse a Gina com um sorriso.
Depois de atravessar uma porta, Gina quase não teve tempo de examinar o escritório nem sua fabulosa decoração. Seu olhar se centrou imediatamente no homem que estava sentado atrás de uma enorme mesa de carvalho, com uma vista panorâmica da cidade às suas costas.
—Bom dia, Gina —disse ele levantando-se para aproximar-se dela—. Vai entrar ou ficar parada ai?
Gina se empertigou e respondeu muito friamente.
—Bom dia, senhor Potter. É um prazer voltar a vê-lo.
—Não seja hipócrita —afirmou ele brandamente, enquanto a conduzia para uma cadeira que havia perto da mesa—.Você gostaria de nunca mais me ver.
Gina não pôde encontrar réplica alguma a aquela observação tão certeira, por isso se contentou com um sorriso vago.
—Entretanto —prosseguiu ele, como se lhe tivesse dado a razão—, convém muito bem a meus propósitos que esteja hoje aqui apesar de sua relutância.
— E quais são seus propósitos, senhor Potter? —perguntou ela. A ira que sentia pela arrogância de Potter soou sobre o tom de sua voz.
Ele se acomodou em sua cadeira e olhou Gina da cabeça aos pés. Fez de um modo lento, esperando desconcertá-la. Apesar de tudo, ela permaneceu completamente serena. Por causa de sua profissão, tinham-na estudado daquele modo antes, por isso estava decidida a não permitir que aquele homem soubesse que seu olhar estava lhe acelerando o pulso.
—Meus propósitos, Gina —disse, olhando-a nos olhos—, são, no momento, estritamente profissionais, embora isso possa mudar a qualquer momento.
Aquela afirmação rachou em mil pedaços a fria couraça de Gina e lhe provocou um ligeiro rubor nas bochechas. Amaldiçoou-se por isso enquanto tentava manter o olhar firme.
—Santo Deus —comentou Potter levantando as sobrancelhas com um certo tom jocoso—.Está ruborizando. E eu acreditava que as mulheres já não se ruborizassem -acrescentou, sorrindo mais ainda, como se gostasse do fato de que suas palavras provocassem um rubor ainda mais acentuado nas bochechas da jovem—. Provavelmente é a última de uma espécie em perigo de extinção.
— Poderíamos falar do assunto pelo qual estou aqui, senhor Potter? —perguntou ela—. Estou certa de que você é um homem muito ocupado e, embora não acredite, eu também tenho muitos assuntos para resolver.
—É óbvio. Lembro-me perfeitamente do « mãos à obra». Tenho um novo projeto para a Mode, um projeto muito especial —disse enquanto acendia um cigarro. Imediatamente ofereceu um a Gina, que ela recusou com um leve movimento de cabeça—. Estou pensando na idéia há bastante tempo, mas precisava de um fotógrafo adequado e de uma mulher adequada. Acredito que agora encontrei ambos.
—Suponho que me dará mais detalhes, senhor Potter. Estou segura de que não está acostumado a entrevistar as modelos pessoalmente. Isto deve ser algo especial.
—Sim,—afirmou ele—. A idéia desta reportagem é a de uma história fotográfica sobre os diversos rostos de uma mulher —acrescentou. Então, ficou de pé e se apoiou sobre a mesa. Imediatamente, Gina se viu afetada por sua potente masculinidade, o poder e a força que emanavam de seu esbelto corpo—. Quero retratar todas as facetas da mulher: a mulher profissional, a mãe, a atleta, a sofisticada, a inocente, a tentadora... Quer dizer, um retrato completo da Eva, a Mulher Eterna.
—Parece fascinante —admitiu Gina-. Você acha que eu poderia ser adequada para algumas das fotos?
-Sei que é adequada... para TODAS as fotos.
— Vai utilizar uma única modelo para todo o projeto? —perguntou ela, muito surpreendida.
—Vou utilizar você para todo o projeto.
—Seria uma idiota se não estivesse interessada em um projeto como este —disse Gina com sinceridade—, e não acredito que o seja. Por que eu?
—Vamos, Gina —comentou ele, com certa impaciência. Então, inclinou-se sobre ela e lhe tocou o queixo com a mão—. Tenho certeza que tem espelho e de que é inteligente o suficientemente para saber que é possuidora d euma beleza excêntrica e também é extremamente fotogênica.
—Há vários modelos bonitas e fotogênicos em Nova Iorque, senhor Potter —insistiu ela—. Você sabe disso melhor que ninguém. Eu gostaria de saber por que está me considerando para seu projeto.
—Não a estou considerando —replicou Harry. Ato contínuo, ficou de pé e meteu as mãos nos bolsos. Gina notou que estava começando a se irritar e aquele detalhe foi bastante reconfortante para ela—. De fato, não acredito que tenha pensado em nenhuma outra pessoa. Tem uma estranha habilidade para chegar ao coração de uma fotografia e mostrar exatamente a imagem que se busca. Eu preciso de variabilidade e beleza. Preciso de honestidade em uma dúzia de imagens diferentes.
—E, em sua opinião, eu posso fazê-lo.
—Não estaria aqui se eu não estivesse seguro. Eu nunca tomo decisões precipitadas.
Gina o olhou atentamente. De fato, estava segura de que Harry Potter calculava até o mínimo detalhe. Em voz alta, perguntou-lhe:
— Seria Neville o fotógrafo?
—Sim. Evidentemente, há uma grande afinidade entre os dois que se transmite para fotografias nas que os dois trabalham. São ótimos profissionais, mas juntos poderão fazer um trabalho assombroso.
Aquele comentário fez que a jovem esboçasse um cálido sorriso.
—Não se trata de um louvor, Gina. É tão somente um fato. Dei a Neville todos os detalhes. Os contratos estão já preparados esperando que os firme.
— Os contratos? —repetiu ela, com certa cautela.
—Claro —respondeu ele, sem dar importância alguma à dúvida que ela tinha expressado-. Este projeto vai levar certo tempo. Não tenho intenção alguma de me apressar. Quero os direitos exclusivos de seu belo rosto até que o projeto termine e o resultado esteja na rua.
-Entendo -sussurrou ela. Inconscientemente, começou a morder o lábio inferior.
—Não tem que reagir como se eu tivesse feito uma proposta indecente, Gina —disse Harry, com voz seca—. Só se trata de um acordo de negócios.
—Isso eu entendo perfeitamente, senhor Potter —repôs ela em tom desafiante—. Só que nunca assinei um contrato para um projeto a longo prazo.
—Não tenho intenção alguma de permitir que você escape. Os contratos são obrigatórios, para o Neville e para você. Durante os próximos meses, não quero que se distraiam com outros trabalhos. Economicamente, compensarei-lhes com acréscimo. Se tiverem alguma queixa nesse sentido, negociaremos. Entretanto, meus direitos para dispor de seu rosto durante os próximos seis meses serão exclusivos.
Harry ficou em silêncio enquanto observava a ampla variedade de expressões que se refletiam no rosto do Gina. Efetivamente, a jovem se sentia muito atraída pelo projeto, embora não pelo homem que o tinha proposto. Seria um trabalho fascinante, mas lhe custaria atar-se a um único cliente durante um período de tempo tão longo. Não podia evitar pensar que assinar um contrato era como perder sua liberdade. Um contrato a longo prazo equivalia a um compromisso em longo prazo.
Finalmente, desfez-se de toda sua cautela e dedicou a Harry um dos sorrisos que tinham feito que seu rosto fosse conhecido por todos os Estados Unidos.
—Meu rosto é seu —disse.
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