Primeiro encontro.



Um
A jovem girou sob os focos. O brilhante cabelo negro formou um redemoinho a seu redor ao mesmo tempo em que uma série de expressões se refletiam em seu impressionante rosto.
—Isso, Gina. Agora franze um pouco os lábios. São os lábios que queremos vender —disse Neville Longbottom, que seguia os movimentos da jovem no mesmo ritmo que abria e fechava o obturador de sua câmera—. Fantástico —exclamou levantando do chão-. Já basta por hoje.
Gina Weasley relaxou um pouco.
—Menos mal. Estava esgotada. Agora, vou para casa tomar um bom banho quente.
—Só pense nos milhões de lápis de lábios que seu rosto vai vender, céus.
Harry apagou as luzes. Sua atenção já começava a se diluir.
—Assombroso.
—Mmm. Sim é —respondeu ele, de modo ausente—. Amanhã temos a sessão de fotos para o xampu, assim assegure-se de que tenha o cabelo no perfeito estado que se encontra habitualmente. Quase me esqueci —acrescentou. Então, deu a volta para olhá-la diretamente—. Tenho uma reunião de negócios de manhã. Terei que procurar alguém para me substituir.
Gina sorriu com afetuosa indulgência. Estava há três anos trabalhando como modelo e Neville era seu fotógrafo favorito. Trabalhavam bem juntos e, como fotógrafo, ele era excepcional. Tinha um talento natural para os ângulos, detalhes e para captar o ambiente mais adequado para uma fotografia. Entretanto, era muito desorganizado e distraído sobre tudo o que não tivesse a ver com seu adorado equipamento.
— De que reunião se trata? -perguntou Gina com paciência, sabendo muito bem que Neville confundia assuntos mundanos como as horas e os lugares quando estes não tinham a ver diretamente com sua câmara.
—Oh, eu não lhe disse sobre a reunião? —perguntou. Gina negou com a cabeça e esperou a que ele continuasse—. Tenho que ver Harry Potter as dez em ponto.
— Harry Potter? —replicou Gina, completamente atônita—. Não sabia que o dono da revista Mode se reunia com simples mortais. Acreditava que só o fazia com membros da realeza e com as deusas da moda.
—Bom, pois a este plebeu concedeu uma audiência —respondeu Neville muito secamente—. De fato, a secretária do senhor Potter entrou em contato comigo e organizou tudo. Disse-me que ele quer falar sobre um projeto ou algo assim.
—Boa sorte. Pois ouvi que Harry Potter é um homem que não se pode ignorar. Duro como o aço e acostumado a sair-se bem em tudo.
—Não estaria onde está hoje se fosse inocente como um menino —disse Neville defendendo o ausente senhor Potter—. Talvez seu pai conseguisse uma fortuna ao inaugurar Mode, mas Harry Potter aumentou a sua duas vezes ao expandir e desenvolver outras revistas. É um homem de negócios com muito êxito e um bom fotógrafo. Não se importa de sujar as mãos. —Você sente simpatia por qualquer um que saiba distinguir uma Nikon de uma Brownie -disse-lhe Gina com um sorriso—, mas essa classe de homem não tem nenhum atrativo para mim. Estou certa que levaria um susto de morte;
—Nada lhe assusta, Gina —afirmou Neville enquanto observava como a alta e esguia mulher recolhia suas coisas e se dirigia para a porta—. Mandarei alguém para tirar as fotografias aqui às nove e meia da amanhã.
Já fora do estúdio, Gina tomou um táxi, depois de três anos em Nova Iorque, acostumou-se completamente a aquele gesto. Quase tinha deixado de pensar em si mesma como Gina Weasley procedente de uma pequena granja de Kansas para sentir-se em casa na buliçosa cidade de Nova Iorque.
Tinha vinte e um anos quando tomou a decisão de vim para Nova Iorque para tornar-se conhecida no mundo da moda. Deixar de ser apenas uma moça da cidade pequena para se transformar em modelo na Grande Maçã tinha sido difícil e em ocasiões, aterrador, mas Gina se negou a sentir-se aterrorizada pela dinâmica e entristecedora cidade e, com resolução, tinha percorrido todas as agências com seu book.
Durante o primeiro ano, os trabalhos tinham sido muito escassos, mas tinha agüentado. Não queria render-se para ter que retornar para casa completamente derrotada. Lentamente, foi construindo uma reputação e, pouco a pouco, a tinha requerido com mais freqüência. Quando começou a trabalhar com Neville recebeu a pancada nas costas necessário para lançar sua carreira. Na atualidade, seu rosto aparecia quase constantemente nas capas. Sua vida se desenvolvia tal e como ela tinha desejado. O fato de ser tornar uma Top model tinha propiciado a ela viver em um terceiro andar sem elevador em um cômodo apartamento perto do Central Park.


Para o Gina, ser modelo não era uma paixão e sim um trabalho. Não tinha ido para Nova Iorque em busca de um sonho de fama e glamour, e sim com a resolução de ter êxito e de ganhar a vida. O sucesso na trajetória profissional era inevitável, pois possuía graciosidade e aprumo naturais, além de um físico esplêndido. Seu cabelo ruivo e suas maçãs do rosto lhe davam um ar de exótica fragilidade. Seus olhos grandes, de longas pestanas e de uma profunda cor castanho claro, constituíam um atrativo com sua dourada cútis e o cabelo flamejante. Tinha lábios grossos e bem formados, que esboçavam um belo sorriso a menor provocação. Além de sua esplendorosa beleza contava com uma fotogenia inata que contribuía com seu êxito no mundo da moda. A habilidade para fotografar era algo natural nela e não lhe custava esforço algum. Depois que lhe diziam o tipo de mulher que devia refletir, Gina se transformava nela imediatamente. Sofisticada, sensual..., o que precisassem.
Depois de entrar em seu apartamento, tirou o sapato e afundou os pés no suave carpete de cor marfim. Não tinha nenhum compromisso naquela noite, por isso estava desejando preparar um jantar rápido e passar algumas horas de quietude de seu lar.
Trinta minutos mais tarde, envolta já em uma vaporosa camisola azul, estava na cozinha preparando o festim de uma modelo: uma sopa e pãezinhos sem sal. Então, o timbre da porta interrompeu aquele jantar tão pouco digno de um gourmet.
—Olá, Mione -disse saudando sua vizinha do outro lado do corredor com um automático sorriso—. Quer jantar comigo?
Hermione Granger enrugou o nariz com um gesto de desdém.
—Prefiro engordar, que morrer de fome como você.
—Se me deixo levar pela gula muito freqüentemente —afirmou Gina enquanto golpeava o ventre liso -, teria que lhe importunar para que encontrasse um emprego nesse escritório no qual você trabalha. Ah sim, como vai o jovem e talentoso advogado?
—Ronald nem sequer sabe que estou viva —queixou-se Mione enquanto desabava sobre o sofá-. Estou desesperada, Gina. Acredito que é possível que eu perca a cabeça e que o assalte no estacionamento.
—Para isso seria necessário classe —replicou Gina—. Por que não tenta algo menos dramático, como lhe dar uma rasteira quando passar ao lado de sua mesa?
-Pode ser que eu faça isso.
Com um sorriso, Gina se sentou também e apoiou os pés sobre a mesinha de centro.
— Já ouviu falar de Harry Potter?
— E quem não ouviu? — replicou Mione-. Milionário, incrivelmente bonito, misterioso, brilhante homem de negócios e continua livre —acrescentou Mione enquanto contava os atributos com os dedos da mão-. Por quê?
—Não estou certa. Neville tem uma reunião com ele amanhã de manhã.
— Cara a cara?
-Isso. Nós já fizemos algumas fotos para suas revistas antes, mas não imagino por que o esquivo dono do Mode iria querer ver um simples fotógrafo, embora seja o melhor de todos. No mundo da moda, fala-se dele com reverência e, se tivermos que acreditar no que diz a imprensa romântica, ele é a resposta às preces de toda mulher solteira. Pergunto-me como será de verdade... —comentou Gina franzindo o cenho. Aquele pensamento a obcecava—. É estranho... Acredito que não conheço ninguém que tenha tratado pessoalmente com ele. Imagino-o como um fantasma gigante, tomando as decisões de um monumental conglomerado de empresas do Monte Olimpo do Mode.
-Talvez Neville possa lhe dar todos os detalhes amanhã —sugeriu Mione. Gina sacudiu a cabeça. O cenho franzido se converteu em um sorriso.
—Neville não se dará conta de nada a menos que o senhor Potter esteja em um cilindro de filme.
Pouco depois das nove e meia da manhã seguinte, Gina utilizou sua chave para entrar no estúdio de Neville. Como tinha preparado o cabelo para o anúncio de xampu, este caía em suaves e espessas ondas, com muito volume e muito brilho. Na pequena penteadeira que havia na parte de trás do estúdio, aplicou a maquiagem com habilidade e às dez para as dez já estava acendendo com certa impaciência as luzes necessárias para as fotos internas. À medida que os minutos foram passando, começou a ter a incômoda suspeita de que Neville tinha se esquecido de procurar um substituto. Eram quase dez quando a porta se abriu.
—Já era hora —lhe disse, tratando de moderar sua irritação com um ligeiro sorriso—. Chegou tarde.
— Sim? —replicou o recém-chegado enfrentando a expressão de irritação de Gina com as sobrancelhas levantadas.
Naquele instante, ela se deu conta de como era atraente aquele homem. Seu cabelo preto crescia por cima da gola da camisa pólo que usava. Esta era de uma cor verde que refletia exatamente o de seus olhos. Tinha os lábios franzidos em um ligeiro sorriso. Naquele rosto profundamente bronzeado havia algo de vagamente familiar.
—Não trabalhei com você antes, trabalhei? —perguntou Gina. Viu-se obrigada a levantar um pouco a cabeça dado que aquele homem media mais de um metro e oitenta.
— Por que me pergunta isso? -quis saber ele. O modo como perguntou foi tão sutil que, de repente, Gina se sentiu incômoda sob aquele penetrante olhar verde.
—Por nada —murmurou ela. Deu à volta e sentiu o impulso de ajustar o punho da manga-. Bom, mãos a obra. Onde está sua câmera? —acrescentou. Naquele momento, deu-se conta de que o homem não levava equipamento algum—. Acaso vai utilizar a do Neville?
—Suponho que sim —respondeu ele. Não fazia mais que olhá-la, sem realizar gesto algum que indicasse que ia começar o trabalho. Sua atitude estava começando a se tornar irritante.
—Então, mãos à obra. Não quero passar o dia todo aqui. Já estou a meia hora preparada.
—Sinto muito.
O homem sorriu. Gina ficou atônita ao ver a mudança que aquele simples gesto produzia em seu já atraente rosto. Foi um sorriso lento, cheio de charme, tanto que ocorreu a jovem modelo que poderia utilizá-lo como uma arma letal. Afastou-se um pouco dele para tentar recuperar a compostura. Tinha um trabalho que fazer.
— Para que são as fotografias? —perguntou-lhe o homem enquanto examinava as câmeras do Neville.
— Deus! Ele não disse nada? —replicou. Girou-se de novo para olhá-lo frente a frente e, pela primeira vez, dedicou-lhe um sorriso—. Neville é um magnífico fotógrafo, mas é distraído até a exasperação. Não sei nem como se lembra que tem que se levantar pelas manhãs —acrescentou. Então, tomou uma mecha de seu cabelo e deu um dramático giro com a cabeça—. Cabelo limpo, brilhante e sexy —explicou, com o tom de voz de um anúncio de televisão—. O que vamos vender hoje é xampu.
—Muito bem —respondeu ele.
Então, começou a preparar o equipamento de uma maneira tão profissional que tranqüilizou muito a Gina. Ao menos, aquele homem conhecia seu trabalho.
—Então, onde Neville está? —quis saber o homem, de repente.
— Ele não lhe disse nada? É tão típico dele...
Gina se colocou sob os focos e começou a dar voltas. Sacudiu a cabeça e criou uma nuvem de um belo cabelo ruivo para que ele pudesse disparar a câmera enquanto se agachava e se movia ao redor dela para captar sua imagem de ângulos diferentes.
—Tinha uma reunião com o Harry Potter—acrescentou Gina sem deixar de sorrir—. Que Deus o ajude se esqueceu. Esse homem é capaz de comer-lhe vivo.
— Harry Potter faz fotografias habitualmente? —perguntou ele, por trás da câmera, com um certo tom jocoso na voz.
—Não sei —respondeu ela enquanto levantava o cabelo por cima da cabeça. Depois de um segundo, deixou-o cair de novo sobre os ombros como uma maravilhosa capa vermelha—. Acredito que um homem de negócios sem piedade alguma como o senhor Potter terá muito pouca paciência com um fotógrafo distraído ou qualquer outra coisa que não seja perfeita.
— Conhece-o?
—Deus, não. E não acredito que o conheça —disse ela, sem ocultar sua alegria—. Está muito acima de mim. Ele foi apresentado a você?
—Não precisamente.
-Ah, mas todos trabalhamos para ele em alguma ocasião, não é certo? Pergunto-me quantas vezes terá saído meu rosto em uma de suas revistas. Certamente milhões. Entretanto, nunca conheci o imperador.
— O imperador?
É assim que o chamamos. Além disso, ouvi dizer que, dirige suas revistas como se fosse um império.
—Parece que não gosta dele.
—Não —afirmou Gina encolhendo os ombros—. Os imperadores me deixam nervosa. Eu sou apenas uma simples plebéia.
—Sua imagem não é nem simples nem plebéia —replicou ele—. Bom, acredito que estas fotografias deverão vender litros de xampu —acrescentou. Baixou a câmara e a olhou aos olhos diretamente—. Acredito que já o temos, Gina.
A jovem relaxou. Então, tirou o cabelo do rosto e o olhou com curiosidade.
-Me conhece? Sinto muito, eu não posso dizer o mesmo. Trabalhamos juntos antes?
—O rosto do Gina Weasley está por toda parte. Eu devo reconhecer os belos rostos...
—Bom, parece-me que você tem vantagem sobre mim, senhor...
—Potter. Harry Potter—respondeu ele. Então, disparou a câmara uma vez mais para capturar a expressão atônita que se refletiu no rosto de Gina-. Agora, já pode fechar a boca, Gina. Acredito que tenho suficiente —acrescentou, com um amplo sorriso nos lábios. Ela obedeceu imediatamente, O gato comeu sua língua?
Naquele momento, Gina o reconheceu pelas fotografias que tinha visto dele nos jornais e nas revistas que ele possuía. Amaldiçoou-se imediatamente pela atitude estúpida que tinha mostrado ante ele. Demorou alguns segundos para encontrar a voz.
—Deixou-me que falasse desse modo —gaguejou, com os olhos brilhantes e as bochechas ruborizadas—. Limitou-se a tirar fotografias que não tinha direito algum a fazer para deixar que eu seguisse falando como uma idiota.
—Estava simplesmente seguindo ordens -disse ele. O tom sério e a expressão sóbria de seu rosto deram a Gina mais motivos para sentir-se envergonhada e furiosa consigo mesma.
—Bom, não tinha direito algum a obedecê-las. Deveria ter me dito antes quem era —sussurrou ela. Sua voz tremia de indignação. Por sua parte, ele se limitou a encolher- os ombros e sorrir.
—Não me perguntou.
Antes que ela pudesse responder, a porta do estúdio abriu de par em par. Neville entrou, com aspecto desanimado e confuso.
—Senhor Potter —disse enquanto se dirigia para ambos—. Sinto muito... Pensei que tinha que me reunir com você em seu escritório -acrescentou enquanto mexia no cabelo com agitação—. Quando cheguei lá, disseram-me que você iria vir aqui. Não sei como me pude confundir dessa maneira. Sinto muito que tenha ficado esperando.
—Não se preocupe —lhe assegurou Harry com um sorriso—. A última hora foi muito interessante.
—Gina —sussurrou Neville, como se só naquele instante desse conta da presença da jovem-. Deus santo... Sabia eu que havia me esquecido de algo. Teremos que tirar essas fotografias mais tarde.
—Não há necessidade —afirmou Harry enquanto lhe entregava a câmera—. Gina e eu já nos ocupamos delas.
— Você tirou as fotografias? —perguntou Neville, atônito.
—Gina não viu razão alguma para desperdiçar o tempo —respondeu Harry. Então, voltou a sorrir—. Estou seguro de que as fotografias serão adequadas.
—Disso não me cabe nenhuma dúvida, senhor Potter—respondeu Neville, com certa reverência—.Já sei o que o senhor é capaz de fazer com uma câmera.
Gina sentia um enorme desejo de que o chão se abrisse e a tragasse. Tinha que sair dali rapidamente. Nunca na sua vida havia se sentido tão estúpida, embora reconhecesse que Potter tinha sido o culpado. Como tinha podido ser tão descarado a ponto de deixar que acreditasse que era um fotógrafo? Lembrou como o ordenara que começasse e as coisas que lhe havia dito. Fechou os olhos e se lamentou em silêncio. A única coisa que desejava naquele instante era desaparecer e, com um pouco de sorte, não ter mais que voltar a ver Harry Potter em toda sua vida.
Começou a recolher suas coisas com rapidez.
—Eu vou embora para que possam falar de negócios. Tenho outra sessão do outro lado da cidade -anunciou. Então, pendurou a bolsa sobre o ombro e respirou profundamente—. Adeus, Neville. Foi um prazer conhecê-lo, senhor Potter—acrescentou. Continuando, tratou de dirigir-se para a porta mas Harry a agarrou pela mão e a impediu.
—Adeus, Gina —lhe disse. Ela se viu obrigada a olhá-lo nos olhos. Ao notar a mão dele sobre a sua, sentiu que as forças a abandonavam-. Foi uma manhã muito interessante. Teremos que voltar a repeti-la muito em breve.
«Quando o inferno se congelar», disse-lhe ela com o olhar, sem pronunciar palavra alguma. Então, murmurou algo incoerente e se dirigiu à porta. O som da risada de Harry Potter foi a última coisa que escutou antes de partir.

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