Surpresas.
Apesar da inesperada chegada de Gina surpreendesse seus pais, não lhe fizeram perguntas nem quiseram explicação alguma. Muito em breve, ela se habituou à rotina dos dias na granja. Quase sem que se desse conta, passou uma semana.
Durante aquele tempo, Gina tomou por costume passar muitos momentos a sós na varanda da granja. As horas entre o anoitecer e o momento de ir para cama eram as melhores. Era o momento que separava as ocupadas horas do dia das horas de reflexão da noite.
O balanço do alpendre rangeu brandamente, turvando assim a tranqüilidade da tarde. Observou o suave avanço da lua pelo céu noturno e desfrutou do aroma do charuto de seu pai quando ele se sentou a seu lado.
—É hora de conversar, Gina —disse enquanto lhe rodeava os ombros com um braço—. por que retornou tão de repente?
Ela suspirou profundamente e apoiou a cabeça contra a dele.
—Por muitas razões, principalmente porque estava cansada.
— Cansada?
—Sim, cansada de que me fotografasse, cansada de ver meu próprio rosto, cansada de ter que me tirar atitudes e expressões do chapéu como se fosse um mago de segunda categoria, cansada do ruído, cansada das multidões... Simplesmente cansada.
—Acreditávamos que tinha o que desejava.
—Estava errada. Não era o que eu desejava. Não era a única coisa que queria —comentou Gina. Ficou de pé e se aproximou do corrimão do alpendre para observar mais de perto a noite— Agora, não sei se consegui algo.
—Conseguiu muitas coisas. Trabalhou muito duro e conquistou uma carreira brilhante, você deve se sentir muito orgulhosa. Todos nos sentimos orgulhosos de você.
—Sei que tive que trabalhar muito para conseguir o que tenho. Sei que era boa em minha profissão... Quando parti de casa —disse enquanto se sentava sobre o corrimão — queria ver até onde podia chegar sozinha. Sabia exatamente o que queria e aonde me dirigia. Tudo estava catalogado em pequenas categorias. Primeiro A, logo B e assim sucessivamente. Agora, consegui algo que a maioria das mulheres em minha posição dariam algo por ter, mas eu não o quero. Pensei que o queria, mas agora, quando a única coisa que tenho que fazer é estender a mão e tomá-lo, não o quero. Estou cansada de fazer caras e bocas.
—Muito bem. Nesse caso, é hora de deter-se, mas me parece que há algo mais que provocou sua decisão de voltar para casa. Há algum homem comprometido em tudo isto?
—Está tudo terminado —disse Gina encolhendo os ombros— Não estava a meu alcance.
—Gina Weasley, me envergonha ouvi-la falar assim.
—Eu sei. Eu nunca me encaixei em seu mundo. É rico e sofisticado e eu não fazia mais que esquecer do glamour para fazer as coisas mais ridículas. Acredita que ainda continuo chamando os táxis com um assobio? As pessoas não podem esconder o que são... Apesar de tudo continuo sendo a mesma. Além disso, na realidade nunca houve nada entre nós... ao menos não de sua parte.
—Nesse caso, não deve ser um homem muito inteligente —comentou seu pai, dando um trago em seu charuto.
—Algumas pessoas poderiam dizer que não tenho juízo —disse ela enquanto abraçava com força a seu progenitor— Eu só precisava retornar a casa. Agora ficarei bem. Além disso, como amanhã vem o resto da família, temos muito que fazer.
O ar era puro e doce quando Gina montou sobre seu cavalo a primeira hora da manhã para ir dar um passeio. Sentia-se leve e livre. O vento lhe alvoroçava o cabelo e o separava do rosto como se fosse um espesso tapete negro. Ao sentir a alegria da brisa e da velocidade, esqueceu-se do tempo e da dor e desprezou por fim seu sentimento de fracasso. Então, se deteve e contemplou a ampla extensão de campos de trigo.
Pareciam estender-se até a eternidade. Era como um oceano dourado que balançava sob um céu de um azul impossível. Em algum lugar, uma cotovia pareceu anunciar a chegada da vida. Gina suspirou de felicidade. Levantou o rosto e desfrutou das suaves carícias do sol sobre a pele, do aroma da terra voltando para a vida depois do descanso invernal.
Aquilo era Kansas na primavera...Todas as cores eram tão reais, tão vivas... O ar era tão fresco e tão cheio de paz. « por que decidi partir daqui? O que estava procurando?» pensou. Fechou os olhos e respirou profundamente. «Estava procurando Gina Weasley e, agora que a encontrei, não sei o que fazer com ela...».
—Agora o que preciso é tempo, Cochise —disse a seu companheiro de quatro patas. Então, inclinou-se sobre o animal para lhe acariciar o forte pescoço— Só necessito um pouco de tempo para fazer que encaixem todas as peças de meus quebra-cabeças.
Fez que o cavalo se desse a volta e se dispôs a retornar a casa. Começou a cavalgar brandamente, feliz de haver sentido o ritmo da natureza e de ter contemplado aquela paisagem primaveril. Quando vislumbrou a granja, Cochise começou a mostrar-se intranqüilo. Não deixava de dar coices o chão e de atirar do bocado. Não queria retornar.
—Tranqüilo, Cochiche...
Fez com que o animal começasse a correr. O ar vibrava a seu redor, misturado com o som dos cascos sobre a terra. Gina deixou que seu espírito voasse ao ritmo do galope de seu cavalo. Saltaram uma velha cerca de madeira, tocaram brandamente a terra e seguiram galopando contra o vento.
À medida que se foram aproximando da casa, Gina entreabriu os olhos ao ver um homem apoiado sobre a cerca. Puxou as rédeas para que Cochise se detivesse imediatamente.
—Quieto —sussurrou.
Começou a acariciar brandamente o pescoço do animal e murmurou suaves palavras para acalmá-lo. Não deixava de olhar ao homem. Parecia que nem a metade de um continente tinha sido suficientemente grande para poder escapar.
-*-
Harry se separou da cerca e se dirigiu para ela.
—Bela atuação —disse— Era impossível saber onde terminava o cavalo e onde começava a mulher.
— O que está fazendo aqui? —perguntou ela.
—Só passava por aqui... e pensei em lhe fazer uma visita —comentou ele enquanto acariciava o focinho do cavalo.
Gina apertou os dentes e desmontou.
— Como soube onde me encontrar? —quis saber Gina. Olhava-o muito fixamente, mas, de repente, desejou ter mantido a vantagem que lhe dava a altura do cavalo.
—Mione me ouviu chamando a sua porta. Disse-me que tinha partido —disse ele. Falava de um modo ausente. Parecia muito mais interessado em acariciar ao cavalo que em dar explicações a ela— É um cavalo muito bonito, Gina —comentou, olhando por fim à mulher. Seus olhos verdes observaram atentamente o cabelo penteado pelo vento e as avermelhadas bochechas— E você sabe muito bem como montá-lo.
—Precisa refrescar-se um pouco e que o escove —replicou. Sentia-se bastante zangada pelo fato de que seu cavalo parecesse estar gostando tanto das suaves carícias daqueles largos dedos. Resolveu levar o cavalo ao estábulo.
—Ele tem nome? —quis saber Harry. Tinha começado a andar a seu lado.
—Chama-se Cochise —replicou com voz seca. Quase não pôde evitar dar com a porta do estábulo na cara dele quando entrou atrás dela.
— Pergunto-me se deste conta de que a cor deste animal, combina com você —comentou, enquanto se acomodava contra a porta do estábulo. Gina começou a escovar ao animal com grande dedicação.
—Eu nunca escolheria um cavalo por uma razão tão pouco prática —repôs, sem afastar o olhar da pelagem do animal. Estava de costas ao Harry.
— Quanto tempo faz que o tem?
—Criei-o quando só era um potro.
—Suponho que isso explica o porquê dos dois se encaixarem tão bem.
Harry começou a percorrer o estábulo enquanto ela terminava de polir ao cavalo. Enquanto suas mãos estavam ocupadas, sua mente não fazia mais que pensar em dúzias de questões que não tinha o valor de perguntar. O silêncio se foi fazendo cada vez mais intenso até que se sentiu incapaz de escapar dele. Por fim, quando foi impossível para ela prolongar por mais tempo os cuidados do cavalo, dispôs-se a sair do estábulo.
— Por que fugiu? —perguntou-lhe Harry quando os dois saíam pela porta.
—Eu não fugi —replicou ela. Improvisou rapidamente— Queria ter um pouco de tempo para pensar nas ofertas que tive... A esta altura de minha carreira não quero tomar uma decisão equivocada.
—Entendo.
Sem saber se a ironia que havia no tom da voz de Harry era real ou produto de sua própria imaginação, decidiu tentar desfazer-se dele.
—Tenho coisas que fazer. Minha mãe me espera na cozinha.
Entretanto, parecia que o destino estava contra ela. Naquele momento sua mãe abriu a porta traseira e se aproximou deles.
— Por que não mostra a Harry a granja, Gina? Não preciso de você agora.
—Mas os bolos... —disse ela, tentando fazer sua mãe entender que se tratava de uma situação desesperada.
Não obstante, Molly decidiu não prestar atenção alguma a sua silenciosa súplica e lhe sorriu docemente.
—Ainda temos muito tempo. Estou certa que Harry gostaria de percorrer a granja antes do jantar.
—Sua mãe foi muito amável e me convidou para ficar, Gina —disse ele com um sorriso ao perceber o assombro com que Gina olhava para sua mãe— Ficarei encantado, Molly.
Furiosa com o fato de falarem como se fossem velhos conhecidos, Gina deu a volta e murmurou sem entusiasmo algum:
—Muito bem. Vamos.
A pouca distância se deteve e o olhou com um açucarado sorriso.
—Bom, Harry —lhe disse com certa ironia— o que você gostaria de ver primeiro, o curral das galinhas ou os porcos?
—Decida você —respondeu ele, sem deixar que o sarcasmo com o que lhe tinha falado lhe afetasse de alguma maneira.
Com o cenho franzido, Gina se dispôs a mostrar-lhe tudo.
Em vez de parecer tão aborrecido como ela tinha esperado, Harry se mostrou muito interessado por todas as tarefas da granja, da horta de sua mãe até a gigantesca maquinaria de seu pai.
De repente, pôs uma mão sobre seu ombro para que se detivesse e olhou os campos de trigo.
—Já compreendo ao que se referia, Gina —murmurou—São magníficos. É como um oceano dourado.
Ela não respondeu.
Harry girou a cabeça e antes que Gina pudesse protestar, agarrou-lhe a mão.
—Alguma vez viu um tornado?
—Não se vive no Kansas durante vinte anos sem ver um —replicou Gina.
—Deve ser uma experiência fantástica.
—É —afirmou— Lembro-me que, quando eu tinha uns sete anos, ficamos sabendo que um se aproximava . Todo mundo corria de um lugar para outro, protegendo os animais e preparando-se para o pior. Eu estava em meio a todo aquilo... —sussurrou. Deteve-se durante um instante. Então, olhou ao horizonte como se isso a ajudasse a reunir suas lembranças—... Eu o vi aproximar-se. Era como um enorme funil negro, que se aproximava cada vez mais. Tudo estava tão tranqüilo, mas se podia sentir como o ar ia levantando-se pouco a pouco. Eu me sentia completamente fascinada. Meu pai saiu para me pegar. Colocou-me sobre seu ombro e me levou para porão da casa. Tudo transbordava placidez. Parecia o final do mundo. Então, escutou-se um som muito forte, como se centenas de aviões estivessem atravessando o céu por cima de nossas cabeças.
Harry sorriu. Imediatamente, Gina experimentou o já habitual impacto em seu coração.
—Gina —sussurrou. Então, levou-se docemente a mão da jovem aos lábios—. É tão doce que parece incrível...
Ela voltou de novo a andar e, estrategicamente, meteu as mãos nos bolsos. Em silêncio, rodearam a granja enquanto Gina tratava de encontrar a coragem necessária para lhe perguntar a razão de sua visita.
—Você... Tem negócios em Kansas?
—Pode ser dizer assim —respondeu ele. Sua resposta não foi muito esclarecedora, por isso Gina tentou dar um tom casual para o que tinha falado.
— Por que não enviou um de seus empregados para que se ocupasse dos afazeres que o trouxeram até aqui?
—Há certas coisas que prefiro me ocupar pessoalmente —respondeu ele, com um zombador sorriso nos lábios, que, evidentemente, tinha a intenção de zangá-la. Gina encolheu os ombros como se aquela conversa lhe fosse completamente indiferente.
Nota da Autora:
Meninassssssssss não me matem!!!! Tá tudo muito corrido e só tive um tempinho agora!!!
Eis aí o penúltimo capítulo!!!!!
Bjão gurias!!!!
*__Lya
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