Sangue de Serpente [100%]

Sangue de Serpente [100%]



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Rachel abriu os olhos, focando, com alguma dificuldade, o chão do local onde encontrava-se.


Inspirou e expirou vezes seguidas, enquanto tentava aliviar as suas dores sem ter que gemer.


Permaneceu quieta enquanto respirava ofegante e rezava para que tudo aquilo pelo que passara tivesse sido apenas um maldito pesadelo.


Observou de novo o local onde encontrava-se, sem mexer-se para não despertar as atenções, tentando assim abstrair-se da dor e da dormência que envolviam todo o seu corpo,


A alcatifa negra tornara-se ainda mais escuro ao ser visto daquele ângulo tão inferior. Não era macio, muito pelo contrário, era áspero e se alguém se atrevesse a esfregar-se nele acabaria por arranhar-se. Quando os dedos das mãos de Rachel deslizavam suavemente sobre o tapete, os fios que este soltava acabavam por prender-se às unhas desta, e quando a mulher tentava soltá-las destes, acabava por sentir uma alguma dor e uma grande impressão. Por sorte aquele tapete não agarrava-se a cabelos.


Os olhos da mulher ergueram-se lentamente, focando aos poucos a luxuosa cama que se encontrava à sua frente. Tudo naquele quarto irradiava luxo. Um luxo diferente, negro, discreto, mas mesmo assim luxuoso.


Não era o quarto que Rachel alguma vez atribuiria a Voldemort, era muito diferente daquele que esta alguma vez se atrevera a imaginar. Talvez uma cova escura numa gruta, com o chão coberta pelos restos dos cadáveres das vitimas, maioria de muggles, que ele havia morto, rodeados por gigantescas serpentes que olhavam ferozes para tudo o que se mexesse e não fosse o seu mestre. Mas ao contrário de tudo o que ela alguma vez esperara, o quarto deste poderia ser considerado como, se neste não estivessem incluídas as cobras, um quarto confortável e até agradável.


Parte da colcha da cama encontrava-se caída sobre a alcatifa que cobria o chão, revelando uma parte dos seus lençóis negros.


Rachel reparou no pormenor das colunas que sustinham o dossel negro. Estas eram impressionantemente decoradas com pequenas serpentes que parecia enrolar-se em torno da coluna de uma forma possessiva, com as cabeças, de madeira escura, esculpidas em relevo parecendo prontas a ataca quem delas se aproximasse, olhando com um olhar atroz para todo o quarto.


O som que as cobras emitiam ao deslizarem, era o único som que se podia ouvir dentro daquelas quatro paredes. Os vidros das janelas estavam enfeitiçados de modo a impedirem a transferência de qualquer som, quer de dentro para fora, como de fora para dentro. O mesmo acontecia com a porta do quarto, que deveria dar a um dos corredores principais daquela grandiosa mansão. Esta para além de ter um feitiço isolador de som, também estava protegida por um que impedia qualquer tentativa de abrir a porta, quer por alguém de dentro do quarto como por alguém de fora deste, somente Voldemort conseguia entrar e sair do quarto, não precisando sequer de um anti-feitiço.


O quarto havia ainda sofrido um feitiço que impedia materializações. Voldemort havia estudado e aniquilado todas as possibilidades que Rachel pudesse ter de fuga. Sair daquele quarto era algo praticamente impossível.


Rachel remexeu-se com um grande desconforto ao ver que uma das serpentes descia da cama e aproximava-se lentamente do local onde ela encontrava-se.


Fechou os olhos com força, tentando reprimir o pavor que tinha por cobras. Podia ouvi-la a aproximar-se cada vez mais, de uma forma lenta e quase torturante.


Reprimiu todos os arrepios que se tentavam formar no seu corpo. Susteve a respiração e fechou os olhos com mais intensidade. Cerrou os punho, segurando os fios da alcatifa com força, ignorando a impressão que estes causavam ao agarrarem-se às suas unhas.


Os batimentos cardíacos da mulher tornaram-se mais descontrolados e menos ritmados. Rachel tentou respirar calmamente como se estivesse a dormir.


Nem Voldemort lhe causava tanto pavor.


Os pêlos da nuca da mulher ergueram-se ao sentir que a cobra estava a pouco mais de um metro de distância.


Sentiu alguns dos seus músculos começarem a contrair-se, mas Rachel fez um enorme esforço para não tornar isso visível.


Podia ouvir os sibilos arrepiantes da cobra aumentarem à medida que esta aproximava-se.


O corpo de Rachel ficou tenso e depois paralisou. A mulher susteve de novo a respiração. Não podia ouvir mais nada além dos seus próprios batimentos cardíacos. Estes encontravam-se muito mais calmos, calmos até em demasia para se considerar que estivessem estáveis.


Rachel podia sentir a língua fina da cobra quase tocar-lhe no rosto sempre que esta sibilava. Se tivesse forças e não estivesse paralisada, Rachel teria com todas as certezas estremecido e arrepiado-se, mas como esse não era o seu caso a mulher continuou paralisada, tentando não ouvir nada para além do seu coração, tarefa que se tornara quase impossível.


Um novo silvo fez-se ouvir, mas este não era daquela cobra, era muito diferente, era longínquo mas alto, forte, vivo, frio, autoritário e acima de tudo um silvo que parecia ter sido proferido pelos lábios de um humano.


A cobra parou, e depois sem qualquer aviso prévio, e para surpresa de Rachel, voltou para trás, indo na direcção onde o forte silvo parecera formar-se.


A mulher, ao ver que a cobra encontrava-se já distante, lançou um fraco suspiro de alívio.


Os seus braços e pernas continuaram imobilizados. Rachel abriu um pouco dos olhos e tentou prestar atenção ao que se passava, tentando não dar a entender que se encontrava já acordada.


Ouvia os sibilos naturais das outras cobras, que pareciam querer comunicar algo de importante umas com as outras, mas o sibilo que ela pensara ter afastado a cobra de si não voltou-se a proferir.


Rachel permaneceu durante algum tempo à procura de quem poderia ser aquele sibilo.


As dores voltaram a surgir no seu corpo. Dores que lhe trouxeram algumas imagens dos últimos momentos que Rachel tentava recordar-se mas sem ter qualquer sucesso.


A sua memória havia-lhe falhado. Sabia onde estava, como lá chegara e quem a levara até lá, mas esquecera-se dos últimos momentos antes de abrir de novo os olhos, momentos que foram de certeza compostos por várias torturas.


As dores que encontravam-se cravadas nos seus músculos, causadas pelas várias cruciatus que sofrera, assumiam formas aterradores assemelhando-se às dores originais da cruciatus.


Não havia facadas, nem labaredas, mas Rachel podia sentir os seus ossos aquecerem chegando ao ponto em que escaldavam.


Rachel gemeu baixinho, inspirou fundo tentando acalmar a dor.


Um aroma agradável entrou pelas suas narinas.


Era um aroma diferente do comum, discreto, frio mas mesmo assim muito agradável, e acima de tudo era muito cativante, chegando até a ser hipnotizante.


Rachel sentiu um pequeno arrepio. Todo o quarto tinha aquele mesmo perfume. Quer fosse a alcatifa, os lençóis ou simplesmente o ar, tudo tinha aquele perfume. O perfume dele.


Um ruído, provocado por alguém que levantava-se de uma cadeira, despertou-a.


O perfume que lhe era familiar espalhou-se mais pelo ar, mas ficando mais forte, carregado, e muito mais próximo ao local onde Rachel encontrava-se.


Aos poucos, os seus músculos ficaram novamente dormentes, distraindo-se das dores que ainda envolviam-nos. Rachel começou a recordar-se das últimas horas que passara e das quais havia perdido a memória.


- Afinal ainda temos a noite toda.- A voz fria e sedutora sussurrou-lhe ao ouvido. Todos pêlos do corpo da mulher ergueram-se.


- Uma ilusão, uma pequena ilusão.- Tentava uma voz interior acalmá-la.


Sentiu, o que se assemelhavam a mãos frias, passarem-lhe levemente pelas pernas arrepiando-a.


Uma onda de dor, fraca mas permanente, atravessou-lhe todo o corpo, era óbvio que esta não passava- assim como as mãos- de uma alucinação, de uma recordação, mas mesmo assim de uma recordação muito viva e realista.


Podia ouvir os sussurros dele enquanto a onda de dor aumentava. Não o via, talvez por estar com os olhos fechados, mas podia sentir o seu cheiro gélido que, mesmo com inocência, aliciava-a.


Os sussurros do homem pareciam querer provocá-la, seduzi-la para esta fazer o que ele pretendia. Provocavam-na para ela pedir misericórdia, mas Rachel não os escutava com atenção, as suas forças eram todas gastas no combate à dor.


As suas mãos deslocaram-se até, ao que pareceram ser, os ombros do homem, encravando de seguida as suas unhas nestes.


Os sussurros continuaram cada mais, com tentativas mais sedutoras. Podia sentir que os lábios frios do homem estavam próximos do seu ouvido, arrepiando-a com as suas falsas promessas de morte ou de menos dor.


Lágrimas escorreram pelos seus olhos, mas estas não foram suficientes para trazer qualquer tipo de piedade ao homem.


As mãos de Voldemort empurravam-na com força contra a parede, que, com simples toques, pareciam queimá-la interiormente. A mulher conteve-se para não gritar, mordendo o lábios até fazer quase sangue neste, mas isso não foi suficiente para reprimir os seus gritos interiores de dor.


Sentia o seu corpo dorido estendido sobre a alcatifa, mas mesmo assim as recordações quase faziam-na acreditar que ainda encontrava-se encostada à parede, com o seu corpo preso a esta, pelo dele.


Os passos ecoaram pelo quarto, passos que ela soube não pertencerem a nenhuma das suas memórias.


Ele estava ali, não só nas suas malditas memórias, mas também na realidade.


A dor fictícia continuava com uma enorme ferocidade apesar de já não atacar Rachel com o mesmo ardor que atacara minutos antes. Apesar de estas fazerem apenas parte das suas recordações, por vezes a mulher tinha que se conter para não dar um grito de dor tamanha era a veracidade que estas tomavam.


Um pequeno receio apoderou-se do corpo da mulher, teria ela gritado quando era torturada daquela maneira?


Um arrepio atravessou a coluna de Rachel. Se tivesse gritado, isso explicaria o facto de não estar a sofrer a cruciatus naquele momento.


Encravou as suas unhas na alcatifa sem importar-se com os pequenos fios que se soltavam desta. Os seus olhos permaneceram fechados, enquanto procurava ainda vestígios do que se passara, na sua memória.


Os passos cessaram fazendo a mulher descontrair-se ligeiramente, pode sentir uns olhos fixos no seus corpo.


-Maldita.- Uma voz sibilou ao seu ouvido, era bastante óbvio que esta, assim como todas as outras, não passava de uma simples alucinação, mas mesmo assim conseguia ser bastante intimidante.


Sentiu a varinha dele tocar-lhe de novo nas costas.


- Crucio.- A voz sibilou. E de novo, apesar desta saber que aquilo não passava de uma recordação, as entranhas da mulher contraíram-se em sinal de nervosismo, provocando-lhe depois alguma dificuldade em respirar.


Rachel pode ver, através das suas memórias, o sorriso cruel que ele fizera ao ver a dor que se inscrevera nos seus olhos.


Quanto tempo é que toda aquela tortura durara?


Fora esta suficiente para deixá-la semi-inconsciente?


A morena procurou em todos os recantos escondidas as temidas recordações em que ela ouvisse-se a gritar de dor e agonia. Mas, para seu enorme alívio, nenhuma destas alguma vez apareceu.


Mesmo apesar dessa pequena confirmação, Rachel continuou à procura, para assim ter as certezas se havia ou não gritado.


Os passos recomeçaram a andar, de uma forma mais calma, mas mesmo assim, estes não puderam deixar de ecoar pelo quarto inteiro.


As recordações da tortura demoravam a passar, e apesar de sempre serem apenas recordações, estas acabavam sempre por trazer algum custo ao serem relembradas.


Ao fim de uma tortura vinha sempre uma outra tortura, sempre com um seguimento contínuo, e psicologicamente desgastante.


Ao ver que nada obteria das suas memórias, a mulher tentou retornar ao mundo real, abstraindo-se assim de todas as informações que o seu cérebro queria-lhe transmitir.


Mas infelizmente o regresso ao mundo real causou o regresso da dor real, uma dor que apesar de não ser tão horrorosa como aquela das suas memórias conseguia, ao ser verdadeira, um impacto muito mais forte mais forte no seu corpo.


- Quatro da manhã.- Uma voz fria pronunciou-se, mas desta vez ela foi real. Rachel sentiu um arrepio intenso na sua espinha.- Sabes à quantas horas estás a levar com a cruciatus, sangue de lama?


Rachel continuou imóvel com a esperança que ele desistisse e fosse-se embora ou que então acabasse com aquilo de uma vez.


- Sei que estás desperta, escusas de tentar enganar-me.- Disse friamente.


A mulher abriu os olhos, e tentou levantar-se mas a falta de forças fê-la logo desistir. Os seus olhos pararam nos seus pulsos e só aí pode reparar que se encontrava acorrentada à parede.


Algumas serpentes desceram da cama e aproximaram-se da mulher deslizando próximo ao local onde esta se encontrava.


- Tenho que admitir, Mattson, superaste as minhas expectativas.- Sussurrou.- Três horas...e sem um único grito.


A mulher soltou uma fraca gargalhada que trouxe-lhe dificuldades respiratórias e obrigou-a a tossir.


- Eu já tinha-te dito.- A mulher murmurou, olhando para Voldemort com um pequeno sorriso nos lábios.- Eu não peço misericórdia a mestiços.


Os olhos de Voldemort brilharam fulminantes. Aproximou-se de Rachel, segurou-a e levantou-a bruscamente, apertando-lhe os braços para esta não cair. A mulher tentou encará-lo, fraca, enquanto que a dor no seu corpo aumentava. Voldemort encostou-a à parede e prendeu-a contra esta, apertando os braços da mulher de forma a ampará-la e a aprisioná-la.


- Não brinques comigo, sangue de lama.- Intimidou-a.- A tua imprudência começa a irritar-me.


A mulher soltou uma outra gargalhada. Esta acabou por aprisioná-la mais contra a parede, mas mesmo assim não foi o suficiente para amedrontar a mulher.


- A minha paciência está a esgotar-se, sangue de lama- o homem continuou a falar ignorando as gargalhadas fracas de Rachel- as tuas bocas levianas, e o teu desrespeito começam a irritar-me, e acredita...isso não é algo de bom.
O corpo de Rachel foi empurrado ainda mais contra a parede. A mulher olhou com bravura para Voldemort.


- Então sugiro-te, Riddle, que me lances um Silencio em vez de uma Cruciatus.- Respondeu-lhe gélida.- Porque acho que é a única forma de calares-me.


As unhas do homem encravaram-se nos braços de Rachel.


- Não devias brincar tanto, sangue de lama, na tua situação não é muito...favorável.


Os lábios do homem encostaram ao ouvido de Rachel.


- Ainda não aprendeste a ter noção do perigo, Rachel?- Perguntou com provocação na voz.


A mulher surpreendeu-se ao ouvi-lo pronunciar o seu primeiro nome, depois comprimiu os lábios e formou um sorriso.


- Não tenho medo de mestiços, Riddle.- Respondeu-lhe no mesmo tom de provocação.


Os olhos de Riddle brilharam com fúria. O homem apertou Rachel mais contra a parede, empurrando a sua varinha contra a cintura desta. A varinha deste surpreendentemente começou a perfurar a carne da mulher que, não contendo mais, gritou de dor. Pequenos fios de sangue escorregaram pela varinha, e depois para as mãos de Riddle e posteriormente para as mangas da camisa deste.


As unhas da mulher correram aos braços de Riddle, tentando forçá-lo a soltá-la, arranhado-o e empurrando-o, mas sendo a força desta muito inferior à dele, aquela tentativa desesperada de nada serviu para além de avivar pequenas gargalhadas no homem, que apertava Rachel cada vez mais contra a parede e torturava-a de uma forma cada vez mais lenta.


Riddle fazendo um pequeno sorriso glorioso, retirou a sua varinha dos poucos centímetros de carne que havia perfurado, e depois, dizendo um pequeno feitiço, reconstituiu miraculosamente a carne que fora perfurada.


A mulher soltou frágeis gritos de dor, tanto pela dor que o feitiço lhe causara como pela cura que Riddle lhe dera para este. Sentia-se desfalecer, mas Voldemort era cruel demais para a deixar fazer tal, portanto murmurava alguns feitiços que a obrigavam a manter-se lúcida.


A mulher inspirou fundo, fechou os olhos e conteve as lágrimas de dor que haviam surgido nos seus olhos. Depois, reunindo todas as suas forças, começou a rir-se.


Voldemort olhou-a surpreso, não teria aquilo sido o suficiente para calá-la de uma vez. Afastou-se ligeiramente deixando-a escorregar pela parede, rindo-se.


Tudo no corpo da mulher havia sido espantosamente regenerado pelo feitiço que Riddle lançara, até mesmo a própria camisola que esta usava, mas quanto à dor, esta ainda continuava presente nas entranhas da mulher.


- Por mais que me tortures, Riddle, continuas a ser mestiço e eu continuo a não temer-te.- Disse-lhe gargalhando muito mais alto do que gritara.


Riddle aproximou-se desta, fulo, e, sem qualquer dó, segurou-a pelos cabelos e ergueu-a novamente, prendendo-a de novo contra a parede.


- Então vou ter que ensinar-te a temeres-me.- Sussurrou.


Os lábios deste deslizaram suavemente pela orelha da mulher, expirando ao ouvido desta. Rachel fechou os olhos e tentou conter toda a sua sanidade e dor caixa em que à muito tempo tentava resguardá-las.


Soltava pequenos risos, frágeis que apesar de tentarem ser frios e maldoso por vezes saiam doces e puros, mas sempre com uma enorme provocação.


- Com que arma, Riddle? Já nãos as testastes todas?- Provocou-o com uma voz doce.


O homem olhou-a com ódio. Empurrou a sua varinha contra a cintura da mulher, envolvendo depois esta num dos seus braços.


- Uma sangue de lama.- Sussurrou ao ouvido desta.- Como podes tu, uma fraca sangue de lama, não temeres-me a mim, o Senhor das Trevas, o homem mais poderoso do mundo, quando muitos muito mais poderosos que tu temem-me. Como é que uma garotinha tão frágil como tu teme alguém tão poderoso quanto eu? Isso é impossível! Tu mentes! Tu temes-me como mais ninguém teme-me, Mattson, eu consigo ver isso nos teus olhos, não podes ocultar-me o pavor que tens de mim.


Rachel soltou uma gargalhada fraca.


- Uma garotinha? Que idade pensas que tenho Riddle? Quinze? Sou muito mais poderosa que muitos puros-sangue que se pavoneiam por aí. Muito mais poderosa que muitos que te seguem e te chamam o Senhor das Trevas.- Disse, rindo-se das últimas palavras.- Como te podes considerar o homem mais poderoso do mundo, Voldemort, quando à muitos mais que, todos os dias, provam que são-te muito mas mesmo muito mais superiores.


Desta vez foi Voldemort que riu-se das palavras da mulher.


- Estás a falar do Dumblodore?- Perguntou rindo-se.- Esqueceste-te que ele está morto? Que eu matei-o.


Rachel fez um pequeno sorriso, falsamente doce.


- Não preciso de ir tão longe.- Disse docemente.- O Harry já é...


- O Potter?- Riddle soltou uma gargalhada louca.- Quem está no poder Mattson? O Potter? Quem domina o mundo?


- Ele venceu-te quando ainda era um bebé...- Contra-argumentou a mulher.- Um pequeno bebé, frágil. Ele venceu-te e tornou a vencer-te. Ele venceu o suposto Senhor das Trevas, acho que posso considerá-lo superior a ti.


Riddle largou a cintura de Rachel e agarrou os cabelos desta puxando-os, e aproximando assim o rosto desta do dele.


- Ele teve sorte.- Sibilou.- Mera sorte. Ajuda. Ele nunca fez nada por conta própria, o teu querido Potter sempre teve ajuda de uns idiotas que lhe salvaram a pele, apenas isso, desde os teus queridos amigos, ao Dumblodore, todos eles... Todos eles puseram-se à frente dele para protegerem-no quando eu ia matá-lo. É isso que torna o teu querido afilhado no Escolhido...ter pessoas que se põem à frente dele e salvam-no. Achas que é isso que torna alguém na pessoa mais poderosa do mundo, sangue de lama? Mera sorte!


- Eu mesma me porei à frente dele se isso garantir-me a sua protecção e a tua derrota, Riddle.- Respondeu Rachel com bravamente.


Riddle riu-se.


- Então és tanto ou mais idiota que eles.- Disse-lhe Riddle.


A mulher sorriu.


- O Harry vai vencer-te. Eu sei.- Disse calmamente.- E eu irei celebrar a tua derrota.


Voldemort sorriu.


- Assério?- Perguntou.- E tu acreditas que ele vai aceitar-te de braços abertos e celebrar contigo?


Uma forte dor atingiu-lhe o peito, e Rachel teve que fazer uma enorme força para continuar com o seu sorriso.


- Eu não quero saber.- Disse apesar de não parecer convicta das suas próprias palavras.


Voldemort alargou mais o sorriso.


- É claro que queres saber.- Disse sorrindo friamente.- Mas eles não. A Ordem nunca vai-te receber de braços abertos, não depois de os teres deixado sozinhos... Cá entre nós, tu provavelmente estás melhor aqui.


Rachel começou a gargalhar, fazendo Riddle alargar o sorriso.


- Se esse fosse o maior dos meus males...- A mulher pensou.


- Mas não te tens que preocupar com isso.- Disse de um modo falsamente consulador. A mulher observou-o desconfiada.- Ele nunca vai vencer-me! Eu vou matá-lo, a ele e a todos os outros membros da Ordem, e a ti...- Um sorriso sádico formou-se nos lábios do homem.- Eu vou manter-te viva. E a tua vida será a tua maior maldição.


Os lábios do homem aproximaram-se dos da mulher, sussurrando próximos a estes e quase roçando nestes.


- Vais suplicar pela tua morte. Vais sentir-te amaldiçoada e vais amaldiçoar quem te amaldiçoou. O Potter irá morrer e tu, criança, irás sofrer como ninguém até agora sofreu.


Aos poucos Riddle afastou-se da mulher com um sorriso glorioso, deixando-a escorregar de novo pela parede, sem ampará-la.


Rachel tornou a rir-se, um riso que conseguiu ser pela primeira vez inteiramente maldoso. Voldemort olhou-a surpreso.


- De que te ris, Mattson?- Perguntou Riddle tanto enraivecido como surpreso, de certo que aquela era a última reacção que esperava de Rachel.- Da tua própria desgraça?


Rachel parou de gargalhar e esboçou um sorriso maldoso, que muito se aparentava com aquele que Annya por vezes fazia.


- Deve ser tramado, não é?- Perguntou sorrindo.


Riddle olhou-a confuso.


- A que te referes, sangue de lama?- Perguntou.


Rachel alargou mais o sorriso.


- Ser um mestiço.- Falou calmamente.- Não ser nem puro, nem muggle, ser algo entre os dois mas que mesmo assim não pertence a nenhum...


Os olhos de Voldemort fulminaram Rachel.


- Sua...


Rachel continuou a sorrir.


- Eu pelos menos sou sangue de lama, tenho equipa, pertenço aos impuros, ao muggles.- Bramiu.- Agora tu, um mestiço, nem és de uns, nem és de outros. Não és dos nossos, mas também não és dos deles. Estás no meio, e no meio sempre ficarás, sem poderes vir alguma vez a pertencer a algum dos grupos... E isso deve ser mesmo tramado.


As correntes libertaram-se dos pulsos da mulher, deixando nestes marcas vermelhas. Rachel observou surpresa os seus próprios pulsos.


- Como...- A mulher começou a falar, surpresa.


Antes que Rachel pudesse dizer algo mais, Voldemort apontou-lhe a varinha e num raio de luz branca, a mulher ergueu-se no ar, sendo depois projectada para trás.


Rachel caiu paralisada no chão, mas antes que pudesse desmaiar, Voldemort murmurou um feitiço que devolvia-lhe algumas das suas forças e tratava-lhe algumas das fracturas internas que pudesse ter feito.


Apontou a varinha de novo a Rachel e ergueu-a novamente no ar, depois aproximou-se dela e segurou-lhe o pescoço, deixando-a escorregar o suficiente para colocar os pés no chão.


- O que me vais fazer agora Riddle?- Perguntou-lhe Rachel tentando arranjar folgo para falar.


- O que te parece, sangue de lama?


Rachel sorriu.


- Não tenho medo da cruciatus. Já me habituei a elas.


Voldemort retribuiu-lhe o sorriso.


- Assério?- Uma das mãos deste deslizou por uma das pernas da mulher, rasgando, propositadamente, o inicio da parte lateral da camisa de dormir desta.


Rachel fez um ar de esgar tentando afastar-se o máximo que podia do homem, o que provocou uma gargalhada cruel neste.


- Não te preocupes.- Sussurrou-lhe Riddle.- Nunca tomaria uma criatura tão nojenta como tu.


Dizendo isto, agarrou no braço da mulher e atirou-a ao chão fazendo-a cair de frente. Esta apoiou o corpo nos braços e tentou erguer-se novamente.


- Vamos ver se de facto és tão corajosa como dizes ser.- Murmurou Riddle.- Crucio.


O cenário das outras vezes repetiu-se. Rachel deixou com que o seu corpo ficasse imóvel e caísse no chão, enquanto se segurava, literalmente, à alcatifa, arranhando-a, para não gritar ou lacrimejar.


Primeiramente, Voldemort observou-a com um sorriso no rosto, mas ao ver que, como das outras vezes, a mulher não fazia intenções de gritar, afastou-se e sentou-se numa poltrona perto de uma escrivaninha.


Os seus olhos ficaram pousados na mulher deitada no chão imóvel com os olhos pregados no tecto, durante alguns segundos.


Os olhos do homem deslizaram pela própria blusa e só aí reparou que a havia sujado com o sangue de Rachel, fazendo um ar de nojo, levantou-se e resmungando baixinho dirigiu-se ao armário, que, ao abrir, tirou uma camisa preta.


- Vês o que fazes, sangue de lama?- Perguntou irritado, não esperando qualquer resposta por parte da mulher.- Estragaste-me uma blusa com o teu maldito sangue. Cabra maldita!


Os olhos param no corpo inerte de Rachel, e, ao ver que esta lutava com todas as suas forças para não gritar, lançou um suspiro desapontado e retirou a blusa, lançando-a ao chão irritado.


O corpo de Riddle era impressionantemente bem constituído. O tom de pele não era muito clara o que ajudava a realçar ainda mais os músculos já bastante bem definidos. Algo que se podia destacar no corpo de Riddle, para além dos seus músculos, era a tatuagem negra que este tinha na parte superior do braço esquerdo. A Marca Negra.


Riddle vestiu a outra blusa, mas antes de a abotoar, dirigiu-se até Rachel calmamente. Parou e observou-a por uns segundos.


- Tu és realmente ridícula.- Disse-lhe, baixando-se para poder observá-la com maior atenção.


Como já esperava, nada obteve em resposta.- Só uma criatura como tu podia ser tão ridícula.


Os olhos de Rachel permaneceram fechados. Riddle podia observar que as belas expressões da mulher contorciam-se com a dor, as suas unhas continuavam espetadas na alcatifa, parecendo quase partirem-se.


Tom inclinou-se sob Rachel, aproximando o seu rosto do da mulher. A sua blusa caiu sobre o corpo da mulher.


- És completamente ridícula.- Repetiu.- Podias já ter morrido se não fosses tão ridícula. Podias não estar a sofrer como sofres agora, à muito tempo, à anos que eu podia ter acabado com a tua angústia. Mas tu és ridícula, e agora estás aqui a tentar fingir que não me temes, que não temes a morte ou a dor, mas eu posso ouvir-te a gritar e a pedir pela morte no teu interior. Á muito tempo que pedes pela morte, talvez mesmo antes de me teres voltado a ver. És ridícula.


Os dedos de Riddle deslizaram pelos lábios de Rachel tocando-lhes com leveza, e abrindo-os. A mulher soltou um pequeno gemido de dor.


- Posso ouvir os teus gritos, Rachel Mattson, não me tentes escondê-los.- Os dedos de Riddle atravessaram com a mesma leveza pelo corpo da mulher.- Se fosses menos imprudente eu poderia reduzir-te a tortura, mas assim não me dás alternativa...Diz-me sangue de lama, qual será a sensação de veres a tua cria receber a mesma dose de tortura que tu recebeste? De a ouvires gritar e não poderes fazer nada? De a veres chorar, soluçar e suplicar-te para que tu a salves e nada puderes fazer? De virares as costas à tua filha?


Os olhos de Rachel abriram-se repentinamente, arregalados, ao ouvirem as frases de Voldemort. A mulher abriu a boca e começou a inspirar sofregamente parecendo estar a sufocar. Parecia querer dizer algo e isso fez Riddle abrir um sorriso.


- É Annya, não é?- Perguntou imparcial ao sofrimento da mulher. Lágrimas escorreram dos olhos de Rachel.- Já calculava.


Aproximou os lábios dos de Rachel e depois pousando os seus nos dela sussurrou.


- Não deve de haver uma tortura pior para ti do que aquela em que vês a tua filha ser torturada.- Levantou-se e abriu um sorriso repleto de charme.- Aposto que neste momento preferias estar morta, mas eu não sou misericordioso.


Fechou os botões da sua camisa e só depois parou a cruciatus. Rachel inspirou para recuperar o folgo.


- NEM TE ATREVAS A TOCAR NA MINHA FILHA.- Gritou-lhe Rachel.- EU MATO-TE SE TOCAS-LHE NUM FIO.


Correntes surgidas das paredes prenderam-se aos pulsos de Rachel e puxaram-na de volta para trás.


- Isso seria interessante de se ver.- Respondeu-lhe o homem antes de sair.


Rachel deixou-se cair no chão, apoiando o corpo pelas mão, não contendo as suas lágrimas e os seus soluços. Pingo por pingo, lágrima por lágrima, várias caíram naquela alcatifa. O corpo de Rachel tremia apavorado com a informação que Voldemort acabara de lhe dar, já nem as serpentes que deslizavam ao seu lado importavam-lhe. Todo o seu corpo doía-lhe não só pela cruciatus mas também pelo terror de perder a única pessoa que amava.


Soluçou, tentando conseguir respirar decentemente, mas nada. Os cabelos cobriam-lhe os olhos e o rosto, que se contorcia pela batalha que se travava no interior do corpo de Rachel, batalha que tinha como objectivo acalmar Rachel.


Passados longos minutos em que somente se ouviram os soluços da mulher, Rachel ergueu-se e sentou-se balouçando ligeiramente sobre o seu corpo.


- Ela é forte.- Murmurava tentando acalmar-se.- Ele nunca irá conseguir magoá-la. A Annya é suficientemente forte.


Uma pequena lágrima escorreu pelo seu rosto.


E se não fosse?


Um pequeno sorriso iluminou o rosto de Rachel.


- Ela é forte.- Repetiu para si mesma.- Riddle vais pagar por todo mal que lhe tentares fazer.






A plataforma 9 3/4 da estação King's Cross havia sofrido um enorme abate quanto aos alunos que anualmente costumavam passar pela sua passagem. Naquele dia, 1 de Setembro, a plataforma costumava encontrar-se repleta de risos de vários alunos felizes pelo regresso à escola e com o reencontro dos seus amigos ou então por alunos ansiosos com a sua primeira ida àquela escola. Mas naquele 1 de Setembro não havia ânsia ou alegria, apenas melancolia.


A plataforma que outrora fora ocupada por centenas de alunos, era agora ocupada por míseras dezenas destes. Não por ser demasiado cedo, eram as mesmas horas que noutros anos fizeram imensos alunos subirem para o Expresso que levá-los-ia a Hogwarts.


Este também já encontrava-se na estação, mas poucos eram os alunos que tinham vontade e coragem de subirem para este. Muitos não subiam ainda com esperanças de que algo os levasse dali para fora e os impedisse de regressarem a Hogwarts.


A plataforma era maioritariamente ocupada por uniformes de cor preta e verde, por vezes, mas muito raramente, poder-se-ia encontrar algum uniforme preto e vermelho ou preto e azul.


Não havia gargalhadas, risos, o único som que era possível ouvir-se era o som de alguns passos mais fortes que ecoavam por toda a plataforma.


Um enorme cão preto observava atentamente as pessoas que caminhavam pela plataforma. Este encontrava-se acapachado atrás de uns pilares e de duas traves de ferro que encontravam-se caídas no chão. Era um óptimo local para esconder-se, dali ninguém o via, mas ele podia ver todos os que passassem por aquela plataforma.


Sendo ele, Sirius Black, uma das pessoas mais procuradas em Inglaterra, pelo menos no Mundo Bruxo, aquele local encontrava-se num ponto que era estratégico.


Olhou fixamente para a passagem que dava à plataforma.


Os olhos do cão eram impressionantemente azuis, brilhantes, vivos e humanos. Brilhava, intensamente enquanto procurando algo no meio da multidão.


Por vezes baixava-se mais, estendia mais o seu corpo, inclinou-se depois para a frente, parecendo querer saltar para o meio de toda aquela multidão.


Arfava ao mesmo tempo em que abanava a sua pequena calda freneticamente. Parecia querer encontrar alguém.


Os seus olhos seguiam por vezes alguns vultos que caminhavam no meio da multidão. Olhava-os fixamente seguindo-os com os olhos atentos, procurando achar algo neles que os identificasse.


Mas sempre que os vultos chegavam a um determinado local, já distante, o grande cão negro desistia de os seguir com os olhos e procurava alguém de novo na passagem da plataforma.


Quando via alguém que conhecesse e não gostasse, rosnava baixinho, lançando pequenos de seguida pequenos latidos que eram inaudíveis a quem por ali passasse.


Guardas vestidos de negro passavam pela plataforma com um ar feroz intimidando todos os alunos que não encontravam-se vestidos de preto e verde.


Ao verem pessoas que lhes eram conhecidas, que na maioria eram pessoas importantes do mundo Bruxo, paravam e acenavam-lhes com pequenos sorrisos. Estes olhavam-nos com um olhar superior e, na maioria das vezes, nem sequer lhes respondiam, continuando a conversar com os seus familiares ou conhecidos.


A passagem deu entrada a uma família formada por três loiros, os Malfoy. Passaram pela multidão sendo quase imperceptíveis. O seu antigo esplendor e orgulho haviam sido drasticamente reduzidos à vergonha.


As outras pessoas que passavam ao seu lado ignoravam-nos, ou então, quando tinham conhecimento da desgraça destes, cochichavam entre si, rindo-se e apontando-lhes discretamente com o dedo.


Até os guardas passavam por eles com indiferença, olhando-os por vezes com um olhar superior e um sorriso de troça no rosto.


Os Malfoy caminhavam a passos largos tentando não reparar nas caras de gozo das pessoas que conheciam-nos.


O grande cão negro rosnou ao ver os Malfoy passearem livres por perto do local onde encontrava-se escondido.


Sirius tornou a observar a passagem.


Estaria mesmo Sam certo? A filha de Rachel Mattson rira mesmo para Hogwarts?


Não cia nenhuma semelhança com Rachel em todas as garotas que por ali passaram e segundo Sam, a garota era a fotocópia da sua mãe.


Uma mulher de cabelos cinzentos que lhe chegavam aos ombros, e de estatura baixa, atravessou a multidão empurrando quem encontrava-se à sua frente, entrou na parte da frente do Expresso com um ar irritado. Um homem expressões parecidas às da mulher de cabelo de igual cor e com a mesma altura, seguiu-a, com um ar rezingão.


Sirius desviou os seus olhos dos Carrow e tornou a procurar a garota no meio da multidão.


Os cabelos ruivos de uma garota que aparentava ser Ginny chamaram a atenção de Sirius, que inclinou o seu corpo canino para a frente tentando visualizar melhor a ruiva.


Sam havia-lhe dito que possivelmente a filha de Rachel, Annya, estaria com a garota dos Weasley.


Várias pessoas rodeavam inconscientemente Ginny, que parecia estar sozinha.


Uma outra miúda aproximou-se da ruiva. Tinha longos cabelos lisos e negros, e era alta. Sirius observou-a com maior atenção, inclinando-se o máximo que pôde. A sua barriga tocou ligeiramente no chão.


O rosto da morena aos poucos voltou-se na direcção de Sirius.


O choque de ver o rosto de Rachel naquela jovem garota paralisou Sirius. O homem demorou alguns segundos a recuperar os sentidos e a observá-la com maior atenção.


Sam não enganara-se ao dizer que a garota era a bela fotocópia da sua mãe. Era exactamente igual, talvez apenas se diferenciasse de Rachel no cabelo.


Talvez...


Os olhos do cão fixaram-se no rosto da jovem, tentando decifrar todos os indecifráveis enigmas deste.


De novo não pôde evitar o choque.


Apesar das expressões da garota serem praticamente iguais às de Rachel, estas tinham pequenas diferenças, diferenças que tornavam Annya e Rachel completamente diferentes.


A mesma beleza rara, mas moldada em bases diferentes.


Ambas tinham expressões doces, mas enquanto as de Rachel eram serenas e afáveis, as de Annya por vezes tornavam-se frias e rígidas.


Um pequeno sorriso dançava nos lábios da jovem. Este, como já era de se esperar, era frio, calmo e ao mesmo tempo, estranhamente, doce.


A garota parecia ser uma mistura completa do Bem e do Mal, talbez por o seu sangue indicar-lhe ambos os caminhos, talvez por esta ser imparcial....


Mas sem dúvida alguma que as suas expressões frias eram muito mais salientes que as suas expressões doces, possivelmente por estas serem as mais verdadeiras.


Os olhos esmeraldinos de Annya brilhavam intensamente, iluminando-lhe o rosto. Os olhos em que, tal como as suas expressões e o seu sorriso, travava-se a constante luta entre o Bem e o Mal. Apesar de belos, os seus olhos eram ocos, e pareciam ser livres de sentimentos e emoções.


Uma luta constante entre o Bem e o Mal, toda ela parecia travar esta batalha a cada segundo da sua vida.


O cão deu um passo para trás, parecendo não querer acreditar naquilo que via.


A confirmação daquilo que temera e que pensara ser impossível estava ali, naquele belo rosto.


Lentamente, passo a passo, o grande cão negro foi-se afastando, ganindo, do seu esconderijo, voltando pelo caminho secreto por onde tinha ido para a plataforma 9 3/4 de King's Cross.


Um jogo de adjectivos contrários faziam a beleza de Annya uma das mais cativantes que Sirius alguma vez vira.





- Annya.- A ruiva chamou a amiga.- Eu vou ali ver se encontro uma cabine, faz o mesmo neste carril.


Annya observou o carril que encontrava-se à sua frente, anuindo afirmativamente com a cabeça. Largou as pesadas malas no porão do Expresso, ficando apenas com uma pequena mala.


A garota sorriu ao ouvir algumas conversas entre figuras do Ministério, esforçando-se para não rir-se ou para não invadir-lhes a mente.


Olhou para a multidão com um olhar superior e depois observou as escadas que a levariam para dentro do comboio.


As conversas da multidão eram irritantes, e apesar de serem mais silenciosos que as multidões a que Annya habituara-se, eram extremamente enervantes.


Com pequenos sorriso sedutores que encantavam um pequeno grupo masculino que encontrava-se por ali perto, a garota subiu graciosamente as escadas, rindo-se daqueles que considerava uns autênticos idiotas.


Aquilo era sem qualquer dúvida um desperdício do seu rico tempo. Um local a que se chamava escola de feitiçaria e onde ela não poderia pôr os seus fantásticos poderes em prática.


Uma jovem inteligente como ela nunca deveria ir para uma escola como aquela, dominada por incompetentes como aqueles que pouca variedade de magia deviam saber fazer. Ela uma garota poderosa e inteligente deveria de aprender numa das melhores, numa turma mais avançada, e com um professor que se pudesse chamar de um bom professor. Mas aquela escola parecia estar longe de poder oferecer-lhe um serviço tão completo.


Na melhor das hipóteses, Annya preferia aprender sozinha enquanto viajava e conhecia o mundo. Mas conhecendo a sua mãe como só ela a conhecia, isso nunca iria passar de um sonho de adolescente.


Pelo que observara na plataforma, ela não era a única deprimida com aquele regresso à escola inglesa, muitos outros pareciam melancólicos, talvez apenas por ser o regresso às aulas, mas ali parecia haver algo mais.


Annya sempre tivera um grande gosto em aprender e sempre destacara-se dos outros de uma forma incomparável. Era um autêntico fascínio quer para professores como para estudantes, conseguindo sempre cativar todos de uma forma que lhe era bastante promissora. Tanto por beleza, como por sabedoria, Annya conseguia sempre obter o que queria sem precisar de fazer grandes esforços, um sorriso, umas palavras mansas, uma voz meiga, ou então simplesmente umas palavras sábias, tudo era usado estrategicamente e sempre com grandes resultados.


Mas era sobretudo o seu grandioso poder que fazia todos admirarem-na, uma magia superior e, como alguns professores repararam, uma magia muito descontrolada e perigosa.


Ela não era uma garota de escolas medíocres e sim uma garota de grandiosas escolas. Hogwarts nunca poderia satisfaze-la na sua busca desenfreada pelo desenvolvimento dos seus conhecimentos e magia.


Subiu o último degrau com um belo sorriso, mas antes de poder sequer dar mais um passo, algo forte foi contra ela fazendo-a cair no chão.


Annya ergueu-se rapidamente, irritada, tentando descobrir quem a fizera cair daquela maneira.


Um rapaz, que aparentava ter uns dezoito anos, de cabelos negros e olhos do mesmo tom, ergueu-se de igual modo, olhando-a com o mesmo olhar.


- Vê por onde andas.- Disse num tom mal-educado.


Annya olhou-o espantada. O rapaz não esperando qualquer resposta por parte da morena deu um passo para o lado e continuou o seu caminho a passos largos sem sequer olhar para trás.


- Vê tu, por onde andas!- Gritou a garota estupefacta tanto pela falta de cavalheirismo do rapaz como pela sua boa aparência.- Inglês!


Voltou-se para o lado por onde o rapaz havia vindo e começou a procurar algum lugar vazio nas cabines, mas antes que pudesse começar a sua busca, Ginny apareceu.


- Encontrei uma cabine.- Disse sorridente.- Está é ocupada por uma pessoa.


Annya abriu um sorriso doce.


- Não faz mal.- Respondeu.- Por mim tudo bem.


A ruiva encaminhou-se até à cabine, mas Annya deixou-se ficar para trás. O sorriso que o irmão Carrow dirigia-lhe, que encontrara-se presente no dia em que ela fora ao ministério, despertou-lhe a atenção...

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