Fuga [100%]



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A jovem de longos cabelos negros deitou-se sobre as ervas verdes que balançavam ao sabor do fraco vento. Olhou directamente para o céu, que se tornara belo e azul sem qualquer nuvem a desferir a sua beleza. O sol, que se tornara belo e radiante, iluminou o belo e triste rosto da garota.

Todo o frio e escuridão que abalaram a própria natureza haviam desaparecido. Naquele momento nada que se encontrava ali no seu redor revelava o autêntico terror pelo qual a morena passara.

Aquele lindo céu limpo não revelava as nuvens, que horas antes, cobriram-no e tornaram-no negro, que cobriram o radiante sol e de seguida a brilhante lua. Não revelava a chuva que caíra sobre aquele terreno e tornara-o lamacento, e que depois caíra sobre a Toca e testemunhara o terror que lá dentro se passara.

Apesar das marcas terem sido apagadas pela natureza, estas ainda estavam gravadas na memória da jovem de longos cabelos negros que estava deitada no chão a observar o céu.

Ergueu-se lentamente, ficando depois sentada com as pernas encolhidas, e agarrando-se depois a estas, observou o horizonte à sua frente, onde se encontrava a Toca, seguida pelo prado que acabava perto das pequenas colinas, onde o sol parecia tocar e desfazer-se em mil cores entre tons avermelhado, alaranjados e rosados.

Os reflexos do sol batiam na colina, no prado, na toca e na erva onde a garota se encontrava estendida, reflectindo nesta e iluminando de seguida a entrada do escuro bosque que se encontrava atrás de si.

O Senhor e a Senhora Weasley deveriam estar deitados a descansar, tentando-se recuperar, sem grande sucesso, dos horrores da noite que se antecedera. Ginny encontrava-se com eles, ainda aterrorizada com a ideia do que lhes poderia ter acontecido. Não os havia largado desde que estes acordaram, prestava-lhes todos os favores que estes lhe pediam. Olhava atenta para o exterior sempre que ouvia algo que considerava suspeito.

Apesar do iniciar da noite fazer o tempo começar a arrefecer, Annya continuou sentada imóvel parecendo por vezes uma escultura de cabelos sedosos, estes por vezes esvoaçavam para o seu rosto, cobrindo-o.

Com pequenos gestos prendia-os atrás da orelha, mas sempre sem retirar os olhos dos vestígios do sol, que acabara por desaparecer.

Ficou estática durante longos minutos, sem fazer grandes movimentos respiratórios, até que ouviu as ervas que se encontravam ao seu lado quebrarem-se. Alguém se sentara ao lado da garota.

Annya ouviu a respiração do sujeito que se sentara ao seu lado, e não precisou olhar para adivinhar quem era.

- O Fred e George já se foram embora.- Informou-a Ginny, olhando ela também para as colinas onde o sol se escondera, mas parecendo abstracta a estas.

Annya anuiu a cabeça em sinal de compreensão, mas não desviou o seu olhar da paisagem, nem falou.

Ginny encolheu as suas pernas e abraçou-se a estas. Por vezes dava rápidas olhadelas na direcção da Toca.

- Estão a dormir.- Sussurrou para si mesma.

Annya observou-a por instantes.

- Acusam-nos de escondermos o Harry. Como podem?- Perguntou Ginny balouçando-se levemente.

Annya permaneceu-se calada, com os olhos fixos em Ginny.

- Há meses que não o vemos. A ele, à Hermione e nem mesmo ao meu irmão. Mas eles a acusar-nos, a torturar-nos...

A ruiva começou a tremer, escondendo depois a cara, por onde desciam as suas primeiras lágrimas, no meio dos seus braços.

Annya observou-a com tristeza.

- Como podem? Como podem ser tão monstruosos?- Os soluços de Ginny tornaram a frase pouco perceptível, ma mesmo assim Annya aproximou-se da amiga e segurou-a nos ombros, forçando-a a erguer o rosto.

- Calma.- Sussurrou.- Tem calma.

Ginny encarou a amiga com uma enorme amargura.

- Desculpa.- Sussurrou, enquanto limpava as lágrimas com uma das mangas da sua blusa. Annya olhou-a confusa.- Desculpa pela maneira como agi ontem.

A morena sorriu.

- Não te preocupes.- Disse sorrindo.- Eu compreendo a situação. Se tivessem feito isso com a minha mãe, possivelmente tê-los-ia morto.

Ginny soltou uma gargalhada sem qualquer emoção.

- Pena que as coisas não sejam assim tão simples.

Annya fez um sorriso maroto.

- Sou poderosa.- Disse risonha.

Ginny não pode evitar um pequeno sorriso, mas logo o seu rosto tornou-se rígido e triste.

- Também tenho que te agradecer pelo que fizeste. Se não tivesses lá eles...- Ginny engoliu um seco e tentou a muito custo reprimir as lágrimas

- Hey!- Annya fez um sorriso encorajador.- Vê isto como uma paga por tudo o que fizeram por mim até agora.

Ginny fez um sorriso grato. Os seus olhos pararam na casa, para depois cerrar os punhos sobre as ervas com uma enorme força.

- Como pode haver tamanhos monstros no universo?- Perguntou desgostosa.

Annya seguiu o olhar da ruiva e observou também a casa.

- O universo é formado a partir deles.- Respondeu-lhe Annya com seriedade.

Ginny olhou-a surpresa.

- Porque fazem isto? Porque não nos deixam em paz? Nós não sabemos nada do Harry!- Bradou desesperada.

- Fazem isto precisamente por serem monstros.- Annya respondeu-lhe com alguma frieza.

- Monstros.- Ginny repetiu num murmúrio. Depois levantou o seu tom de voz, exaltada.- Porquê nós? Não há mais pessoas para...

Ginny baixou o seu rosto envergonhada.

- Não te preocupes, não me ofendes.- Disse Ginny calmamente, fazendo um sorriso triste.

Ginny permaneceu cabisbaixa por uns momentos.

- Porquê nós?- Tornou a perguntar.- Eles sabem que nós não contactamos com o Harry à semanas.

Annya tornou a olhar para as colinas, já envoltas nas sombras.

Inspirou fundo e depois respondeu.

- Acredito que neste momento a tua família seja a única que faça frente a Voldemort- Ginny olhou-a apavorada ao ouvir o nome que Annya proferiu calmamente, esta continuou a falar sem ligar á reacção da ruiva- pelo menos que se tenha conhecimento, que esteja no "activo", todas as outras ou estão mortas ou escondidas.

Ginny pareceu ponderar por uns segundos.

- O meu pai não se quer esconder, apesar dos outros membros da Ordem já terem sugerido isso. Ele diz que é preciso que alguém mostre o rosto destemido.- Disse Ginny pensativa.

- Exactamente.- Annya respondeu sorrindo.- Enquanto houver pessoas que se oponham aos seus ridículos ideais, o seu poder vai andar na corda bamba, e se há algo que eles temem é perder o seu poder. Muitos do ministério, quase todos pelo que pude ver, são autênticos vira-casacas- Ginny olhou-a confusa- pessoas que dão para o lado que lhes der mais jeito. Para eles não lhes importa quais são as ideias que tenham que seguir, desde que tenham uma partícula do poder, por mais mísero que seja, garantido. Tanto seguem assassinos como bem-feitores, no final dizem que se encontravam sob uma imperius.

- Mas muitos seguem-no por medo.- Disse Ginny.

- Por medo, os mais parvos por devoção, e depois há aqueles que seguem-no por medo e ambição.- Annya pegou numa pedrinha e lançou o mais longe que pôde.- Ele é louco, e isto mais tarde ou mais vai acabar.

- Acreditas mesmo que o Harry vai conseguir vencê-lo?- Perguntou Ginny incrédula.

- Não disse que seria o Harry. Até poderia ser um dos seus seguidores...

- Isso é impossível!

Annya soltou uma gargalhada amarga.

- Oh Ginny! Tu não sabes o que as pessoas fazem pelo poder...- Disse com tristeza.

- Ele é o homem mais poderoso do mundo, ninguém teria coragem para tal. Ninguém seria capaz de matá-lo!

- Muitos dos homens mais poderosos morrem nas mãos dos seus. Está na História Muggle, e tenho quase a certeza que também o podes encontrar na História da Magia.

Ginny olhou para Annya surpresa.

- Como sabes tanto sobre ele?- Perguntou-lhe surpreendida.

- Ouvia a minha mãe falar sobre esse tal de Voldemort e os seus seguidores, e além disso não é muito difícil perceber o que se passa, basta conhecer-se um pouco da humanidade- Annya respondeu calmamente.

Permaneceram caladas por alguns segundos.

- Então acreditas mesmo que isto vai acabar?- Perguntou-lhe Ginny com poucas esperanças.

- Ginny, o mundo é um constante ciclo, onde existem aquilo a que tu chamas do bem e aquilo a que tu chamas do mal...

- Não acreditas que o bem e o mal existam?- Ginny observou Annya atentamente.

- Acredito que o mal exista, e acredito que haja vestígios daquilo a que tu chamas bem...

- Acreditas que o mal exista, mas não acreditas no bem. Como é isso possível?- Perguntou Ginny incrédula.

- Simples. E acredito naquilo que vejo e, até agora, nunca vi o bem.- Respondeu Annya, calmamente.

Ginny baixou a cabeça.

- Deves ter razão.- Sussurrou.

Annya sorriu.

- Mas como eu estava a dizer, o mundo é um constante ciclo, o suposto bem e o suposto mal, dão a vez um ao outro...

- Como assim?- Perguntou Ginny confusa.

- O que chamas de bem e mal existem em todo o lado. Onde há luz há sombra, isso é uma das regras principais da vida. Não consegues eliminar a sombra sem eliminar a luz.- Ginny fez menção em tentar interromper mas Annya impediu-a.- O que eu quero dizer é que por mais pequeno que seja, o mal vai sempre existir, assim como a luz. E eles dão a vez de dominar um ao outro. Uma vez domina o bem, passado algum tempo o mal rouba o poder ao bem, e depois o bem rouba o poder ao mal, e assim sucessivamente até aos finais dos nossos tempos. Podes derrotar agora o mal e viver o resto da tua vida em paz e harmonia, mas podes ter quase a certeza absoluta que os teus filhos ou netos vão viver os tempos do mal por longos e tormentosos anos, assim como tu. É irreversível, é o ciclo do universo. Há sempre uns sortudos que escapam ao mal, mas ele existe e sempre existirá, à espreita para recuperar o seu poder. Bem-Mal-Bem-Mal... e por aí fora, por vezes o próprio bem transforma-se em mal, mas nunca o contrário. Afinal o poder corrompe, não é?

Ginny olhou tristemente para a Toca, aquelas palavras feriram-na interiormente.

- Então não se vai viver no bem para sempre.

Annya riu-se.

- Não. O viveram felizes para sempre é só nos contos de fada...

Ginny olhou-a com tristeza.

- Só te quero despertar para a realidade Ginny.- Disse Annya com frieza.- Se queres o teu Bem e a liberdade tens que lutar, tu e todos os outros, e não esperar que algo caia do céu ou que o Potter vos salve. Se queres algo, luta por isso!

- Vais comandar algum exército, Annya?- Perguntou Ginny irónica.

Annya riu-se.

- Não Ginny. Eu disse para tu lutares, não eu.

Ginny olhou-a incrédula.

- Como?- Perguntou embasbacada.

- Ginny, eu não vou lutar pela liberdade de um outro país, nem tentar despertar quem não quer ser acordado. Essa não é a minha função. Acorda quem quer, eu só aviso. Não vou lutar por um país que não é meu! Se queres a liberdade luta e não te queixes, é a única coisa que te digo.

Ginny observou-a por uns instantes, ainda incrédula.

- Este agora é o teu país.- Murmurou.

Annya sorriu.

- Não se depender de mim.
-.-

- Eles não vêm.- Assegurou-a Ginny.

- Como podes ter tantas certeza?- Perguntou-lhe Annya, estavam no quarto de Ginny, acordadas e sem qualquer vontade de adormecer.

- Nunca vêm duas vezes seguidas, e além disso devem acreditar que os meus pais...- Ginny calou-se por uns instantes.- Eles não vão voltar.

- O teu pai vai voltar ao Ministério?- Ginny olhou-a com tristeza.

- Espero bem que não.- Sussurrou.

Ginny olhou com tristeza para a janela.

- Não voltam duas vezes seguidas.- Repetiu para si mesma.

- Os teus pais precisam de algo?- Perguntou-lhe Annya interrompendo o silêncio.

Ginny abanou a cabeça em sinal negativo.

- Eu disse-lhe para chamarem-me, caso necessitassem.- Respondeu.- Ah! O George e o Fred voltam amanhã, eles dizem que vão tirar uns dias. O negócio não anda bom, e também já não se anda seguro na Diagon-All.

- Pois.- Concordou Annya.

De novo o silêncio reinou. Ginny levantou-se, dirigiu-se ao seu armário, abriu este e tirou de lá de dentro uma pequena bola dourada, com pequenas asas brancas.

- Que é isso?- Perguntou Annya curiosa.

- Uma snitch. Não sabes o que é?- Ginny encarou Annya estupefacta.

- Ah sim! A bolinha do Quiditch.

Ginny aproximou-se de Annya e começou a brincar a snitch dourada. Deixava voar alguns centímetros, apanhando-a sempre.

- Gostas desse jogo?- Perguntou Annya curiosa.

Ginny sorriu.

- Adoro.- Respondeu.- O Harry é o melhor seeker que alguma vez vi, é mesmo muito bom.

Annya arqueou as sobrancelhas.

- Oh sim! Estou a ver.- Murmurou fazendo o rosto pálido de Ginny ficar rubro.- O Potter parece ser mesmo muito bom em tudo.

- Em quase tudo.- Respondeu Ginny com um sorriso.

Annya abriu a boca em falsa surpresa, e depois sorriu.

- Oh, já percebi!

Ginny corou ainda mais.

- Não é nada disso.- Respondeu revoltada.

- Claro que não.- Annya fez um pequeno sorriso sarcástico.- Uma queda pelo melhor amigo do mano não é nada!

- Eu não tenho...Oh esquece!- Ginny virou o rosto revoltada, o que fez Annya alargar o sorriso.

- Oh sim conta-me histórias.- Murmurou irritando ainda mais Ginny.- Sou americana, não inglesa.

- Infelizmente.

- Tenho uma inteligência acima da média.- Informou Annya sorrindo, Ginny riu-se.

- A Hermione também tem uma inteligência acima da média.- Disse sorrindo.

Annya olhou-a irritada, não gostava de pensar que alguém era melhor que ela no quer que fosse.

- Inteligência ou por estudos?- Perguntou irritada.

Ginny ponderou por alguns segundos.

- Ela estuada bastante, mas...

- Ah!- Exclamou sorridente.- Por estudos! Eu sou inteligente por natureza, nunca estudo!

Ginny deu de ombros.

- Como queiras.- Murmurou.

- Duvido que ela consiga fazer certos feitiços que eu consigo fazer desde os meus cinco anos.- Gabou-se sorridente.

Ginny olhou-a com tédio.

- Oh claro! Tu és americana.- Murmurou desinteressada.

Annya alargou o sorriso.

- Vês! Aprendes depressa.

Ginny deu de ombros e voltou-se para a janela.

Annya fez um ar pensativo.

- Achas que esse teu amigo Potter pode salvar-nos disto?- Perguntou Annya ao fim de alguns segundos de silêncio.

Ginny olhou-a com tristeza.

- Não faço a mínima ideia. Dizem que ele é o escolhido. Eu não sei.- Respondeu melancolicamente.

- Não acreditas no Potter...

Ginny encarou a morena exaltada.

- Não é não acreditar no Harry, é não ter a certezas se ele vai conseguir!

Annya fez um sorriso triste.

- Que é o mesmo que não acreditar.- Concluiu.

Ginny olhou-a com indiferença.

- O que é que isso interessa?- Perguntou.- Não és tu mesma que dizes que o mundo vive num ciclo, e que tão depressa reina o bem como o mal? Para quê mudar se isto vai voltar ao mesmo?

Annya ergueu-se rapidamente, encarando a amiga intrigada.

- Como?- Perguntou indignada.- E é por isso que não lutas? Vais deixar o mal dominar? Vais deixar os teus filhos crescerem num mundo onde o mal domina?

Ginny deu de ombros.

- Isto volta ao mesmo.- Sussurrou.

- Sim, mas tu, os teus filhos e netos não têm direito a viver, nem que seja por momento, o bem? Só podem viver o mal? É nisso que acreditas Ginny.

- É a lei do universo.- Respondeu Ginny calmamente.

- A lei do universo não é essa, a lei do universo diz claramente que se tu queres uma coisa, independentemente do que seja, tu tens que lutar por ela e não baixar a cabeça por já saberes que isso vai voltar ao mesmo!

Ginny olhou-a aborrecida.

- Podemos mudar de assunto?- Perguntou com tédio.

Sentou-se na cama e encarou Annya, com um sorriso forçado, apesar de tudo já se podia considerar mais bem disposta.

Annya permaneceu alguns minutos em silêncio parecendo pensar em algo.

- Estava agora a pensar...- Disse Annya pensativa.- Em quem poderia ter enviado aquela carta.

As faces de Ginny empalideceram.

- A carta!- Bateu com a mão na testa.- Já me tinha esquecido dela. Quem pensas que poderá ter sido?

- Não sei.- Respondeu Annya pesadamente.- E tu?

Ginny abanou a cabeça em sinal negativo. Annya lançou um suspiro desapontado.

- Alguém que quisesse que nós voltássemos.- Murmurou.

Ginny olhou-a com alguma gravidade.

- Que foi?- Perguntou Annya confusa.

- Alguém que não vos quisesse bem.- Respondeu Ginny com gravidade.


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Mais uma volta que dava na cama. As dores que sentia em todo o seu corpo impediam-na de dormir. Gritar por socorro naquela altura até lhe parecia uma boa ideia, mas só de pensar que teria que gritar todo o seu corpo latejava em protesto.

Sentia-se fraca e inútil, e apesar dos avisos que recebera do monstro, como ela chamava Voldemort interiormente, queria fugir dali e ir buscar Annya para depois ir para a sua doce casa na Califórnia. Mas em contrapartida sentia-se demasiado fraca e dolorida para poder sequer levantar-se da cama.

Por vezes uma lágrima de dor e angústia soltava-se de um dos seus olhos azuis e escorregava pelo se rosto para cair sobre a almofada, onde acabava por ser afogada.

As saudades dos amigos já falecidos e dos ainda vivos voltaram em forma de dor, agora que voltara para a sua terra natal, estas vinham acompanhadas de um grande remorso que só fazia aumentar ainda mais a dor.

Tentou erguer-se várias vezes, mas já não tinha forças nem coragem para tal, portanto deixou-se ficar estendida, coberta pelos lençóis e cobertores quentes.

Por vezes colocava as palmas das mãos sobre a cama, ergui-a os braços, e exercendo força sobre estes tentava, a muito custo, erguer-se novamente. Mas os seus braços começavam a tremer devido à fraqueza e à dor, e Rachel tornava a cair sobre a cama.

Que mais poderia ele lhe fazer?

Já a havia torturado tanto. Matar já ele dizia que não o faria, e mesmo que o fizesse, qual seria o mal?

Annya, uma voz sussurrou ao seu ouvido.

Sentiu uma lágrima triste descer pelo seu rosto ao lembrar-se da filha que não sabia nada dela, e que naquele mesmo momento deveria estar a morrer de preocupação.

Que mal faria em enviar uma carta à filha? Que mais poderia ele fazer? Tantas cruciatus acabaram por habituá-la à dor. E além disso o que poderia haver pior que aquela dor? Que mais poderia ele fazer-lhe? A morte até tinha um som agradável, naquela altura.

Rachel fechou os olhos com mais força, tentando, sem sucesso, expulsar a dor, mas a única coisa que conseguiu foram mais lágrimas.

Num pequeno acto de coragem, Rachel deu uma volta na cama, fazendo algum esforço para os seus pés tocarem no chão, e apoiando as suas mãos na cama, ergueu-se lentamente.

Gemeu de dor ao sentir os seus pés tocarem no chão, causando-lhe grandes dores musculares nas suas pernas, estas tremeram ligeiramente.

Com os olhos fechados por causa da dor, ela caminhou lentamente até ao pequeno baú preto. De lá tirou as duas cartas que tornara a escrever.

Lançou um pequeno suspiro e repensou na sua ideia.

Que mais poderia fazer?

Com um pequeno sorriso no rosto, guardou as suas cartas num dos bolsos das calças que não tirara para se deitar.

- Não faças isso!- Implorou uma fraca voz na sua cabeça.- Pensa na tua filha! Pensa na Annya! Como é que ela ficaria se te acontecesse algo?

Uma lágrima fria e triste fugiu dos olhos e escorreu pelo rosto de Rachel.

- Ela vai ficar bem.- Pensou.- Tenho que fazer isto. Não aguento mais estar aqui! Ele não me vai matar. O máximo que vai fazer é torturar-me de novo, como já o fez inúmeras vezes, mas também, independentemente do que eu faça, ele vai torturar-me.

A sua bela imagem foi reflectida no espelho de moldura preta. De início a imagem limitou-se a imitar todos os pequenos movimentos que Rachel fazia, mas depois parou, paralisada, pálida e mórbida. Lágrimas escorreram dos seus olhos, e caindo de joelhos no chão do reflexo, a imagem suplicou mais uma vez. Lágrimas escorreram pelos seus olhos, lágrimas capazes de meter dó e pena.

- Por favor não vás!- Suplicou.- Por favor.

Os cabelos encaracolados do reflexo esticaram-se e tornaram-se lisos, e os olhos que se ergueram de azuis do tom do céu, passaram a verdes esmeraldinos.

A jovem soluçou e tentando sair do espelho e agarrar as pernas da mãe, suplicou de novo.

- Não vás mãe!- Gritou.

Um forte e doloroso aperto fez-se sentir no coração de Rachel, mas ela não se deixou levar pela a imagem no espelho. Sabia as tramas que se encontravam por trás desta, e, apesar da dor interior que isso lhe causara, deu um passo atrás.

A imagem da jovem foi encolhendo, os seus cabelos tornaram-se de novo encaracolados, e as suas expressões mais dóceis, os seus olhos brilharam intensamente como fazia quando ia começar a chorar, mas contendo as pequeninas lágrimas, a menina abriu um belo sorriso de derreter qualquer coração humano.

- Mamã!- Falou com uma doce voz infantil.- Po favou nô vás! Eu peciso de ti!

Lágrimas escorreram dos olhos de Rachel, esta sentiu-se sufocar. A fraqueza aos poucos dominou-a.

- Mamã!- A criança de cinco anos gritou por Rachel, que apoiada às bordas da cama, e com muito esforço, encaminhou-se até ao armário.

Pegou num longo casaco preto que conseguia cobrir-lhe as ancas e vestiu-o de imediato.

- Vais abandonar-me?- A vós era agora de Annya adolescente, fria e rancorosa.

Rachel evitou olhar para o espelho, não suportaria ver aquilo, não suportaria ver o olhar de ódio e desprezo da própria filha, imaginação ou não. Por mais dor que isso lhe causasse, Rachel fingiu não ouvir, sabia as artimanhas que a sua própria consciência fazia para tentar dissuadi-la em certas decisões, conheci-a muito bem, bem o suficiente para saber enfrentá-la.

Mesmo assim a dor causada era demasiada para ser ignorada, e sem resistir, olhou para o espelho, e lá viu a imagem que nunca suportaria ver. A imagem do olhar de ódio da sua filha.

Abanou a cabeça com violência para tirar aquela maldita imagem do seu cérebro e quando voltou a olha para o espelho, só restava o seu próprio reflexo pálido e triste, este imitou-a de novo em todos os seus movimentos.

- Não!- Gritou a voz ao seu ouvido quando Rachel se dirigia até à porta de saída.- Estás louca? Ele vai matar-te!

- Ele não vai matar-me.- Pensou Rachel.- E mesmo que o fizesse, qual era o problema?

- Annya.- Rachel sentiu um arrepio a atravessar-lhe a espinha.

Fechou os olhos com força e começou a caminhar até á porta do seu quarto. Ao atravessar esta, começou a sentir algum receio. Abriu os olhos e encaminhou-se pelo corredor cautelosa, sempre á espera que "o monstro" aparecesse.

Tinha que fazer aquilo. Convencia-se a si mesma que era o melhor a fazer. Tinha que tentar, tinha que tentar para ir ter com Annya e esconder-se ou voltar para os Estados Unidos, jamais ir-se-ia permitir prisioneira e escrava de Voldemort.

A voz gritou mil e uma razões para Rachel não o fazer, mas passados alguns minutos, e ao ver que a determinação de Rachel não se dizimava, calou-se.

Rachel dirigiu-se até á cozinha e tirou da dispensa uma grande pedaço de pão que guardou-o no bolso do seu casaco. Depois voltou para o hall de entrada.

Rachel aproximou-se lentamente da porta que dava para a rua. As sua mãos pousaram na maçaneta desta e, sem esperar que a voz tornasse a pronunciar-se, abriu-a.

Susteve a respiração por alguns segundos, até ter coragem e força suficientes para tornar a respirar.

Ao contrário do que esperava, nada aconteceu.

Passo a passo, Rachel foi saindo lentamente de sua casa. Depois encaminhou-se rapidamente até às gaiolas que se encontravam na parte mais escondida do jardim.

A pequena coruja começou a chilrar e a bater fortemente com as asas, desesperada, ao ver Rachel.

Rachel correu para tirá-la da gaiola, e com alguns pequenos mimos, segurou-a colocando-a debaixo do seu casaco. Não iria cometer o mesmo erro duas vezes seguidas.

Para acalmar os protestos da corujinha branca, Rachel deu um pedaço de pão que havia trazido da cozinha para esta comer e acalmar-se.

- Depois de fazeres o recado, deixo-te comer mais.- Murmurou.

Fechou a gaiola e encaminhou-se apressada para o pequeno portão da entrada da sua casa, olhando sempre para trás, cautelosa.

Começou a andar depressa pela rua, até chegar aos pequenos prédios que existiam junto ao rio, lá encaminhou-se até a um beco escuro e vazio, onde parou, respirando com alguma ofegância.

Verificou várias vezes que ninguém a observava e depois retirou a pequena coruja por debaixo do casaco, esta piou aborrecida.

Atou as duas cartas no pé desta e depois falou-lhe num murmúrio.

- As cartas são para a Annya e para o Sam. Tu sabes onde encontrá-los.- Estendeu o braço, para onde a coruja voou.- Agora vai, vai e que não sejas apanhada de novo!

Dizendo isto baixou o braço para depois levantá-lo de novo com uma enorme força, obrigando a pequena coruja a levantar voo.

Viu-a a desaparecer na noite, um pontinho branco numa densa escuridão, e fazendo figas interiores para que esta chegasse bem ao seu destino, Rachel materializou-se.

Parou numa rua estreita e escura, que acreditou pertencer a Godric's Hallow, local onde deseja deslocar-se.

Há dezasseis anos que havia prometido a Lily que iria tornar a visitá-la, e até agora ainda não havia comprido nada.

Caminhou pela rua à procura de algum lugar que lhe fosse familiar. Mas nada.

A rua deu lugar a outra maior, que deu lugar a um pequeno largo pouco iluminado, rodeado por prédios velhos e desgastados, onde mais três ruas eram ligadas. Em duas delas podiam observar-se paredes riscadas e homens sentados no chão a rirem-se gargalhadas altas e sonoras que ecoavam por todo o largo, na terceira rua nada se via para além de um estreito escuro.

Em paços discretos, Rachel caminhou para a terceira rua. Sabia como eram aqueles homens, sabia o que cabia naquelas cabeças nojentas e a única coisa que lamentava era o facto de não ter varinha.

A festa que os homens viviam continuou, sem notarem que Rachel passara por ali. Esta continuou o seu caminho aliviada.

A noite era uma enorme fonte de atracção para grandes predadores e aquelas estavam no topo da cadeia de predadores humanos.

Godric's Hallow havia mudado muito desde que se fora embora, como tudo o resto, mas Rachel duvidava intensamente que aquele cenário fosse obra de Voldemort. Se havia algo que ela sabia que os muggles conseguiam fazer era destruir as suas próprias vidas sozinhos.

A rua era escura e assustadora, e de novo Rachel teve que lamentar a ausência da sua varinha.

Um assobio. Rachel sentiu os pêlos da sua nuca erguerem-se enquanto que o seu coração começou a acelerar. Mentalmente pensou em tudo o que sabia de defesa pessoal.

Os seus olhos voltaram-se para o local de onde proviera o assobio. Um som de música muggle alta entrou nos seus ouvidos.

Cinco homens estavam encostados à porta do que parecia ser um bar, todos eles observavam Rachel com malícia e cobiça nos olhos e sorrisos.

Rachel afastou-se o mais que pôde dos homens, deixando-se ser coberta pela sombra que os prédios faziam. Manteve o passo, sem acelerar- por mais que fosse essa a sua vontade- sabia que isso só iria excitá-los ainda mais.

- Que beleza.- Disse um.

Rachel não olhou para o lado para ver quem.

- Como te chamas boneca?- Perguntou um outro.

- Queres juntar-te à nossa festa?- Perguntou o primeiro.

Os cinco homens riram-se. Rachel não olhou-os, fingindo que não os ouvia e mantendo o seu ar calmo e sereno caminhou calmamente até começar a sentir-se mais segura, ao estar mais afastada deles.

- Não sejas mal educada.- Disse um outro.- Fala com as pessoas quando elas falam contigo.

Os homens tornaram a rir-se.

- Não tenhas medo. Nós não te comemos.- Disse o segundo parecendo calmo.

Um homem gargalhou friamente.

- Eu não teria tantas certezas.- Disse o primeiro.- Eu por acaso estou com uma fome do caraças.

Rachel começou a apressar o seu paço, preparando-se para correr se fosse necessário.

- Deixem-na em paz.- Disse um calmamente.- Não queres voltar a meter-te em problemas pois não Joey?

O primeiro homem gargalhou.

- Por uma beleza daquelas meter-me-ia no fogo se fosse necessário.- Disse o tal de Joey.

Passos começaram a ecoar na estreita rua. Rachel sentiu uma volta no seu estômago.

Os passos cessaram, como se o homem fosse impedido de andar.

- Sim, mas já estás em demasiada lenha para quereres que te ponham mais.- Murmurou um outro homem.- Deixa a mulher.

Rachel aproximou-se do final da rua.

- Ela também não deve dar pica nenhuma.- Tentou convencê-lo o terceiro homem.

- Esquece-a, Joey.- O segundo homem falou.- Há ali pegas a mais para desperdiçares a tua vida com aquela.

Rachel virou a esquina deixando de ouvir o resto da conversa. Aquela rua era uma das ruas principais. Era mais iluminada e mais movimentada.

Rachel começou a caminhar apressada, abrandando o passo apenas quando se sentiu mais segura.

A rua tornara-se mais escura.

Rachel cansada aproximou-se da porta de uma igreja.

O relógio deu sinal dizendo que eram quatro horas da manhã. Algumas gotas começaram a cair, gotas que rapidamente se tornaram em chuva torrencial.

A mulher bufou de raiva. Os seus olhos pousaram na entrada da igreja, surpreendeu-se ao ver que esta estava aberta.

À muito tempo que não entrava numa igreja, desde os seus dez anos. Desde que deixara de acreditar que havia algo de superior, algum Deus, pelo menos um Deus para ela.

A morena ergueu-se e dirigiu-se á entrada e, sem saber bem porque, empurrou a porta e entrou.

A igreja era larga e apenas iluminada pela luz das velas. O altar era o local mais iluminado, com pequenos detalhes a dourado. Havia três naves, sendo as laterais envoltas por arcadas feitas de mármore. Sem contar com isso a igreja não era muito rica.

Alguns santos e imagens emolduravam espaços vazios.

Rachel aproximou-se de uma pia e molhou os seus dedos na água, fazendo depois o sinal da cruz. Depois dirigiu-se aos bancos e, fazendo antes uma vénia, ajoelhou-se colocando os joelhos nas joelheiras.

Permaneceu por alguns minutos assim, a olhar para o altar à espera de uma resposta. Mas como já calculava, nada aconteceu.

Alguém ajoelhou-se ao seu lado. Rachel não voltou-se para ver quem era.

- Faz-nos sentir bem e em paz só de um olhar, não acha?- Perguntou o homem.

Rachel voltou-se e deparou-se com homem que aparentava ter a sua idade, com cabelos cor de mel e um bonito sorriso Era bonito e tinha um ar apaziguador.

- Depende dos olhos que vêm.- Respondeu Rachel com seriedade. Apesar disso o homem riu-se.

- Vejo que é como a maioria que entra aqui.- Falou sorridente.

Rachel olhou-o irritada.

- Depende de quem entra.- Respondeu séria.

- A maioria crê ou diz crer.- Disse o homem calmamente.

- A maioria é hipócrita.- Respondeu Rachel com frieza.

- Possivelmente.- Considerou o homem.- Mas quem somos nós para julgar?

A mulher olhou-o surpresa. Depois voltou-se para a frente.

- Sim olho muitos vezes por dia para a Bíblia.- Disse o homem sorridente.

- Deve ter muito tempo livre.- Disse irónica.

O homem riu-se.

- O meu trabalho é com um tempo muito flexível.- Respondeu o homem rindo-se.- Sou o prior desta paróquia.

Rachel surpreendeu-se de novo.

- Um padre?- Perguntou surpresa.- Pensei que só houvesse padres a partir de uma certa idade.

O homem sorriu.

- A vocação não escolhe idades.- Respondeu.- E tu, pelo que posso ver não és católica.

Rachel fez um sorriso triste.

- Para mim não há nenhum Deus.- Respondeu.

- Há um Deus para todos nós.- Disse.- Basta acreditar que sim.

- Para mim, acreditando ou não, nunca o houve.- Disse Rachel tristemente.

O homem riu-se.

- Muitos dizem isso, que para eles só ocorrem desgraças, que Deus não os ama...

- Eu provoco as minhas desgraças não o seu Deus. Duvido que ele me quisesse como sua fiel.

O homem fez um sorriso triste.

- Deus ama-nos independentemente de como nós somos.- O padre disse docemente.

- A Bíblia diz isso?- Perguntou Rachel sarcástica.

- Não. O meu coração diz-mo.- Respondeu-lhe o homem.

- Deveria ter ido para poeta em de ter ido para padre.- O homem riu-se enquanto levantava-se.

- A minha vocação fez-me seguir este caminho.- Respondeu.- Chamo-me Joseph.

Rachel sorriu.

- Rachel.- Respondeu.

O padre Joseph estendei a mão a Rachel para esta levantar-se, ela assim o fez com um pequeno sorriso.

- Não és de cá.- Murmurou pensativo.

- Não. Moro em Londres.- Respondeu.

Joseph observou-a por uns segundos.

- Os teus comportamentos demonstram que tens conhecimentos cristãos.- Disse pensativo.

- Até aos dez ia à missa e praticava os vossos rituais.- Respondeu Rachel séria.

- Deixaste de acreditar?

- Acordei.- Respondeu-lhe a mulher com frieza.- Como já tinha dito, não há nenhum Deus para mim.

O padre Joseph andou até uma das naves laterais, sendo seguido por Rachel.

- Como já te tinha dito, Deus é para todos nós.

A mulher riu-se.

- O que foi?- Perguntou o padre confuso.

- Como pode acreditar em algo que não vê?- Perguntou-lhe Rachel.

- Chama-se fé.

- Mas tu não vês...

- Eu sinto.- Respondeu o homem com um sorriso alegre.- Assim como tu sentiste.

- Não senti nada.- Disse Rachel com frieza.- A minha mãe obrigou-me a vir à missa.

- Mentes.- Acusou-a Joseph.

A mulher parou, olhando-o irritada.

- Era uma criança, acreditava em tudo.- Respondeu amargamente.

- E isso deixava-te bem e feliz, não te deixava?

Rachel olhou-o surpresa.

- Criava-me ilusões de felicidade.

- Ilusões que te faziam suportar o sofrimento.

- Ilusões que de nada serviram-me!- Lágrimas escorreram dos olhos da mulher.- Se o seu Deus existe, porque diabo é que eu sofri tanto? Porque diabo tanta gente boa sofre?

- Terão um lugar reservado no céu! Deus espera-as de braços abertos pronto para lhes dar a paz...As guerras e a fome são causadas pelo homem, porque Deus deu a liberdade ao homem.

- Porque fez ele isso? Porque faz ele sofrer tanta gente boa. É essa a sua resposta? Porque vão para o céu? Pensei que fosse mais original, padre.- A voz de Rachel ecoou por toda a igreja.

O homem olhou-a com tristeza.

- Pois bem porque eu penso que vou para o Inferno!- A mulher bradou.

- És uma boa mulher, porque havias de ir para um lugar tão mau?

A mulher encostou-se a um pilar olhando com raiva para Joseph.

- Estou a gritar numa igreja e o senhor bom comigo. Devo ser uma grande pecadora...- Murmurou Rachel tristemente.

- Todos nós somos. Afinal somos humanos.

- Creio que sim.

- Mas se Deus perdoa, porque não havemos nós de perdoar?- Rachel olhou-o confusa.- O que te perturba tanto?

- Fantasmas. Grandes fantasmas que voltaram ao cimo dos meus pesadelos.

O homem sorriu.

- Então espera que eles se tornem a afundar.

A mulher soltou uma pequena gargalhada.

- Creio que este não se afunda de novo. Respondeu tornando a caminhar.

- Ele irá, acredita.- Confortou-a o padre.- Esse fantasma fez-te muito mal pelo que eu vejo...

- Ele e mais uns tantos.- Respondeu Rachel com seriedade.

- E anjos?

- Anjos?- Perguntou Rachel confusa.

- Sim anjos. Não tens anjos na tua vida? Anjos que afastam esses fantasmas?

Rachel abriu um belo sorriso.

- Sim. A minha filha.

- Então vês! Deus sempre fez algo de bom contigo.- Disse Joseph alegremente.

- Creio que sim.- O sorriso de Rachel murchou.- Como pode ter tanta certeza que isto não é uma mentira?

- Uma mentira de 2000 anos?- Perguntou Joseph sério.

- Há grandes mentiras...

- E se fosse. Qual seria o problema?- Rachel olhou-o estupefacta.- O importante da Bíblia é a mensagem que transmite.

- A mensagem?- Perguntou Rachel confusa.

- Sim a mensagem de amor e paz que nos transmite.

- Então no fundo não lhe importa que Deus exista?- Perguntou-lhe Rachel.

Joseph alargou um sorriso alegre.

- Onde quer que haja amor e paz, Deus estará presente.- Respondeu.

Rachel fez um pequeno sorriso.

- Belas palavras.- Murmurou Rachel.

- Tu mesma disseste que eu dava para poeta.- Respondeu sorridente.

Rachel riu-se.

- Pena continuar a não acreditar.

- Acreditas.- Murmurou.- Mas os teus olhos continuam cegos pelo sofrimento que passaste. Um dia tornar-se-ão a abrir e tu voltarás a acreditar.

- Talvez um dia, mas até lá não conte comigo nas suas missas.- Joseph riu-se.

- Mas conto contigo para conversar. Poucos são os fiéis que me põem tantas questões como tu...

- Porque eles são fiéis...

- Penso que é por tu acreditares mais que eles.- Respondeu o padre calmamente.

A mulher sorriu.

- Se eu poder voltar, voltarei.

- As portas estarão sempre abertas, como podes ver é a qualquer hora e a qualquer dia.

Rachel riu-se.

- É pior que num hospital.- Murmurou.

Os seus olhos passaram pela outra nave. Uma mulher que trajava uma longo manto negro, baloiçou os cabelos loiros, demonstrando uma tatuagem no pescoço, uma tatuagem que Rachel temeu conhecer.

Um sorriso fez-se no rosto da mulher, enquanto que o de Rachel desapareceu.

A mulher caminhou com passos largos até à saída e desapareceu.

- Tenho que ir.- Despediu-se Rachel, saindo da igreja quase a correr.

Na rua a água continuava a cair com uma enorme intensidade. Rachel tentou procurar pela mulher, mas não viu um rasto sequer desta.

Começou a caminhar pela rua, ficando completamente encharcada.

Uma rua mais estreita.

A mulher poderia ter ido por ali.

Rachel ia virar-se para seguir por aquela rua quando se sentiu ser empurrada contra a parede. Algo prendeu os seus braços impedindo-a de mexer-se.

A morena tentou debater-se mas não conseguiu.

- Não devias de caminhar a estas horas pela rua, especialmente por caminhos tão escuros.- Uma voz masculina sussurrou ao seu ouvido.

Rachel virou-se para encarar o homem que a empurrava. Apenas pode ver os olhos negros deste e o chapéu preto que escondia o seu rosto numa sombra, usava também uma capa igualmente negra que lhe ia até aos pés.

O homem foi largando-a lentamente.

- Se queres sair daqui o melhor é seguires aquele caminho.- Disse apontando em frente.- Mas nunca o mais escuro.

- E se eu quiser ir pelo outro?- Perguntou desafiadora.

O estranho olhou-a com seriedade.

- Não queres.- Respondeu com frieza.

Agarrou na mão de Rachel e colocou-lhe algo nesta.

Rachel encarou o crucifixo de prata confusa.

- Que é isto?- Perguntou confusa.

- Guarda-o.- Ordenou-lhe o homem.- Pode ser-te útil.

- Não rezo.

- Não serve para rezar.- Respondeu-lhe o homem friamente.

O homem começou a afastar-se.

- Quem és tu?- Perguntou Rachel curiosa.

O homem voltou-se e encarou-a por segundos, depois fez um pequeno sorriso que foi possível notar-se pela luz que bateu nele.

- Um amigo.- Respondeu desaparecendo de seguida.

Rachel olhou para o local por onde o estranho desaparecera. Seria um seguidor de Voldemort?

Um arrepio atravessou a sua espinha.

Sem pensar em mais nada Rachel materializou-se para o cemitério de Godric's Hallow, fizera mal em não ter feito logo aquilo.

Os seus olhos procuraram a campa da amiga. Ao vê-la, Rachel correu para esta.

Ajoelhou-se e chorou tudo o que ainda não havia chorado.

As suas mãos envolveram o crucifixo com força, e antes que pudesse dizer algo á amiga Rachel observou este.

Os seus olhos pararam na pequena jóia que se encontrava no meio deste e sem pensar duas vezes Rachel tentou retirá-la. Esta saiu com bastante facilidade.

Observou o pequeno papel que se encontrava dentro do crucifixo.

- Uma outra função.- Pensou.- Para transmitirem mensagens secretas.

Abriu o papel e leu-o apressadamente. Mas depressa toda a cor do seu rosto desapareceu sendo substituída pelo desespero.

"Eu sei quem és.
Joseph"


Rachel guardou rapidamente o papel e o crucifixo no bolso e ergueu-se.

Iria queimar aquilo. Era a melhor das hipóteses.

Passos atrás de si.

- Outra vez não.- Pensou.

Voltou-se lentamente, enquanto que aos poucos o pavor dominou o seu corpo.

- Não.- Sussurrou.

Os olhos verdes fulminavam-na com um grande ódio, ganhando reflexos escarlates. Por momentos Rachel pensou ter visto a própria morte naquele olhar.



Obrigada pelos comentários Ivana e Penólope.

A Annya em pequena é tão fofa *_*

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