Godric



Jonathan caminhava pelo corredor com um sorriso de satisfação estampado no rosto, enquanto não parava de girar o pescoço para ver a todos aqueles garotos e garotas de várias idades que continuavam a bagunça que havia do lado de fora, porém com mais intensidade, já que não havia a vigilância dos pais e familiares. Agora eram livres. Livres da autoridade de seus pais. Livres das regras monótonas que não lhes permitiam ser felizes do jeito que queriam. Jonathan sentia essa sensação pela primeira vez e estava adorando.

Continuou sua busca por mais cinco passos, quando encontrou uma cabine quase vazia, ocupada apenas por um garoto de cabelos castanhos, meio baixo e com uma cara um tanto quanto triste, voltada à janela. Olhava com tanta atenção a plataforma e seus ocupantes que nem notou que Jonathan entrava de mansinho. Sua respiração suspirante deixou Jonathan intrigado, algo que acontecia muito com ele. Resolveu tirar sua dúvida, anunciando-se.

-Olá. - O garoto pareceu se assustar, girando-se rapidamente para ver quem estava ali. Mas voltou ao normal quando viu o garoto ruivo de pé, perto da porta. - Posso? - Acenou com a cabeça para o banco paralelo ao dele.

-Hã... Claro, claro. À vontade. - Sua voz era meio arrastada e ausente. Tinha a mesma idade que Jonathan, isso tinha certeza. Pensou em subir o malão até o bagageiro, mas pensou melhor ao lembrar da dificuldade que teve para subir os degraus da entrada. Deitou o malão e encaixou-o na mesa central da cabine. Já acomodado, estudou melhor o garoto à sua frente.Suas roupas trouxas eram compostas por uma camiseta negra e uma calça jeans um pouco larga. Usava um par de óculos que insistiam em continuar na ponta de seu nariz, inutilizando os esforços do garoto. Jonathan seguiu onde ele estava olhando. Viu que mirava a própria plataforma de concreto e não em alguém específicamente.

Aproveitou e buscou seu pai no meio dos muito bruxos, bruxas e vários trouxas. Como esperava, não o encontrou. "Normal" pensou, "deixou detrabalhar três horas só pra me trazer aqui...". Surpreendeu-se ao sepegar pensando no pai. "Caramba, faz cinco minutos que eu me separei dele e já estou assim?". Incômodo com o silêncio, quis puxar conversa com o garoto à sua frente, enquanto a locomotiva começava a estremecer, ganhando de pouco em pouco velocidade.

-Primeiro ano também?

-É... Estou muito ansioso. - Ansiedade era a última coisa que ele demonstrava no momento, mas Jonathan acreditou nele.

-Qual é o seu nome? Talvez sejamos parentes. - Brincou ele. Conseguiu que um sorriso melancólico abrisse caminho por seu rosto.

-Duvido muito. Sou Godric. Sim, Godric como o fundador da Grifinória. Meus pais gostavam do nome, mesmo não sendo nada comum. E o seu?

-Sou Jonathan. Meu nome não tem muita história, pra falar a verdade. Meu pai queria por um nome parecido com o da minha mãe, mas meu avô não deixou porque sairia algo estranho. Não sei de onde ele tirou Jonathan. Ele nunca me disse... -calou-se. "Como é que pode ser? Denovo meu pai!"

-Sua mãe está... - o garoto tentou usar todo o tato possível para continuar - ... Morta? - A pergunta não lhe pegou de surpresa, já estava costumado a ela.

-Sim. Morreu ao me dar a luz. Devia ter algum tipo de doença ou coisa parecida. Não é muito normal as bruxas morrem durante um parto, não é?

-Não sei. Mas entre os trouxas já foi sim muito comum. Antigamente,quero dizer. - Virou-se para olhar de novo através do grosso vidro que os separavam do contato direto com um abafado vento veraneio que molestava às árvores campais, que ficavam para trás a uma velocidade incrível e mais rápida que em um trem comum. Porém, claro, não se sentia nenhuma pressão.

Notando o desconforto do companheiro decabine, ficou calado, tirou umas histórias em quadrinhos de seu malão e dedicou às três horas seguintes a ler histórias reeditadas sobre um trouxa trapalhão. Depois desse tempo de incômodo silêncio, uma bruxa gorducha e um pouco velha aparecera na cabine, oferecendo algo de comida. Jonathan, que tinha a boca seca e o estômago vazio, pediu um bolo de caldeirão, uns sapos de chocolate, um pacote de feijõezinhos de todos os sabores e uma garrafa de suco de abóbora. Godric não se deu ao trabalho nem de sequer olhar para a senhora, que percebeu e se ofendeu silenciosamente e se retirou, batendo à porta da cabine seguinte.

-Sirva-se. - Disse Jonathan à Godric, com os olhos brilhando para a comida.

-Como? - Godric não parecia ter entendido.

-Eu disse sirva-se. Para que você pegue o que quiser. - Jonathan estranhou a pergunta, com o cenho franzido começou a desempacotar um sapo.

-Ainda não entendo. Por que você me oferece algo seu?

Jonathan franziu tanto a testa onde suas sombrancelhas se uniram. Isso sim fora inesperado. "Esse garoto está se revelando cada vez mais como uma pessoa estranha." Olhou para os lados, em busca de uma resposta coerente.

-As pessoas, quando podem, tendem a ser generosas. Quando há algum necessitado, ajudamos a essa pessoa. - Tinha a sensação de estar explicando algo a uma criançinha.

-Então esse seria um gesto que indica a inferioridade do que "aparentemente" é o mais fraco, não? Então eu sou o mais débil entre os dois? - A frieza acompanhavam suas palavras, assim como sua mira penetrante e acusadora. Essa se dúvidas não era a resposta de uma criançinha. Jonathan sacudiu a cabeça, negando.

-Não! Do que você está falando? Eu só estava te oferecendo comida porque você não tinha nada. Foi por educação! - Mas ele sabia que o que Godric acabara de dizer era completamente certo. Jonathan se sentia inconscientemente superior ao oferecer algo à alguém. Repugnava-lhe a idéia de aceitá-lo.

Aquele garoto era cada vez mais estranho. Por que alguém normal responderia assim à uma gentileza? Sempre levava uma cara inexpressiva. Parecia perto de normal quando começaram a conversa, mas depois dessa, Jonathan não procurou mais conversar com ele.Concentrou-se em suas guloseimas, enquanto dava, de vez em quando, uma espiada com a ponta dos olhos para ver se Godric lhe espiava. Mas,para sua decepção, ele não tirou mais uma vez os olhos da paisagem,que agora mudava. Pareciam estar atravessando um morro que haviam atravessado ele e seu pai com o carro, mas não viu em nenhum lugar uma autopista. Parecia um lugar deserto. Achou isso estranho, mas supôs que devia ser algum feitiço para que os trouxas não os descobrissem.

Aquela tarde passava demasiado devagar para o gosto de Jonathan. Não lhes era permitido sair de suas cabines, depois que houve algumas reclamações dos funcionários pela sujeira no corredor, por isso ele era obrigado a interagir apenas com o silêncio de Godric, o que era realmente chato.O que pareceu ser uma eternidade depois, Jonathan se alegrou ao ouvirum apito, lhes informando que deviam se preparar para descer do Expresso. Apressou-se em por suas vestes e o resto do uniforme de Hogwarts, mas viu que seu companheiro de cabine não se incomodava. A mesma inexpressividade estampada no rosto virado em direção a um bosque que parecia fantasmagórico com as luzes e sombras que produziam o pôr-do-sol. Parecia ser a tão famosa e narrada tantas vezes por seu pai: Floresta Proibida. Não via a hora de por os pés nela.

Mas não pode terminar de apreciá-la direito, já que agora a tinham passado e se podia avistar ao começo de uma ampla vila ao longe. Era Hogsmead. O trem freou e eles foram parando lentamente até encaixar perfeita e sincronizadamente na plataforma única de Hogsmead, onde seriam recebidos e levados até a escola. Jonathan, ansioso, pegou seu malão eo arrastou até o corredor, onde se misturou à euforia e gritaria dos diversos garotos e garotas que se empurravam frenética e escandalosamente para sair o quanto antes do antes tão esperado Expresso de Hogwarts.

Jonathan nem ligara para o fato de que deixara a Godric para trás. Sabia que ele poderia se virar muito bem. Mas não estava completamente seguro disso. Jogou seu malão e saltou os dois degraus com esse pensamento na cabeça, mas logo passou ao sentir em suas narinas a revigorante névoa que começava a se formar na atmosfera. Agora que podia esticar as pernas, largas demais para sua idade, se sentia como novo, pronto para encarar todas as aulas que viriam pela frente. Mesmo que fossem naquele dia. Apenas a fome lhe impediria disso.

Ele deixou sua bagagem junto com a dos demais, que a deixavam em um canto e seguiu uma voz que chamava aos alunos do primeiro ano. Avistou a uma mulher que parecia ter acabado de ser atacada por uma manada de explosivins raivosos, que acenava e gritava "ALUNOS DO PRIMEIRO ANO! AQUI, PRIMEIRO ANO!". Tinha uma cicatriz enorme que lhe atravessava o olho direito e a boca até parar na metade do pescoço. Parecia ter sidofeita por uma garra ou algo parecido. Era bem velha e o rosto bem cansado, mas seus movimentos eram energéticos e impróprios de uma idade avançada como a dela. Parecia severa e sábia e tinha diversas expressões felinas. Os óculos eram apertados e encaixados em seu nariz muito pequeno e chato.

-S... Senhora McGonagall? - Perguntou Jonathan, ao se aproximar um pouco mais e constatar finalmente que era Minerva McGonagall a quem chamava aos alunos do primeiro ano. Ela já aparecera na casa dos Potter diversas vezes e Jonathan a conhecera, porém não tanto quanto queria. Era uma mulher misteriosa demais para o gosto dele. Sabia o quanto havia lutado durante a segunda guerra e o quão aleijada sobrevivera a ela.

-Agora não, Potter. - Seu tom de voz autoritário às vezes irritava a Jonathan, mas agora estava demasiado excitado para irritar-se por algo tão banal. - Fique aí quieto enquanto reúno o restante do primeiro ano. - Ele obedeceu. Ficou imaginando-se o motivo pelo qual era ela quem estava ali recebendo aos alunos do primeiro ano e não o guarda-caças. Muitas idéias lotaram sua mente e ele começou a rir por dentro, com suas simulações. Pronto, já estavam caminhando aproximadamente vinte e cinco alunos por um gramado em direção à beira de um lago, onde vários barquinhos flutuavam calmamente sobre um lençol azul escuro que brilhava sob a luz prateada e intensa do luar. -Em trios, por favor, subam aos botes. Se dois ficarem sem bote, poderão vir comigo. - Anunciou a diretora McGonagall, com um olhar intencionalmente sombrio demais para ser bem aceito pelos calourinhos que a rodeavam e que começavam a ocupar rapidamente os barquinhos, tentando não serem os últimos e terem de dividir um barco com a diretora. Por sorte, havia barcos suficientes. - Todos cômodos? Partimos, então!

Como se movidos por motores silenciosos e invisíveis, os barquinhos começaram a avançar lentamente, como uma família excessivamente grande de patos que seguiam à sua mãe, que era o barco de Minerva. Todos admiravam ao começo da floresta negra que rodeava inocentemente aquele pedaço do lago. Mas todos os olhos se voltaram a uma única direção quando o imenso e imponente castelo de Hogwarts emergia do horizonte à medida que avançavam mais e mais. Depois de terem descido à outra margem do lago e terem entrado no saguão de entrada, os novos alunos foram obrigados a esperar aproximadamente dez minutos até que pudessem entrar em um salão gigantesco iluminado por velas flutuantes e por centenas de olhos que lhes miravam com toda a atenção. Muitos veteranos e veteranas que se lembravam do dia em que também haviam sido escolhidos para suasrespectivas casas.

Jonathan cria que seria algo demorado, mas se surpreendeu quando chegou a vez de Godric de sentar-se no banquinho e ser selecionado pelo Chapéu Seletor. Fora algo inédito. Até agora os garotos e garotas eram escolhidos em menos de cinco segundos, sete no máximo. Mas Godric já levava vinte sentado ali. "Isso era a prova definitiva da qual eu precisava paradecidir que..." pensou Jonathan, enquanto o Chapéu Seletor finalmente exclamava Lufa-Lufa "... ELE É MUITO ESTRANHO!". Assistiu a como ele caminhava rápida e nervosamente para a mesa que agora irrompia em aplausos. Era uma atitude diferente e normal demais,comparando-se com a que ele demonstrara no trem. "O que será que esse cara tem?" Jonathan não tirou os olhos dele até ser cutucado por uma garota ao seu lado, dizendo que era sua vez.

Sentindo que corava, Jonathan quase correu até o banquinho e deixou seus olhos emergirem na escuridão. De repente já não podia ouvir os poucos murmúrios que havia no Salão Principal até agora. Só ouvia uma voz que murmurava coisas impossíveis de se entender. Assim continuou por alguns segundos até que Jonathan não se segurou pelo nervosismo e se comunicou mentalmente com o chapéu.

"Hã"?
"Oh, desculpe, jovem Potter. Estava apenas me deliciando com sua mente".
"C... Como assim, se deliciando? O que tem minha mente de especial?"
"Não me cabe a mim dizer o que há em sua mente, mas sim dizer em quecasa você deve e quer ficar."
"Não está demorando muito?"
"Não, não, em absoluto, apenas começamos. Teremos uma temporada agitada... Já é o segundo..."
"Segundo? Como assim segundo? Você se refere à Godric, não?"

Mas Jonathan não obteve uma reposta. Apenas assustou-se ao escutar novamente com seus ouvidos o nome de sua casa, Grifinória. Mas Jonathan não se aliviou ao saber que finalmente acabara toda aquela pressão. Nem tampouco correu, emocionado em direção à mesa da Grifinória e se juntar a seus novos companheiros de casa. Não. Ao invés disso, permaneceu sentado ali, tentando arrancar mais alguma palavra do Chapéu Seletor. Mas este parecia estar lhe ignorando. Insistiu, mas teve que desistir quando a diretora finalmente lhe arrancara o chapéu de cima dos olhos e lhe obrigou a sentar-se ao lado de uma garota que acabara de ser escolhida para a Grifinória também. Intrigado, Jonathan largou-se em sua cadeira e começou a mastigar algumas teorias ridículas sobre Godric enquanto o resto dos alunos eram divididos entre as casas.

Este ano a safra havia sido má para a Grifinória, com apenas cinco novos alunos (Três garotas e dois garotos). Quando tudo terminou, a diretora Minerva começou um discurso, o qual Jonathan tampouco prestou atenção. Apenas tirou os olhos de seu prato vazio quando ele, de repente, ficou cheio de suas comidas favoritas, assustado.Aquele cheiro maravilhoso lhe invadiu as narinas, despertando à fera faminta que estava esquecida desde que terminara o último pedaço de bolo no trem. Sua fome parecia aumentar cada vez mais, agora que tinhatempo para pensar nela.

Com água na boca, começou a se servir de uma concha de arroz acebolado quando alguém lhe cutucou às costas,causando-lhe um arrepio que fez com que ele deixasse a concha cair namesa, espalhando arroz para todo o lado, que desapareceu rapidamentequando um aluno bem mais velho que Jonathan acenara com a varinha à um canto. Virou-se para ver quem lhe havia causado tamanha vergonha. Deu de cara com o enorme sorriso da garota que se sentava à seu lado. Ela era morena e tinha as feições dignas de uma garota de, pelo menos, três anos a mais. Porém, o sorriso maroto da garota anulava essa impressão em grande parte. Segurava uma cesta de pão com as duas mãos.

-Pão, Potter? - Disse ela, chacoalhando um pouco a cesta. Jonathan aceitou, fazendo uma careta estranha de quem não entendia nada.

-Er... Obrigado. - Sorriu. No fim das contas o rosto da garota se tornava engraçado depois que ele se acostumara, mas mesmo assim segurou o riso, mordendo o pão. Virou-se para continuar a comer, já que ela não dissera mais nada. Mas não ficou tranqüilo, já que ela não tirava seus grandes olhos castanhos de cima dele. Tentou por uma couve-flor frita na boca, mas a deixou cair quando ouviu a menina fungar bem no seu ouvido.

-Quer alguma coisa? - Ela havia se aproximado de pouco em pouco, até chegar a quase encostar-se a ele.

-Não, estou bem.

-Qual é o seu nome? - Os olhos da garota brilharam. Parecia estar esperando por isso toda a noite.

-Sou Mariangels, mas me chame de Mari, por favor. - enquanto falava,não parava de fazer gestos estranhos, os quais Jonathan não podia evitar notar. Eram tão chamativos que incomodavam. Mesmo assim tentou ser gentil e olhar em seus olhos. - Sou do País de Gales, de uma cidadezinha minúscula, nem deve estar no mapa, meus pais são bruxos formados, mas meu pai era trouxa e... - E assim foi, por um bom tempo,ela contando toda sua vida, todos seus hobbies... Tudo! Jonathan segurava-se pra não mandá-la calar a boca. Quando finalmente terminou,ele simulou um sorriso e perguntou:

-E de mim, você quer saber algo?

-Não, não. Eu já sei tudo de você! Sou admiradora do seu pai, sabe? Então, conseqüentemente, sou sua fã.

O estômago de Jonathan afundou. Estava demorando a que seu paiaparecesse na conversa. Já não escutava o que a garota falava, nemsequer fazia um mínimo esforço para ouvir. Apenas fitava seu prato,bolando iversos planos sobre como vencer seu pai. Sobre como ser maispopular que ele. "Esse é meu objetivo. Ser um bruxo melhor que ele.Ser famoso por meus atos. Deixar de depender dele. É isso o que eudevo fazer. Terei sete longos anos pela frente. Serão mais do que suficiente".

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N.A.: Terceiro capítulo eu começo a colocar uma N.A. descente =3

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