Senhor Chefe dos Aurores
- Harry... Harry...
Eram sussurros tão inexpressivos que se misturavam ao assoviar do vento entre a fresta aberta da janela, refrescando o quarto escuro e demasiado quente para o agrado de Harry Potter. A voz lhe chamava, disso não tinha dúvidas, mas... Estava realmente acordado? Pelo que sabia, tinha os olhos abertos e vidrados em direção ao teto de seu quarto, mas não tinha noção de seu corpo nem muito menos podia movê-lo voluntariamente. Estava em um tipo de transe onde era totalmente ciente de sua vulnerabilidade no mundo externo. Mas isso pouco lhe importava no momento. Queria saber o que a voz queria lhe dizer.
Apurou os ouvidos, mas já não escutou nada mais que o assoviar de uma coruja que saia para caçar. De repente, uma dor aguda penetrou sua testa, livrando-o do "transe" e permitindo-o levar uma mão ao foco da dor e se contrair, desarrumando sua cama. Tão rápìda quanto começou, cessou. Sentindo uma gota de suor frio escorrer por sua têmpora, Harry sentou-se, com um olhar vago. Fazia muito tempo sua cicatriz não dóia... "Desde que ELE foi derrotado", pensou. "E aquela voz... Me chamava de um jeito que eu não poderia recuzar nunca". Tinha algo naquela voz que lhe lembrava algo ou... agluem.
Ainda era tarde e tinha que levantar cedo no dia seguinte. Seria um dia importante.
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No dia seguinte, Harry se levantou sem sequer lembrar do ocorrido à noite. Já não era o jovem bruxo que derrotara o Lorde das Trevas 20 anos atrás. Agora era um conhecido auror e famoso por natureza. Mas o maior orgulho de Harry era seu filho, Jonathan. Gerado de seu curto matrimônio com Gina Weasley, o jovem Potter era de algo parecido com o pai, mas quem visse diria que não passava de mais um Weasley por seu cabelo 'enruivecido', porém algo mais escurecido que os demais. Também eram excessões os óculos, o nariz e os intensos olhos verdes que pareciam agora ser marca registrada dos Potter. Porém o físico de seu filho era diferente do de Harry quando possuía aquela idade. Quando tinha onze anos, Harry era um garoto um tanto fraco e baixinho, enquanto que o jovem Potter possuía uma massa corporal saudável e era uns cinco centímetros mais alto. Se notava, principalmente,
que era melhor tratado que o pai quando criança.
Ele estava vestindo umas roupas trouxas, sentado na mesa da cozinha, comendo cereais com leite. Parecia ancioso. "Normal", pensou Harry, "com o tanto que ele falou sobre este dia...". O jovem Potter, nos últimos meses, não deixava de falar sobre o dia em que iria finalmente a Hogwarts. Dizia que descobriria todos os mistérios da escola, seria capitão do time de Quadribol, seria monitor-chefe, tiraria as melhores notas, etc. Mas Harry sabia qual era o verdadeiro objetivo de seu filho.
"Ele quer me superar. Ou, pelo menos, não ficar pra trás." Pensou ele, enquanto observava seu filho abocanhar mais uma colher cheia de cereais encharcados com leite. Por isso mesmo não podia deixar de se preocupar por seu filho. "Todos olharão para ele, esperando por uma cópia minha..." Mas Harry não quiz se preocupar com isso. Tirou esse pensamento da cabeça e resolveu entrar completamente na cozinha, onde não foi recebido como esperava.
-Pô, pai, você ainda não está pronto? - seu filho começara a reclamar, olhando para a roupa que Harry sempre usava para dormir com uma cara particularmente feia. - Assim eu vou perder o trem! - Harry, sem dar muita atenção à paranóia do filho, se serviu de um copo de leite e se sentou à mesa, de frente ao outro. Pôs uma cara séria e decidida, o que impediu Jonathan a continuar reclamando.
-Jo, antes que você começe a reclamar de novo, não se preocupe que ainda faltam três horas para o trem sair. Gostaria de ter aquela converssa com você.
-Ah, pai, eu já sei. Tudo se resume em: fica esperto, moleque. - Ao ver que seu pai não mudava de expressão, Jonathan se calou e resolveu não interrompê-lo mais. Como se não tivesse sido interrompido, Harry continuou.
-Como eu lhe contei e você descobriu por conta própria já, Hogwarts é o melhor lugar para que um jovem, seja trouxa ou seja sangue puro, tenha uma grande aventura. Eu sei que você espera ter essa grande aventura e sei também que você faria qualquer coisa por isso. - Jonatahan olhou surpreso para o pai. Nunca lhe havia confessado seus verdadeiros sentimentos para com sua ida a Hogwarts. - Mas, para ser um bom pai, tenho que te aconselhar a deixar essas idéias de lado.
A cara que Jonathan demonstrou foi de total indiferença, como se o pai já tivesse dito isso centenas de vezes.
-Pai, o que você acha que eu vou fazer lá em Hogwarts? Eu vou lá estudar e curtir. Não pretendo fazer nada de mal. Só seguir uma vida que nem a sua. - Ali estava o medo de Harry.
-E é exatamente por isso que eu quero que você esqueça. Esqueça de tentar ser como eu fui um dia... - Sua voz falhou ao perceber que suas palavras mal medidas haviam tocado o filho com mais força que tinha em mente - você será mais feliz se seguir este conselho.
A cozinha foi tomada por um silêncio incômodo, no qual, nem pai, nem filho, trocavam um único olhar. Mantinham a cabeça baixa e continuaram assim pelos dez minutos seguintes. Finalmente, Jonathan terminou com o leite que restava em sua tigela e saiu da cozinha, murmurando algo sobre escovar os dentes.
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O resto do início da manhã foi ainda mais corrido que o planejado. Por mais coisas que Jonathan já tinha prontas, ainda assim, cada vez mais coisas achavam para fazer. O malão estava pronto fazia uma semana, mas Jonathan acabava de se lembrar de uma pequena lista de coisas que precisava levar. Além de revisar mais uma vez o material (faltava a varinha, que foi encontrada embaixo da cama), Harry também teve de revisar as roupas, dinheiro, entre outros pertences ditos essenciais. Tanta correria lhes tiraram da cabeça a troca de idéias de mais cedo, o que ajudou muito na interação dos dois.
Harry vivia em um casarão antigo na periferia de Edimburgo. Sua casa era separada da de seus vizinhos por cercas vivas, imensas e grossas, além de um enorme terreno onde se podia praticar quadribol, se voassem baixo. Saíram apressados. Harry levava o malão de seu filho com a ajuda de um feitiço, enquanto que este corria para o carro trouxa, típico da classe alta trouxa, mas que apenas lhe custara a Harry um par de galeões. Já que não haviam lareiras ou algo do gênero na plataforma 9 3/4, teriam que ir de carro. Mas Londres estava, de fato, a uma distância excessiva, se percorrer de carro na hora e meia que lhes sobravam antes que o trem partisse.
Por gentileza do senhor Weasley, seu carro tinha os mesmos mecanismos modificados magicamente que tinha o velho Ford Anglia dele, porém aperfeiçoado. O multiplicador de invisibilidade já não travava como da outra vez.
Mesmo sobrevoando a autopista engarrafada que teriam de atravessar se fossem em um carro convencional, Jonathan estava inquieto. A ansiedade falava mais alto que a velocidade, dizendo que não chegariam à tempo. Perderia o expresso. Estava enganado.
Chegaram à estação King Cross com quinze minutos de folga. Empurraram o malão entre os muitos trouxas que entravam e saiam de trens, corriam de um lado para o outro, entre outras coisas caóticas cujo motivo Harry conhecia, mas ainda não entendia. Esperaram, para desespero final de Jonathan, que uma grande família de turistas com aparência asiática deixassem de perambular perto do portal para a estação do Expresso.
Quando finalmente passaram, o queixo de Jonathan caíra. Sem dúvida já havia visto uma foto do Expresso de Hogwarts em algum lugar, mas Harry sabia muito bem que não se podia dar comparação. A gritaria, a multidão que se amontoava com seus filhos para as despedidas, as baforadas de fumaça negra que soltava, a locomotiva vermelha... Diziam muito mais que uma mera foto. Mesmo que se movesse.
Harry também se emocionou com a cena, mesmo que discretamente. Sentia falta dos anos que passara na escola com Hermione, Rony, Gina... Ao lembrar-se dessa última pessoa, sentiu um aperto no peito e decidiu voltar sua atenção ao filho, que já não estava ao seu lado, como achava. O jovem se encontrava mais a frente, perto de uma porta de um dos vagões do meio, acenando para que se apressasse.
-Vai, pai, me ajuda a subir este treco logo e... - começara Jonathan, sem poder esconder um sorriso de excitação no rosto, mas foi interrompido por um caloroso abraço do pai. - Ué, pra quê isso? No natal eu estou de volta!
Harry sorriu e soltou o filho, mas não disse nada. Mesmo com aquela atitude do filho, sabia que ele já tinha entendido o recado. Que sentiria muita falta dele. Com a força dos dois, subiram o malão os dois degraus da entrada. Trocaram olhares uma última vez e Jonathan finalmente saiu do campo de visão de Harry ao girar a esquerda no corredor do enorme Expresso, que tocava o apito que anunciava a partida.
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O lobby do Ministério da Magia, como tantos outros dias daquele mês, estaria completamente vazio se não fossem a recepcionista e um guarda de segurança chamado Adolph. O estalo de sua aparatação recente fazia um eco irritante, que durou o tempo que ele levou para se dirigir ao elevador para ser revistado pelo guarda.
Qualquer um diria que ele estava dormindo, mas Harry sabia que alguém tão eficiente como ele não dormia enquanto trabalhava. Estava constantemente vigilando. Talvez fosse estranho, mas assim era como Adolph exercia o que sabia fazer de melhor: proteger. Mesmo sabendo, Harry quis fazer um teste, passando direto por sua cadeira. Mas foi apontado rapidamente por sua varinha.
-Sinto muito, senhor Potter, mas vai ter que me mostrar a documentação hoje também. - Levantou a cabeça e mostrou sua cara bigoduda como o de tio Válter, porém muito mais bondosa.
Harry bufou, em tom sarcástico, se apresentando e entregando ao segurança sua varinha e um documento que lhe dava acesso a todos os departamentos do ministério.
-Está bem, senhor Chefe dos Aurores, pode passar e tenha um bom dia. - com isso, recostou novamente sua cabeça e voltou a fingir que estava dormindo.
Harry obedeceu e passou. Um frio no estômago ainda lhe perturbava pela estranha experiência que foi separar-se de seu filho e saber que apenas o veria quase meio ano depois. Foi com esses pensamentos que ele desceu com o elevador até que chegou ao nível dois. O nível dois era um corredor ladeado de portas sem graça, com paredes sem graça e com uma janela encantada no final dele. Mas a porta na qual ele devia entrar estava mais a frente.
Entrou no quartel-general dos aurores mais tarde do que o normal, por seu compromisso inevitável, mas as coisas iam tão calmas por ali nos últimos tempos que nem devem ter sentido sua falta. O que estranhou foi não ter visto ninguém. Aquilo, mesmo naqueles tempos, estava sempre cheio de aurores que entravam e saiam mas... Dessa vez ninguém estava lá para quebrar o silêncio monótono e frio que fazia ali. O que piorava essa sensação de solidão era o fato de estar abaixo da terra.
A mesa central na qual sempre trabalhavam estava toda bagunçada como de costume, com pergaminhos sobre diversos assuntos, dos quais Harry tinha que se encarregar muitas vezes. Mas um pedaço de pergaminho lhe chamou a atenção. Estava em cima da pilha, era um tipo de bilhete escrito às pressas em um pedaço rasgado, toscamente, de pergaminho. A curiosidade lhe obrigou a pegar o papel e saber que era para ele.
Dizia onde estavam os outros aurores e lhe chamavam para onde estavam. Algo grandioso ocorrera...
Ele não fazia idéia.
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N/A: Bem bem bem! Primeiro capítulo! Aos novos, espero que tenham gostado, aos que se lembram de já ter lido isso, mil perdões por obriga-los a ler-o novamente. Depois de um ano e meio sem postar nenhuma fic, resolvi deletar minha antiga conta no FB e começar do zero! Bem, do zero entre aspas, porque este cap já está escrito desde então.
Mas enfim, quero dedicar este capítulo ao velho Diogo por me dar inspiração (como sempre) a voltar a escrever fics e à minha beta, Lily(Jaline, Line, etc), por TUDO!
Próximo capítulo depois de alguns comentários, entao, por favor, sejam bomzinhos ;D
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