Capitulo XXII
Harry a levou a ondas incríveis de prazer. Seu nome se transformou em um simples murmúrio em seus lábios enquanto se arqueava, tensionava-se ou se relaxava contra seu corpo, amolecida como seda. Se abriu para ele e deixou que deslizasse para dentro dela. Harry colocou a cabeça entre seu cabelo, arrebatado. E a ternura do ato surpreendeu ambos.
Não falaram sobre isso. Quando se separaram pela manhã, os dois agiram como se nada tivesse acontecido. Entretanto, ambos estavam pensativos, e preocupados.
Harry a observou enquanto partia em seu carro, enquanto o sol se elevava sobre as montanhas do leste. Quando se foi, quando já não houve a quem olhar, levou a mão ao coração.
Sentia uma dor que não podia explicar. Tinha a impressão de que ela era a causadora, e de que, de algum modo, em questão de horas, sua relação tinha mudado. Acabava de ir embora e já a sentia falta dela.
Xingou-se por isso e voltou a se xingar quando foi procurar o cigarro. Ambos só eram hábitos, ele tinha certeza. Disse-se que podia controlar a sensação, ou deixar-se levar se quisesse. Gina era uma mulher de atrativos muito poderosos, e não era surpreendente que sentisse saudades.
A final de contas devia ser, unicamente desejo. Não era tão estranho que se sentisse assim depois de ter passado muitas horas de sexo e solidão com uma mulher apaixonada e maravilhosa.
Não pretendia nada mais. Nem ela.
Sentia um alívio saber que tinha encontrado uma amante que não queria nem mais nem menos que ele. Uma mulher que não esperava que jogasse nenhum tipo de jogo, que não queria que fizesse promessas que não pudesse cumprir, que não desejava que dissesse palavras que, no final, só eram palavras.
Agarrou uma pá e começou a limpar a neve que cobria o caminho. O sol estava saindo, de maneira que trabalhou com rapidez, a ponto de agradecer o vento fresco que soprava do norte.
Pensou que, provavelmente, Gina teria ido diretamente tomar uma ducha, para lavar seu lindo cabelo.
Enquanto tirava a neve, desejou saber como seria seu cabelo molhado.
Pegaria alguma roupa de seu armário. Ou melhor, selecionaria. Um pouco de cores suaves e linhas simples. Uma daquelas jaquetas que as mulheres profissionais usavam, com algum adorno na lapela. Depois se maquiaria rapidamente. Um pouco de ruge nas maçãs do rosto, mas não muito; um pouco de cor sob seus incrivelmente compridos cílios. E logo pintaria os lábios o suficiente para acentuar sua beleza e sua plenitude.
Quando já tinha percorrido a metade do caminho, parou, apoiou na pá e se perguntou se não estava ficando louco. De fato, até estava pensando na maquiagem que usava. Em teoria, devia lhe importar muito pouco o que fizesse antes de abrir sua loja.
Entretanto, continuou pensando que já teria posto uma chaleira para esquentar, ou perfumado o lugar para que cheirasse a maçãs e a especiarias. E certamente, seguiria com seu dia de trabalho sem pensar nenhuma só vez nele.
Enquanto retirava a neve, começou a nevar. Disse-se que tinha muito que fazer. Tanto que não tinha tempo para se preocupar com aquelas coisas
Já tinha limpado todo o caminho, e esgotado toda sua paciência, quando apareceu Carlos no carro patrulha.
—Que diabos quer? — perguntou Harry — Não tem ninguém a quem prender?
Carlos saiu do carro e se apoiou na porta, aberta.
—Bem, vejo que está mais calmo. Vi que o veículo de Gina se afastava, assim imaginei que seria um bom momento para eu vim.
—Os operários chegarão a qualquer momento. Não tenho tempo para conversar.
—Neste caso levarei as rosquinhas e irei.
Harry passou uma mão pelo rosto.
—Do que são?
—De maçã e açúcar mascavo.
Alguns costumes eram mais que sagrados para os irmãos Potter. Um deles, as rosquinhas de maçã.
—Bom, vai ficar a manhã toda com esse sorriso estúpido no rosto? Me de uma dessas rosquinhas.
Carlos tirou uma bolsa do carro, obediente.
—Ontem tive alguns problemas na cidade.
—Antietam é um lugar selvagem, já sei. Teve que disparar em alguém?
—Não. — respondeu Carlos, agarrando uma rosquinha antes de lhe dar a bolsa — Mas tive que separar uma briga de socos.
—No bar?
—Não, no mercado. Millie Yeader e a senhorita Metz se enfrentaram em uma disputa pelo último rolo de papel higiênico.
Harry sorriu.
—A pessoas ficam um pouco nervosas quando neva muito.
—Diga isso a Mi. A senhora Metz agrediu Millie com um cacho de bananas que tinha comprado. Tive que utilizar toda minha diplomacia para evitar que apresentasse queixa contra ela.
—Briga com fruta tropical. Não seria nada mal. —declarou Harry, lambendo dedos— Veio para me contar os últimos sucessos e tribulações de Antietam?
—Não, embora isso seja um bônus.
Carlos terminou de comer sua rosquinha e acendeu um cigarro, sorrindo.
—Solta logo o que veio dizer. — Carlos soprou a fumaça em direção a seu irmão.
—Parece que esta nervoso, Harry. Problemas no paraíso?
Harry pensou na possibilidade de bater nele com a pá e pegar todo o pacote de cigarros. Mas em lugar de fazê-lo se apoiou de novo na ferramenta de trabalho.
—Quanto tempo Rony demorou em abrir a boca grande dele?
—Vejamos... Considerando que ontem não houve muito tráfico, demorou exatamente sete minutos para vir diretamente a meu escritório. Portanto, demorou sete minutos e dez segundos em me contar.
—E veio para me oferecer seus maravilhosos conselhos?
—OH, não, já tive bastante com essas duas bruxas que brigaram no mercado .—sorriu de novo.
Terminou seu cigarro e o jogou longe.
Harry o observou enquanto se apagava na neve.
—Não sou precisamente o perito em amores da família Potter. —continuou Carlos — Pensei que queria saber as últimas notícias sobre o Draco Malfoy.
—Está preso, não é?
—Por enquanto. Percebi que pensa em fazer como o advogado falou e alegar que atuou sob os efeitos do álcool. Desse modo, conseguirá se livrar com uma simples multa e a promessa de que não voltará a bater em sua esposa.
—Mas que inferno de leis se aplicam aqui?
—Leva em consideração que as prisões estão abarrotadas, e não querem piorar a situação prendendo por causa de brigas domésticas. Dirá que sente muito, que estava bêbado e que perdeu a paciência. Alegara que sua situação econômica não é muito boa e que se encontra pessoalmente deprimido, e o juiz não terá o que fazer, senão aplicar a lei.
Harry observou com atenção o rosto de seu irmão. Sob sua aparente calma, notava-se que se sentia muito frustrado.
—Vai permitir que isso aconteça?
—Eu não sou juiz. —respondeu, zangado e impotente— Não posso fazer nada, exceto falar com Luna para que se separe dele e me assegurar de que não se aproxime dos meninos.
—Mas enquanto isso, estão na casa de Gina. Isso a coloca na linha de fogo.
—Eu não gosto da situação mais que você. Infelizmente devo agir na lei, embora não me agrade.
—Mas eu não.
Carlos o olhou com frieza.
—Não, você não. Mas se tentar algo contra ele, só conseguirá lhe fazer um favor. Se deixar, ele cometerá algum erro. E, quando voltar a fazer, o meterei na cadeia de novo. Até então... Não sei o que há entre Gina e você, mas se ficasse com ela, eu me sentiria muito mais tranqüilo.
—Quer que eu peça a ela pra morarmos juntos?
—E com Luna e os meninos.
A idéia pareceu muito atraente. Adorava a perspectiva de despertar a seu lado e compartilhar a primeira xícara de café.
—Você não quer me ajudar, Carlos?
—Não nessa vida.
—Que lástima. Em todo caso, falarei com Gina e falo depois o que ela disse.
Continua...
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