Capitulo XXIII
—Absolutamente, não. — respondeu Gina, com os braços cruzados — Não vou deixar que durma na minha cama com dois meninos no quarto ao lado.
—Não tem nada a ver com sexo. — explicou com paciência — Isso seria um prêmio extra, por assim dizer. Estou dizendo que se trata de uma petição oficial por parte do xerife.
—Que por coincidência é seu irmão. Não. — disse, se virando — Luna se sentiria incômoda, e seria um mau exemplo para os meninos.
Harry se perguntou o que ela teria respondido se não houvesse dois meninos na casa. Esteve a ponto de tentar averiguá-lo, mas não o fez.
—Trata-se precisamente deles e de sua mãe. Acha que Malfoy se manterá afastado só porque Luna assinou um papel lhe dizendo que o faça?
—Não sei o que vai pensar em fazer, mas terá que passar por cima de meu cadáver.
A idéia pareceu assustadora para ele.
—Escute-me...
—Não, me escute você. — levantou uma mão — Esse homem é um bruto e um bêbado. Não tenho nenhum medo dele. Ofereci a Luna minha casa e poderá ficar nela todo o tempo que ela quiser. Tenho uma boa fechadura na porta, e o número de telefone do xerife, ao que não terei dúvida em chamar caso seja necessário.
—Mas não tem nenhuma fechadura nesta porta. — disse Harry, olhando para a porta da loja — O que poderia evitar que ele entrasse quando estiver trabalhando, para incomodá-la ou para tentar algo pior?
—Eu.
—Certo. Asseguro para você que sua obstinação não o deterá. Se por acaso não sabe, adora bater em mulheres.
Não sabia como fazer para convencê-la a entender. A ingenuidade das mulheres em algumas ocasiões era irritante.
—Terei que lembrá-lo que eu moro três anos neste lugar, ao contrário de você. Sei muito bem o que ele tem feito a Luna.
—E pensa que porque não está casada com ele esta a salvo? — perguntou, segurando-a — Não é possível que seja tão estúpida.
—Não sou estúpida. — se defendeu — Sou muito competente. E não preciso, nem quero que seja meu guarda-costas.
Os olhos do Harry brilharam com ira. Apertou as mãos sobre seus ombros antes de se afastar.
—Entendo, suponho que essa é a questão. Não quer nem deseja minha ajuda.
Gina suspirou e pensou que nada era tão feroz nem vulnerável como o ego de um homem.
—Se eu precisar de ajuda, o escritório do xerife está a cinco minutos daqui. — declarou, com a esperança de tranqüilizá-lo — Harry aprecio sua preocupação, de verdade, mas posso cuidar perfeitamente tanto de mim como da Luna se fosse necessário.
—Aposto que sim.
—Trabalhei em uma loja em Washington durante anos. Uma noite na mira de uma pistola, assaltaram a loja. Sei como agir nesses casos, sei como me defender e sei muito bem o que não devo fazer. Agradeço sua preocupação, mas eu não sou como Luna. Ele não pode me intimidar, nem me assustar.
—Isso é o que você pensa. A maior parte das mulheres maltratadas se acham tão fortes quanto você antes de encontrar-se nessas situações. As pessoas se enganam ao pensar que são coisas que só ocorrem às fracas.
—Deixe-me terminar. Luna se sente mais segura agora, e os meninos estão muito tranqüilos. Não sei como reagiriam se tivessem um homem por perto. Não conhecem você.
Harry colocou as mãos nos bolsos.
—Pode ter certeza que não penso em assustá-los.
—Mas eles não sabem. Emma passa o dia sentada aos pés de sua mãe, e praticamente não fala. Quanto ao menino... Ele parte meu coração. Precisam se sentir a salvo de novo. E você é muito grande, muito forte, muito masculino.
Harry tentou não pensar no fato de que ela o tinha magoado, no fato de que ela podia magoá-lo, e preferiu concentrar-se no problema.
—Você esta sendo teimosa.
—Faço o que considero melhor. A única maneira que conheço de fazer bem as coisas. Acredite em mim, pensei muito neste assunto e pesei todas as opções. E você morar na minha casa não é uma delas.
—Me convide para jantar. — disse de repente.
—Você quer vim jantar?
—Me convide. Desse modo, poderei conhecer os meninos e se acostumarão comigo.
—Quem está sendo teimoso agora? — suspirou — Muito bem, de acordo. Espero-o às seis e meia. E você irá embora às dez.
—Podemos nos sentar um momento no sofá quando os meninos forem para cama?
—Talvez. Agora, vá embora.
—E não vai me dar um beijo de despedida? — Gina respirou e o beijou na face.
—Estou trabalhando. — respondeu, rindo quando ele a abraçou — Harry estamos diante da janela. Eu...
Harry não deixou que terminasse a frase. A impediu com um beijo.
—Bom, em todo caso, demos algo do que falar.
Entretanto, tinha a intenção de que ela que tivesse algo no que pensar. Queria que pensasse nele dia e noite.
Mordeu-lhe o lábio com suavidade e a soltou antes de partir da loja.
Luna se encontrava no escritório do xerife, com as mãos unidas. Achava que seria mais fácil por estar na frente de Carlos, alguém a quem conhecia por toda a vida. Mas contrariamente ao que tinha pensado, sentiu-se mais envergonhada.
—Sinto muito. Estive muito ocupada e não pude sair até agora.
—Não se preocupe Luna. Já preparei toda a papelada. Só tem que assinar.
Tinha adquirido o hábito de falar com ela em voz muito suave, como se estivesse dirigindo-se a um passarinho ferido.
—Não vai ficar preso, não é?
—Não. — respondeu com amargura.
—É porque eu deixei que me batesse?
—Absolutamente. — respondeu, desejando poder tranqüilizá-la — Confessou o acontecido, mas alegou certas coisas em seu favor. Falou de seu problema com o álcool e de sua situação trabalhista e econômica. Terá que se submeter ao controle de um psicólogo e não se meter em problemas.
—Seria bom para ele. — disse, baixando o olhar — Se deixar de beber, é possível que mude.
—É. — respondeu irritado, assombrado pela ingenuidade daquela mulher — Mas enquanto isso deve se proteger. Precisamente preparei esta ordem para isso. Quando a assinar, ele não poderá se aproximar de você.
Ela levantou o olhar de novo e o olhou.
—Esse documento impedirá que ele volte?
Carlos pegou um cigarro, que não o acendeu. Sua voz soou fria e oficial.
—Impedirá que ele se aproxime de você. Não pode aproximar-se de você em seu trabalho, nem na rua, nem quando estiver na casa de Gina ou em qualquer outro lugar. Se ele desobedecer a ordem, revisarão seu caso e passará dezoito meses na cadeia.
—Ele sabe?
—O notificaram.
Luna umedeceu os lábios. Não podia aproximar dela. E se não podia fazer isso, tampouco poderia lhe bater.
—Só tenho que assinar?
—Sim, só isso. — respondeu.
Levantou, deu a volta na mesa e lhe ofereceu uma caneta. Luna não fez gesto para pegá-la, e o xerife teve que conter um suspiro de desespero.
—Que diabos quer, Luna? Quer me dizer o que quer?
Luna moveu a cabeça e agarrou a caneta por fim. Depois, assinou com rapidez, como se lhe doesse.
—Sei que dei muitos problemas a você, Carlos.
—É meu trabalho.
—E você é um bom xerife. — declarou, tentando sorrir — Todo mundo sabe que pode contar com você. É bom e competente. Minha mãe sempre dizia que seus irmãos e você acabariam na cadeia. Mas da pra ver que ela se enganou. Peço desculpas em seu nome. Era uma estupidez.
—Não acho. Eu mesmo cheguei a acreditar nisso. — sorriu, pensando que naquele momento se parecia muito com a jovem que tinha conhecido — Sabe uma coisa, Luna? Esta é a primeira vez em dez anos que conversamos tanto tempo.
—Sempre acabo falando uma besteira...
—Não se preocupe. Como estão os meninos?
Segurou-a pelo queixo com a intenção de fazê-la levantar a cabeça. Mas então se deu conta de que na realidade estava a ponto de beijá-la, então se afastou um pouco.
—OH, muito melhor.
—Estão se dando bem com Gina?
—Sim, claro. Gina é maravilhosa. Até chego a me esquecer de que estou a incomodando. Faz-me sentir como se estivesse em casa. Tanto ela quanto Harry... Enfim, suponho que tem melhores coisas para fazer que escutar fofocas.
—Não, não tenho. — respondeu disposto a fazer algo para que ela continuasse ali — O que acha da relação que Gina tem com meu irmão?
—Eu... Bom, quando retornou esta manhã, Gina parecia muito contente.
—Pois ele não estava muito alegre quando passei por sua casa.
Luna sorriu.
—Bom sintoma. Harry precisava que uma mulher o fizesse infeliz. Sempre teve muita sorte em suas relações. Bom, ele e todos vocês.
—Ah, sim? Acho que me lembro que você me rejeitou.
—OH, vamos, isso foi há anos. — Luna se levantou.
—Só se passaram doze anos. Você tinha dezesseis.
Enquanto recolhia seu casaco, ela se perguntou se alguma vez, realmente, tinha sido tão jovem.
—Então, já estava saindo com Draco. Mas aconteceram tantas coisas depois que nem sequer lembro como fomos, nem o que queríamos. Muito obrigado por ter se preocupado comigo, Carlos.
—Para isso estou aqui.
Quando chegou à porta, Luna parou, mas não olhou para trás. Era mais fácil falar se não tivesse que olhar os olhos frios do Carlos.
—Antes me perguntou o que eu queria. Pois bem, só quero me sentir a salvo. Isso é tudo.
Então, vestida com um casaco muito fino para o vento que soprava, retornou ao café.
Continua....
Só posto o próximo capitulo se tiver comentários ;)
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