Capitulo XXI



 


 


—Harry, era só uma brincadeira. Venha, me leve para dar uma volta pela casa.


 


—Não, não, espera um momento. Os Potter nunca dão as costas a uma provocação. — Ela suspirou.


 


—Muito bem, então o desafio.


 


—Não, não, assim não. Eu digo que antes de um mês estará tão louca por mim que colocará uma saia curta de couro, de cor vermelha, e entrará no botequim para tomar uma cerveja e jogar bilhar.


 


Gina o olhou, divertida.


 


—Sonhar não custa nada, Potter. Imagina mesmo eu fazendo uma coisa assim?


 


—OH, sim. — sorriu — De fato, imagino perfeitamente. Mas aposto que iria de saltos altos.


 


—Nunca usaria um pouco de couro sem saltos. Não é meu estilo.


 


—Tampouco usaria sutiã. — Gina riu.


 


—Está levando isso muito a sério, não é?


 


—Claro, e você também levará a sério. — respondeu, enquanto a agarrava pela cintura — Porque estará louca por mim.


 


—Obviamente, perdeu a razão. Mas não importa, aceito. — disse, empurrando ele com a mão — De minha parte, digo que antes de um mês estará de joelhos diante de mim, com um ramo de lilás e...


 


—Lilás?


 


—Sim, eu gosto de muito de lilás. E recitará algum poema de Shelley.


 


—E o que ganhará o vencedor?


 


—A satisfação da vitória.


 


—Bom, suponho que será suficiente. — sorriu — Trato feito.


 


Ambos apertaram as mãos.


 


—Vai me levar agora para dar uma volta?


 


—É obvio.


 


Harry passou um braço por cima de seu ombro e se deixou levar pela visão daquelas pernas, em baixo de uma saia curta de couro vermelho. Avançaram pelo corredor e abriu uma porta.


 


—Eu gosto muito da sua idéia de fazer uma suíte nupcial. De fato, esta quase pronta para que possa usá-la.


 


—Harry...


 


Encantada, entrou.


 


O bonito papel decorado cobria quase todas as paredes. O teto já estava pintado, e as portas francesas se encontravam instaladas em seu lugar. Algum dia se abririam para a varanda larga, permitindo que se vissem os jardins, cheios de flores. Quanto ao chão, ainda estava cheio de trapos, mas podia imaginá-lo brilhante e decorado com algum tapete.


 


Abriu espaço entre baldes e escadas, colocando mentalmente os móveis.


 


—Vai ficar lindo. — murmurou.


 


—Certamente. Infelizmente, não pude arrumar o suporte da lareira. Entretanto, encontrei um bom pedaço de madeira de pinheiro, e tenho a um carpinteiro trabalhando nele, utilizando o original como guia.


 


—A pintura rosa ficará muito bonita. — disse, abrindo uma porta — Ah, aqui está o banheiro.


 


—Mmm... No passado era o vestiário.


 


Harry observou o quarto, pensativo. Era grande o bastante, e dava para notar que os encanadores tinham estado trabalhando em seu interior.


 


Gina o agarrou pela mão e perguntou:


 


—Pode sentir o cheiro?


 


—Rosas.— respondeu, acariciando seu rosto — Sempre cheira a rosas aqui. Um dos trabalhadores que estavam colocando o papel de parede, acusou seu companheiro de usar perfume.


 


—Este era seu quarto, não era? O de Abigail. Ela morreu aqui.


 


—É provável.


 


Naquele momento, Gina deixou escapar uma lágrima.


 


—Não chore. — continuou.


 


—É tão triste... Ela devia estar muito infeliz ao saber que o homem com que se casou, o pai de seus filhos, era capaz de semelhante crueldade. Como a tratava, Harry? Amava-a, ou só a possuía?


 


—Não sei, mas não chore. — respondeu, enquanto secava sua lágrima — Faz com que me sinta muito mal. Além disso, não tem sentido que choremos por algo que aconteceu há mais de cem anos.


 


—Ela ainda esta aqui. — disse, abraçando-o — Sinto muito por Abigail, e por todos eles.


 


- Não vai fazer  nenhum bem para nos se cada vez que entrar neste quarto ficar triste.


 


—Sei. — suspirou mais tranqüila ao sentir seu corpo — É estranho, mas pouco a pouco vou acostumando a tudo o que nos rodeia. Há um momento, quando estava lá em baixo, sozinha...


 


—O que aconteceu? — perguntou, olhando-a com inquietação.


 


—Não, nada.


 


—O que aconteceu? — repetiu.


 


Gina estava dividida entre a necessidade de contar-lhe e a vergonha que sentia.


 


—Entrei na biblioteca. No cômodo que era a biblioteca e que continuara sendo. E então... pude vê-lo.


 


Os olhos dele se cravaram sobre ela.


 


—A que se refere?


 


—A biblioteca. Mas não me refiro às mudanças. Vi a original, com livros em todas as paredes, flores na mesa e cortinas nas janelas. Não foi como quando imagino a decoração de um lugar. Não foi exatamente assim. Estava pensando que podia pôr um suporte de livro com um livro antigo, aberto. E, de repente, vi-o e pude ler a página. Quase pude tocá-la. Era uma lista de nascimentos, casamentos e enterros.


 


Conteve a respiração durante uns segundos e acrescentou:


 


—Não vai dizer nada.


 


—Porque estou escutando.


 


—Sei que parece uma loucura.


 


—Nesta casa, não.


 


—Foi algo tão real, tão triste. Tanto como o aroma de rosas deste quarto. Mas, então, transformou-se em algo frio e amargo, como se alguém tivesse aberto uma janela em pleno inverno — declarou, apoiando a cabeça em seu peito — Isso é tudo.


 


—É bastante para um só dia. — acariciou seu cabelo — Chamarei o Carlos para que venha  buscá-la.


 


—Não, não quero ir embora. Fiquei um pouco transtornada durante um momento, mas como disse antes, começo a me acostumar a isso. Posso superar isso, você consegue.


 


—Não devia ter te deixado sozinha.


 


—Não seja tolo. Não acredito que preciso que me defendam de fantasmas.


 


Entretanto, ele queria defendê-la. Ele teria gostado que o chamasse. O surpreendeu a necessidade que tinha que  ela desejasse pedir sua ajuda.


 


—A próxima vez que quiser entrar na biblioteca, me diga e irei com você.


 


—A casa está diferente. — disse com tranqüilidade — Tem feito muito por ela. E começo a sentir que eu também sou responsável por isso.


 


—É claro.


 


—Quando houver gente nela, fazendo  amor de novo, rindo de novo, voltará a ficar diferente. Percebe-se que precisa de calor humano.


 


Parou um momento, levantou a cabeça e pediu:


 


—Faça amor comigo.


 


Harry agarrou seu rosto entre as mãos e a beijou. Depois a puxou pelos braços, e o aroma de rosas os seguiu quando saíram do quarto. Gina o abraçou e apertou os lábios contra seu pescoço. Seu sangue tinha começado a ferver nas veias.


 


—É como uma droga. — murmurou.


 


—Eu sei. — disse Harry.


 


Deteve-se ao chegar nas escadas e a beijou de novo.


 


—Até agora nunca havia sentido nada parecido.


 


Harry pensou que ele tampouco.


 


Começou a descer, com ela. Nenhum dos dois notou que o ar da escada tinha permanecido quente e tranqüilo.


 


Quando chegou perto da lareira a colocou em frente, deitada. Depois, acariciou seu rosto com um dedo, apoiando-se em um cotovelo. Algo estalou no coração de Gina, alimentando seu desejo.


 


—Harry...


 


—Shii.


 


Para tranqüilizá-la, beijou seus olhos. Na realidade, Gina não sabia o que  dizer. O desejo que os unia era mais que suficiente, e se alegrava de que nenhum dos dois precisasse de palavras para se comunicar.


 


Ou, ao menos, pensava que devia sentir-se aliviada.


 


Estava preparada para que a beijasse, e quando o fez se deixou levar, muito mais relaxada, sem tensões, sentindo seus lábios e sua língua. Tratava-a com uma ternura e uma suavidade quase inesperadas. Deixou escapar um suspiro, suave como um segredo.


 


O próprio Harry notou a mudança que aconteceu, tanto nela como nele. Maravilhado, perguntou-se por que sempre tinham tido tanta pressa, porquê tinha hesitado em provar seu sabor quando havia tantas coisas que provar naquela mulher.


 


Adorava o sabor, sedutor e tranqüilo, de sua pele. Adorava o contato de suas curvas suaves, de seu corpo macio. Adorava o aroma de seu cabelo, de sua roupa, de seus ombros. De modo que decidiu saborear tudo, com compridos e lentos beijos que nublaram sua mente e que conseguiram que ele se esquecesse de tudo, menos deles mesmos.


 


Tirou o suéter dela com delicadeza e fez o mesmo com suas calças. Antes de tocar ou acariciá-la, preferiu beijá-la outra vez, deixando-se levar pelo simples contato de seus lábios.


 


—Deixe-me ajudar você. — sussurrou ela.


 


Gina se levantou até que os dois estivessem de joelhos. Começou a desabotoar os botões da camisa do Harry, com mãos sedutoras, e a jogou longe. Depois pôs as mãos sobre seus ombros e o olhou.


 


Durante uns minutos somente se abraçaram, acariciaram um ao outro e se beijaram. Ela sorriu ao sentir seus lábios no ombro e suspirou quando sua boca provou seu pescoço.


 


Assim que ficaram nus, Harry a colocou sobre seu corpo, cobrindo-o. O cabelo de sua amada caía sobre seu corpo como uma cortina.


 


Gina sentia sensações variadas e flutuava nas nuvens, com o sol invernal entrando pelas janelas, o fogo crepitando e o contato de seu duro corpo sob o seu.


 


Suas carícias eram uma delicia, um presente maravilhoso que notava em cada poro, cada nervo e cada músculo de seu ser.


 


Já não havia fúria, nem desespero, nem pressa. Era consciente de tudo, do monte de pó que brilhavam na luz até as chamas da lareira, passando pelo cheiro de rosas e do homem.


 


Podia sentir os batimentos do coração dele, fortes, enquanto beijava seu peito. Podia capturar a contração de um músculo sob sua mão e escutar o som de sua própria respiração.


 


Suspirou e se segurou contra ele quando Harry se virou para ficar por cima.


 


O tempo desapareceu então, de repente. O relógio que havia sobre a lareira pareceu parar, algo que não precisava absolutamente, porque acabavam de entrar em outro mundo. Um mundo que só importavam a necessidade satisfeita, e os corações unidos.



Continua...



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