Capitulo 14
Capítulo 14
— Eu não queria derramar nada! Foi ele que me fez derrubar! — gritou Brandon, apontando Davis.
Harry não conseguia tirar os olhos do molho de macarrão vermelho vivo contra o piso branco da cozinha.
— É nessas horas que a gente precisa de um cachorro para limpar a casa direito — resmungou ele.
— Oba! Vamos ganhar um cachorro? — gritou Brandon, excitado com a possibilidade.
— Nem pensar — respondeu Harry na mesma hora. Fechou os olhos e desejou que a mancha desaparecesse sozinha. Suspirou resignadamente quando o molho continuou imperturbável maculando o chão. Apanhou um maço de toalhas de papel.
— Um cachorro podia fazer companhia para ai gente enquanto você não está aqui — insistiu Brandon, que não desistia facilmente.
— Talvez papai tenha idéia de outras companhias — intrometeu-se Davis.
— Não abuse da sua sorte, jovem! — ameaçou Harry, erguendo os olhos da mistura de papel com molho. — Sei muito bem que você ajudou a fazer essa confusão. Pode muito bem limpar. — Estendeu outro maço de papel para o filho. — E faça um bom trabalho. Não quero mais um assalto de formigas a essa cozinha.
— Detesto formigas! — disse Lisa, enrolando espaguete em seu garfo.
— Por que a gente não telefona para Mione vir jantar aqui? — sugeriu Brandon, que como parte envolvida agachava-se para ajudar o irmão.
— Ela está ocupada com o noivo dela — disse Lisa, em tom de quem encerra a conversa.
Harry enviou um olhar de aviso à filha.
— Ela está, não está?
Ele teve vontade de dizer que não suportava ouvir falar no noivo de Mione. Pelo menos enquanto perdurasse a lembrança da noite na casa de Carolyn. Permanecera acordado por muitas horas naquela noite, sentindo-se excitado como nunca enquanto relembrava cada gesto, cada sensação, cada odor. Maldissera a si mesmo por não resistir e beijá-la, maldissera a ela por insistir em casar-se com aquele vendedor de carros metido a político mesmo depois de corresponder daquela forma no deque.
— Não jogue as toalhas na pia desse jeito! — gritou Lisa. — Está sujando toda a minha blusa de molho.
Harry retornou à dura realidade.
— Está bem, está bem, chega! — ordenou ele. — Vamos ter um bela refeição em família, repleta de paz e harmonia, pelo menos uma vez.
— Por favor, pai, com esses bárbaros não é possível uma refeição em família — disse Lisa.
Harry achou que iria morder a língua se disse à filha que ela estava falando exatamente como a mãe. Uma coisa que nunca fizera era falar mal da ex-mulher para os filhos, por mais que fosse difícil. Mesmo que achasse Marie uma insensível, fria demais e controladora, cujas alternativas eram do jeito dela ou de nenhum.
Felizmente o telefone tocou.
— Salvo pelo gongo — bradou ele, estendendo a mão para o receptor.
Esperava que fosse Mione. Entretanto, falando do diabo...
— Oi, Marie. Como vai? — respondeu ele, com voz neutra.
Na mesa, os três ligaram as antenas.
— As crianças estão aí? — indagou ela, sem se incomodar em responder ao cumprimento.
— Estamos jantando. Aconteceu alguma coisa?
— Mande eles para fora da sala. Precisamos conversar em particular.
Harry percebeu que os músculos da mandíbula estavam tensos. Um problema que aparecera desde a época do divórcio.
— Espere um pouco. Vou ver se consigo encontrar — disse ele ao telefone. Depois voltou-se para os filhos: — Acabem de aprontar a comida que eu volto num minuto. Vou procurar um documento.
Saiu da cozinha com o telefone sem fio.
— Mamãe não quer que a gente escute nada que possa comprometer nossa integridade psíquica — traduziu Lisa para os outros dois.
— Como ela pode magoar nossos pissícos? — quis saber Brandon.
— Nossos sentimentos, seu toupeira — informou a irmã.
— Pare com isso, ele é só uma criança — intrometeu-se Davis.
— Mamãe telefonou para estragar nossas vidas — disse Lisa, de forma que todos entenderam.
Harry fez uma careta ao escutar o que preferia não ter ouvido. Entrou no escritório e fechou a porta.
— Muito bem, posso saber do que se trata? — disse ele, sentando-se em sua cadeira de trabalho, em frente aos computadores.
As quatro estações dispunham-se em amplo semicírculo, de forma que ele podia rodar com a poltrona para qualquer uma delas.
— É que tenho uma ótima novidade que quero compartilhar com as crianças — começou ela. — Estou grávida.
Harry aguardava há algum tempo uma notícia como essa. Não negava a Frank o direito de ter filhos, mas imaginara que efeito teria essa notícia sobre os três que nesse momento estavam na cozinha.
— Meus parabéns.
— Você podia ser um pouco mais entusiasta — reclamou ela. — Afinal, faz tempo que Frank vem querendo a própria família.
— Maravilhoso. E o que vamos fazer com a que já temos? Ou eles irão para o quarto de hóspedes porque não têm nas veias o sangue de Frank?
Marie nunca demorava muito para fazer com que ele perdesse a calma.
— Não precisa falar desse jeito. Só telefonei para dar a notícia às crianças e para que você troque as passagens deles para quinta-feira. Vamos dar uma festinha para anunciar o evento no sábado à noite e quero que eles, estejam presentes.
Harry respirou fundo para acalmar-se. A última coisa que pretendia era deixar Marie tão irritada que negasse a visita dos filhos no Dia de Ação de Graças, apesar de ser sua vez. Com o bebê a caminho, talvez ela se tornasse mais cordata. Então pensou na filha, que estava atravessando uma fase difícil. Imaginou como Lisa iria encarar a notícia.
— Marie, Lisa está passando por uma fase difícil e...
— Não venha me dizer o que minha filha tem, nem como ela é. Sei muito melhor do que você. Ela só está fazendo um teatro para impressionar você. Tentou fazer a mesma coisa com Frank e ele se recusou a colaborar com o jogo dela. Agora coloque sua alteza ao telefone. Depois eu quero falar com Davis e Brandon.
Harry suspirou. Não havia possibilidade de diálogo com a ex-esposa quando ela demonstrava aquele estado de espírito.
— Espere um minuto.
Apertou o botão de pausa com maior força do que a necessária e retornou à cozinha. Não ficou surpreso ao descobrir todos sentados à mesa com os rostinhos apreensivos. Detestava ver a expressão deles depois que falavam com a mãe.
— Lisa, sua mãe quer falar com você — anunciou ele, estendendo o telefone à filha.
Ela aceitou o aparelho como se pudesse explodir em suas mãos. Lentamente, levou-o ao ouvido.
— Mãe?
— Lisa, meu bem! Tenho ótimas notícias para você! — A voz excessivamente animada dê Marie ecoou estridente no ouvido de Lisa. — Vou ter um bebê! Você vai ter mais um irmãozinho ou irmãzinha, meu bem. Isso quer dizer que eu gostaria que viessem para cá nesta semana para uma festa que vamos dar. Sei que você vai me ajudar muito nessa época.
Sam observou o rosto da filha tornar-se pálido, depois a respiração se acelerando. Teve vontade de caminhar até ela e abraçá-la para dar conforto físico, mas algo no olhar de Lisa o manteve afastado. Aquilo não lhe dizia respeito.
— Você acha que eu devia ficar contente porque você e aquele crápula vão ter um filho? Por que eu deveria ficar contente? E ainda por cima quer diminuir nosso tempo com papai só porque transou com ele e agora quer dar uma festa para anunciar? Quando nós nascemos não tivemos festa nenhuma!
Harry resmungou baixinho. A conversa estava tomando um rumo pior do que ele imaginara a princípio. Ficou tentado a arrancar o telefone dela, mas obviamente não resolveria coisa alguma, portanto permaneceu onde estava. Os sentimentos de Lisa pela mãe e pelo padrasto a estavam incomodando havia algum tempo, e talvez fosse melhor colocar a raiva para fora de uma vez.
A filha agora andava pela cozinha, berrando ao aparelho.
— Você não se importou mais conosco desde que casou com Frank. Só ficou preocupada em fazê-lo feliz, e só conversa com a gente para dar bronca. Agora que você está grávida, tem a família perfeita, e nós três importamos cada vez menos. Pode ter o seu precioso bebê, mas deixe a gente fora disso.
— Muito bem, muito bem — disse Harry, apanhando o telefone. — Marie!
— Isso é tudo culpa sua! — gritou ela, em seu tom especial de arrebentar tímpanos. — Você passa o tempo todo falando mal de mim.
— Marie, eu não disse uma palavra sobre esse assunto desde que estou com eles — informou ele em tom frio. — Parece que você sozinha andou fazendo um bom trabalho. É preciso lembrar os sentimentos deles, também. Isso é um choque para os três.
— Acho bom você mandar todos para casa na quinta-feira, ou então vai se arrepender — vociferou ela, antes de bater o telefone.
— Acho que ela não quis falar com os outros dois.
Nada daria mais prazer a Harry no momento, do que desabafar todos os seus sentimentos em relação a Marie. Entretanto, antes de começar olhou para os três filhos, notando dois rostos preocupados e um zangado.
— Não vamos voltar — afirmou Lisa, cruzando os braços numa atitude que demonstrava sua rebeldia.
— Mamãe vai ter um bebê? — quis saber Brandon.
— É — respondeu o irmão. — Vamos olhar o lado bom, Brandon. Você vai ter um irmão ou irmã menor para amolar.
— Não se a mamãe puder impedir — interrompeu Lisa. — Ela provavelmente nem vai deixar que algum de nós chegue perto do precioso bebê. Frank não vai deixar vocês dois chegarem perto, e ele vai acabar arranjando um motivo ou outro para mandar a gente para o colégio interno.
— Não! — gritou Brandon,. sacudindo a cabeça com toda a força.
Saiu correndo da mesa e foi para o quarto.
— Papai não vai deixar eles fazerem isso com a gente, vai pai? — quis saber Davis, também apreensivo com a perspectiva do colégio interno.
Harry xingou mentalmente sua ex-esposa pelo início daquela crise. Como sempre, ele é que tinha de limpar a sujeira.
— Não, eles teriam de pedir licença para mim. Mas sua mãe tem a custódia primária sobre vocês.
Lisa ergueu o queixo, numa atitude de desafio.
— Pois eu é que não volto para lá. Ela não quer a gente lá de qualquer jeito, a não ser para ajudar a trocar fraldas e essas coisas. Se ela quis o bebê, pode muito bem tomar conta sozinha — declarou ela, com os olhos embaciados.
O queixo começou a tremer, e ela saiu da cozinha. Davis olhou para o pai, com uma sombra de preocupação no rosto.
— A gente preferia ficar com você, pai. Por favor, diga a mamãe que a gente quer ficar com você — declarou ele, saindo da cadeira e caminhando para o pai. Abraçou-o. — Por favor...
— Puxa, vocês também não facilitam as coisas, hein? — comentou ele, abraçando o filho. Não queria prometer nada que não pudesse cumprir. — Não sei exatamente o que posso conseguir, mas vou fazer o possível para tentar. Você se importaria se eu for conversar com Lisa? Talvez você possa dar uma força para o Brandon.
— É mesmo. Ele foi o bebê por tanto tempo que deve ter sido um choque para ele.
Cada um se dirigiu a um dos quartos.
Harry bateu na porta, obtendo como resposta apenas alguns soluços abafados. Girou a maçaneta e abriu a porta.
— Posso entrar, Lisa? — murmurou ele.
— Isso importa?
— Muito.
Harry entrou e cuidadosamente sentou na beira da cama de Lisa. Olhou ao redor, reparando na decoração mais adulta que ela mesma escolhera no último verão, sem bichinhos ou personagens. No momento, chorando com o rosto enfiado no travesseiro parecia outra vez sua menininha indefesa. Sentiu pena dela.
— Se você veio para gritar comigo por gritar com mamãe, não vou pedir desculpas — balbuciou ela. — E não vou voltar para nenhuma festa idiota.
— Eu não pretendia gritar com você, meu bem — disse ele, devagar. — Sua mãe vai me odiar por ter falado isso, mas acho que ela podia ter achado uma forma mais suave de dar a notícia a você.
Lisa sentou-se na cama, esfregando os olhos com as costas da mão. Harry enfiou a mão no bolso e apanhou o lenço, entregando-o a ela.
— Vou ligar para o meu advogado e ver se ela pode insistir em que vocês voltem mais cedo. Mas acho que ela pode ter o direito de insistir em que vocês voltem antes.
— Não sei por quê. Frank não quer a gente por lá — resmungou ela. — Ainda mais agora que vai ter um filho dele. Podemos ficar com você, papai? Por favor?
Ele a envolveu em seus braços.
— Amo vocês três, você sabe disso — disse ele, percebendo a própria voz estremecer de emoção. — Sei que isso é muito difícil para você, Lisa. Vou dizer algo que provavelmente todos os adultos devem dizer, e você vai me odiar por isso, mas pode acreditar, você vai entender quando for mais velha.
— Nunca vou entender por que uma mãe iria preferir seu bebê do que outras crianças — declarou ela com amargura, encolhendo-se no colo do pai.
Harry silenciosamente maldisse Marie outra vez. Ser egoísta ao extremo sempre foi um dos aspectos da personalidade dela que ele abominava.
— Lisa, eu poderia ter dez filhos com outra mulher, mas você sempre será minha filha mais velha e meu bebê ao mesmo tempo. Na noite em que você nasceu, eu sentei e chorei.
Os olhos de Lisa se arregalaram com a revelação.
— Você chorou?
Ele assentiu.
— Eu não conseguia entender que tinha colaborado para criar uma coisa tão pequena e tão bonita. Mesmo sem cabelos — provocou ele.
Lisa limpou as lágrimas outra vez.
— Então vai nos deixar ficar com você? Por favor, pai?
Harry não conseguia recusar nada à sua filha quando ela fazia aquele olhar de amor e confiança. Mas também não pretendia fazer promessas impossíveis.
— Quero você comigo e vou ver o que é possível fazer — disse ele, com cuidado. — Mas lembre que não tenho a última palavra nesse assunto. Se a gente quiser alguma coisa, precisamos contar com a colaboração da sua mãe. Se o que você diz é verdade, talvez não seja impossível.
Precisava ligar em seguida para o advogado. Lisa abraçou-o, radiante.
— Sei que sou meio chata, às vezes — disse ela.
— É, a adolescência é uma coisa chata, não?
Ela riu. Para Harry, aquele era o som mais agradável do mundo.
— Então você discutiu esse assunto com o advogado antes de falar comigo, é? Nem se importou em saber o que eu achava disso.
Harry ficou surpreso com a irritação na voz de Carolyn. Ele saíra do encontro com o advogado e pensou em encontrá-la no escritório para ver se tinha algum tempo livre. De início ela parecera contente ao vê-lo.
Beijaram-se e em seguida ele acomodou-se na poltrona reservada ao cliente. Relatou o telefonema de Marie e como a notícia afetara as crianças.
— Eu sempre quis a custódia das crianças — explicara ele. — Mas acabei concordando com o esquema de visitas que ela propôs. Marie me deixou ficar com eles dois meses por ano no verão e em feriados alternados. Ela não é uma pessoa muito cordata e agradável durante a gravidez. Talvez fosse melhor as crianças ficarem aqui até o bebê nascer. Tenho esperança de convencer Marie a conceder pelo menos isso.
Carolyn, que escutara sentada sobre a quina da escrivaninha, endireitara o corpo e dera a volta, acomodando-se na própria poltrona. Vestida com um terninho impecável e usando um severo coque ela fazia uma figura impressionante e bastante profissional. Percebeu que estava conhecendo, pela primeira vez, o lado da advogada fria. Não tinha muita certeza se gostava, pelo menos quando estava direcionado para ele.
Permaneceu quieto perante a explosão dela, parecendo refletir intensamente.
— E quanto a nós, Harry? Um novo casamento precisa de alguns, para não dizer vários, ajustes das duas pessoas envolvidas. Se envolvermos crianças nesse processo...
Harry completou mentalmente a frase, como ela pretendera.
— E se eu fosse viúvo, Carolyn? Como ficariam as crianças?
Ela sorriu com a expressão do professor quando se defronta com uma pergunta ingênua.
— Seria uma situação completamente diferente. Nesse caso as crianças estariam com você o tempo todo. Não percebe o que estão fazendo com você? Estão manipulando você com as histórias de que a mãe é malvada, porque sabem que você não pode negar nada para eles, com tão pouco tempo juntos. Odeiam a idéia de a mãe ter outro bebê porque perderiam espaço. Estão fazendo gato e sapato de você. Tem de ser mais firme com eles — aconselhou ela. — Pode acreditar, meu bem, conheço esse tipo de comportamento em outros pais, que fazem as coisas mais absurdas para que as crianças gostem deles. Você simplesmente não pode deixar que mandem em você. Precisa mostrar quem dá as ordens.
Tais palavras caíram como gotas de ácido no estômago de Harry.
Deliberadamente ele deixou que seu olhar passeasse pela sala antes de responder. Não queria usar as palavras erradas, ou dizer algo que não fosse necessário. No momento estava irritado demais para confiar na própria língua.
A decoração era feita com lambris escuros, para combinar com o resto do escritório. Tudo ali era sofisticado, demonstrando bom gosto, porém não deixava dúvidas ao cliente sobre o nível dos honorários. Eram elevados. Reparando melhor, Harry descobriu que o ambiente possuía certa frieza, como os hotéis de luxo. Voltou-se para examinar Carolyn, descobrindo que o sorriso nos lábios dela não estava nos olhos. E para dizer a verdade, mesmo o sorriso dos lábios não parecia genuíno.
— A maior parte das pessoas pensam que os programadores de computadores são meio abobados, ou degenerados — começou Harry. — Acreditam que passamos tanto tempo em frente às máquinas que não conseguimos entender nada sobre o mundo real.
Carolyn espantou-se com aquela introdução.
— Harry, não foi isso o que eu quis dizer...
— Deixe eu terminar, por favor. Acho que sou um dos felizardos. Sempre tive outra vida fora do escritório, e sempre passei tanto tempo com meus filhos quanto fosse humanamente possível. Sei muito bem que não são anjinhos, principalmente Davis, mas sei também quando estão sofrendo. E no momento estão sofrendo. Farei tudo o que puder para manter o relacionamento deles com a mãe tão calmo e estável quanto possível, mas se o fato de ficarem comigo, ainda que seja por um período curto de tempo, ajudar, terei prazer em fazer isso. E não, eles não me controlam. Nunca controlaram.
Foi a vez de Carolyn estudá-lo com interesse.
— Você está falando sério, não está?
Ele assentiu.
— Minha carreira não permite que eu tenha a interferência de crianças o tempo todo — declarou ela. — Um par de visitas por ano está ótimo, mas não quero chegar em casa ao final do dia e ter de providenciar o jantar para as crianças, verificar lições e fazer biscoitos para festinhas. Eu seria ideal como madrasta temporária, mas nunca em tempo integral.
— Obrigada por ser honesta comigo, Carolyn — disse Harry, levantando-se e estendendo a mão. — Espero que encontre alguém que se encaixe com seu tipo de vida.
Carolyn ficou surpresa com a reação dele. Ergueu-se e cumprimentou-o, como se fechasse um negócio.
— Eu poderia ter transformado você num sujeito importante — disse ela.
— Pode ser, mas não sei se iria gostar da sua obra — respondeu ele.
Quando Harry saiu do escritório de Carolyn, sentiu a sensação física de ter se livrado de um grande peso.
Uma vez ao volante de sua caminhonete ele parou um instante para lembrar o que conversara com seu advogado.
— Talvez seja mais fácil para nós sugerir que você fique com as crianças durante a gravidez da sra. Landers — dissera o homem. — Se ela for um pouco parecida com minha esposa durante a gravidez, ficará aliviada por ter menos pessoas na casa. Por outro lado, ela pode pensar que se trata de um plano diabólico seu para ficar permanentemente com os filhos. Mas tenho certeza de que posso conversar e obter uma vantagem.
Harry concordara. Deixara claro que Marie não devia saber como os filhos se sentiam a respeito do assunto. Se ela telefonasse, descobriria de qualquer jeito.
O advogado prometera iniciar o trabalho imediatamente.
Harry tamborilou os dedos no volante da caminhonete. Sentiu-se tentado a ir até a casa de Mione. Porém o que iria dizer?
— Teria evitado tudo isso se Lisa fosse um menino, porque meninos não usam sutiãs para arrebentar as alças — filosofou em voz alta.
Só que esse fato significaria que jamais teria encontrado Mione... e isso era uma coisa na qual não gostava de pensar.
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