Capitulo 10
Capítulo 10
— Tem velas por aqui. Estamos deitados no meio de uma grande cama — disse Harry com voz rouca. — E as janelas estão abertas para deixar entrar a brisa.
Mione passou a mão na testa dele, sentindo a pele úmida sob seus dedos. Erguendo o rosto percebeu a brisa embora a sala não tivesse ar condicionado.
— Você é como um soldado indo para a guerra. Pode não voltar nunca mais — declarou ela. — Só temos essa noite. Vamos fazer dela uma noite que nunca vai ser esquecida.
Harry abraçou-a.
Em poucos segundos não havia mais roupas entre eles. Mione usou a ponta da unha para traçar o contorno do mamilo dele, sorrindo ao constatar que enrijeceu em poucos segundos. Castigou-o com a ponta da língua, escutando-lhe o gemido. A mão deslizou pela musculatura, até chegar perto da virilha. Ela passou as pernas ao redor dele, apertando-o o quanto podia sem que estivessem encaixados.
Sabiam que não podiam continuar por muito tempo. Os beijos não eram suficientes para satisfazer nenhum dos dois. Os corpos abraçados misturavam as transpirações. Mione sentiu com os dedos a masculinidade rígida e guiou-a para dentro de si, ofegante.
— Quero você — murmurou ela.
Os olhos se encontraram quando Harry movimentou os quadris para cima. A sensação de calor molhado envolveu-o como um turbilhão. Foi preciso cerrar os dentes com força para controlar-se.
— Se você não me der uma chance, vamos acabar muito antes do que eu gostaria — avisou ele com voz rouca quando ela moveu-se sobre ele.
— Vou conceder um segundo — afirmou Mione, beijando cada uma das pálpebras. — Antes de atacar você.
Em pouco tempo ela estremeceu por dentro e começou a mover o corpo em círculos, que logo o envolveram. Harry fora casado, criara três filhos, porém não se recordava de haver sentido tamanha proximidade com a perfeição. Fitou intensamente Mione, que também exibia no rosto uma espécie de assombro maravilhado.
Era isso o que o destino reservara para eles. Porque depois do que estava acontecendo, jamais encontrariam ninguém capaz de igualar esse estado de união mental.
Quando Harry sentiu os músculos internos se contraírem ao seu redor e viu o rubor espalhando-se pelo rosto, soube que ela estava muito próxima do êxtase. Aumentou o ritmo e deixou-se perder no mesmo rodamoinho que Mione. Ela gemeu e enterrou o rosto no ombro dele.
Ambos foram consumidos pelo fogo que todos os amantes procuram.
Mione não podia lembrar-se de ter se sentido tão relaxada, tão sintonizada com seu corpo algum dia. Com os olhos fechados, ela decidiu que toda pessoa devia sentir-se assim. Suspirou ao sentir dedos acariciando sua coxa.
— Você nunca fica satisfeito? — ralhou ela. A mão foi substituída por lábios.
— No que se refere a você, não. Estou contente por ter sugerido aquele perfume — disse Harry.
— Confesso que não iria experimentar, mas não pude resistir à tentação de passar um pouquinho.
— Vou comprar uns dez litros e você vai usar só para mim.
— Não acha que as pessoas vão reclamar se eu andar por aí usando só perfume?
— Você não prestou atenção, menina. Eu disse para usar só para mim. Outros homens poderiam ter idéias... — mesmo no instante em que falava, Harry percebeu que Mione estremecia.
Percebeu a dúvida interior em que ela se encontrava, mas recusava-se a afastar-se dela, que girou o corpo, olhando para o lado oposto.
— Dissemos que não iríamos nos arrepender — lembrou ele, em tom sério.
— O problema é esse mesmo — disse ela, olhando para a parede. — Não estou nem um pouco arrependida. Devia estar mas não estou.
Harry abraçou-a.
— Não fizemos nada de errado, Mione, e você sabe disso. O que partilhamos foi uma coisa única. E errado pensar em qualquer coisa que possa estragar esse momento. Ninguém mais pode entender o que partilhamos. Foi apenas para nós, lembra?
— Sei disso. Fizemos dessas horas o nosso tempo e não é certo que eu fique estragando o pouco tempo que sobra.
Os dois apertaram o abraço, contentes em permanecerem ali, apreciando o contato dos corpos que trazia segurança.
— Harry...
— O quê?
— Eu vi os fogos de artifício do dia da Independência — declarou Mione, reparando que ele sorria.
— Também vi, menina.
Harry desligara as lanternas, de forma que estavam conscientes da presença do outro apenas pelo tato. Depois de permanecerem em repouso, simplesmente apreciando o prazer do abraço, Harry resolveu que precisavam fazer mais do que tocar um ao outro. Com um murmúrio suave, aproximou o rosto do dela, beijando-lhe o canto da boca. Sentiu o sal das lágrimas que por ali haviam escorrido. Ele não queria que a tristeza estragasse os momentos em que estavam juntos, portanto buscou algo que a fizesse esquecer.
— Não acenda a luz — pediu ela, num murmúrio. Na escuridão só tinham o tato para orientar-se.
Era o suficiente.
Fizeram amor de forma mais controlada, cada um buscando o que dava prazer ao outro. Não se apressaram nas explorações intensas, traçando outro caminho para o êxtase.
— Duas vezes fogos de artifício na mesma noite — comentou Mione pouco depois, aninhando-se nos braços dele.
— Considere uma delas seus fogos de aniversário — sugeriu ele, sorrindo.
— Um presente? E você nem ao menos se deu ao trabalho de colocar uma fita no embrulho — riu ela.
Harry sentiu-se naquele estágio de relaxamento antes do sono. Parecia mole demais para rir, como se estivesse embriagado. Contudo não se tratava de champanhe, mas de Mione.
Como seria ela dali a trinta anos?
“...— Por que estamos comemorando aqui? — quis saber Mione.
— Porque daqui teremos uma ótima visão dos fogos de artifício — respondeu ele, colocando o cobertor no chão e ajudando-a a sentar-se. — Depois a gente pode ir nadar, todo mundo nu.
— Ah-ah! Esse foi o verdadeiro motivo então! Seu velho sem-vergonha — acusou ela, em tom carinhoso.
— Pode ser, mas essa sem-vergonhice é sua.
— É bom que seja mesmo — concordou ela.
— Você está tão bonita — disse Harry, encarando-a.
— E você precisa colocar seus óculos antes de ficar por aí elogiando as moças.
As mãos acariciaram os cabelos, sem registrar os fios brancos entre os castanhos nem as rugas nos olhos. Só enxergava a mulher pela qual se apaixonara.
— E se algum dos meninos parar aqui? — lembrou ela.
— Eu tive o bom senso de avisar a todos que esta noite ficou reservada só para nós dois, e que amanhã teremos sua festa de aniversário — sorriu ele. — Davis disse que não sabia que pessoas com a nossa idade ainda conseguiam ter uma ereção.
Mione riu.
— Tenho certeza de que você respondeu que o sexo não tem nada a ver com a idade.
— Para dizer a verdade, eu disse muito mais do que isso — afirmou ele, deitando-a sobre o cobertor.
Mione externou seu assombro quando os riscos vermelhos e amarelos recortaram-se contra a escuridão do céu.
— Está vendo? Eu disse que sempre teria fogos de artifício — disse ele.
— Você manteve essa promessa, meu amor — respondeu Mione, unindo os lábios aos dele...”
Mione sentiu primeiro a claridade contra suas pálpebras fechadas. Lentamente abriu os olhos e piscou algumas vezes contra o raio de luz que incidia nela.
Luz. Ela sentou-se, o coração disparado. As luzes estavam acesas. Bateu no ombro de Harry. Deitou sobre o estômago com a cabeça entre os braços.
— Acorde, Harry.
— O quê?
— As luzes voltaram! Vista-se! Não podemos ser encontrados aqui! — disse ela, com voz urgente.
Ela ergueu-se e agarrou sua roupa. Pulou em um só pé ao tentar vestir a calcinha. Resmungou quando tentou colocar o sutiã, lutando por um instante contra o fecho.
— Que horas são? — quis saber ele.
— O que importa? Agora que a luz voltou todos devem estar lá, provavelmente loucos para ir embora para casa — disse ela, atirando a camiseta dele sobre o peito. — Vista-se.
Harry bocejou ao levantar.
— Está bem, está bem.
— Não tenho cafeína para acordar você, portanto vire-se.
Mione tinha vontade de permanecer ali e observar enquanto ele se vestia, porém o tempo era importante. Enfiou sua camiseta pela cabeça e correu até um dos espelhos, tentando elaborar uma aparência de ordem para seu cabelo. Em poucos segundos resolveu desistir.
— As luzes devem ter acendido em toda a loja — continuou ela, aplicando uma quantidade enorme de pó compacto. — Devem estar fazendo algum tipo de chamada lá fora. Provavelmente somos os únicos que ainda não apareceram.
Completamente vestido, Harry encarou Mione e colocou as mãos sobre os ombros dela. Ela abriu a boca para falar e ele a impediu com o polegar.
— Respire bem fundo — pediu Harry. — Mais uma vez... mais uma ainda. Agora lembre-se: somos adultos. Não roubamos nenhuma mercadoria, e com um pouco de sorte meu filho mais velho não fez nenhum refém. Vamos caminhar por aí como todos os outros. Quando sairmos daqui vou levar as crianças para um belíssimo café. — Ele sorriu quando reparou que Mione estava pronta para falar. — Está sem carro aqui, lembra?
— Eles vão saber. Todo mundo vai saber — balbuciou ela.
— Só se você contar — argumentou Harry, segurando-lhe o rosto e beijando-lhe a boca. — Vai dar tudo certo.
— É fácil para você dizer isso — disse ela, olhando para ele com ar divertido. — Não sou eu que tenho uma marca no pescoço.
Ele fechou o rosto e aproximou-se do espelho. Bateu na marca, como se ela fosse um mosquito. Mione riu.
— Você estava me dizendo para ficar calma, e agora perde a cabeça por causa de uma marquinha de nada.
— De nada! É enorme — protestou ele, passando a mão na marca avermelhada.
— A gente pára no departamento de roupas masculinas e compra uma camisa de gola olímpica que combine — sugeriu ela.
— Claro, pode fazer piadas.
Saíram silenciosamente pela porta, depois de espiar a loja. Não havia ninguém à vista, o que acharam ótimo. Olhando para os lados, avançaram pela seção de móveis, completamente vazia. A medida que se aproximavam das portas principais, o estado de espírito mudava.
A realidade retornara com a energia elétrica.
Como Mione dissera, as luzes acenderam-se em todos os lugares, e o zumbido dos aparelhos ligados constantemente fazia-se ouvir depois de horas de silêncio.
— Papai! — gritou Brandon, correndo na direção de Harry e atirando-se nos braços estendidos.
— Cara, você está ficando muito pesado para brincar assim...
— Todos contamos histórias assustadoras e fizemos fantasmas com as lanternas. De repente as luzes se acenderam e a gente fez uma gritaria danada. Por que você não estava com a gente?
— Porque era só para crianças.
— Podemos ir embora agora? — perguntou Lisa, estudando a expressão no rosto do pai, depois olhando para Mione. — A gente estava procurando vocês...
— Pessoal, estou contente em dar a notícia de que agora as portas estão abertas — anunciou o gerente, dirigindo-se ao grupo todo. — Gostaria de me desculpar em nome da Bradley's por todos os inconvenientes causados.
— Está brincando? Meu marido nunca vai acreditar que eu passei a noite numa loja de departamentos e não comprei nada — respondeu Gina, sorrindo.
— Tem um caminhão da televisão lá fora, com a equipe de reportagem — anunciou uma mulher, retornando para o interior da loja. — Não posso ser vista desse jeito!
Imediatamente ela se pôs a procurar algo na bolsa, retirando depois de algum tempo uma escova. Em seguida saiu à procura de um espelho.
— Você vai ficar bem? — perguntou Gina olhando para Mione, depois para Harry, em pé ali por perto.
Mione sentiu o rosto esquentando e percebeu que enrubescia.
— Estou ótima — assegurou ela. — Acho que todos estávamos loucos para a eletricidade voltar.
— Será mesmo? Aceita uma carona para casa?
— Seria ótimo, obrigada.
— Precisa dizer alguma coisa para alguém?
Mione podia sentir o olhar de Harry sobre sua nuca.
Manteve o controle e sorriu para a mulher.
— Não, mas preciso pegar meu vestido de noiva — explicou ela.
— Espero por você aqui.
Mione pareceu arrastar os pés até o departamento de vestidos. Sentia relutância em partir. No espaço de pouco mais de doze horas sua vida mudara completamente de rumo. Seus olhos encontraram os de Harry quando passou por ele. Forçou-se a parecer alegre com o pensamento de sair dali por fim. Passou sem olhar na direção do esconderijo onde haviam vivido a maravilhosa aventura.
— Você tem filhos adoráveis — disse Sônia a Harry.
Eric estava atrás dela com um grande sorriso nos lábios.
Ele observou o homem mais velho. Não teve certeza, mas poderia jurar que o velho homem piscara para ele. Seria assim tão óbvio onde ele e Mione haviam passado as últimas horas de escuridão?
— Nesse caso, o que vocês presenciaram foi o melhor comportamento deles.
— Podemos ir? — insistiu Lisa.
Enquanto Harry se aproximava da porta, mantinha os olhos presos à direção que Mione tomara.
— Podemos — disse ele, percebendo uma caminhonete com o símbolo de uma estação local de televisão. — Vamos procurar um lugar para tomar o café da manhã.
— Puxa, estou morrendo de fome! — comentou Davis.
— Mas são quatro e meia da madrugada. Ainda nem amanheceu — protestou Lisa. — É hora de dormir, não de comer.
Saíram pelas portas que os haviam mantido presos tantas horas. Harry respirou profundamente o ar puro, com mostras de prazer evidente.
— O que você achou de passar a noite numa loja de departamentos? — perguntou uma repórter, aproximando-se com o microfone estendido.
Imediatamente Harry afastou-lhe o braço.
— Escute, tenho comigo três crianças que deveriam estar dormindo a essa hora. Preciso ir para casa.
— Foi demais! — declarou Davis. — Tinha até uma moça que perdeu o casamento porque ficou presa aí dentro.
Os olhos da repórter se arregalaram.
— É mesmo? Como é seu nome?
— Davis.
— Onde está essa moça, Davis?
— Davis! — ameaçou o pai.
— Qual delas é, garotinho?
— Garotinho? Moça, sou mais velho do que está pensando — respondeu Davis, pronto a estender o braço na direção de Mione, que saía da loja naquele instante.
Harry, porém, agarrou-lhe o braço antes que ele pudesse fornecer a informação, arrastando-o na direção da caminhonete. Lisa já estava ao lado da porta do passageiro, tamborilando os dedos na maçaneta enquanto esperava por eles.
A repórter não precisou de muitas perguntas para descobrir o que desejava. Mesmo porque só uma das mulheres saiu da loja carregando um vestido de noiva embrulhado. A profissional não perdeu tempo em aproximar-se, com o microfone em riste.
— Como se sentiu perdendo o próprio casamento por causa da falta de energia? Teve chance de avisar o noivo? O que ele achou?
Mione acabara de sair, e teve sua atenção presa à movimentação de Harry e seus filhos embarcando na caminhonete. Por um instante breve, os olhos de ambos se encontraram. Ele deu a impressão de que ia dizer alguma coisa, mas a câmera se aproximara e a repórter insistia.
— Desculpe, mas estou cansada demais — declarou, olhando ao redor em busca de Gina. — Só posso dizer que é ótimo estar do lado de fora.
Com essas palavras, voltou-se e saiu na direção que Gina tomara.
A repórter foi atrás, assim como a câmara. Porém Gina previra o assédio da mídia e já aguardava com o motor ligado.
— Está pronta? — indagou ela, assim que a amiga acomodou-se no banco do passageiro.
— Nasci pronta — respondeu Mione, batendo a porta e piscando perante as luzes fortes da equipe. — Vamos embora.
— Ainda bem que muitos restaurantes ficam abertos dia e noite — resmungou Harry, estacionando em frente a um estabelecimento que apregoava o café da manhã vinte e quatro horas por dia.
— Estou surpresa que você não a tenha convidado para vir com a gente — comentou Lisa com frieza.
— Não havia nenhum motivo para convidá-la, Lisa — respondeu Harry.
Não conseguia parar de pensar em Mione, por mais que fizesse exercícios mentais. Provavelmente os efeitos de uma noite de amor como nunca tivera. Talvez uma boa comida e algumas xícaras de café o deixassem mais apto para viver no mundo real.
Harry puxou o breque de mão e a filha desceu sem esperar.
— Não mesmo, porque a esta hora ela deve estar falando com o noivo para marcar outro casamento.
Harry sentiu um frio na barriga à menção do casamento com Kevin.
— Acho que tem razão.
— Por que Mione não podia vir com a gente? Gostei dela — declarou Brandon, descendo do banco traseiro.
— Acho que ela não queria mesmo vir com a gente — insistiu a menina.
— Vamos mudar de assunto? — O tom de Harry era mais de comando do que de interrogação.
Entraram e acomodaram-se nos bancos. Reparando no olhar de Lisa, Harry percebeu que ela apenas se controlava um pouco, mas não parecia decidida a desistir com facilidade.
Lisa sabia que o pai pensava nela como criança, mas já conhecia bastante o mundo e as pessoas. Tinha uma boa idéia sobre Mione e o pai, que haviam sumido ao mesmo tempo. E tinha uma idéia melhor ainda sobre o que os dois haviam feito juntos. Já não era suficientemente ruim ter o Frank por perto, aquele idiota? Será que o pai também tinha de pensar em casar com alguém? Apesar disso, não pensara duas vezes antes de fazer sexo com outra mulher. Lisa sentia vontade de gritar de raiva.
— Vamos ter fogos de artifício hoje de noite? — quis saber Brandon.
Harry riu.
— Não sei, meu filho. Talvez eles esperem um dia ou dois. Além do mais, acho que já tivemos bastante movimentação esta noite.
— Acho que sim. Pelo menos você teve, não foi pai? — indagou Lisa.
Harry baixou o menu. Seu olhar expressava bem o estado de espírito em que se encontrava.
— Mocinha, acho bom terminar de vez esse assunto. Se continuar me provocando posso aceitar a provocação. E sou capaz de pensar num castigo que você com certeza não vai esquecer.
Ela ficou pálida, mas o olhar dava a impressão de atirar farpas sobre o pai.
Os dois meninos observavam o confronto de olhos arregalados.
— E vocês podem começar a comer — disse Harry, enfiando uma garfada na boca com ar ameaçador.
Foi o que todos fizeram.
Harry pensou que o café da manhã não fosse acabar. Lisa comeu em silêncio e os meninos como se fosse a última refeição.
Ao retornar para casa, Harry percebeu que não tinha o endereço nem o telefone de Mione. A menos que tentasse o trabalho dela, não tinha como encontrá-la. Ainda assim, o que poderia fazer? Tinham prometido que seria apenas uma noite. E havia ainda Carolyn. Sentia-se culpado por ter feito amor com outra mulher enquanto ainda estava noivo de Carolyn, contudo, existia algo mais. Não tinha muita certeza de querer analisar o assunto.
Mione não conseguiu lembrar outra oportunidade em que tenha ficado tão contente ao avistar sua casa. Gina acompanhou-a até a porta.
— Tem certeza que está bem?
— Estou ótima, obrigada.
— Escute, não estou esperando confidências especiais nem nada, mas aconteceu alguma coisa por lá, não foi?
Ela hesitou um pouco antes de responder, porém a amiga fora tão gentil que resolveu retribuir. Deu de ombros.
— Foi como um daqueles filmes antigos de guerra. A última noite do marinheiro antes de embarcar, e por aí afora... acho que tiramos isso de nosso sistema.
Gina balançou a cabeça.
— Pois eu se fosse você ia pensar um bocado antes de casar. Não estou falando sobre culpa em relação ao que aconteceu, mas pode significar algo importante para você. Um momento para refletir.
— Algo como tirar os últimos demônios do corpo?
— Talvez mais como descobrir a verdade sobre você mesma. Se precisar de alguém para conversar, telefone para mim.
Mione abraçou Gina, que depois estendeu um cartão. Sentia que poderia haver uma amizade entre as duas. Alguém para confiar.
— Vamos almoçar juntas qualquer dia. Eu telefono.
Mione observou a amiga partir e entrou. A temperatura estava mais amena no interior, como atestava o zumbido do condicionador de ar rio quarto.
Entretanto o aparelho precisaria de mais tempo para esfriar a casa inteira. Colocou o vestido contra o espaldar do sofá e dirigiu-se para sua secretária eletrônica, cuja luz intermitente avisava que havia mensagens para ela. Provavelmente a maioria de Kevin. Disse a si mesma que devia ligar para o noivo naquele instante. Em lugar disso, encolheu-se no sofá e permaneceu ali, prometendo que seria apenas um instante. Ficaria ali, apreciando a paz e descansando.
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