Paixões secretas
O casamento de Morgan e Tom ocorreu no mês seguinte. Não houve cerimônia ou recepção e as únicas pessoas presentes eram os noivos. Como presente de casamento, passaram uma semana inteira juntos em casa, sem serem incomodados por ninguém. E Morgan não pode reclamar dos seis primeiros dias, que foram cheios de atenção e carinhos. Porém, no sétimo dia, uma vez que havia recebido uma carta de seu irmão, Ela se lembrou de falar com Tom sobre o jornal.
Na hora em que decidira discutir o tema com ele, Tom se encontrava pensativo na varanda. Tanto que nem a viu chegar.
-Tom, eu preciso falar com você sobre uma coisa que eu vi…
-O que você tem a dizer?
-Eu li outro dia no Profeta Diário… Algo sobre mortes, pânico, destruição e… você.
-Sim, creio que eles têm publicado muita coisa nesse sentido.
-Então é verdade? Tudo é verdade? As mortes, as torturas, as maldições…
-Morgan, é claro que é verdade. Mas também é claro que eles devem ter exagerado um pouquinho.
-TOM! Qual o objetivo disso tudo? E desde quando isso está acontecendo? Por que você nunca me disse nada sobre isso?!
-Você ainda me pergunta o porque da omição. Morg, olhe seu estado! É claro que eu não ia te contar. Para você ficar nesse estado? Morgan se acalmou um pouco antes de continuar a falar.
-E então, qual é o objetivo e desde quando?
-Você sabe qual é meu objetivo. Agora quando começou… Eu não tenho certeza, talvez pouco depois de você vir morar comigo, ou um pouco antes…
-E você está escondendo isso de mim a todo esse tempo? HÁ! Você é a pessoa mais INCRÍVEL que eu já conheci, Tom! Ou agora é Voldemort? Oh, havia me esquecido, já é faz algum tempo não, lorde das trevas?
-Morgan, eu não vou discutir com você nesse estado.
-ÓTIMO! Então não diga absolutamente nada, deixe-me dizer TUDO. Eu não consigo acreditar que você não me contou que seus planos envolviam a morte e a tortura de dezenas de pessoas, e…
Ele se levantou e segurou-a pelos braços. -O que você quer dizer com isso Morgan? Quer dizer que se você soubesse disso não teria vindo morar comigo? Não teria se casado comigo? EIN? RESPONDA!
Morgan sentiu uma vontade imensa de explodir e sumir para sempre. Porém sabia que isso não era tão fácil. Olhou bem fundo nos olhos de Tom e não o reconheceu mais.
-Eu não sei. Eu não sei mais nada.
Tom a soltou, surpreso. Morgan aproveitou e correu o mais rápido que pode para fora da casa, não se esquecendo de tirar o anel de noivado antes de sair. Aparatou até a cidade.
Morgan rondara pelas ruas da cidade até escurecer. Chovia, o suficiente para deixar Morgan ensopada e manter outras pessoas longe da rua. Ela não sabia para onde ir, não sabia a quem procurar, não sabia o que fazer. Até que se viu em frente a uma casinha muito familiar, no subúrbio. Ela se sentou à porta da casinha; sabia que Severo não estava lá. Pensou nele intensamente. Será que conseguiria mandar-lhe uma mensagem para que viesse e lhe ajudasse?
A porta da casa se abriu repentinamente e Morgan quase caiu para trás.
-Morgan, o quê… Você está ensopada! Entre, entre…- Severo a ajudou a levantar e a entrar, olhando para o exterior chuvoso antes de trancar a porta por dentro. Morgan continuava em pé, pingando e tremendo de frio. Severo pegou uma toalha e tentou secá-la o melhor que pôde, uma vez que Morgan relutava em ser seca.
Depois de razoavelmente seca, Severo obrigou Morgan a colocar alguma coisa mais seca enquanto ele secava suas roupas. Ela se sentara no sofá e tomava chocolate quente quando ele voltou e se sentou com ela.
-Você pode me dizer agora o que aconteceu?- Morgan disse que não silenciosamente. Ela admirava sua aliança de casamento, que havia retirado do dedo. Ainda brilhava de nova.- Certo, então não vamos falar sobre isso. Me pergunto como você conseguiu me chamar. Por sorte eu já estava em meus aposentos, então pude vir rapidamente.
-Eu apenas pensei em você. Simplesmente pensei.
Severo pareceu pensativo com a nova informação. Morgan colocou o chocolate e a aliança na mesinha de centro e deitou sua cabeça no ombro de Severo.
-Você acha que eu sou louca?
-Não, eu não acho. Deveria?
-Acho que sim.- Morgan riu, infeliz.- Eu me casei com um psicopata.
-Não creio que essa palavra descreva o Lorde corretamente…
-Não o chame de Lorde, por favor. Não comigo.
-Certo.
Morgan levantou sua cabeça novamente e fitou os olhos de Severo. Continuavam iguais aos que vira da última vez, e isso era extremamente reconfortante. Ela se aproximou mais, até seus lábios tocarem os dele, e se afastou. Severo parecia surpreso. Ela se aproximou novamente e o beijou, tendo seu beijo retribuido. Morgan havia esperado por tempo demais para poder tocá-lo e beijá-lo e agora que o fazia, apesar de não conseguir parar de pensar no quão errado era aquilo, não queria parar de fazê-lo. E não parou.
Morgan acordou na manhã seguinte deitada sozinha na cama de Severo. Supunha que ele a tinha levado para lá enquanto dormia, e também supunha que ele já havia voltado para Hogwarts. Era um sábado, e ela não sabia novamente para onde ir. Se virou e viu um bilhete sobre o criado-mudo. Pegou-o e leu.
Era um bilhete curto no qual Severo prometia voltar novamente à noite para vê-la e lhe dizia que poderia ficar lá se quisesse.
Não que Morgan tivesse muitos lugares para ir, então ficaria por ali mesmo. Levantou-se para procurar suas roupas e descobriu-as numa cadeira ali perto. Não se sentia a vontade o suficiente para explorar a casa em busca de alimento, porém também não possuia dinheiro para comprar algo para comer. Foi até a sala de estar, onde viu que Severo havia previsto tudo aquilo e deixado café da manhã na mezinha de centro. Comeu alguma coisa e parou para pensar em tudo o que lhe acontecera.
Seria possível que não amasse mais Tom? Não se sentia muito inclinada a ficar com ele, mas já tinha esse sentimento fazia um bom tempo -desde que ele lhe contara o que pretendia fazer. Não, ela tinha certeza que ainda o amava. Acreditava que o grande problema era que o homem que amava não mais existia. O que deveria fazer? Acabara de se casar com um ser humano terrível, e não via como sair dessa viva. E se ele descobrisse o que ela havia feito na noite anterior… Não! Ele nunca poderia descobrir…
Mas afinal, Tom não a amava. Morgan não se iludia mais nesse ponto. Sabia que era apenas mais um objeto para alcançar suas intenções, porém ainda não sabia para o quê exatamente serviria.
Poderia ela fugir dele e se juntar aos que o combatiam? Ouvira dizer algo sobre um grupo de pessoas se reunindo… Não, não poderia fazer aquilo. Não queria lutar naquela guerra, ela não era sua para lutar. Pensava que o melhor a fazer era continuar com Tom, pois assim a única que saia perdendo era ela mesma. Sim, deveria voltar com ele. Talvez pudesse voltar para a casinha na praia e quem sabe poderia ignorar tudo o que ele fizera de ruim…
E então, subitamente a certeza de sua morte se instalou em sua mente. Soube que morreria em breve e que, para seu alívio, Tom não teria nada a ver com aquilo. Sim, aquilo era deveras reconfortante. Agora poderia voltar para ele sem medo…
Morgan acabou caindo no sono enquanto ponderava sobre os rumos de sua vida. Foi acordada gentilmente por Severo quando este chegou em casa.
-Boa noite Morgan. Você está bem?
-Sim eu estou. Obrigada pela preocupação.
-Espero que tenha passado um bom dia.
-Sim, eu passei. Não sei como agradecer, você tem sido muito bom comigo… Peço perdão por incomodar-lhe.
-Você nunca incomodou Morgan.
Morgan subitamente se lembrou da primeira vez que encontrara com ele.
“Olá Snape. Espero que Morg não esteja incomodando-o.”
“De modo algum senhor.”
-Já sabe o que vai fazer?- Perguntou Severo.
-Desculpe-me, porém não entendi.
-Tom. Foi por causa dele que você veio aqui, não? Já sabe o que vai fazer em relação a ele?
Morgan riu. -Não é como se eu tivesse muitas opções, não acha?
-Morgan, é claro que você tem. Você não precisa ficar com ele. Muitas pessoas ficariam felizes em cuidar de você. Seus pais, seu irmão… eu…
-Você é muito gentil. Acredito que você deva estar certo. Afinal, você estava quando me disse para não me casar com ele. Você é tão inteligente…
Severo notou que ela não considerava as opções que ele lhe dera. Segurou sua mão gentilmente e disse: -Você não pode voltar para ele. Eu não vou deixar que você faça isso de novo. Não vou deixar que destrua sua vida apenas porque acha que assim será melhor para os outros… Pense em você por um instante, Morgan!
-Mas e você? E meus pais? Meu irmão, sua mulher, seu bebê! Se eu o largar ele vai atrás de qualquer um que esteja comigo! Você não acha que eu já considerei largá-lo e encontrar paz e felicidade em algum lugar? Mas eu simplesmente não posso! Eu não posso!- Morgan se via entre lágrimas novamente. Severo tentou confortá-la o melhor que pôde, porém não obteve bons resultados.- Não quero que ninguém morra por minha culpa. Ninguém…
-Então você está firme em sua resolução?- Morgan concordou com um aceno de cabeça.- Está bem. O que eu posso fazer contra sua vontade… Nada.
-Mas tem algo que você pode fazer a favor de minha vontade.
-O que seria?
-Por favor, passe essa noite comigo. Ainda não quero voltar para a casa. Quero ficar com você por pelo menos mais uma noite.
Severo consentiu silenciosamente e Morgan o beijou novamente. Aquela seria sua despedida dos lábios pelos quais tanto anseara silenciosamente.
Morgan acordou antes de Severo naquela manhã. Que horas seriam? Ainda devia ser madrugada, o sol não havia nascido. Admirou-o por um instante dormindo, porém não queria que ele acordasse enquanto ela estivesse lá, então saiu silenciosamente. Olhou mais uma vez para a casinha e pôs-se a caminho de casa, a pé. Demorou quase duas horas para chegar lá, uma vez que andava lentamente.
Entrou na casa e viu que Tom dormia no sofá. Fechou a porta silenciosamente para não acordá-lo, porém ele acordou mesmo assim.
-Bom dia Morgan.- Ele disse, observando-a. Morgan sentou-se ao lado dele, olhando em seus olhos.
-Me perdoe Tom. Não devia ter fugido daquele jeito.
Tom sorriu de um modo que Morgan só poderia considerar horripilante agora. -Isso não importa. Afinal, você voltou. E suponho que vá ficar.
-Sim, eu voltei. E ficarei.- Morgan tentou sorrir, porém não conseguiu. Tom notou sua tentativa frustada.
-O que ocorreu? Não está contente com sua decisão?
-Não, não é isso… É só que… Tom, podemos nos mudar? Não quero continuar nesta cidade.
-Claro Morg, o que você quiser. Nos mudaremos amanhã mesmo se você quiser.
-Sim, eu adoraria.
-Então está certo.- Tom se levantou.- Vou acertar tudo. Nos mudaremos amanhã de manhã. Espero que isso a deixe mais contente.
Ele deu-lhe um beijo e foi para seu escritório. Morgan continuou sentada, admirando as paredes creme de sua sala. Em breve, não seriam mais suas peredes.
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