Início de um erro



A partir daquele dia, estabeleceu-se uma nova rotina, na qual Tom saia pela manhã para seus negócios e Morgan saia pouco tempo depois, sendo que voltavam juntos a noite. Porém, ocorreu um dia que Tom ficaria longe por um mês, direto. Morgan não ficou exatamente eufórica com a notícia, porém não podia fazer nada quanto a isso. Se despediu dele com um beijo e disse que sentiria saudades, pediu para que ele se lembrasse dela de vez em quando e lhe escrevesse. Ele prometeu que escreveria assim que pudesse e foi embora.


Como era sábado, Morgan não trabalharia. Se perguntou se Severo estaria na cidade. Haviam grandes chances de estar, uma vez que já era julho de novo. Decidiu visitá-lo.


Após já ter descido até a cidade parou para pensar que não conhecia o endereço dele. Como faria para encontrá-lo?


-Bom dia Morgan.


Sobressaltada, Morgan se virou e viu que Severo se encontrava logo atrás dela.


-Você me assustou! Eu estava justamente pensando em você.


-Fico lisonjeado. Está passeando?


-Na verdade estava pensando em lhe fazer uma visita. Se você não estiver ocupado, é claro.


-Não, não estou. Seria ótimo receber uma visita sua.


Morgan sorriu alegremente e Severo chegou perto de responder o sorriso. Ele guiou-a até seu lar -uma pequena casinha no subúrbio. Ele abriu a porta e deixou-a entrar. A porta dava na sala da casa, um pequeno aposento com espaço para uma estante, sofá e poltrona. Severo a convidou a sentar em um dos sofás e foi buscar chá gelado para beberem. Enquanto isso, Morgan admirava a casa. Achou-a pequena, porém simpática. E, para um homem jovem como ele, estava extremamente arrumada.


Severo retornou com o chá e se sentou ao lado dela.


-E então, como vai?- Perguntou Morgan.


-Estou bem. E espero que você também esteja. Não parece muito feliz.


-O que você quer dizer com isso?


-Só que você parece triste novamente.


-Eu não estou triste… Digo, não mais. Por que diz isso?


Severo aproximou seu rosto do dela, que sentiu seu rosto quente.


-Vejo em seus olhos. Eles não são olhos felizes.


Morgan se levantou e rodou um pouco a mesinha de centro antes de sentar no sofá do outro lado.


-Pois meus olhos estão mentindo. Claro que estou feliz. Nunca estive tão feliz. Não tenho motivos para não estar feliz. Porque não estaria feliz? Oras, isso não faz sentido!


Morgan começou a chorar, sem saber ao certo o porque. Severo foi até ela, abraçando-a para tentar confortá-la.


-Não precisa ficar assim. É natural que você se sinta infeliz. Suponho que essa não fosse exatamente a vida que estava planejando levar com o Lorde…


Morgan concordou silenciosamente. Severo ergueu o rosto dela e enxugou suas lágrimas.


-Não chore. Você precisa ser forte e ver que talvez a sua situação possa melhorar.


-Nunca pensei que você pudesse me compreender tanto, Severo…


Ele sorriu abertamente, o que a fez sorrir também. Ela ainda se encontrava enlaçada no abraço dele, e se sentia muito confortável ali. Se olhavam nos olhos calmamente. Os olhos de Severo eram escuros e cheios de dor, pensou ela. Muito diferentes dos olhos de Tom, sempre brilhantes e desejosos de poder. Ela se aproximou mais para poder analizá-los mais de perto.


-Seus olhos… São…


Analisou o rosto inteiro do homem e, tão de perto, não deixou passar nenhum detalhe. Suas sombrancelhas, seu nariz, suas bochechas, seus lábios… Morgan sentiu uma intensa vontade de tocar aqueles lábios, de beijá-los e ser beijada por eles… Morgan acordou de seu devaneio. O que estava fazendo? Não podia beijar Severo! Se levantou de súbito, indo na direção da porta.


-Está tarde, é melhor eu ir embora.


Severo a princípio não entendeu o que acontecera. Depois, voltou a realidade assim como Morgan e concordou silenciosamente com ela. Abriu a porta para ela.


-Adeus.- Disse ele. Ela respondeu com outro “adeus” murmurado e saiu dali rapidamente, aparatando para sua casa.


O que deveria fazer? Não achava que seria uma boa idéia se manter na cidade após aquele incidente, pelo menos não enquanto Tom não voltasse. Decidiu ir visitar o irmão na Suécia, para esquecer o episódio que ocorrera a pouco.


Com a decisão tomada, escreveu uma carta avisando Tom que iria visitar o irmão e fez as malas. Queria sair dali o quanto antes.


 


Aparatou para a casa de seu irmão ainda naquele dia. Foi bem recebida por ele e por sua mulher que, conforme Morgan notou, estava grávida. O bebê viria em alguns meses, e ela fora convidada muito gentilmente para visitá-los quando acontecesse. Afinal, um pouco de ajuda nunca era demais.


Ela ficou com eles até receber uma carta de Tom dizendo que voltaria mais cedo para casa. Decidiu que iria voltar para casa mais cedo para ficar com ele então.


No dia de sua partida, seu irmão a chamou para conversar. Ele a levou até a biblioteca e certificou-se que ninguém ouviria.


-Maninha, você tem certeza que sabe o que está fazendo?


-Sobre o que você está falando?


-Sobre aquela-pessoa.- Ele murmurou.- Você sabe o que ele tem feito?


-Suponho que sim.


-Então seria bom ter certeza.- Ele estendeu-lhe um jornal britânico, onde ela leu na matéria principal “Aquele-que-não-deve-ser-nomeado causa pânico em Londres”. Ela leu a matéria completa, que falava sobre mortes e destruição. Se sentou para não cair; subitamente sentia-se fraca.- Entende o que eu quero dizer?


-Não pode ser possível… Quando… Desde quando…


-Já faz quase um ano, Morgan. Ele nunca fez nada contra você, fez?


-Não, nunca. Ele sempre foi muito amável.


-O problema vai ser quando ele deixar de ser. Preste atenção Morgan, ou então você poderá se tornar uma das vítimas dele.


Morgan concordou silenciosamente. Não tinha palavras para expressar o que sentia.


-Você vai voltar para lá mesmo assim?


-Vou. Tenho que voltar, agora minha vida é lá.


Seu irmão consentiu com um aceno. Ela se levantou para partir e abraçou-o. Despediu-se então de sua cunhada e partiu.


 


Quando chegou em casa Tom a esperava. Abraçou-a calorosamente e declarou estar com saudades. Morgan retribuiu o abraço e disse que também estava com saudades. Perguntou como tinham ocorrido seus negócios. Bem, ele disse, e como fora a visita a seu irmão? Magnífica! Sua cunhada era tão doce… Não se sentira solitária, ótima companhia.


-Morgan, tenho um pedido a lhe fazer de qualquer forma.


-Um pedido?


Tom mexeu em sua capa e tirou uma caixinha do bolso.


-Eu gostaria de pedir a você que…- Ele abriu lentamente a caixinha, revelando um anel de ouro com uma grande pedra e um S talhado- se casasse comigo.


Morgan perdeu o fôlego e precisou se sentar. Aquilo deinitivamente era emoção demais para o mesmo dia. Tom, preocupado colocou a caixinha de lado e foi acudí-la.


-Morg, você está bem?


-Eu… estou… Tom, isso é tão repentino! Nunca achei que você fosse querer se casar comigo…


-Agora sabe que eu quero. E você, o que me diz? Quer se casar comigo?


-Eu…- Morgan se lembrou do começo do mês, na casa de Severo. Não, aquilo nunca mais.- Eu quero.


Pareceu a Morgan por um instante que Tom explodiria de alegria. Ele colocou o anel no dedo de Morgan e a beijou. Morgan analisou melhor o anel. Parecia um tanto velho, como se houvesse sido comprado em alguma loja de usados ou…


-Tom, este é o anel sobre o qual você me falou?


Ele sorriu marotamente. -Achei que você iria reparar. Sim, é o próprio. Ele representa eu dando um pedaço de minha vida para você cuidar, então cuide bem dele.


-Cuidarei.- Disse ela, sorrindo sem jeito. Abraçou-o novamente, enquanto pensava no pedido. Acabara esquecendo-se de falar com ele sobre o jornal.


 


Voltaram as suas rotinas, com a diferença que agora Morgan carregava o anel que Tom lhe dera consigo. Não gostava de carregar aquele anel; era como se estivesse sendo seguida. Sentia a presença de Tom onde quer que fosse e só conseguia algum descanso quando tirava o anel -o que só ousava fazer no trabalho.


Morgan vira Snape duas vezes após o incidente. A primeira quando ele fora ver Tom na casa deles. Falara com ele o tanto que a educação mandava e depois deu um jeito de sumir de vista.


A segunda vez fora enquanto estava no horário de almoço. Havia ido almoçar na cafeteria em que estivera procurando emprego na primeira vez que fora até a cidade e Severo, vendo-a, não resistiu a tentação e foi falar-lhe.


-Boa tarde Morgan.


Ela levantou os olhos timidamente. -Severo. Em que posso ajudá-lo?


Ele se sentou sem ser convidado. Vendo que não poderia fugir dele, Morgan deixou o livro que lia de lado.


-Você vai mesmo se casar com ele? Mesmo sabendo que ele não a deixa feliz? Mesmo sabendo que ele nunca a deixará feliz de novo?


-Sim, eu vou. Tom é um ótimo homem, digo, pelo menos comigo, e se não me ama pelo menos finge perfeitamente bem. Além do mais, alguém tem que cuidar dele, e ninguém melhor do que eu.


-Ainda não consigo acreditar nisso. Não faça isso Morgan. Vá embora, procure a felicidade em outro lugar.


-Você sabe muito bem que eu não posso fazer isso.- Respondeu, lançando-lhe um olhar severo. Severo não parecia ter mais nada o que dizer.- Bem, estou indo embora então. Adeus.


Ela se levantou e saiu, voltando o mais rápido que podia para a empresa. Lá, disse para seu assistente que não estava se sentindo bem e que iria para casa. E foi o que fez.

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