Revelações pt 2
A verdade era que Morgan gostava de sua nova vida. Acordava todas as manhãs enlaçada pelos braços de Tom, e quando não o estava, sabia que era porque ele deveria estar cuidando de seus “negócios secretos”.
Após a volta dele para a casa, haviam conversado seriamente sobre o assunto, com a conclusão de que Morgan iria respeitar (pelo menos por um pouco mais de tempo) os segredos dele - conclusão a qual não chegou a lugar algum, pois em vista do aumento do número de pessoas estranhas que apareciam para ver Tom não foi possível manter a curiosidade de lado (afinal, também era a vida dela). Quando conseguia, ouvia aqui e ali algum comentário ou o trecho de uma conversa que a informava do que estava acontecendo. Mas nem sempre conseguia ouvir mais do que duas palavras, sendo então enxotada delicadamente do local. Porém, para Tom já ficara óbvio que ele teria de contar para ela cedo ou tarde o que planejava.
Então, um ano depois que ela fora morar com ele, Tom a chamou para conversar em seu escritório. Ela, que estava até então na beira da praia, etranhou um pouco, porém compareceu ao encontro. Ele ofereceu a poltrona na frente da mesa, sentando na do lado.
-Acredito que seja hora de você descobrir um pouco mais sobre meus propósitos.- Ele fez uma pequena pausa, a espera de algum comentário da garota que não veio.-Acredito que você já saiba que eu sou contra trouxas e mestiços aprendendo bruxaria.
-Suspeitei algo, porém nunca tive certeza.
-Sim… Meu propósito, logo, é livrar o mundo mágico dessa ameaça. Não devemos permitir que parentes das pessoas que nos perseguiram por eras fiquem entre nós como se fossem um de nós. Se você entendende meu ponto. Eu pretendo derrubar o Ministério da Magia e…
-Tomar o poder para si mesmo?
Tom não respondeu. Apenas desviou os olhos dos da garota. Morgan observava-o calmamente. Já esperava que a conversa chegasse a um ponto como aquele. Ouvira algo sobre o Ministério anteriormente, e não precisara muito para associar o desejo por poder de Tom com uma tomada de poder.
-Mas isso não é tudo, é?- Perguntou Morgan, trazendo o rosto dele para perto de si.- O que mais você esteve escondendo? Ele respirou profundamente e esperou por alguns instantes.
- Você já ouviu falar em Horcruxes?
-Sim, já ouvi, mas você não… Oh, por favor Tom, me diga que você não fez uma!
-Eu não fiz uma.- Morgan respirou aliviada.
-Que bom Tom… Pois você sabe, essa é a pior coisa que poderia fazer em termos de magia negra e…
Tom colocou sua mão sobre a boca da garota, para impedi-la de continuar. -Eu não preciso de um discurso seu sobre o que eu devo ou não fazer, Morgan. Você não entende o significado que tem viver para sempre? Nunca ter que morrer? Nunca ter que ser como qualquer outro reles….
-Mortal? Humano? Como eu? Tom, você tem medo da morte? Por quê?
-Eu não tenho medo da morte.
-Então qual o problema com ela?
-O problema é que, por que eu deveria morrer se posso continuar vivo? Se existem meios?
-Porque isso não é natural! Nós nascemos e morremos, é o ciclo natural das coisas, qual o problema com ele?
Tom não respondeu, porém Morgan viu em seus olhos qual era o problema: ele não queria ser como outros. E se não morrer representasse isso, então faria o que fosse necessário para tanto.
-Tom, o que você quer de mim?
-Nada impossível. Só quero que você fique comigo. Junte-se a mim Morg, eu preciso de você.
Morgan balançou a cabeça negativamente. -Você não precisa de ninguém, a não ser você mesmo.
Ele abriu a boca para responder o comentário, porém Morgan se levantou para sair. Ele se levantou com ela e bloqueou a porta.
-Saia da minha frente, Tom. Estou indo embora.
-Não vou sair.
-Ótimo,- Ela puxou sua varinha de dentro de um bolso- então vou fazer você sair.
-Pare Morgan, e me escute!- Morgan abaixou a varinha, assustada. Uma sombra passara pelos olhos do outro, deixando-os momentaneamente vermelhos.- Você precisa acreditar em mim, Morg. Se eu não precisasse de você… Se eu não a amasse… Por que eu teria me dado ao trabalho de procurá-la na Alemanha? Por que eu teria voltado na última vez? Por favor, acredite em mim!
-Eu…- Morgan estava sem palavras. Nunca vira Tom assim, tão presente; nunca o sentira tão forte, nem tão determinado. Sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, porém não choraria. Tom tirou gentilmente a varinha da mão da garota e a abraçou. Ela retribuiu o abraço, se perguntando se o que ele dissera era mesmo verdade. Pelo menos parecia verdade. Pelo menos fazia sentido. E ela o amava o suficiente para querer acreditar que era verdade. Ele beijou sua testa, afastando alguns fios de cabelo de seu rosto e olhou bem nos seus olhos.
-Por favor, não vá. Eu e você… Nós. Isso é perfeito demais para ser destruido. Fique e seja minha rainha, eu serei seu humilde servo, e seremos tudo o que precisaremos. Morgan suspirou e sorriu.
-Eu já estou aqui, não é?
Tom sorriu brandamente, parecendo muito feliz. Ele a beijou várias vezes, na testa, nos olhos, nas bochechas, nos lábios… Morgan se soltou no abraço, abaixando a guarda para as demonstrações de afeto do outro.
-Vou apoiá-lo,- Começou Morgan, lentamente.- No que quer que você faça. Talvez não concorde com algumas de suas idéias, porém irei apoiá-lo, e ficarei com você.
-Obrigado Morg. Vamos, vou mostrar para você tudo.
Morgan fez que sim com a cabeça e se deixou ser puxada por Tom até a estante, onde uma passagem aparecia na frente dos livros. Morgan ainda via os livros atrás da passagem bruxuleante, que dava para algum local escuro. Tom a levou através da passagem até o que parecia ser uma caverna, que provocou arrepios em Morgan. Havia uma estreita passagem de terra perto da parede, e um grande lago, do qual Morgan não conseguia ver o fundo. Ao centro do lago havia uma pequena ilha, que parecia ser o destino de Tom. Ele puxou um pequeno barco com uma corda invisível e entrou, ajudando Morgan a entrar em seguida. O barco seguiu até a ilhazinha suavemente. O lago não se movia; parecia morto. Morgan temia o que quer que dormisse nele, pois ela sabia que algo dormia ali. Porém acreditava que preferia não descobrir testando. Perguntaria para Tom mais tarde, quando tivessem saido de lá. Chegaram na ilha. Tom ajudou Morgan a sair do barco e levou-a até uma espécie de recipiente que ali havia. O recipiente estava cheio com algum líquido estranho, e Morgan sentia também que uma barreira o cercava; porém não via essa última.
-Quero que saiba de tudo. Veja.- Sua mão passou pela barreira e entrou no líquido, mas Morgan achou que qualquer outra pessoa não o conseguiria. Sua mão voltou com um medalhão de ouro, com um S na frente.- Você sabe o que é isso?
-Uma horcrux.- Tom concordou com um aceno da cabeça.- Você tinha me dito que não tinha uma horcrux.
-E não tenho uma.
Morgan arregalou seus olhos. Se ele não tinha uma horcrux, significava que tinha mais do que uma?
-Quantas… Tom, quantas horcrux você tem?
-Por enquanto… Quatro. Porém pretendo fazer sete.
-Sete? Para que tantas?!
-Sete é um número mágico, não? O número mais poderoso… Certo? Então, por que não?
Morgan se absteve de responder. Não a levaria a nada. Tom recolocou o medalhão no recipiente e a guiou pelo caminho de volta.
-Aquele medalhão perteceu a Salazar Slytherin. Pertenceu também a minha mãe. O encontrei quando trabalhava na Borgin & Burke.- Eles atravessaram novamente a passagem, que se fechou quando passaram. Morgan se deixou cair em uma poltrona digerindo a infomação enquanto Tom alisava seus cabelos.- As outras horcrux que fiz foram um diário que mantive enquanto estava em Hogwarts, um anel que pertenceu ao meu avô e taças de Rowena Hufflepuff.
-Você… conheceu seus parentes?
-Sim. Conheci meu avô e meu tio maternos, assim como meus avós paternos e meu pai…
-Seu pai? Achava que ele já tinha morrido.
-Sim, ele morreu.- Um brilho estranho apareceu nos olhos de Tom, e Morgan sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
-Tom… Você não… Você…
-Sim Morgan. Eu matei meu pai. E meus avós. E não me arrependo de ter livrado o mundo daqueles trouxas.
-Céus, Tom!- Ela se desviou do toque do outro, que pareceu surpreso.
-Você pediu a verdade, não? Pediu várias vezes. Agora a estou contando. Não era o que você queria?
Morgan refletiu por alguns segundos as informações que acabara de receber. Ela se levantou e foi até a parede, onde parou em frente de um quadro, admirando-o. Sentiu os olhos de Tom observando-a por trás. Se lembrou do dia em que voltava para casa a noite e sentiu alguém vigiando-a. Tinha achado que eram olhos que vinham da casa em frente a sua, um orfanato.
-Tom, era você, não era?- Ela se virou para ele, que olhava-a interrogativo.- Você morava no orfanato em frente a minha casa em Londres, não era?
-Sim, eu morava. Já te conhecia antes mesmo de Hogwarts.
-Por que você não me contou isso antes? Não creio que seja exatamente um segredo.
-Não contei porque não importava. Quando a vi pela primeira vez, quando você se mudou para Londres… Você tinha dezesseis anos ainda, não? Eram as férias de verão. Vi sua mudança de meu quarto, e assim que a vi soube que era uma bruxa e que estava destinada a mim, assim como eu a você. Observei-a durante o mês através de minha janela. E você era linda- Ele se levantou e foi até ela.- E continua sendo até hoje. Como se ainda fosse a primeira vez que a visse. Nada mudou em você.
-Não posso dizer o mesmo de você, Tom.
Ouviram a campainha tocar. Tom não pareceu interessado em atendê-la, então Morgan foi até a porta ver quem era. Obviamente, alguém para vê-lo.
Tom tentara falar com Morgan a semana inteira, porém não foi bem sucedido, uma vez que o número de visitantes havia aumentado. Morgan, por sua vez, não fazia questão de falar com ele, uma vez que ainda não tinha certeza de sua posição quanto aos interesses dele. Sabia apenas que não o deixaria, pois mesmo que quisesse agora tinha consciência de que não poderia.
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