Mudança
O objetivo desta narrativa não é narrar o dia-a-dia estudantil de uma jovem bruxa, e sim os fatos significantes de sua vida. Então pularemos toda a parte diária que não nos levará a nenhuma conclusão, indo para o feriado de Natal da escola, quatro meses depois.
Nesses quatro meses que foram negados ao leitor, Morgan se habituou a rotina na escola e fez alguns amigos nas diversas casas da escola, porém seu melhor amigo era Tom, com quem dividia a maior parte das aulas e com quem era sempre vista estudando. Os únicos momentos em que não estavam juntos eram quando Tom se escondia na biblioteca, sempre procurando algo que não contava para ninguém (ou pelo menos para Morgan).
Nos feriados, era costume ser dado aos alunos a oportunidade de voltar para casa ou continuar em Hogwarts. Neste feriado de Natal, Morgan acabara se decidindo por permanecer na escola, uma vez que seus pais viajariam (novamente) para os Estados Unidos. Tom também ficaria na escola, justificando que precisava fazer algumas pesquisas.
Era véspera de Natal, e a escola amanhecia coberta de neve e mais vazia que de costume. Morgan se levantou em algum horário depois das dez da manhã, o que virara um hábito para os dias em que podia se dar essas regalias. Sequer teve esperanças de tomar café-da-manhã; foi direto para os jardins com um livro para passar o tempo até o almoço.
Seu lugar predileto no exterior ficava próximo ao lago, onde haviam várias pedras empilhadas. Era quase imperceptivel, porém Morgan achara uma espécie de mini-caverna sob as pedras, que era extremamente confortável: silenciosa, seca e quente, completamente o oposto do exterior. Sempre que podia, Morgan passava seu tempo livre ali, sendo que ninguém conhecia esse lugar além dela mesma. Neste dia, se dirigiu alegremente para o local, observando atentamente cada detalhe no ambiente ao redor. A neve, ainda limpa, se abria a cada passo que ela dava com suas botas militares, e se acumulava na barra de sua saia xadrez pregueada. Não ventava, e o céu estava acinzentado. Chegou até sua caverna se sentindo realizada por dentro devido ao dia aparentemente perfeito para descobrir que ela já estava ocupada.
-Oh! Oi Tom.
-Olá Morg. Achava que você não ia acordar hoje.
Morgan riu enquanto sentava, aconchegando-se contra Tom para se proteger do frio.- Pois é, muitas pessoas cometem esse erro.
-Não acordar?
-Achar que eu não vou acordar.- Eles riram, e Tom abandonou o livro que lia para alisar os cabelos da menina.- Então, o que lemos hoje?- Morgan fez menção de pegar o livro que ele carregava, porém ele o tirou de seu alcance.- Acredito que não é da minha conta?
-Quase isso. Mudemos o tema da conversa, sim?
-A vontade. Quer falar sobre o quê?- Tom encolheu os ombros, indicando que para ele tanto fazia. Morgan se virou então de modo que pudesse olhar nos olhos dele.- Que tal você me contar um dos seus segredos? Você tem tantos que um a mais um a menos realmente não vai fazer diferença, não é?
E então aconteceu o que acontecia sempre que Morgan perguntava para Tom sobre um de seus “segredos”: ele se fechou para ela. Seus olhos perderam o brilho vivaz que adquiriam quando conversavam e adquiriu uma expressão séria, praticamente impenetrável.
-Acho que não, certo? Mais uma coisa com a qual eu deveria me acostumar, ou algo do gênero. Tudo bem, tudo bem, posso não te conhecer por taaanto tempo assim mas já sei quais assuntos não tentar puxar. Hey, o tempo está bom hoje, não?
-Morg, não é o que você está pensando.
-Oi, pensando? Eu não estou pensando em nada. Mas, então, como eu dizia, provavelmente amanhã vai ter tanta neve que não vamos conseguir do castelo…
-O caso não é eu não confiar em você, eu simplesmente não quero falar com ninguém sobre isso por enquanto. E não, ninguém sabe os meus segredos, e quando eu resolver contar para alguém você será a primeira a saber.
Morgan enrubesceu. Ele lera a sua mente, como de costume, porém dessa vez de uma maneira muito mais óbvia que o normal. Tom sempre fora ótimo em ler mentes alheias, porém nunca deixava isso transparecer. Morgan descobrira esse seu segredo uma vez em que o pegara tentando ler a sua, porém nunca revelara para ele que sabia disso. Ela simplesmente bloqueava as coisas que não queria que ele soubesse do jeito que sua mãe lhe ensinara quando ainda era pequena. Ela abriu a boca para falar, porém só conseguiu gaguejar algumas vogais. Não sabia se deveria se sentir lisonjeada ou revoltada. Acabou se decidindo pela segunda.
-Como você ousa ler minha mente de um modo tão descarado como esse? Você não tem o direito…
Tom pareceu acuado, porém se recompôs rapidamente.- Eu só queria… Eu só quero… Por que isso tem que ser tão difícil?
Morgan, por sua vez, não aguentou e começou a rir. Sequer sabia o porque, apenas ria. Tom, primeiramente, observou a outra inconformado. Depois, se uniu a ela, que só não rolava de rir por falta de espaço. Riram por um bom tempo, até que simplesmente pararam e ficaram a observar as pedras que formavam o teto.
-Quando você percebeu?- Perguntou Tom, se ajeitando no chão. Morgan rolou para perto dele, olhando dentro de seus olhos que já brilhavam como antes.
-Faz algum tempo. -E por que não falou nada sobre isso antes?
-Você não gosta de falar sobre seus “segredos”.
Tom riu.- É, você já sabe sobre o que não falar comigo. Morgan Fuchs, você é uma garota realmente admirável.
Ele se apoiou em um braço e puxou a garota mais para perto de si, envolvendo-a em um beijo.
Quando acordou no dia seguinte, Morgan se encontrou em uma poltrona próxima a lareira da sala communal, envolvida nos braços de Tom, que ainda dormia. Ficou com medo de acordá-lo se levantando, então se aconchegou mais no garoto.
-Bom dia Morg.- Disse ele, beijando a testa da garota.
-Oras, você já está acordado… Achava que ainda estava dormindo.
-Não, já acordei faz algum tempo.
Morgan sorriu e se levantou, se espreguiçando e observando o ambiente ao redor. Apenas os dois se encontravam ali. Que horas seriam?
-Ainda é cedo. O sol nasceu faz poucas horas.
-Tão cedo assim? Acho que vou voltar a dormir.
Tom riu e ofereceu seus braços a garota, porém o professor Slughorn, diretor da casa e professor de Poções, apareceu, pedindo para a garota lhe acompanhar. Morgan lançou um último olhar para Tom e acompanhou o professor até a sala deste, ainda nas masmorras. Ele abriu a porta e pediu para ela entrar. Lá dentro, Morgan se deparou com seus pais e o diretor da escola. Sua mãe lhe abraçou.
-Morgan, querida, como estão indo as coisas aqui? Faz tempo que não nos manda notícias!
-Está tudo bem mãe… Por que vocês estão aqui?
Bridget soltou a filha com um sorriso agradável e se juntou ao marido, que estava próximo do diretor.
-Ocorreu um pequeno imprevisto Morg, e teremos que nos mudar de novo.- Explicou seu pai. O coração de Morgan disparou.
-Ah, tudo certo, vocês só precisam me passar o endereço novo para eu poder ir para lá quando acabar o ano…- Ela observou o rosto da mãe se contrair em uma careta e percebeu que aquele não era exatamente o plano de seus pais.- Ou me tirar da escola no meio do ano letivo, para mim tanto faz, isso sequer prejudica os estudos mesmo! Pai!
-Desculpe filha, mas já está tudo decidido. Você já foi aceita na nova escola, eles estão realmente ansiosos para te receber e já conversei com seus professores, e eles concordaram que você é uma ótima aluna e não terá problemas para se encaixar na nova escola.
-E devo dizer que é um ponto em que eu concordei.- Completou Slughorn.- De fato, a academia Beauxbaton é muito boa, não tanto quanto Hogwarts, mas vários ex-alunos meus deram aula lá e…
-Beauxbaton? Mas isso é na França!- Interrompeu Morgan.- Por favor, eu não preciso sair daqui… é meu último ano!
-Já dissemos que está tudo decidido.- Reafirmou sua mãe, soltando o marido.- Faça suas malas, você virá conosco.
Morgan abriu a boca para se opor a decisão, porém viu que de nada adiantaria. Se virou e voltou para o Salão Comunal, onde encontrou Tom ainda sentado na poltrona admirando a lareira apagada. Ele se virou quando ela entrou, se levantou e foi até ela. Morgan o abraçou e deixou as lágrimas rolarem livremente por seu rosto.
-O que aconteceu?- Perguntou o garoto, aflito.
-Eles… Eles vão me tirar da escola, Tom! Eu vou embora! Hoje!
-Eles quem? Por quê?- Porém Morgan não precisou responder, pois Tom vira toda a cena através de sua mente. Ele a abraçou mais forte.- Fique calma, isso ainda não é o fim do mundo. É apenas algo temporário.
Morgan olhou nos olhos de Tom e viu que ele falava a verdade, então se acalmou. Secou as lágrimas e sorriu.
-Provavelmente se tivesse acontecido isso anteontem não seria tão doloroso quanto está sendo hoje.
-Você preferia isso?
Morgan balançou a cabeça negativamente e beijou-o.-Preciso fazer minhas malas. Me espere aqui, sim?
Ela foi para seu dormitório onde guardou todas suas coisas em sua mala com um feitiço. Arrastou a mala até o salão communal, e quando chegou lá encontrou seus pais a esperando na porta. Tom observava-a da outra extremidade. Ela seguiu com seus pais rumo a nova escola, deixando para trás Hogwarts e seus alunos.
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