Capitulo XII



Na manhã de sábado, Gina desceu atrasada para o café não encontrou Harry e Greg, que estavam fechados no escritório. Marion sugeriu que fizessem algumas compras em Bradford e Cho um tanto contra a vontade, concordou em acompanhá-las.
- Sinceramente, preferiria que ela ficasse - confessou sentando-se ao lado de Gina no Mercedes. - Harry não se opõe que dirija este carro?
- Não confia em mim? Eu o dirijo desde que tirei a carteira de motorista. Pelo menos naquela época ele confiava em mim.
- E agora não confia mais? O que a faz pensar assim?
- Oh, uns probleminhas - disse Gina, não querendo prolongar o assunto. - Onde está Cho? Nós a estamos esperando há dez minutos.
- Hei, aquele não é o rapazinho que costumava levá-la a toda parte? Perguntou Marion, curiosa. - Lembro-me de que...
- O rapazinho se chama Cedrico Diggory! - Gina cortou! Ainda trabalha para Harry, mas folga nos fins de semana. A não ser seja um caso especial.
- E vocês dois não estavam namorando? Perguntou Marion com ingenuidade.
Gina apertou a roda da direção.
- Quem lhe disse isso? Só pode ter sido Harry! Mas, não, na verdade. Cedrico e eu somos apenas amigos... bons amigos, com costuma se dizer.
- Gina, não precisa se irritar por causa disso. É natural...
- O que é natural? Namorar com Diggory?
- Bem, ele tem a sua idade e... é muito bonito, não?
- E daí?
- Daí que moças da sua idade costumam flertar.
-Eu não.
- Por que você não? Não estou insinuando que esteja procurando um marido...
- Ah, olhe aí o casamento outra vez! Casamento! Ontem à noite eu lhe disse que...
- Certo, Gina, certo. - Marion concordou com firmeza.
- Oh, desculpe, Marion... não queria ser grosseira.
Nesse momento, Cho saiu da casa elegantemente vestida.
- Não se preocupe - disse Marion, apertando-lhe o braço. - Eu costumo falar demais. Harry resolverá as coisas à maneira dele, como sempre.
Aquelas palavras deixaram Gina nervosa. Será que Harry se achava no direito de controlar a vida dela, a ponto de achar-se dono de seu destino?
Afastou esses pensamentos quando Cho entrou no carro e acomodou-se no banco traseiro.
Bradford estava movimentada naquele sábado e, após estacionarem o veículo, concluíram que seria quase impossível continuarem juntas.
- Acho que cada uma de nós gostaria de passear um pouco sozinha, não? Marion sugeriu. - Por que não nos separamos e nos encontramos mais tarde, na hora do almoço?
- Concordo com a idéia - disse Cho, aliviada por não ser obrigada a ficar na companhia de Marion. - Onde?
- No Crown - Gina sugeriu - Harry costuma comer lá com os colegas dele.
- Perfeito! - exclamou Marion. - No Crown, às treze horas, está bem assim, Cho? Para chegar lá é só perguntar a qualquer pessoa.
- Claro - Cho falou secamente.
- Ótimo! - Marion encerrou o assunto. - Então até lá, srta. Chang. Não se atrase porque, na certa, estarei morta de fome.
Cho forçou um sorriso e pouco depois se perdeu entre a multidão. Marion respirou aliviada.
- Ufa! Enfim nos livramos dela! - Agarrou-se ao braço de Gina. - Leve-me ao café mais próximo, sim? Estou doida para comer um bolo coberto de chantilly.
- Não vamos nos separar, então? Perguntou Gina, ao chegarem ao café.
- Claro que não! Achei que eu e você devíamos fazer umas comprinhas, mas sem essa moça matraqueando no nosso ouvido o que é certo ou errado.
No espaço de uma hora, Marion ajudou Gina a experimentar roupas numa butique jovem. Compraram um macacão, um jaquetão de malha e um vestido de chiffon estampado.
- O que Harry vai achar? Perguntou Gina, enquanto guardavam os pacotes no Mercedes antes de se encontrarem com Cho.
- Ficará satisfeito - afirmou simplesmente. – Aprovou sua aparência ontem, não aprovou?
- Oh,sim.
Enquanto almoçavam, o clima mudou e ao saírem do restaurante uma chuva começou a cair.
- Vamos para casa. - propôs Marion, inspecionando as cinzentas e pesadas nuvens. - Não vai parar já e, de qualquer maneira não gostaria de me molhar muito.
- Concordo. E você, Cho?
-Esta bem.
As três correram alvoroçadas debaixo da chuva gelada até alcançarem o Mercedes. Mesmo envolta naquela atmosfera cinzenta e borrada, Cho conservava sua beleza. Quando entravam no parque, Marion comentou
- Já imaginaram que maravilha seria ver carruagens fazendo este caminho?
- Durante muito tempo Harry guardou uma carruagem - recordou-se Gina com uma pontinha de nostalgia. - Era puxada por dois cavalos. Devia ser o meio de transporte mais rápido antigamente.
- E onde ela foi parar? Marion quis saber.
- Oh. Gina hesitou. - Certa vez, eu capotei no parque. Depois disso Harry se desfez dela.
- Não é para menos! Comentou Marion, horrorizada. Poderia ter morrido!
- Foi o que ele disse. - Gina parou em frente aos portões e desceu para abri-los. - De qualquer forma continuou ao retornar ao carro - eu fui proibida de voltar a dirigir qualquer tipo de veículo puxado a cavalos. Eu só podia montar o meu pônei.
Harry e Greg Marsden ainda estavam reunidos no escritório quando elas entraram em casa. Gina transportava os pacotes de compras enquanto a Sra. Gittens servia o chá da tarde.
- Srta. Chang - disse a velha senhora, o Sr. Potter pediu-me para avisá-la que ele deseja conversar com a senhorita antes do jantar.
Gina, ao ouvir o recado, sentiu-se empalidecer. Que seria desta vez?
Mais criticas, mais ordens, mais o quê? Perguntava-se aflita.
Sem tocar a xícara de chá, Cho retirou-se da sala.
- Foi se preparar para a entrevista - observou, asperamente Marion. - Sente que a srta. Chang gostaria de ser a senhora desta casa?
- Não seria a primeira - Gina afirmou. - Harry nem presta mais atenção a isso.
- Eu não teria tanta certeza, Helen - Marion observou, servindo-se de mais chá e pegando um biscoito. Harry não é mais um rapazinho, está maduro e, cedo ou tarde, terá de casar.
- Por quê?
- Por quê? Você sabe... Ele precisará deixar tudo isto a alguém.
- Refere-se a um filho?
- Ou a uma filha... Para isso é indispensável uma esposa, concorda?
Gina encolheu os ombros.
- Ele jamais se casaria com uma mulher como Cho Chang.
- Talvez ela não agrade a você ou a mim... Mas que poderemos dizer quanto ao gosto de Harry?
À medida que Marion levantava aquelas incômodas suspeitas, o corpo de Gina estremecia. Aquilo era ridículo! Harry não gostava de Cho; impossível que gostasse dela! Uma mulher fria, magra, dona de todas as más qualidades que chegavam a causar arrepios em Gina. Marion, porém, tinha razão quanto ao gosto pessoal de Harry: Cho talvez até correspondesse ao seu tipo... E pensar que ela mesma certa vez havia achado ser o tipo preferido do tio... Mas ele trouxe para ali aquela mulher justamente para modificá-la! E se ele realmente gostasse de Cho? E se estivesse simplesmente testando, estudando o comportamento da moça para lhe propor casamento? Gina sentiu o coração apertado só de imaginar que isso pudesse acontecer. O que seria dela, então? Seria esse o motivo da irritação de Harry? Ele queria que sua futura esposa fosse alvo de toda atenção?
- Está se sentindo bem?
Marion olhava-a com preocupação e Gina se recompôs imediatamente.
- Sim, estou. Claro que estou...
- Tenho minhas dúvidas. Está pálida demais.
- Ora, Marion, que bobagem! Acho que me cansei levando para cima aqueles pacotes. Subi e desci duas vezes...
- Estou ansiosa por ver a cara de Harry... Pelo menos Cho a ensinou a vestir-se
- Não, isso ele não vai dizer - comentou, andando. Marion, nos veremos daqui a pouco. Vou subir para desfazer os pacotes.
Gina fechou a porta da sala de estar mas não subiu. Apressou-se pelo corredor até o escritório. Deteve-se diante da porta na qual bateu com força. A voz impaciente de Harry atravessou os painéis de carvalho mas não intimidou Gina, que bateu uma segunda vez e não foi atendida. Esperou um instante e tornou a bater.
- Sra. Gittens, já disse que... - Ele parou de falar assim que abriu a porta e se viu diante Gina. - Oh, é você - acrescentou sem entusiasmo. - O que quer? A Sra. Gittens não avisou que estou ocupado até tarde?
- Sim avisou - respondeu, procurando manter a calma mas sem conseguir deixar de observá-lo.
Ele estava sem gravata com a camisa aberta, tentadoramente sensual... Gina sentiu vontade de tocá-lo mas sabia que não devia tentar.
- E então? Perguntou Harry.
Gina respirava com dificuldade. Pela porta entreaberta, viu Greg remexendo em papéis e quase se arrependeu de interromper o trabalho dos dois. No entanto, como já estava ali, encheu-se de coragem e falou:
- Quero falar com você.
- Sobre o quê?
- É particular... Dê-me só um minuto. Pode ser uma questão de vida ou morte!
- Pode, é? Ele zombou, encarando-a com o olhar frio.
- Não... nem tanto.
- Então conversaremos outra hora - Harry afirmou, retornando ao interior do escritório e fechando a porta.
Gina não teve tempo de argumentar.
De volta ao quarto, sentiu uma profunda sensação de tristeza. Colocou no chão os pacotes e sacolas que havia posto na cama enquanto cobria o rosto. Harry era intratável! Humilhou-a de propósito. O que pretendia conseguir agindo assim? Ódio? Claro...ele próprio disse que seria fácil odiá-lo.
Enquanto se amimava para o jantar, pensou que Harry fosse tempestuosamente ao quarto para acusá-la de algum ato condenável. Mas ele não apareceu. Na verdade, Gina preferia suportar o mau humor de Harry do que aquela terrível indiferença. Tentou se recompor e desceu vestindo um conjunto de casaquinho e calça comprida de algodão rosa, que lhe ressaltava o cabelo e a pele bronzeada.
Como na noite anterior, os hóspedes já estavam reunidos, dessa vez na biblioteca.
- Oh, chegou a nossa dama - disse Greg, assim que ela entrou. - O que posso lhe oferecer esta noite? Harry ainda não desceu, mas estou certo de que aprovaria minha gentileza em oferecer um drinque à sobrinha dele.
- Claro - murmurou Gina, um tanto insegura. Sorriu para Marion e desviou o olhar para Cho. - Harry não costuma atrasar quando tem visitas.
- Ele subiu há pouco para se trocar - informou Cho, falando pela primeira vez. - Seu tio e eu... conversamos um pouco no jardim, depois da reunião com o Sr. Marsden.
- Oh, Cho, por favor, me chame de Greg! - exclamou o marido de Marion, enquanto estendia a Gina um copo de licor. - Quer beber alguma coisa? Perguntou à mulher. - Preciso aproveitar e fazer as honras da casa antes de Harry chegar.
Gina bebeu um gole do licor segurando o copo com as mãos tremulas. O que teriam conversado no jardim? Por que Cho a olhava como uma gata enraivecida?
No momento em que a Sra. Gittens apareceu para anunciar o jantar, Harry entrou, logo se desculpando.
. - Recebi um telefonema internacional na hora em que estava descendo. Perdoem-me, sim?
Não havia na expressão dele nenhum sinal de irritação. E quando olhava para Gina, assumia um ar distraído, como se entre eles não houvesse conflito algum.
A refeição, como de costume, esteve deliciosa, e o clima entre os hóspedes era descontraído. Mesmo assim, logo depois de servido o café na sala de estar, Gina se desculpou e subiu para o quarto. Os demais certamente ficariam reunidos até tarde, mas preferia recolher-se porque estava cansada. Além disso, não precisava se preocupar com o temperamento de Harry no momento. Ele e Cho deviam ter tido uma conversa agradável e proveitosa, e Gina decidiu ignorar os comentários de Marion.
Tirou os brincos e estava examinando a fisionomia no espelho quando ouviu uma batida na porta. Levantou-se e atendeu, recuando.
- Harry?
- Eu mesmo. Posso entrar?
- Esta tarde... Não, será melhor falarmos amanhã cedo?
- Você ainda está vestida - observou passando por ela sem pedir licença. - Feche a porta, Gina; nós vamos bater um papo e não quero que ninguém nos ouça... Gina suspirou e, após um instante de hesitação, fechou a porta lentamente.



Continua...

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