Capitulo X
- Claro que importa.
- Só se for agora, porque, antes Harry...
- Antes, Gina - interrompeu - você não tinha dezessete anos.
- Quer dizer que agora que tenho dezessete anos, nunca mais vamos ficar sozinhos?
- Não foi isso o que eu disse - replicou, impaciente. - De qualquer maneira, é possível que no outro ano você queira passar as férias em companhia de pessoas da sua idade. Se não fosse tão teimosa, teria ido a St. Moritz com os Keslcr no último Natal. E na Páscoa teve chance de ir a Barbados.
- Tive, sim, mas sem você! Exclamou Gina sem vacilar.
- Sem mim, sim, qual o problema? Falou rispidamente... Gina você tem dezessete anos, meu Deus do céu! Precisa ser independente de vez em quando.
- Acha que seria bom eu ter um emprego?
- Um emprego? Harry ficou perplexo. O que é que o trabalho tem a ver com o que estamos falando?
- Simplesmente responda a minha pergunta. Acha que seria bom trabalhar para eu mesma me sustentar?
- Gina, o que deu na sua cabeça? Para que quer dinheiro? O que te dou não basta? Quer que eu aumente sua mesada?
- Não! Exclamou, erguendo a voz. Oh, deixe pra lá...
- Não deixo, não. Harry pareceu preocupado. Gina, você quer trabalhar, não quer? É dessa maneira que pretende ser independente?
- Não - respondeu, olhando para a sala, com receio de que Cho a estivesse escutando. Harry, uma outra hora a gente conversa com calma sobre isso. Há... devo pedir a Sra. Gittens que prepare o quarto para os Marsden?
Harry permaneceu em silêncio por alguns instantes.
- Por favor, peça - disse finalmente.
Gina desligou abruptamente, antes que ele dissesse mais alguma coisa.
- Teremos hóspedes neste fim de semana - informou a Cho ao retornar à sala de jantar, depois de avisar a Sra. Gittens.
- Alguém que eu conheça? Cho quis saber.
- Se tem interesse em computadores, sim... E o Sr. Greg Marsden e a esposa. Ele dirige a H.M. Technical.
- Entendo... Então o Sr. Marsden é colega de trabalho de seu tio?
- São sócios - explicou Gina sem querer dar maiores informações.
- Quer me passar o sal, por favor?
- Pensei que o seu tio trabalhasse com algodão – comento Cho, passando o saleiro a Gina.
- Trabalha, mas não é do que mais gosta - disse Gina, olhando sem entusiasmo o prato de salada.
- Seu tio sempre viaja a trabalho?
- Isso tem alguma importância? Gina perguntou, fitando-a com ar de desafio.
Cho não desistiu.
- Curiosidade, só isso - afirmou brandamente, servindo-se de uma enorme fatia de presunto. - Eu e papai sempre viajávamos para fora do país. Ele era arqueólogo, não sei se lhe disse... Doido por civilizações antigas e todas aquelas coisas. Conhecia o Egito como a palma da mão. Há urna coisa de que nunca me esqueço: papai parado ao pé da Grande Pirâmide, meditando...
- Seu pai não era escritor? Gina interrompeu, franzindo a testa. - Você disse a Harry que...
- Oh, sim, ele era um escritor - Cho emendou. - Escrevia sobre arqueologia, naturalmente. Disse que os livros eram técnicos, não disse?
- E disse também que seu pai mudou de Londres porque precisava de solidão absoluta - relembrou Gina. - Contou que foram para Cornwall. Isto foi antes ou depois de irem ao Egito?
- Depois, é claro. - Cho sorriu sem graça. - Não é porque morávamos em Cornwall que estávamos isolados do mundo.
- Acho que não.
- Já viajou com seu tio?
Gina encolheu os ombros.
- Já. Um pouquinho. Mas não quando ele viaja a negócios.
O rosto de Cho assumiu uma expressão indecifrável ao ouvir a cautelosa observação de Gina.
Quando Harry e os convidados chegaram, Gina estava sentada à beira da piscina, entregue a uma profunda letargia. Antes que a Sra. Gittens aparecesse para recebê-los e mostrar-lhe as acomodações, Harry levou as visitas até o pomar, que ficava logo depois dos jardins e piscina.
- Ora, ora! - exclamou Greg Marsden ao ver Gina. Seu vozeirão condizia perfeitamente com a estatura alta e a robustez do corpo. Aparentava ser bem mais velho que o sócio, mas comportava-se de modo infinitamente mais jovial. - Olhe só quem está aqui! Harry, você não me contou que haveria outros convidados. Não vai me dizer que esta moça é Gina?
- Greg, não aborreça os outros. - Marion Marsden o censurou sorrindo amigavelmente para Gina. Como vai, querida? Cada vez que a vejo constato que está mais... mulher.
Gina sorriu meio sem jeito, era como se estivesse tomando consciência do pequeno biquíni que usava.
- Não é o que estou dizendo então? Falou Greg,dando uma palmadinha no ombro de Gina. - Sua sobrinha está uma linda moça não é, meu velho? A última vez que a vi ainda usava calção de banho.
- A última vez que a viu foi na Páscoa - replicou a mulher. - não usava calção de banho coisa nenhuma. Não ligue para ele, Gina. Não fuja de nós, porque vamos tomar chá juntos.
- Oh, eu... Gina interrompeu-se, desejando estar completamente vestida naquele momento.
- Onde está a srta. Patterson? Perguntou Harry, tentando amenizar o constrangimento de todos.
- Ela... ela foi se trocar - respondeu. - Aliás, acho que também vou.
- Mas por quê? Greg, perguntou sentando-se na espreguiçadeira.
- Por que negar a um pobre homem de negócios a oportunidade de sonhar? Está sentindo frio? Impossível, a tarde está esplêndida! Harry, vá perguntar a Sra. Gittens se ela reservou uma lata de cerveja pala mim.
Harry jogou a jaqueta sobre o ombro e dasabotoou o colarinho da camisa. Gina pressentiu que ele não estava gostando nada da situação.
- Eu vou! Gina adiantou-se, e, antes que a impedissem, saiu correndo pelo pátio.
A Sra. Gittens estava com Cook na cozinha, como ela esperava, preparando a bandeja para levar às visitas.
- Aceitam um chá gelado? Indagou a Sra. Gittens.
Gina respirou fundo, antes de responder.
- Cerveja... uma lata de cerveja.
- E o seu tio?
- Eu tomo chá, Sra. Gittens, obrigado - disse Harry, entrando na cozinha. - Se servir no pátio, eu lhe agradecerei.
- Naturalmente - respondeu a velha senhora.
Gina já estava se retirando quando Harry a chamou.
- Espere - disse num tom severo, aproximando-se apressado. - Venha comigo até a biblioteca. Quero falar com você.
- Não pode falar mais tarde? Olhou para o corpo semi-despido.
- Mais tarde talvez não tenhamos oportunidade. - E caminhou para a biblioteca. Abriu a porta. - Entre. E pare de me olhar desse jeito. Os Marsden vão querer saber o que está acontecendo se eu não voltar logo.
Gina obedeceu sem muita vontade, as pernas um pouco tremulas como querendo resistir àquela ordem. Sentia-se embaraçada diante de Harry, como nunca antes se sentira. Depois de sentar numa das cadeiras, procurou esconder a excitação que subitamente lhe dominava o corpo enrijecendo-lhe os seios. Harry contornou a cadeira e parou na frente dela, fitando-a demoradamente.
- Por que me perguntou ao telefone se eu acharia bom que trabalhasse? Indagou, encostando-se contra a mesa. - Alguma vez dei a entender que estava insatisfeito com a sua situação financeira?
- N-Não...
- Cho insinuou que alguma ocupação lhe faria bem e resolveria seus problemas?
- N-Não...
- Então de onde partiu a idéia? Não se sente feliz aqui?
- Precisa perguntar isso?
Ele encolheu os ombros.
- Só quero entender aquela conversa... Deve ter havido algum motivo para você me fazer a pergunta. É o que estou procurando saber...
- Falei por falar - Gina justificou, sem convencer. Posso ir me vestir, agora?
- Quando... quando comprou isso que está usando?
Ela abaixou a cabeça.
- Não me lembro... No ano passado. Dois anos atrás, acho...
- Jogue-o fora disse, incisivo. - Que não a veja com ele mais uma vez. É indecente! Diga a srta. Chang que inclua maiôs na próxima lista de compras. Imagino que, para a noite, você vestirá algo decente.
Gina levantou-se.
- Não vou envergonhá-lo; se é o que receia.
Harry desencostou-se da mesa, endireitando o corpo.
- Gina, o que está havendo com você? Desde que a srta. Chang chegou, você tem se comportado de maneira inconveniente. Desobediência é uma coisa que até compreendo; explosões de raiva
também, mas o que acho difícil de compreender, e aceitar, é essa sua estranha necessidade de me fazer sentir um canalha!
- Eu faço você se sentir assim?
- Pare com essa conversa ridícula de emprego, com essa preocupação maluca sobre nosso relacionamento, e comece a se comportar com a mulher em que está se tornando. Marion tem razão: você está cada vez mais mulher. Com a ajuda de Cho, quem sabe, ainda encontrará logo um marido.
- É o que quer para mim? Por isso trouxe Cho Chang? Para se livrar de mim?
- Oh, Gina, pelo amor de Deus! Que mania de levar qualquer tolice a sério. Desejar um marido para você não é nenhuma ameaça, é? Há centenas e centenas de garotas que, assim que descobrem o que é o amor procuram um marido para casar!
- Centenas e centenas, mas não eu!
- Como, você não? Não pense que é adulta o bastante para saber com certeza o que quer.
- Não quero casar! Afirmou elevando a voz. - Tenho certeza absoluta disso!
- Ora,porque não?
- Você mesmo não casou!
- Meu caso é diferente.
- Não é, não. Você precisa de uma mulher. A Sra. Gittens também acha.
- Oh, ela acha, é? E o que mais ela acha?
- Mais nada... Ela não fala sobre você assim, sem mais nem menos. É que... ouvi sem querer.
- Mesmo?
- Mesmo! Exclamou com ênfase, com medo de que sua observação fosse prejudicar a governanta. Honestamente, Harry, acredite em mim. Seria terrível se você chamasse a atenção da Sra. Gittens. Ela morreria!
- Não é verdade o que disse, então? Avançou dois passos na direção dela, examinando-a desafiadoramente.
- Não estou mentindo, se é o que quer saber.
- Então ela acha que preciso de uma mulher?
- Sim. Não. - Balançou a cabeça.- Pare de me confundir! No fundo você nem está ligando para a Sra. Gittens. Você não se importa com o que possam falar de você!
- Pois eu não teria certeza disso.
- Eu tenho. Posso ir embora, agora? Por favor?
Harry encolheu os ombros.
- Acho que é melhor.
- Obrigada.
Gina foi saindo, mas Harry, se adiantou e abriu a porta para ela. Seus olhos se encontraram.
- Gina, não tenha ódio de mim.
Gina corou fortemente.
- Não te odeio, Harry...
- Mas seria fácil me odiar - ele comentou, baixando a cabeça.
Gina saiu e subiu as escadas correndo, fechando-se no quarto. Era cada vez mais difícil reprimir os sentimentos que atormentavam seu coração.
Continua...
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