Capitulo IX



Chegou num ponto em que estou pouco ligando. - Só quero que pare de fazer chantagem comigo!
- Fala sério?
- Sim! Não! Sei lá! Não me amole, sim? A esta altura minha cabeça nem pensa mais!
- Como quiser.
Harry preparava-se para sair quando a Sra. Gittens entrou com uma bandeja de café fresco.
- Pronto, pronto - disse ela apressadamente. - O bacon e o fígado vêm já, já. Tem certeza de que o senhor não quer o suco de laranja, sucrilhos e os morangos?
Gina arregalou os olhos e pelo modo de a Sra. Gittens falar era evidente que ele a tinha visto antes de entrar na sala. Felizmente agora ele teria ficar.
- Só o bacon e o fígado. - Com relutância, Harry tornou a sentar e serviu-se uma xícara de café.
- E a senhorita? Perguntou a Sra. Gittens, notando a torrada que havia no prato. - Não sei o que está acontecendo de errado, realmente não sei. Ontem à noite não quis jantar e agora de manhã não mordeu nem um pedacinho da torrada. - balançou a cabeça. - Contei para seu tio que nunca deixou de comer antes, sempre teve um apetite de leão!
Então era por isso que ele havia se desculpado? Pensou Gina. Com desânimo, afastou o prato com a torrada e voltou-se para a Sra. Gittens.
- Mudei de idéia. Também vou querer bacon e fígado. - E sentiu o rosto queimar quando Cho Chang entrou na sala.
Mais uma vez perdeu o apetite quando a governanta lhe trouxe o prato com bacon e fígado. Não suportava os olhares insistentes de Harry e Cho ao mesmo tempo. Pelo menos tinha conseguido suportar. Pois bem, a srta. Chang não perdia por esperar, Gina se prometeu.
Com certo nervosismo, ouviu-a comentar sobre a visita a Manchester no dia anterior. Cho contou sobre as pequenas compras, e permaneceu suspeitamente reticente.
Quando terminou a refeição, Harry pediu licença para sair e deixou as duas sozinhas.
- Sugiro que passemos a manhã no jardim - disse Cho, olhando pela janela e estudando o tempo. Lá poderemos conversar, como fizemos ontem. Gostaria que me contasse tudo sobre seus amigos.
- Não gostaria de jogar tênis? Gina contrapôs, obrigando-se a ser gentil.
Cho balançou a cabeça negativamente.
- Oh não, tênis é muito cansativo! -exclamou. - Aliás, com esse calor o melhor é sentarmos à beira da piscina. Vou subir para colocar o maiô e já volto.
Uma vez sozinha, Gina debruçou-se sobre a mesa, desanimada. Sabia que Cho pretendia tão somente impressionar o tio, e para tanto a usava como intermediária. Tinha certeza absoluta que as perguntas girariam em torno dos amigos e as relações dele, não dela. De fato, tomar banho de sol junto da piscina era uma boa idéia, mas falar a respeito de Harry, não! Instintivamente, levantou-se da mesa e atravessando as portas do pátio, deu a volta na casa e foi à garagem. Como sempre, lá estava Cedrico, a cabeça metida dentro do motor do Land Rover. Assim que a ouviu aproximar-se, parou de trabalhar e, endireitando o corpo, sorriu para ela.
- Oi! Disse, erguendo a mão.
- Oi! Ela respondeu, saudando-o. Passou direto e deteve-se junto da motocicleta. Pode continuar o serviço, Cedrico. Se alguém perguntar por mim, diga que fui dar um giro com a moto, sim?
- E vem alguém te procurar?
Ela sorriu maliciosamente
- Provavelmente.
- Harry!
- Não sei... Ele foi até o moinho, não foi? O carro dele não está aqui.
- Oh, sim, é verdade - disse Cedrico, concordando. - Ele saiu há meia hora. Pensei que quem vinha te procurar aquele pedaço de mau caminho oriental.
Gina deu de ombros.
- É assim que a chama?
- E assim que o velho Arnold a chama. - Sorriu Cedrico. - Cá entre nós, ela é muito atraente!
- Ainda bem que você pensa assim... Mas não se preocupe Cedrico, observou interpretando mal o comentário de Cedrico.
- Gosto de mulheres mais cheinhas. E um pouco mais claras, principalmente as que têm andar sensual...
Gina montou na moto e levou-a para fora da garagem.
- Harry ainda está zangado com você, Cedrico?
- Não sei. Sabe, ele nunca me notou de verdade, mas é gentil comigo. Agora, cada vez que ele me olha, percebo que não esqueceu nosso caso.
Gina franziu a testa.
- Que caso?
- Gina... Começou Cedrico, limpando as mãos num pedaço de estopa. - Você sabe. Depois que você voltou da escola, nós ficamos amigo íntimos...
- Ficamos amigos, só isso, não sei o que quer dizer - retrucou.
Cedrico aproximou-se de Gina, balançando a cabeça.
- Só isso? Repetiu com malícia.
Gina acionou o motor da motocicleta, como se assim o afugentasse. Antes que fosse impedida por Cedrico arrancou rapidamente e em poucos segundos atravessava os portões e alcançava a estrada.
Para a tranqüilidade de Gina, Harry não voltou para o almoço, e quando desceu à sala de Jantar, depois de tomar banho e se trocar, encontrou Cho sentada à mesa.
- Onde andou? Inquiriu ela, obviamente irritada com a sua ausência.
Gina resolveu contar-lhe a verdade.
- Rodei pela fazenda. - Cortou um pedaço de melão.
- Rodou? Exclamou Cho. E corrigiu: - você quer dizer que andou a cavalo.
- Não. De moto. Quando eu completei dezesseis anos, Harry me deu uma de presente. É pequena, mas Cedrico deu um jeito de aumentar a...
- Cedrico? Oh, sim, Diggory - concluiu Cho, zombeteira. - O jovem com quem seu tio flagrou você no dia em que cheguei aqui. Harry me contou a respeito. O rapaz é um dos motivos por que estou aqui.
Gina ficou vermelha de raiva.
- Harry contou?
- Naturalmente - e abriu com os dedos um pãozinho fresco. - Como ia explicar o seu desaparecimento logo após a minha chegada? Se me permite, não aprovo seu gosto. Um mecânico! Ora, faça-me o favor! Ele não tem unhas sujas?
Aproveitando a ausência de Harry, Gina perdeu a paciência.
- Pelo, menos ele tem um emprego honesto! Não vive às custas dos outros! Cedrico não é um parasita!
- Assim como você? Contra-atacou Cho, saboreando uma fruta. - Não tem vivido à custa de seu tio desde que seus pais morreram?
- Você está sendo injusta!
- Injusta, eu? Cho ergueu as sobrancelhas. Quando seu tio percebeu isso, convidou-me para vir aqui. Não sou paga para viver à custa dele. Gina, o que pretende insinuar?
- Você não é parente dele! Retrucou Gina. “Nem eu”, disse para si mesma.
O telefone tocou, interrompendo-as. Gina aguardou ansiosa que fosse ligação para ela. E era.
A Sra. Gittens apareceu à porta.
- É para você. Sabe, menina, tenho mais o que fazer além de atender telefones.
Gina saltou imediatamente da cadeira e correu para o hall.
- Harry? Perguntou. Harry, que bom ouvir sua voz.
- Por quê? O que aprontou dessa vez? Indagou num tom de voz tolerante.
- Nada, não aprontei nada. Queria falar com você, só isso. A gente tem se falado tão pouco ultimamente.
- Andou chorando? Harry quis saber, percebendo o tremor na voz de Gina. Será que vocês duas brigaram de novo?
- Não, não foi nada... Quero dizer, não brigamos. A srta. Chang não me fez nada e eu não fiz nada para ela... Por que está ligando, Harry? Não vem jantar?
- Não - disse bruscamente, e acrescentou, sem alterar o tom: - Gina, se há alguma coisa errada, diga-me agora. Hoje à noite não teremos oportunidade de conversar.
- Porque não?
- Porque teremos visita, entendeu? Convidei Greg Marsden e a mulher para passarem o fim de semana conosco. Ele irá para a Alemanha na segunda-feira, e quero me certificar de que compreendeu as minhas instruções.
- Mark e Emma também virão?
Mark e Emma eram os filhos gêmeos do casal, de quinze anos, de quem Gina gostava muito.
- Receio que não, porque estão em Devon, na casa da avó. Mas, se quiser convidar alguns de seus amigos no domingo...
- Obrigada... A maioria dos meus amigos está fora... É julho, esqueceu? Quase todo mundo sai de férias em julho e agosto.
Harry suspirou.
- Como lhe disse, talvez possamos viajar em setembro.
- Promete? Só nós dois?
- Bem, aí já não sei.
- Como não sabe? O ano passado ficamos plantados aqui e você disse que neste verão nós...
- Não me lembro de ter dito que viajaríamos sozinhos - disse. - Acha que seria aconselhável? Digo, já imaginou o que é que pessoas iriam falar de nós?
- E importa o que as pessoas falam?


Continua...

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