VI



- Oh, mas eu compreendo a situação - murmurou, na defensiva. ¬Ontem à noite você foi claro a esse respeito. Devo aprender o que querem me ensinar e conservar minha boca fechada. Não é uma descrição fiel da situação?
- Não, não é! – Harry retrucou, exaltado. - Gina, seja sensata. Esforce-se ao menos para isso. Contratei Cho Chang para lhe ensinar tudo aquilo que caberia a uma mãe ensinar: ajudá-la a se vestir, a se comportar em sociedade, a ser uma mulher educada, como eu imaginei que você seria ao crescer. Meus planos não incluíam fazer disso uma batalha. Eu esperava que vocês gostassem uma da outra, que se tomassem amigas. E ainda espero que isso aconteça, mesmo depois do que aconteceu ontem, durante o jantar, quando sua intenção foi ridicularizar Cho o tempo todo!
- Não foi muito difícil; não é mesmo? Gina arriscou, nervosa, sentindo que poderia chorar a qualquer momento. Você acreditou no que ela falou sobre empregos e não sei o que mais? Pois em minha opinião ela não se deu ao trabalho de procurar um emprego sequer! A srta. Chang apenas aguardava a oportunidade de conhecer um homem como você!
- Não interessa se acreditei ou deixei de acreditar - Harry respondeu, enfiando as mãos nos bolsos da calça.
- O que quer dizer com isso?
- Não tenho nenhum interesse na história de Cho Chang.
Gina franziu a testa.
- Mas se ela contou mentiras...
- Gina! - bradou, voltando-se para ela e balançando a cabeça com impaciência. As lágrimas escorriam velozmente pelas faces dela. - Sei tudo a respeito de Cho. Uma estranha não entraria na minha casa sem mais nem menos...
- Está me dizendo que...
- Estou lhe dizendo que deve dar toda a atenção a ela. Quero que aprenda com ela. E a primeira coisa que fará, será acompanhá-la até Manchester para comprar algumas roupas novas. Roupas femininas ¬acrescentou, olhando com desgosto as calças de brim que ela usava. ¬Durante muito tempo descuidei de sua educação. Eu jamais deveria ter consentido em que você abandonasse a escola.
Gina sentiu uma chama de esperança.
- Então vai me dar mais um pouco do seu tempo, é isso? Perguntou, tocando-lhe impulsivamente o tecido da camisa. - Oh, Harry, desculpe-me! Como fui tola! Nem percebi o que você estava fazendo por mim.
Antes que ele pudesse tirar as mãos do bolso e contê-la, ou mesmo evitá-la, Gina esticou o corpo nas pontas dos pés e o beijou na boca.
Como ele fizera menção de falar alguma coisa, seus lábios estavam entreabertos, como que preparados para receber os dela. Gina pretendia apenas lhe dar um beijo de gratidão, mas a resposta veio com certa impetuosidade. Ao contrário dos lábios de Cedrico, os dele eram firmes e secos, mais quentes do que ela imaginara. Instintivamente, correspondeu com paixão.
Harry deu um gemido abafado, fazendo-a pensar que aquele gesto o desagradava. Mas ela logo viu que o beijo o estimulava, a ponto de abraçá-la e atraí-Ia para si, segurando-a por trás da cabeça e aprofundando ainda mais os lábios nos seus. Os beijos de Cedrico de modo algum se comparavam àquele, que também não se comparava aos do próprio Harry, no passado. Desejou que ele não parasse mais, que nunca a soltasse, e segurou-lhe a gola da jaqueta com os dedos muito trêmulos.
"Meu Deus!", pensou, quando, sem perceber como, viu-se separada dele. Quanto tempo se beijaram? Minutos ou segundos? Quando olhou para Harry encontrou uma expressão de desagrado. Pela primeira vez não conseguiu sustentar o seu olhar.
- Quem a ensinou beijar? Ele perguntou bruscamente, enquanto segurava-lhe o queixo e a forçava a encará-lo. - Cedrico, imagino. Oh, Gina, e eu pensando o tempo todo que você não passava de uma criança!
- Não foi Cedrico que me ensinou - murmurou ofendida.
- Quem, então? Indagou, sem estar convencido. - Existiu algum outro homem de que não tive conhecimento? Gina, por favor, responda antes que lhe quebre o pescoço!
- Ficou com ciúme?
- Não - respondeu, irritado. - Não, não fiquei com ciúme. Como que ia sentir ciúme de uma pirralha provocadora? Mas da próxima vez que repetir isso, vou lhe dar uns bons tapas no traseiro!
- Não sei por que está fazendo tempestade num copo d'água ¬comentou Gina, esquivando-se das mãos dele. - Que mal há nisso?
- Mal? Harry pegou as rédeas de Niko e montou. - Estou começando a me arrepender de ter trazido a srta. Chang para cá. Eu deveria tê-la mandado para a Suíça, como mamãe sugeriu. Uma vez lá, pelo menos eu não seria responsável por você!
- Pensei que fosse gostar do meu beijo - disse Gina, quase num murmúrio. Mas ele a ouviu.
- Sem comentário - replicou, instigando o animal. - Vamos voltar para casa. Talvez Cho Chang tenha mais sorte do que eu.
Gina fora a Manchester apenas nas ocasiões em que Harry a levava para visitar, a Sra. Potter. A cidade, portanto, não lhe trazia boas recordações, e ir até lá na companhia de Cho Chang simplesmente não era um grande programa. Fizeram à viagem no Mercedes guiado por Cedrico Diggory e, antes mesmo de estacionarem o carro, Gina sentia-se impaciente com as restrições impostas por Harry. Desde o incidente daquela manhã, não o havia visto mais, porém não conseguia esquecer a nova ameaça de ser mandada para a Suíça, que realmente seria cumprida caso não se comportasse como o esperado.



Continua ...

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