Incidente em Hogsmeade




Capítulo 7 - Incidente em Hogsmeade




Naquele fim de semana, Snape teve que fazer uma visita não-programada a Hogsmeade. A explosão na sala de aula tinha destruído diversos jarros de ingredientes e os estoques precisavam ser repostos o quanto antes para não atrapalhar as aulas. Portanto, naquele sábado, ele disse mais uma vez a Tessa:



- Eu sei que vai ser muita gente na rua, mas você já está acostumada aqui em Hogwarts. Só que quando eu entrar no boticário, você não poderá vir junto. Mas pode me esperar lá fora. Eu tentarei ser o mais breve que puder. Já sabe: se precisar se defender, tem minha permissão para usar o que quiser, de dentes a objetos pontiagudos. Ou simplesmente se esconder até eu aparecer. Você é bem esperta, vai pensar em alguma coisa.



Tessa jogou a cabeça para trás e concordou. Ela parecia estar bem animada com a saída.



Os dois saíram animadamente, e os alunos estranharam ver Snape saindo pelo portão da frente num fim de semana que era de visita ao vilarejo perto da escola. O animalzinho seguia atrás de seu mestre, célere, descendo a colina e olhando para coisas novas, coisas além de Hogwarts.



Tessa ficou tão excitava que ia atrás de Snape fazendo "uh, uh" baixinho. Algumas das pessoas passaram a reparar no animal e os que conheciam Snape se admiraram mais ainda. Ele deu uma paradinha na Scribulus, onde havia na vitrine um livro sobre raros caldeirões de barro italiano. Ele se dirigiu ao pequeno seminviso:



- Tessa, eu vou entrar por aquela porta e me demorar um pouco lá dentro. Espere-me na entrada.



Snape se informou sobre o volume e reservou um exemplar para ser entregue em Hogwarts. Quando voltou, uma mulher estava agachada perto de Tessa, dizendo ao animal, com um sorriso:



- Oi! Você está sozinho?



Tessa sumiu na cara da mulher e Snape disse, gélido, acima da moça:



- Não, ela tem dono.



Ela se ergueu, sorrindo para Snape.



- É seu? - a moça tinha uns 20 e poucos anos e olhos que dançavam para Snape - Ele tem nome?



- Tessa.



- Que nome lindo - O cabelo dela era curtinho, quase parecia trouxa - Sabe, eu nunca tinha visto um seminviso de perto. O senhor é um homem de sorte - ela olhou Snape de cima a baixo e o sorriso tornou-se quase predador - Eu acho que Tessa também tem sorte em tê-lo como dono.



Tessa reapareceu agarrada às pernas de Snape, olhando feio para a moça. O Mestre de Poções disse, azedo:



- Obrigado pelo aviso. Se me der licença.



A moça continuou a sorrir e ainda disse, enquanto ele pegava a mão de Tessa e saía dali:



- Eu posso ajudar a cuidar de Tessa!



Snape sequer deu-se ao trabalho de responder, mas Tessa olhou para a moça de tal jeito que Snape podia jurar que ela estava com ciúmes. Ele mesmo estava um pouco irritado com as investidas da moça. Ele achava insultuoso alguém usar Tessa para se aproximar dele.



Mais adiante, no fim da rua, eles estavam na porta do boticário. Snape explicou ao animal:



- Muito bem, Tessa, eu vou ter que entrar aqui. Faça como fez no outro estabelecimento: espere-me na porta e evite estranhos.



Ele deixou Tessa sentadinha ao lado da porta e entrou, já refazendo mentalmente a lista de tudo que iria precisar. Ele conversou com o boticário, que tinha reparado em Tessa, mas desculpou-se por não poder deixá-la entrar na loja. Snape não se deteve nas desculpas do homem. Afinal, ele já tinha decido e explicado a Tessa que a presença dela não poderia ser imposta, portanto ela sabia que tinha que esperar na porta e ficar absolutamente impassível - como uma verdadeira Snape.



O boticário tomou nota da ordem, avisando que alguns itens poderiam demorar, mas tudo seria entregue em Hogwarts à medida que chegasse. Severo assinou o pedido em nome da escola e dirigiu-se para fora. Algumas pessoas olhavam Tessa, mas ninguém se aproximou, então ela estava quietinha. Ao ver Snape, ela ergueu os braços:



- Uh, uh.



Ele olhou para baixo:



- Sentiu minha falta? Parece que sim.



Tessa olhou para ele, baixando os braços de repente, os olhos se arregalando como se estivesse assustada, e então ela simplesmente desapareceu. Snape ficou surpreso:



- Tessa? Tessa, o que foi? O que você viu - ahnnn!



Uma pancada certeira atingiu-o na nuca, e ele caiu de joelhos, atordoado. Um pé mal-intencionado atingiu-lhe as costelas com ainda mais força e ele rolou para o lado, flashes de luz explodindo diante dos olhos, uma dor paralisante se espalhando pelo lado esquerdo. Ele mal conseguiu enxergar seus agressores - sim, porque eram dois - e foi atingido por um soco que o fez temer a perda de dois pré-molares do lado direito. Sentiu um gosto de sangue na boca.



- Um traidor de bruxos como você merece apanhar feito um trouxa!


Mais chutes, desta vez direto no fígado. A dor começava a se comparar à Maldição Cruciatus e ele gemeu, baixinho. Quando ele se curvou, num reflexo, passou a apanhar na linha dos rins e então se arqueou, já sem coordenação. Não sabia quanto tempo conseguiria permanecer consciente.



Foi então que ouviu:



- AAAAIIIIIII!



- O que foi, cara?



- Alguma coisa me mordeu!



- O quê?



- Acho que foi aquele bicho dele! Sabe, aquela coisa horrível e peluda!



- E cadê ele?



- Não sei, não tô vendo!



- AAIIIIIIII!



- Você também?



- Bicho desgraçado! Se eu pegar ele -



- Vamos, vamos embora! Snape não vai a lugar nenhum.



- É, seu maldito - um chute potente atingiu Snape no fígado e ele gemeu - Tenha um pouco de decência e morra, seu traidor! AIIII! Me mordeu de novo!



- Vamos, veja o que ele tem nos bolsos! Aaai! Me mordeu também!



- Esquece, cara! Vamos embora!



- Morsmordre!



Com dois estalidos altos, os agressores desaparataram, deixando Snape no chão e a Marca Negra no ar. Ele mal teve tempo de perceber que os golpes pararam quando deslizou para um momento indolor de inconsciência.



As pessoas começaram a se aglomerar ao verem uma pessoa estendida no chão. Mas ninguém pôde chegar muito perto: havia um seminviso que impedia qualquer um de se aproximar. Tessa estava de olho na multidão, fazendo uma coisa que ela nunca tinha feito antes.



Ela estava rosnando.



Aquele era um fim de semana de visita a Hogsmeade e alguns dos alunos de Hogwarts notaram a confusão perto do boticário. E eles se espantaram:



- É o professor Snape!



- E aquele é o bicho dele! Olha só como ele parece bravo!



- Será que ele atacou o professor?



- Olha só o tamanho do bicho e o estado do Snape! Tinha que ter um bando deles para deixar o Snape nesse estado.



- Ô, sua anta, olha para cima! A Marca Negra! Tá na cara que foi um ataque de Comensais.



- Mas eles não morreram junto com Você-Sabe-Quem?



- Claro que alguns escaparam. E eles queriam vingança.



Harry, Hermione e Rony deixaram o bar Três Vassouras e viram a multidão no fim da rua. Imediatamente foram para lá, abrindo caminho entre estudantes e aldeões chocados. Justino Finch-Fletchley explicou tudo para eles e eles viram Snape machucado, ensangüentado, com uma Tessa histérica e raivosa a seu lado.



Hermione disse:



- Alguém tem que ajudar o Prof. Snape!



- Como, se o bicho não deixa ninguém chegar perto? - quis saber Justino.



- Tem que ser alguém conhecido - disse a jovem grifinória - Eu vou.



Rony disse:



- Mione, a seminviso não está no seu melhor juízo! Ela pode te morder!



- O Prof. Snape precisa de ajuda! E Tessa me conhece. Ela não vai me machucar.



- Hermione, ela é um bicho!



- Hagrid diz que ela é muito inteligente. Quem sabe se eu explicar tudo para ela...



Harry disse:



- Eu vou com você. Ela também me conhece.



Rony disse:



- Eu vou para a escola, avisar o que aconteceu.



- Rápido, Rony!



O ruivo saiu para o lado oposto da rua, e Harry e Hermione foram juntos para onde estava Snape desacordado, o corpo todo esparramado, as vestes negras espalhadas pela rua. Tessa viu os dois se aproximarem lentamente e rosnou para eles.



Hermione disse:



- Tessa! Oi, Tessa, somos nós, lembra da gente? Amigos do Hagrid.



Harry disse:



- Não precisa ter medo, Tessa. Ninguém vai machucar você.



Ela parou de rosnar, mas ficou olhando para eles, hesitante. Harry disse, ainda chegando perto:



- Mione, deixe ela cheirar você. Devagar.



A multidão olhava tudo de respiração suspensa. Tessa não se afastou muito de Snape, mas se aproximou lentamente de Hermione e cheirou os sapatos da garota. Depois ela se dirigiu a Harry e fez a mesma coisa. Então ela voltou para o lado de Snape, choramingando. Harry disse:



- Tessa, viemos ajudar o Prof. Snape.



O seminviso olhou para Harry e soltou um uivo alto. Depois pegou a mão de Snape e ergueu, soltando-a para mostrar que estava sem vida. E os olhinhos dela se voltaram para Harry, implorando que ajudasse seu mestre. Ela ficou mexendo na mão de Snape, tentando colocá-la na cabeça, e as lágrimas escorriam de seus olhos negros e tristes. Harry chegou perto dela e disse, estendendo as mãos:



- Vamos ajudá-lo, Tessa. Agora vem comigo.



Mas Tessa não arredou pé do lado de Snape de jeito nenhum. Só quando Hagrid chegou para transportar Snape até a enfermaria, ela aceitou ir no colo de Harry. Ainda assim, ela não desgrudava os olhos de Snape.



Isso se mostrou um problema com Madame Pomfrey.



- Esse animal não pode ficar na enfermaria!



Tessa sentiu a hostilidade da enfermeira e pôs-se a rosnar de novo. Com ela no colo, Harry explicou:



- Não, Tessa. Madame Pomfrey é amiga. Ela vai ajudar o Prof. Snape.



A enfermeira começou a examinar seu paciente, dizendo:



- Ainda bem que vocês o trouxeram rápido. Ele levou uma surra e tanto.



Hermione disse:



- Madame Pomfrey, Tessa ficou vigiando seu dono o tempo todo. Ela vai ficar desesperada se ficar longe dele. Ninguém vai conseguir tomar conta dela. Por favor, Madame Pomfrey, abra uma exceção.



- Srta. Granger, eu não preciso lhe dizer o tipo de risco sanitário que pode trazer um animal dentro de uma enfermaria!



Harry lembrou:



- Acha mesmo que o Prof. Snape deixaria qualquer um com risco sanitário perto de suas poções? Tessa é um animal limpíssimo, pode acreditar.



Hermione completou:



- E ela é muito quietinha e boazinha. Ele dá aulas com ela na sala e ninguém percebe.



Madame Pomfrey olhou para Tessa e o animal estava de olhos grudados em Snape, olhos esses dos quais vertiam grossas lágrimas. A enfermeira estreitou os lábios e decidiu:



- Muito bem, então, eu abro uma exceção. Mas vocês ficarão responsáveis por alimentá-la e passear com ela para que ela faça suas necessidades bem longe da enfermaria!



Harry quis saber:



- Mas quanto tempo o Prof. Snape vai ficar aqui?



- O tempo que for necessário, Sr. Potter - disse a enfermeira - Até segunda-feira, no mínimo. Agora eu preciso trabalhar.



Harry colocou Tessa no chão e explicou:



- Agora nós temos que ir, mas Madame Pomfrey foi boazinha e vai deixar você ficar aqui. Fique bem quietinha, ouviu?



- Uh, uh.



- Ele vai ficar orgulhoso de você.



Tessa ficou dia e noite ao lado de seu dono, sem arredar o pé. Quando Madame Pomfrey chegava para trocar algum curativo ou dar uma dose de poção a seu paciente, a seminviso ficava embaixo da cama. Mas quando a enfermeira não estava olhando, Tessa subia na cama de seu mestre e se enrodilhava perto dele para dormir.



Ela também mal deu atenção a Harry e Hermione, que vieram trazer comida e água. A comida ela nem tocou, mas ela aceitou um pouco de água fresca. Ela não aceitou passear e choramingava ao lado de Snape toda vez que Harry sugeria sair.



Foi numa dessas ocasiões que Snape acordou.



- Tessa, já faz dois dias - disse Harry - Você tem que estar com vontade!



Choramingo.



- Ela não deixou ninguém chegar perto dele na rua. Acha que agora vai deixar a cama dele só por causa de um xixizinho?



O Menino-Que-Matou-Voldemort abanou a cabeça:



- Nunca vi esse tipo de devoção, a não ser em uns poucos cachorros. Tessa, espero que o Prof. Snape saiba a sorte que ele tem por ter você.



Uma voz grave veio da cama, um pouco quebrada:



- Ele sabe.



- Uh, uh!



Tessa subiu na cama e pulou de alegria, soltando gritinhos que ecoaram na enfermaria vazia. Snape deu um meio sorriso e acariciou a cabeça dela:



- Sentiu minha falta?



- Uh, uh.



Hermione disse:


- Tessa não deixou seu lado, professor. Precisa ver as coisas que ela fez.



Madame Pomfrey chegou, irritada:



- Que barulho infernal é esse? - ela viu a cena - O animal está em sua cama, Severo! Isso eu não vou tolerar!



Assustada, Tessa desceu da cama, escondendo-se embaixo dela. Mesmo enfraquecido, Snape lançou um olhar gélido para a enfermeira:



- Sugiro que modere seu tom de voz com Tessa.


Madame Pomfrey não se intimidou:



- Vejo que está bem melhor, Prof. Snape. Até o senhor acordar, seu animal se comportou exemplarmente. Eu estava para fazer um elogio quando ela resolveu virar traquinas.



Harry tentou mediar o conflito:



- Ela só ficou muito excitada por ver o Prof. Snape acordado, Madame Pomfrey. Ela não fez por mal.



- O que me lembra, Sr. Potter - disse Snape, erguendo uma sobrancelha -, o que você está fazendo aqui?



- Madame Pomfrey só deixou Tessa ficar aqui sob a condição de que Hermione e eu cuidássemos dela. Mas ela não comeu nada esse tempo todo. Ela é muito dedicada ao senhor.



Hermione ajudou:



- É, sim, professor. Primeiro ela não deixou ninguém chegar perto do senhor, depois que os comensais foram embora, aí -



- Espere um pouco, garota - Snape estava meio tonto, e a moça em nada ajudava, falando muito rápido - Vocês viram tudo isso?



Era hora de contar a história toda.



Logo Harry e Hermione estavam sentados na enfermaria, dizendo ao Mestre de Poções tudo o que tinha se passado, e o que Tessa tinha feito. Madame Pomfrey fez vistas grossas e Tessa pôde ficar na cama, agarradinha a Snape.



Harry também disse que ele tinha encontrado sangue em seu colete, sangue esse que tinha vindo de Tessa, mas ela não estava ferida. Snape quase riu ao se dar conta de que Tessa tinha atacado seus agressores, mordendo-os com força. "Espero que eles não tenham passado nenhuma doença a ela", foi o comentário ferino do professor.



Alheia à conversa sobre ela própria, Tessa acariciava Snape, feliz por ter seu mestre de volta. Snape também a acariciava, e ela suspirou, satisfeita. Mais um susto tinha passado.



Outros poderiam vir.




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